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Os efeitos do venture capital sobre o número de patentes de indústrias de alta

No documento caPital EMPrEEndEdor (páginas 49-53)

EMPREENDEDOR PARA A ECONOMIA

4.2 Ponderações quanto às relações de causalidade entre inovação e

4.2.4 Os efeitos do venture capital sobre o número de patentes de indústrias de alta

tecnologia e de softwares na Itália

Bertoni; Croce; D’Adda (2010) analisam, no âmbito do mercado italiano, os investi-mentos efetuados por meio do venture capital a novas indústrias de alta tecnologia e de softwares, e os seus efeitos sobre o número de patentes.

Primeiramente, apresentam estudos anteriores que apontam que as empresas financia-das por venture capital não exibiam, previamente, uma propensão diferenciada a

reque-rer patentes14. Ademais, argumentam que os investidores em venture capital identificam firmas com projetos inovadores e fornecem recursos que possibilitam o desenvolvimen-to de atividades de pesquisa e desenvolvimendesenvolvimen-to (Research and Development – R&D).

Maiores investimentos em R&D, por sua vez, estimulam a inovação nessas firmas. Os autores apontam que o processo de obtenção das patentes pode ser muito expressivo para pequenas empresas de alta tecnologia, que também podem incorrer em outros custos indiretos como disclosure da invenção, treinamento de pessoal quanto aos proce-dimentos e regras do processo de obtenção de patentes15. Mais especificamente, men-cionam artigos16 que defendem que os custos de requerer uma patente e de defendê-la judicialmente é uma importante razão a desencorajar as pequenas firmas de ingressar nesses processos. Assim, o venture capital possibilita que as firmas investidas enfrentem esses custos, ocasionando uma elevação na sua taxa de requisição de patentes.

Bertoni; Croce; D’Adda (2010) mencionam ainda que os investidores na modalidade venture capital não são passivos, monitoram continuamente o comportamento dos em-preendedores das firmas investidas, e utilizam instrumentos financeiros específicos e cláusulas contratuais que protegem os investimentos de comportamentos oportunistas por parte dos empreendedores, criando assim poderosos incentivos para sua atuação, e essa disciplina rígida resultaria em maior produtividade no que tange à inovação17. Entretanto, os autores apontam também que numerosos estudos mencionam a possibili-dade de ocorrência de conflitos de interesse (agency problems) na relação entre investido-res da modalidade venture capital e empreendedoinvestido-res, de maneira que podem surgir efei-tos negativos para a inovação das companhias investidas. Afinal, os investidores podem ter objetivos e estratégias que são diferentes daquelas utilizadas pelos empreendedores,

14 Os estudos mencionados quanto a esse tema são “Engel 2002; Bottazzi, DaRin, and Hellmann 2008;

Colombo and Grilli, forthcoming”. As referências apresentadas são, respectivamente, “Engel, D. 2002. The impact of Venture Capital on firm growth: An empirical investigation. Discussion Paper No. 02-02, Centre for European Economic Research (ZEW), Mannheim”; “Bottazzi, L., M. Da Rin, and T. Hellmann. 2008. Who are the active investors? Evidence from Venture Capital. Journal of Financial Economics 89: 488–512”; e

“Colombo, M.G., and L. Grilli. Forthcoming. On growth drivers of high-tech start-ups: The role of founders’

human capital and Venture Capital. Journal of Business Venturing”.

15 Os estudos mencionados quanto a esses temas são “Chan 1983; Amit, Brander, and Zott 1998” e “Hsu and Ziedonis 2007”, cujas referências apresentadas são “Chan, Y.S. 1983. On the positive role of financial inter-mediation in allocation of Venture Capital in a market with imperfect information. Journal of Finance 35, no. 5: 1543–68”; “Amit, R., J. Brander, and C. Zott. 1998. Why do Venture Capital firms exist? Theory and Canadian evidence. Journal of Business Venturing 13: 441–66”; “Hsu, D.H., and R. Ziedonis. 2007. Patents as quality signals for entrepreneurial ventures. University of Michigan Working Paper”.

16 Trata-se de “Cohen, Nelson, and Walsh (2000)” e “Lerner (1994)”, cujas referências apresentadas são, respectivamente, “Cohen, W.M., R.R. Nelson, and J. Walsh. 2000. Protecting their intellectual assets:

Appropriability conditions and why US manufacturing firms patent (or not). NBER Working Paper No.

7552” e “Lerner, J. 1994. The importance of trade secrecy: Evidence from civil litigation. HBS Working Paper No. 95-043. http://ssrn.com/abstract=6089 (accessed January 26, 2009)”.

17 Alguns dos artigos apontados quanto a esse aspecto são “Sahlman 1990; Gompers 1995; Hellmann 1998;

Kaplan and Stromberg 2003, 2004”. As referências apresentadas são, respectivamente, “Sahlman, W.A. 1990.

The structure and governance of venture-capital organizations. Journal of Financial Economics 27: 473–521”,

“Gompers, P.A. 1995. Optimal investment, monitoring, and the staging of Venture Capital. Journal of Finance 50, no. 5: 1461–89”, “Hellmann, T. 1998. The allocation of control rights in Venture Capital contracts. Rand Journal of Economics 29: 57–76” e “Kaplan, S.N., and P. Stromberg. 2004. Characteristics, contracts and actions: Evidence from Venture Capitalists analyses. Journal of Finance 59, no. 5: 2177–2210”.

e desentendimentos podem absorver o esforço e atenção dos empreendedores em detri-mento da busca de projetos inovadores. Além desse aspecto, o financiadetri-mento por meio de venture capital pode acarretar riscos quanto à apropriação das iniciativas, uma vez que os investidores podem se apropriar das ideias inovadoras dos empreendedores e explorá--las em sua ausência. Assim, os empreendedores podem ser induzidos a tomar decisões que são prejudiciais à inovação da firma como, por exemplo, concentrar esforços para a proteção das tecnologias existentes na empresa, ao invés de desenvolver novas tecnologias.

Os autores ainda mencionam Kortum; Lerner (2000) que produziram estudo que, em seu entendimento, provavelmente seria o primeiro realizado em larga escala para ana-lisar o impacto do venture capital sobre a inovação. O estudo analisa dados de patentes e investimentos em capital de risco em 20 segmentos da indústria de manufatura dos Estados Unidos entre 1965 e 1992, sendo constatado que esses investimentos contri-buíram para a expansão das patentes, e que esse efeito foi considerado ainda mais im-portante que o decorrente da pesquisa e desenvolvimento (Research & Development) corporativo. Os resultados sugerem que as firmas que obtiveram esses investimentos: (i) têm patentes que são citadas com mais frequência, o que aponta que seriam de melhor qualidade; e (ii) se envolvem mais em litígios acerca de segredos corporativos que as firmas não financiadas por venture capital (ou seja, não fazem menor uso de outros mecanismos de apropriação de inovações como segredos comerciais). Bertoni; Croce;

D’Adda (2010) também mencionam estudo similar realizado por Tykvová (2000), o qual concluiu que os investimentos em venture capital apresentaram um significativo efeito sobre as atividades relacionadas a novas patentes em uma amostra de 10 indústrias alemãs entre 1991 e 1997.

Não obstante, Bertoni; Croce; D’Adda (2010) também mencionam que os artigos pu-blicados sobre o tema não são unânimes quanto aos efeitos do venture capital sobre a inovação das empresas. Desta forma, pretendem contribuir analisando uma amostra das novas empresas do setor de tecnologia da Itália.

Os resultados obtidos são no sentido de que a propensão das firmas para requerer paten-tes é significativamente maior para as firmas financiadas por venture capital do que para as não financiadas. Adicionalmente, tanto a probabilidade de obter uma ou mais paten-tes quanto o número de patenpaten-tes concedidas aumentam significativamente após a firma receber a primeira parcela desses financiamentos. Ademais, os autores não encontraram evidências de sorting, ou seja, as empresas financiadas não exibiriam, previamente ao recebimento dos financiamentos, uma propensão maior para requerer patentes, o que

seria compatível com outros estudos anteriores18. Assim, os resultados corroboram a visão de que o venture capital é benéfico à inovação das empresas.

Nesse contexto, Bertoni; Croce; D’Adda (2010) ainda argumentam que, como esses investimentos agregam valor às firmas investidas, resultando em uma maior inovação, há importantes implicações para a formulação de políticas. Apontam que, na Europa continental, o setor de venture capital é muito menos desenvolvido que nos Estados Unidos, no Reino Unido ou em Israel, e o caso da Itália é bem representativo dessa situ-ação. Assim, consideram que a expansão dessa modalidade de financiamentos deveria ser objetivo proeminente da agenda política dos governos europeus.

18 Os estudos mencionados a esse respeito são “Engel 2002; Bottazzi, DaRin, and Hellmann 2008; Colombo and Grilli, forthcoming”, cujas referências, conforme já apresentado anteriormente, são, respectivamente,

“Engel, D. 2002. The impact of Venture Capital on firm growth: An empirical investigation. Discussion Paper No. 02-02, Centre for European Economic Research (ZEW), Mannheim”; “Bottazzi, L., M. Da Rin, and T. Hellmann. 2008. Who are the active investors? Evidence from Venture Capital. Journal of Financial Economics 89: 488–512”; e “Colombo, M.G., and L. Grilli. Forthcoming. On growth drivers of high-tech start-ups: The role of founders’ human capital and Venture Capital. Journal of Business Venturing”.

5. SÃO NECESSÁRIAS AÇÕES DE ESTADO

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