• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – CONTEXTO DA REGIÃO DA PESQUISA

2.4 ATUAIS IMPACTOS NA SERRA

No legado de relações das famílias do entorno da Serra do Brigadeiro, diversos foram os significados que se deu a esse ambiente, composto pelo homem, por floresta, animais, riachos e montanhas.

A mata serviu como refúgio para índios e negros no início da colonização; para moradores que se escondiam, fugindo do confronto armado entre tropas federais e locais (respectivamente contrários e partidários a Arthur Bernardes supostamente escondido em Araponga e procurado pelo governo federal) no contexto da Revolução Constitucionalista de 1932; serviu a exploração da mata para fazer

carvão e, a partir de 1970, foi alvo de iniciativas de proteção, vista como área de interesse para a conservação da biodiversidade (TEIXEIRA, 2009, p. 64).

Atualmente existem algumas questões consideradas relevantes que trazem impactos ao Parque e aos moradores do entorno, sendo elas a mineração e o turismo.

Um assunto preocupante que envolve a Serra do Brigadeiro é a exploração de bauxita na face leste do Parque, pelas empresas Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e Rio Pomba Empresa de Mineração. Sabe-se que 42 projetos de mineração registrados no Departamento Nacional de Produção Mineral já foram analisados pela Secretaria Estadual de Ambiente. Para iniciar as obras, apenas esperam pelo licenciamento ambiental da Fundação Estadual do Meio Ambiente (TEIXEIRA, 2009).

A primeira audiência pública sobre o processo de mineração foi em Rosário da Limeira, em 2007. Segundo Teixeira (2009), a comunidade se posicionou contra, dizendo que queriam ver saindo dali caminhões carregados de alimentos e não de terra e minério. Além disso, o governo promoveu uma única reunião de audiência no referido município, dificultando discutir os impactos em outros municípios.

Existem várias fases de implantação da mineração. As empresas interessadas na mineração já têm licença de implementação do IEF e da Fundação Estadual do Meio Ambiente, indo contra o Plano de Manejo do Parque, o que causou muito conflito, mas ainda não têm a licença de operação. Os grupos contra a mineração se apoiam na afirmação de que, na existência de uma área de preservação, a mineração só poderia ocorrer num raio de 10 km além dos limites da Unidade de Conservação. O IEF e a Fundação Estadual do Meio Ambiente concederam licença prévia para a mineração e sugerem o acompanhamento do processo e a cobrança de obrigações assumidas pelas empresas, denominadas de medidas mitigadoras e compensatórias (TEIXEIRA, 2009).

O Código Florestal proíbe a exploração em áreas em topos de morros e encostas. As organizações estão questionando o poder do IEF de ir contra o Código Florestal, movendo uma ação civil pública e uma ação popular contra a exploração da bauxita na Serra do Brigadeiro. Entidades de defesa do trabalhador e do meio ambiente estão contra a mineração. Os impactos de uma mineradora vão além de destruir a natureza, afetando também as comunidades (TEIXEIRA, 2009).

Segundo a autora, para as organizações populares a mineração vai acabar com a zona rural e, “minerar não pode ser mais importante do que preservar cinco mil pessoas no campo produzindo alimento” (TEIXEIRA, 2009, p. 81). Não aceitam a afirmação de que a mineração irá enriquecer os agricultores, sabem que só vai enriquecer ainda mais os grandes grupos econômicos (TEIXEIRA, 2009). Infere-se que essa posição da comunidade contra a mineração pode ser oriunda da história negativa que essas pessoas estabeleceram com a Belgo Mineira. Podemos perceber, assim, o quanto essa empresa alterou o entorno, transformou a cultura dessa região, a ponto de alguns moradores perceberem e afirmarem que agora não querem a mineração no local. Querem manter a cultura local, o café, a roça. Anteriormente tinha-se aquela crença no progresso e agora, nessa situação da mineração, nota-se que eles se alertaram sobre isso. Somado a isso, atualmente existe maior intervenção de grupos educativos (UFV e ONGs) na região, o que também tem contribuído para esse posicionamento.

Outra questão polêmica e atual que ronda a Serra do Brigadeiro é o turismo. Pode ser considerada uma atividade ambígua, pois tanto pode contribuir para gerar renda, quanto pode possibilitar degradação ambiental e êxodo da população local diante da especulação imobiliária (TEIXEIRA, 2009).

Um exemplo desse viés negativo do turismo, de acordo com Teixeira (2009), aconteceu num outro parque de Minas Gerais, o Parque do Ibitipoca. Atualmente quase não existem mais pequenas famílias de agricultores em seu entorno, pois elas venderam suas propriedades a um empresário que já tem posse de grande parte da área do entorno. Quando as comunidades do entorno vão embora, a cultura local (alimentos, artesanatos, religião, festas) também desaparece junto com elas. Assim, o turismo em Ibitipoca só beneficiou grupos de empresários externos.

Segundo a autora, o Parque do Brigadeiro atrai turistas devido a sua exuberância natural, sendo que o destino da maioria são as cachoeiras e picos. Alguns dos moradores locais estão se beneficiando do turismo e abriram pousadas no distrito do Bom Jesus do Madeira e na comunidade do Boné. Pessoas de fora da região também têm se beneficiado, comprando terras baratas, construindo suas pousadas, e vendendo pedaços de suas terras para outras pessoas de fora, que constroem mansões luxuosas no “pé” da Serra. Em algumas declarações, na pesquisa de Teixeira (2009), os agricultores veem como as pessoas

que são de fora valorizam mais o local. Isso contribui para uma mudança de como eles próprios veem o local.

Outro problema trazido com o turismo é a prática do MotoCross, que tem sido frequente dentro das trilhas do Parque, pois o mesmo não tem fiscalização suficiente para impedi-lo. Tal prática põe em risco a vida das pessoas e animais, pois seus praticantes dirigem em alta velocidade nas estradas (TEIXEIRA, 2009).

Um dos efeitos mais destacados do turismo foi a valorização da terra. Segundo Teixeira (2009), existe argumentos de que o turismo melhora o lugar, dá mais emprego, aumenta o consumo local. Pode trazer diversas mudanças no ambiente, como introdução de novas casas, pousadas, restaurantes, torres de celular e internet. Na visão dos agricultores, o turismo pode promover a diversificação das atividades rentáveis no meio rural. Mas também envolve inúmeros problemas, como o crescente movimento nas estradas e o acúmulo de lixo na região. Apesar de algumas comunidades experimentarem o turismo, para muitos agricultores da Serra ele ainda está distante e não inclui melhorias em suas vidas.

Uma conclusão importante da autora é que, no Brigadeiro, o turismo pode se estabelecer como uma importante atividade econômica local, embora não seja a única, já que os moradores do entorno do Parque ainda sobrevivem por meio de suas atividades agrícolas (TEIXEIRA, 2009).

Foi a partir do contato da pesquisadora da presente investigação com todo esse contexto interessante e intrigante da região da Serra do Brigadeiro, que nasceu essa vontade de inseri-lo em sua pesquisa, usando-o como possível elemento gerador de problemas e questões do cotidiano de uma escola de seu entorno, trazendo novas contribuições para a formação continuada dos docentes e para a educação escolar local.