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CAPÍTULO 2 – CONTEXTO DA REGIÃO DA PESQUISA

2.3 HISTÓRIA DA SERRA DO BRIGADEIRO E CRIAÇÃO DO PARQUE

Ainda sobre as características das comunidades do entorno do Parque, a pesquisadora, em suas observações, também percebeu a importância do núcleo familiar na maioria dos grupos desses camponeses. Nota-se que, em muitos casos, os familiares são responsáveis pela gestão de suas propriedades, residindo na unidade produtiva, sendo que a divisão do trabalho é feita entre eles, e o patrimônio e os conhecimentos agrícolas são objetos de transferência intergeracional no interior dessas famílias.

2.3 HISTÓRIA DA SERRA DO BRIGADEIRO E CRIAÇÃO DO

PARQUE

A paisagem em Minas Gerais foi fortemente modificada pelas diferentes tradições humanas (indígenas, europeias e africanas), em diversas frentes de trabalho, na mineração e na agricultura. Não se tem registros de exploração da região da Serra pelo homem branco até meados do século XVIII devido à mata fechada, relevo acidentado, medo dos índios e proibição de trânsito na região por causa do desvio do ouro. Estudos mostram que até o século XIX a mata ainda estava conservada. Somente em 1830 é que começou uma ocupação mais intensa, já que as minas de ouro estavam esgotadas e não havia mais o perigo do seu desvio (TEIXEIRA, 2009).

De acordo com informações obtidas na administração do Parque, a primeira expedição enviada à região foi liderada pelas tropas do emissário do governo Brigadeiro

Bacelar. Ele renomeou a Serra e um de seus rios: de Serra dos Arrepiados para Serra do Brigadeiro; de Rio Guarutos para Rio Glória. Já a partir de informações extraídas pelas conversas que a pesquisadora realizou com os moradores, o povo deu o nome de Serra dos Arrepiados ao local devido à presença dos índios que usavam um coque para cima e também devido ao clima frio que arrepiava a pele.

Segundo Teixeira (2009), até meados do século XIX, os índios ocupavam a parte ocidental da Serra. Posteriormente foram sendo perseguidos e aniquilados pelos colonizadores da Serra. A mata começou a ser explorada com maior intensidade quando as pessoas deixaram as minas de ouro e passaram a migrar procurando terras para lavoura. Isso ocorreu especialmente quando a principal atividade econômica do país começou a ser o café. De acordo com a autora, com a derrubada da mata para os cultivos, as lavouras apresentaram problemas de perda de nutrientes e erosão (devido aos plantios feitos morro abaixo sem manejo adequado), ficando fragilizadas. A cafeicultura foi introduzida na Serra em meados do século XIX, proporcionando crescimento populacional, construção de estradas, urbanização e consequentemente problemas ambientais.

As pequenas propriedades rurais surgiram nas encostas de morros, ao pé da serra e em regiões de várzea, já que os grandes fazendeiros não consideravam aquelas terras produtivas. Posteriormente as pequenas propriedades também surgiram com o desmembramento de antigas e grandes fazendas de café, devido à crise econômica e fragmentação de herança. Tal processo deu origem aos agroecossistemas, com a produção de milho, café, feijão, arroz, hortaliças, cana de açúcar. A agropecuária não era a atividade principal, sendo usada apenas para abastecer as propriedades com carne e leite (TEIXEIRA, 2009). Novas relações trabalhistas foram sendo firmadas nesse meio rural, como a meia e a troca de dias6. A pesquisadora da presente investigação, em seu trabalho no projeto Serra do Brigadeiro: Montanhas dos Muriquis, junto aos demais pesquisadores desse grupo, entrevistaram 123 famílias do entorno do Parque, sendo que a maioria delas declarou que troca os dias entre os familiares é a prática mais comum nas lavouras de café.

6 O sistema de meia ocorre quando o dono da terra fornece uma parte do terreno para o pequeno agricultor trabalhar e eles dividem o lucro do plantio ao meio. A troca de dias funciona quando os pequenos agricultores trocam os dias entre eles em algumas lavouras de suas famílias ou de outros fazendeiros, recebendo pelo dia

A partir de 1930, com a crise do café cresceram as pastagens, substituindo também as florestas. Nesta época destaca-se a revolução de 1932, fato que marcou a história de Araponga (um dos municípios vizinhos a Serra), com a presença do ex-presidente Arthur Bernardes. Esse período foi marcado pela alternância de poder sobre o governo do país, entre Minas e São Paulo. Arthur Bernardes foi um Revolucionário Constitucionalista que lutou para desalojar o Partido Republicano Paulista do governo federal. Foi perseguido e se escondeu em Araponga trazendo fortes conflitos para o local.

Em 1958 houve intensa devastação na Zona da Mata, somente sobrando mata nos cumes de morros. Dando continuidade a essa questão, na década de 1960 a Zona da Mata foi caracterizada por sua decadência ambiental. Na década de 1970 o governo federal priorizou atenção para a Zona da Mata, passando essa área a ser um problema dessa esfera governamental (TEIXEIRA, 2009).

Abre-se um parênteses para lembrar que foi na década de 1960 que se inicia o processo de ditadura no país, em que se dava ênfase à economia desenvolvimentista. Enquanto no mundo se configurava o despertar do movimento ambientalista, nas décadas de 1960 e 1970, influenciado pela contracultura que “é tomada como uma ideologia que se opõe ao paradigma industrial e científico moderno e aos valores instituídos na cultura ocidental” (RINK, 2009, p. 13), no Brasil, foram construídas a Usina Nuclear de Angra, a Usina Hidrelétrica de Tucuruí e a Transamazônica, iniciativas de alto potencial de degradação ambiental (BARBOSA, 2008). O Brasil foi criticado internacionalmente por suas ações de impactos ambientais, e o governo argumentava que a defesa pelo ambiente seria uma conspiração das nações desenvolvidas para impedir o crescimento do país (BRASIL, 1996). Ressalta-se que apesar da intransigência brasileira quanto aos impactos ambientais, o governo também estava reagindo a um modelo de desenvolvimento que as grandes nações queriam impor ao nosso país e assim não representássemos uma ameaça para competir com eles no mercado internacional.

Entre as décadas de 1960 e 1970, a empresa Belgo Mineira explorou intensivamente a mata da Serra do Brigadeiro, especialmente na região da Fazenda do Brigadeiro. O objetivo era extrair madeira para fazer carvão vegetal e assim abastecer seus fornos siderúrgicos. Essa história é pouco conhecida e divulgada por falta de fontes escritas. Na pesquisa de

Teixeira (2009)7, encontram-se relatos de moradores antigos da Serra sobre o assunto. O desmatamento voraz gerado pela empresa incentivou trabalho e emprego para mais de 200 famílias, benefícios na infraestrutura da região (abertura de estradas, construção de pontes e casas) e um intenso movimento, como por exemplo, abertura de vendas, circulação de pessoas de fora e início de atenção à saúde (presença de um farmacêutico para prescrever remédios aos trabalhadores da Belgo Mineira).

Na pesquisa de Teixeira (2009) foi apontado que, no período da “Companhia” (apelido que os moradores deram a Belgo Mineira), não existia intervenção dos poderes público municipal e estadual na área rural. As comunidades eram isoladas, não havia estradas, apenas trilhas, e os moradores ficavam em total dependência da cidade para assistência à saúde, educação e para fins religiosos. Com a “Companhia” essas pessoas viveram uma grande prosperidade e tiveram maior circulação de dinheiro, como relatado na fala de um morador do entorno do Parque, entrevistado pela mencionada autora: “[...] a gente viu a estrada de Araponga, para mim foi a maior alegria o dia que inaugurou aquela estrada. O cheiro de gasolina pra nóis era mesmo que cheiro de roupa nova, de tão bom que nóis achava” (TEIXEIRA, 2009, p.52).

Essa fala expressa muito bem como o paradigma do progresso estava entranhado na sociedade, chegando inclusive na área rural. Segundo Lobão (1998, p. 12) o conceito de progresso está na ideia de que “a humanidade avança, passo a passo, de um passado de privações materiais e intelectuais, em direção a um futuro radiante em conforto material, em conhecimentos e em felicidade”. Para o autor o sistema capitalista se nutre do paradigma do progresso como uma estratégia para sua validação, já que nota-se:

[...] a existência de mecanismos que impulsionam as empresas capitalistas a introduzirem inovações nos processos produtivos e nos produtos. Esse movimento contínuo de aperfeiçoamento da estrutura produtiva e a fonte na qual se nutre o paradigma do progresso.

O crescimento nas quantidades produzidas bem como o constante aparecimento de novos produtos, além da introdução de melhoramentos nos produtos já existentes, deixa transparecer a ideia de que a sociedade está continuamente

7 Neste capítulo da presente pesquisa, faz-se o uso recorrente do trabalho de doutorado de Teixeira (2009) para caracterizar a história da Serra do Brigadeiro. Essa autora debate as relações e conflitos que envolvem populações locais em área de preservação ambiental, com especial atenção à Serra. Em sua pesquisa usa elementos metodológicos da etnografia e da história de vida, em que entrevistou 70 pessoas envolvidas com o Parque do Brigadeiro, sendo a maioria composta por moradores de quatro municípios vizinhos a essa Unidade. Na presente investigação muitas dessas entrevistas são usadas para ilustrar com maior qualidade a

progredindo e que as situações de desconforto estão sendo superadas pela dinâmica da economia (LOBÃO, 1998, p.73).

Assim percebe-se que o asfalto e a gasolina, segundo a fala do entrevistado, era o progresso chegando na “roça”, intimamente ligado à sua satisfação e felicidade. O discurso sobre os benefícios do progresso era muito forte nas décadas de 1960 e 1970, em que o país se pautava numa economia desenvolvimentista, sob o controle militar, o que justifica o fácil convencimento da empresa Belgo Mineira a conquistar os agricultores como sua mão de obra.

Na “Companhia”, de acordo com Teixeira (2009) os moradores da Serra trabalhavam em diversas funções, tais como abrir clareiras no mato, derrubar, serrar e cortar árvores, construir e manter as estradas, queimar madeira nos fornos de carvão, carimbar as madeiras de lei para serem transportadas, entre outros. O trabalho era atrativo porque na “Companhia” se recebia mais que um dia de trabalho na lavoura.

Segundo a autora os moradores do entorno do Parque viveram um sistema cruel de trabalho, em que o trabalhador acabava sendo convencido a trabalhar mais do que aguentava para ganhar um pouco mais. Muitos iam além dos limites do próprio corpo. Às vezes as jornadas de trabalho podiam durar 15 horas. Há declarações de que nessa época houve acidentes, desastres e doenças relacionadas ao intenso trabalho. Muitos agricultores pararam de trabalhar na roça quando iniciaram as atividades na “Companhia”, já que lá poderiam ganhar mais dinheiro. Quando atuação da empresa foi embargada, aqueles que haviam saído das lavouras para se dedicar a carvoaria ficaram numa situação muito pior do que era antes.

Além das más condições de trabalho, a carvoaria suscitou certa violência no local. Com a abertura de estradas havia grande circulação de pessoas estranhas, como os gaioleiros (nome dado aos motoristas dos caminhões que transportavam a madeira), que trouxeram agressividade para o local, tais como sumiço de mulheres e assassinatos. Tal contexto pode ser observado na fala de um dos moradores do entorno do Parque, entrevistado por Teixeira (2009): “[...] era uma matação de gente doida lá em cima, matavam moça, homem, que era gente de fora que morava lá, ninguém sabia, ninguém conhecia” (p.53).

Segundo Teixeira (2009), por um lado a “Companhia” representou prosperidade para o local. Por outro, representou degradação ambiental com desmatamento, perda da biodiversidade de várias espécies da fauna e da flora e diminuição do volume de água dos rios, e problemas sociais como miséria, violência e mudanças nos costumes. No Parque ainda podem ser vistos fornos de carvão, ruínas de serraria e de carreta dessa época. A autora afirma também que:

[...] de produtor de tudo, o agricultor passou a ser consumidor de tudo, agricultor deixou de produzir para o auto-consumo e de ser auto-sustentável, o agricultor passou a depender do mercado. O costume de comprar no mercado gerou também uma mudança no habito alimentar e a experiência de ser assalariado, de ter um patrão, criou uma cultura de subordinação e subserviência, uma relação de paternalismo entre os pequenos trabalhadores rurais e os grandes fazendeiros (TEIXEIRA, 2009, p. 54).

Em 1970, em Araponga, o café voltou a ser a principal atividade econômica, com o apoio do governo mineiro com o plano governamental de renovação e revigoramento dos cafezais (TEIXEIRA, 2009).

A preocupação com o desmatamento, principalmente decorrente da ação da Belgo Mineira, fez com que professores e pesquisadores da UFV e das Faculdades do Vale do Carangola escrevessem um documento, na década de 1980, solicitando a criação de um Parque nessa Serra. Em 1988 o governo de Minas criou a Lei nº 9.655, autorizando a criação do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, embora o Decreto de sua criação só tenha sido promulgado em 1996. Segundo essa Lei, o território do Parque deveria estar delimitada em toda a região que estivesse na cota altimétrica de mil metros acima do nível do mar. Essa cota abrangeria uma área de 32.500 hectares, que, de acordo com os critérios da biologia da conservação, era dimensão para uma conservação efetiva (TEIXEIRA, 2009).

Segundo a autora, por iniciativa do Centro de Tecnologias Alternativas (ONG da cidade de Viçosa), Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e pesquisadores da UFV, a proposta do Parque foi levada para os moradores da Serra, por meio de um diagnóstico rápido participativo em comunidades pertencentes ao município de Araponga. Um dos resultados desse diagnóstico foi a listagem de problemas a serem confrontados pelos moradores, um deles a criação do Parque. A autora afirma que esses resultados foram

publicados num jornal que circulou no entorno do Parque, causando espanto nas pessoas, pois não tinham conhecimento sobre o assunto. Os moradores ficaram com medo de perder suas terras por causa da cota mil. Os agricultores isolados não tinham condições de entender o processo e negociar.

Em 1993, representantes do Centro de Tecnologias Alternativas, dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e da UFV se articularam na mobilização popular, procurando desmistificar a implantação do Parque e sustentar a participação dos habitantes locais no processo. Também foi abordada a importância de propostas para manter os pequenos agricultores na região (TEIXEIRA, 2009). Nesse processo, houve uma negociação com os órgãos responsáveis, na região de Araponga.

Esse movimento teve pouca expressão em outras regiões do entorno. Pesquisas apontam que na criação do Parque não houve participação significativa da comunidade do entorno (GROSSI, 2011; FONSECA, 2011).

Em 1993, o IEF junto a especialistas realizaram um estudo para criação e implantação do Parque e os agricultores locais lamentam por não terem sido consultados sobre o assunto. Nessa época, o Parque era considerado como uma ameaça, fazendo com que houvesse muita resistência por parte dos moradores em relação a sua criação (TEIXEIRA, 2009), sentimento esse que persiste até os dias de hoje.

Segundo Teixeira (2009), deve-se estar atento aos objetivos sobre a criação de um parque para não recair somente na visão capitalista, em que a floresta é considerada como fonte de riqueza. A criação de uma Unidade de Conservação gera uma nova organização social que modifica a dinâmica socioeconômica e a política local. Para a autora há perspectivas distintas entre a população local e os propositores das Unidades de Conservação sobre a criação de uma área a ser conservada. Para os biólogos que pesquisavam sobre a Serra, uma justificativa que levou à criação do Parque foi o grande e intenso desmatamento causado pela empresa Belgo Mineira. Em acréscimo a isso, a criação do Parque facilitaria os estudos sobre diversas espécies locais em extinção, como o Muriqui. Já para as famílias de pequenos agricultores da Serra, conservar faz parte de seu modo de sobrevivência, já que em sua rotina diária produz pouco impacto ambiental. Nem sempre a perspectiva dos moradores é levada em conta, já que precisam de terra para a lavoura e o pasto, enquanto para os preservacionistas o Parque precisaria de uma maior área

de abrangência, ocupando grande parte dessas áreas de cultivo. Assim, a criação de um Parque pode ser encarada de formas diferentes, entre elas:

[...] como um processo de segregação socioambiental, de desterritorialização, no sentido de que, muitas vezes a preocupação em territorializar animais e plantas implica em desterritorializar o ser humano ou ainda como uma possibilidade de se estabelecer novos territórios, novas relações socioambientais (TEIXEIRA, 2009, p.59).

Segundo a autora, o Parque do Brigadeiro foi legalizado após um intenso debate e mobilização social. Foi criado em maio de 1996, pelo Decreto nº 38.319. A área total foi reduzida de 32 mil ha para aproximadamente 14 mil hectares, correspondendo apenas à área de floresta, deixando de fora as lavouras e outras áreas produtivas. Assim, o Parque foi criado com pouco mais de 1/3 da área originalmente autorizada.

A gerência do Parque é um cargo indicado. O atual gerente veio transferido de uma reserva do norte de Minas. Os funcionários do Parque são contratados por convênios entre o IEF e prefeituras, ou IEF e empresas. São eles: Guarda-Parques, Serviços Gerais e Secretárias.

Ao longo da história de criação do Parque, Teixeira (2009) ressalta que o IEF vem traçando relações conflituosas, mesmo entre aqueles que conservavam o alto da Serra, já que a participação dos moradores locais era desconsiderada e a gestão do Parque era inteiramente voltada para seu próprio interior. Algumas manifestações observadas na pesquisa de Teixeiras (2009) mostram a discordância com a Lei da cota mil e a criação do Parque: “fofoca, não-participação, boicote, vandalismos, incêndios criminosos, caça ou extração clandestina de plantas” (p. 64). Para a autora a falta de conhecimento sobre o Parque é comum entre os habitantes mais distantes de sua sede, ou seja, em lugares onde a Unidade não tem tanta influência.

Antes do SNUC, Lei nº 9.985, oficializada em 2000, as decisões sobre a conservação obedeciam leis muito rígidas e que pouco dava atenção a relação entre natureza e sociedade. As deliberações eram dadas “em instâncias superiores, distantes do município, inviabilizando ainda mais qualquer possibilidade de contato e discussão dos agricultores com os agentes responsáveis pelo processo” (TEIXEIRA, 2009, p. 56). Já o SNUC prevê a obrigatoriedade da consulta pública para criação de uma Unidade de Conservação (BRASIL, 2000). Com ele foi dada à população um caráter legal de participação

(TEIXEIRA, 2009). Embora essa não tenha sido a realidade ocorrida na região da Serra do Brigadeiro, destacando-se que o mesmo foi criado antes da referida lei.

Ainda sobre a participação da comunidade nas decisões do Parque, cada Unidade de Conservação deve ter o seu Conselho Consultivo que é presidido pelo órgão que administra a sua unidade (no caso desse Parque, o IEF). É composto por representantes da sociedade, dos órgãos públicos federais, estaduais e municipais, com igual representação entre sociedade e órgãos públicos. É constituído por 36 membros, sendo 18 efetivos e 18 suplentes, indicados por entidades públicas e sociedade civil (TEIXEIRA, 2009).

De acordo com Teixeira (2009), o Conselho Consultivo do Parque do Brigadeiro passou a atuar efetivamente a partir de 2005, discutindo assuntos de interesse da gestão da Unidade. A autora afirma que começou a crescer o interesse dos agricultores em participar do Conselho, mas ainda é um procedimento difícil, com poucos representantes, pois não existe um entendimento sobre sua finalidade.

Segundo Teixeira (2009), em 2005, por meio da parceria entre o governo de Minas Gerais e o banco alemão Kreditanstalt für Wiederaufbau (KFW), foram aprovados recursos para a implantação e gestão do Parque. Assim, a infraestrutura foi construída, funcionários foram contratados, a regularização fundiária foi encaminhada, os limites do Parque demarcados e o Plano de Manejo elaborado. Também foi nesse ano que o Parque foi inaugurado.

Segundo a autora alguns moradores dizem que, mesmo após criar o Conselho e inaugurar o Parque, a voz da comunidade continua a não ser ouvida, tal como transparece no trecho a seguir extraído de entrevista por ela realizada: “[...] eles continuam a fazer o que bem entendem [...] nós continuamos abençoando o que eles fazem. Parece que o conselho tá lá só pra compor qualquer conselho” (TEIXEIRA, 2009, p. 69). Esse distanciamento entre a gerência do Parque e as comunidades, deixando-os alheios a participar da gestão do mesmo, pode ser um fator que fortalece a atual falta de interesse desses moradores do entorno em participar ou entender as questões sobre o Parque sendo que, especificamente, tratando-se desta pesquisa, em relação aos professores das escolas vizinhas à Unidade.

Por exemplo, é bastante elucidativo o anúncio da estrada que corta o Parque, feito pelo diretor geral do IEF na reunião do Conselho em 2007, de acordo com o entendimento de um dos participantes do Conselho Consultivo, entrevistado pela autora:

[...] na verdade nós estamos lá no conselho, mas agora, por exemplo, tem a estrada pra sair, mas que estrada? Nós não tivemos consulta nenhuma disso... que participação que o conselho teve nessa história? Que jeito que é essa estrada? A conversa deles é com o prefeito, governador, o povo não tem (TEIXEIRA, 2009, p. 70).

Assim sendo, aos poucos foi havendo um desinteresse dos moradores e dos próprios conselheiros em participar, pois não estava valendo a pena. Em 2008, o Plano de Manejo do Parque foi apresentado ao Conselho Consultivo, sendo concluído sem amplos debates.