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5.1 A Copa de 2014 no Brasil

5.1.7 Auditoria interna – TCU

Nos projetos que estão sob responsabilidade da União, a auditoria é realizada pela Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas (Seprog), cuja missão é detectar “(...) os riscos a que o evento Copa do Mundo de Futebol de 2014 está su- jeito nas áreas de construção ou reforma de estádios, mobilidade urbana e infraes- trutura aeroportuária, e também na sistemática de gerenciamento das ações a cargo do Governo Federal” (MSBRASIL, 2012).

No Portal de Acompanhamento dos Gastos para a Copa de 2014 (COPA- TRANSPARENTE, 2015), estão as decisões do TCU de 2009 2013, iniciando pelo Relatório de Levantamento de Auditoria (RLA) TC-014.075/2009-7, primeiro publica- do (Ata n° 53/2009 – Plenário, Data da Sessão: 9/12/2009 – Extraordinária) até o úl- timo levantamento publicado, TC-036.880/2012-4 (Ata n° 4/2013 – Plenário. Data da Sessão: 6/2/2013 – Ordinária).

O primeiro RLA realizado pela 6ª Secretaria de Controle Externo (6ª Secex) visava identificar “(...) as ações federais adotadas e planejadas pelas diversas Pas- tas Ministeriais envolvidas nos preparativos para a Copa do Mundo de 2014, bem como avaliar a viabilidade da realização de fiscalizações futuras”; e o último RLA tra- tava das obras de Adaptação do Armazém para Terminal Marítimo de Passageiros no Porto de Salvador/BA (COPATRANSPARENTE/TC-036.880/2012-4, 2015, p. 9).

No RLA de 2009 (TC-014.075/2009-7), diante de irregularidades observadas, O TCU relatava precedentes nos Jogos Pan-Americanos de 2007, ocasião em que advertiu que, mesmo diante da pressão pelo início iminente do Mundial, grandiosida-

de do evento, “(...) ausência de informações tempestivas e adequadas, e pela ne- cessidade de aprofundar a análise de cada ponto controvertido. Nem por isso, even- tuais irregularidades serão ignoradas ou deixarão de ser investigadas” (COPA- TRANSPARENTE/TC-014.075/2009-7, 2015, p. 2).

Adiante o TCU discutia a reforma e ampliação do TPS do Aeroporto Marechal Rondon, cujo valor da “(...) parcela fiscalizada foi de R$ 31.068.000,00, segundo in- formações da Secex-MT, na qual foram identificadas irregularidades diversas, inclu- indo sobrepreço e pagamentos por serviços não realizados” (COPATRANSPAREN- TE, 2015, p. 13) (grifo nosso).

No último RLA, de 2013 (TC-036.880/2012-4), sobre o Porto de Salvador, houve suspensão da licitação (COPATRANSPARENTE/TC-036.880/2012-4, 2015, p. 2):

Entre as irregularidades constatadas durante a referida fiscalização, destacam-se: (i) restrição à competitividade da licitação decorrente de critérios inadequados de habilitação, concretizada na exigência de quantitativos mínimos de serviços nos atestados destinados à comprovação de qualificação técnico-profissional; e (ii) orçamento do edital incompleto ou inadequado.

Não só questões financeiras eram fiscalizadas pelo TCU: “(...) foi detectado o seguinte achado não decorrente da investigação de questões de auditoria: inobser- vância dos requisitos legais e técnicos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida” (COPATRANSPARENTE/TC-036.880/2012- 4, 2015, p. 2).

O RLA 424/2011, trazendo a observação “sigiloso” (TC-032.314/2010-8), cuja denúncia referia-se a supostas irregularidades no Contrato de Financiamento e Re- passe 0319.580-60, de 31/8/2010, firmado entre a Caixa Econômica Federal (Caixa) e o Estado de São Paulo, “(...) no âmbito do Programa de Mobilidade Urbana relacionado com a Copa de 2014, tendo por objeto a elaboração de projeto, fabrica- ção, fornecimento e implantação de um sistema monotrilho para a linha 17 Ouro do metrô de São Paulo” (COPATRANSPARENTE/TC-032.314/2010-8-SIGILOSO, 2015, p. 5).

(...) flagrante violação aos princípios de legalidade, finalidade e moralidade administrativos, além de afronta ao interesse público, uma vez que a manutenção do financiamento de forma irregular implicaria a manutenção de um negócio jurídico manifestamente nulo, acarretando lesão não apenas ao interesse público secundário, mas ao próprio interesse público primário. Entre as alegações repudiava-se o aumento da linha de crédito que deveria estar “(...) condicionado à realização de empreendimentos diretamente ligados à Copa 2014, o que não seria o caso, tendo em vista que o Estádio do Morumbi foi excluído dos jogos da Copa” (COPATRANSPARENTE/TC-032.314/2010-8- SIGILOSO, 2015, p. 3).

O TCU decidiu retirar a chancela de “sigiloso” que havia nos autos, autorizou o ingresso dos denunciantes como interessados no processo mas não entendeu “(...) ser possível vislumbrar a realização de ato manifestamente ilegal (...)”(COPA- TRANSPARENTE/TC-032.314/2010-8-SIGILOSO, 2015, p. 6).

O RLA 2298/2010 (TC-010.721/2010-0) visava checar a “(...) regularidade dos Procedimentos de Concessão de Empréstimos ou Financiamentos por Parte do BN- DES para as Obras de Construção ou Reforma de Estádios de Futebol e de Mobili- dade Urbana Relacionadas com o Evento Copa do Mundo de Futebol de 2014”. O TCU determinava ao BNDES: “(...) exija que o proponente apresente o orçamento completo que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução”, entre outras orientações a fim de evitar fraudes, atrasos e outras irregularidades (COPATRANSPARENTE/TC-010.721/2010-0, 2015, p. 15).

Cabe aqui, seguindo o raciocínio exposto, citar reportagem no jornal Folha de

S.Paulo sobre a atuação do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF): “A reforma do estádio Mané Garrincha, a arena mais cara da Copa do Mundo, tem indí- cios de superfaturamento de R$ 431 milhões, segundo análise do Tribunal de Con- tas do Distrito Federal” (COUTINHO, 2014).

O TCDF mantém auditoria permanente em todas as obras da Copa de 2014, sendo o acompanhamento da construção do Estádio Nacional de Brasília Mané Gar- rincha feito pelo Núcleo de Fiscalização de obras e pela Secretaria de Auditoria do Tribunal. Com a auditoria, foram economizados R$ 105.633.148,58 para o Tesouro.

As obras do Mané, orçada em 2010 por R$ 696 milhões foi elevada para mais de R$ 1,4 bilhão (TCDF, 2013):

(...) incluindo os contratos de serviços complementares que não faziam par- te do escopo da contratação inicial. Somente os contratos da obra de refor- ma e ampliação do estádio e de fornecimento e instalação da cobertura (Contratos 523/2010 e 522/2012) (...), que somavam inicialmente R$ 870.561.402,28, atingiram juntos R$ 1.379.657.672,25, o que representa um acréscimo de R$ 509.096.269,97.

Como se pode verificar pela amostra dos relatórios e matérias publicadas na mídia, os TCU podem ter as auditorias realizadas pelas Secretarias de Controle Ex- terno (Secex) avaliadas como positivas.

O Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 também deveria ser auditado, visto que a constituição do órgão, cujos sócios são Ricardo Teixeira, pes- soa física, e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), permite que “(...) os lucros obtidos pelo comitê serão distribuídos de acordo com a conveniência de seus só- cios, sem respeitar a proporção de participação que cabe a cada um no capital societário” (RICARDO..., 2010).

De acordo com o contrato registrado na Junta Comercial do Rio de Janeiro, Ricardo Teixeira “(...) pode mandar e desmandar em todos os assuntos do comitê. Porque, além de ser sócio, o dirigente é o responsável por representar a CBF, por ocupar o posto de presidente da entidade” (RICARDO..., 2010).

Embora a divisão das cotas estabeleça que 99,99% da participação societária pertence à CBF e 0,01% a Teixeira, “(...) a manobra estatutária que deu ao dirigente o poder de endereçar lucros para onde desejar foi registrada no parágrafo 1º, do Ca- pítulo V do contrato social” (Figura 7 ) (RICARDO..., 2010).

Com essa cláusula de entrelinhas, Ricardo Teixeira pode até destinar 100% dos lucros para si ou para investir em projetos sociais ou de interesse da CBF.

Figura 7 – Excerto do contrato social do COL da Copa do Mundo de 2014

Fonte: RICARDO... (2010)