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A AUTONOMIA DO CME E A RELAÇÃO COM A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MUNICIPAL

3 CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO: A SITUAÇÃO DE RIACHUELO/RN O presente capítulo será dividido em três momentos distintos: breve Caracterização

3.3 A AUTONOMIA DO CME E A RELAÇÃO COM A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MUNICIPAL

Segundo Bordignon (2009), o processo de um sistema municipal de ensino vem carregado de “[...] tensões e movimentos entre centralização e descentralização, entre poder central e poder local, entre unidade e valorização da diversidade nacional”, e o Conselho Municipal de Educação não fica de fora desta perspectiva de movimento. Os CME acabam cheios de avanços e regressos. A cada gestão nova, mudanças chegam, e as disputas partidárias acabam sempre rodeando os conselhos. Dessa forma, permaneciam as tentativas de

descentralização que se debatem com movimentos dentro do âmbito municipal, que vão apontar para continuidade da centralização.

Em uma gestão centralizadora o processo de autonomia do CME acaba ficando centralizado. Foi o que percebi na perspectiva do CME de Riachuelo. A cada mudança de gestão o CME passa por um contexto de disputas partidárias que acaba por paralisá-lo. Sendo assim, as ações presentes no Plano de Ações Articuladas acabam sofrendo regressão a cada processo de mudança de gestão, o que dificulta o desenvolvimento do PAR. Bem assim, nota-se nos estudos tanto do primeiro PAR que o município aderiu, como o segundo PAR, que as ações chegam aos municípios bem engessadas, ou seja, essa realidade dificulta o município cumprir as metas necessárias para o seu desenvolvimento. Como explanei no primeiro capítulo, é uma tentativa centralizada de descentralizar o processo de desenvolvimento das ações educacionais nos municípios, mas a realidade ainda é muito frágil, pois esse engessamento prende o município a desenvolver ações mais coerentes com sua realidade. É difícil gerar ações descentralizadas, quando suas orientações são criadas de forma centralizada.

Diante desse cenário percebi que as fragilidades de autonomia do conselho são diversas. Começa por limitações de deliberação de ideias. Não havia documentos palpáveis na secretaria, como atas, regimentos, planos de educação que norteassem o pleno desenvolvimento do CME. A relação com a Secretaria Municipal é muito limitada, justamente pelas lutas partidárias dentro do CME. Alguns conselheiros são do lado “x” outros do lado “y”, e ambos são bem cautelosos nos poucos momentos de encontros do conselho.

Segundo Bordignon (2009, p. 69-70), a representatividade social é fundamentada na visão de totalidade, isso quer dizer que órgãos de representatividade social como o CME devem ser constituídos pelos diversos segmentos da sociedade. Todos os pontos de vistas devem ser representados.

Neste caso, para que autonomia vigore dentro do CME, este precisa de uma determinada “liberdade” de expressão em seu âmbito. Isso se dá a partir da relação que existe entre conselheiros e Secretária de Educação. No diagnóstico feito durante a pesquisa percebi a fragilidade de exposição de opiniões por parte dos conselheiros. Não apenas em relação a se sentirem coagidos, mas também na perspectiva de senso crítico e exposição de pensamentos.

Não existe um estímulo da Secretaria para construir os conselheiros criticamente. Só se reúnem em casos de extrema necessidade. A relação é mínima.

Morais (2012) diz que

“As possibilidades de formação, bem como, o funcionamento dos conselhos define o grau de autonomia e relevância na gestão do sistema de ensino brasileiro. Por conseguinte, a autonomia dos conselhos depende da definição de normas próprias e das condições reais em que funcionam para concretização de suas responsabilidades. É necessário, então, que haja o constante exercício dessa autonomia nas suas ações, independentemente do poder executivo, uma vez que o desenvolvimento de suas funções e o seu funcionamento não devem estar atrelados a políticas de governo, e sim a políticas de Estado” (MORAIS, 2012, p. 70)

A partir dessa informação nota-se, mais visivelmente, a ausência de autonomia do CME de Riachuelo, uma vez que ela depende das condições reais de funcionamento do mesmo. E durante a pesquisa percebemos a fragilidade de seu funcionamento e falta de participação de seus membros.

Existem conselheiros que possuem vínculo direto com a Secretaria, pois trabalham lá, mas praticamente não conversam sobre o conselho. Isso foi percebido, pois a Secretária Municipal de Educação nem lembrava que um de seus funcionários era membro do CME até 2016.

Na constituição do CME de Riachuelo é visível que a representação de todos os segmentos está prejudicada, pois não são atuantes. Quando essa representatividade do CME não engloba todos os segmentos da sociedade civil que se encontram, de uma forma ou de outra, ligados à educação, fica nitidamente prejudicado o diálogo que deve haver entre o Governo Municipal e o conselho, impedindo estudos aprofundados com a finalidade de propiciar melhorias na rede municipal de ensino.

Enquanto órgão colegiado o CME deve escutar a comunidade local e ser intermediário entre as necessidades da comunidade e o Governo Municipal, tendo o dever de assegurar o cumprimento legal das demandas necessárias para melhoria da realidade educacional. Isso fica bem claro quando Bordignon (2009, p. 70) afirma que “Quanto mais a pluralidade das

categorias de educadores e da comunidade estiver representada, mais os conselhos expressarão a voz e as aspirações da sociedade” .

Em conexo com este pensamento e de acordo com os discursos dos conselheiros que serão apresentados e analisados no próximo capítulo constatei que a autonomia exercida pelos representantes é mínima, por não ser um CME atuante e pela constante partidariedade existente no âmbito da secretaria de educação. Tal situação prejudica extremamente o desenvolvimento da educação local e o próprio encaminhar das ações do PAR, já que um dos indicadores da gestão educacional aponta para existência, composição e funcionamento do CME.

4 AS IMPLICAÇÕES DAS AÇÕES DO PAR PARA A GESTÃO E O