• Nenhum resultado encontrado

3 CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO: A SITUAÇÃO DE RIACHUELO/RN O presente capítulo será dividido em três momentos distintos: breve Caracterização

4 AS IMPLICAÇÕES DAS AÇÕES DO PAR PARA A GESTÃO E O FUNCIONAMENTO DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE

4.1 O PAR E A ESTRUTURA DO CME

Neste capítulo serão analisadas as entrevistas e questionários aplicados a alguns membros do Conselho Municipal de Educação de Riachuelo, tentando compreender de forma significativa as implicações do PAR através do funcionamento do Conselho, perpassando por sua estrutura, pelos princípios de autonomia presentes em seu âmbito e através do desenvolvimento/ausência de suas ações.

Para se adentrar no contexto atual no município, antes das análises apresentarei um pouco da portaria que nomeou o conselho atual, já que no capítulo anterior delimitei os artigos que compõe a lei de criação do CME. Dessa forma, optei por atualizar alguns posicionamentos da Secretária local, em virtude de mudanças que foram implementadas por meio da Portaria nº 093 (RIACHUELO, 2013).

De forma atualizada percebe-se que no ano de 2013, segundo a portaria nº 093 , assinada pela atual prefeita de Riachuelo, Mara Lourdes Cavalcante, foram nomeados novos membros para compor o CME local, para o biênio de 2013 a 2015. A portaria encontra-se nos anexos deste trabalho.

Na portaria consta-se que o CME contará com 10 conselheiros. Os conselheiros serão distribuídos com seguintes representações: Representante do Poder Executivo; Representante

de Professores da Educação Básica; Representante de Diretores da Educação Básica; Representante de Pais de Alunos; Representante de Estudantes da Educação Básica; Representante do Conselho Tutelar; Representante de Igrejas; Representante de Sindicatos, Representante de Associações e Representante da Sociedade Civil. Essas são as representações presentes no conselho em foco. Muito embora nas entrevistas e questionários seja perecebido que apenas três membros do CME atual trabalham, os demais estão apenas no papel.

Para compreender melhor a relação da Secretaria da Educação com o CME e com as propostas de ações do PAR entrevistei o Secretário anterior de Educação, o qual permaneceu no mandato de 2007 a 2014. Mesmo mudando a gestão municipal ele permaneceu no cargo. O que já desencadearia o pensar de como uma gestão poderia acontecer democraticamente se há uma concentração de gestão há sete anos? É um ponto que precisa ser pensado, pois a movimentação traria novas representações, novas ideias e novas metas a serem alcançadas. A concentração de função, por vezes, tem prejudicado o encaminhar deliberativo de decisões do CME.

A conjuntura e mobilização da sociedade civil e esferas do Estado tomaram grande importância, principalmente durante o final da década de 1970, lutando contra o regime imperial e autoritário, centralizador e tecnoburocrata, visando uma melhor democratização da educação no Brasil.

Segundo o documento da CONAE (2014, p. 146):

[...] é preciso romper com as práticas autoritárias e centralizadoras ainda arraigadas na cultura política da sociedade, demarcada pelas desigualdades sociais, para uma tomada de decisão, especialmente no campo educacional. Romper com a lógica da participação restrita requer a superação dos processos de participação que não garantem o controle social dos processos educativos, o compartilhamento das decisões e do poder, configurando-se muito mais como mecanismo legitimador de decisões já tomadas centralmente.

A Conferência apresenta o pensamento que deve virar realidade. Ou seja, devem ser construídos espaços onde se possam aperfeiçoar ambientes democráticos de controle social e de deliberação de decisões, como, por exemplo, os Conselhos Municipais de Educação. Isso significa dizer que o CME de Riachuelo devia ter em sua fundamentação principal o poder deliberação, já que teoricamente existem representações de todas as instâncias no mesmo.

Ademais, conforme citado anteriormente, a gestão da Secretaria Municipal de Educação é a mesma de sete anos atrás.

Para se compreender o CME de Riachuelo e o PAR dentro da realidade municipal, trago alguns pontos importantes abordados na entrevista com o Secretário. Saliento que o roteiro da entrevista pode ser encontrado nos apêndices deste trabalho.

Caracterização do entrevistado:

Cargo Tempo de Mandato Formação

Secretário Municipal de de Educação de Riachuelo

7 anos Licenciatura em Letras Língua Inglesa

O secretário se propôs de forma muito solícita a responder a todos os questionamentos. No entanto é possível observar algumas informações vagas em seu discurso ou que não interessavam ser reconhecidas. Em um primeiro momento na entrevista indaguei sobre como o PAR foi compreendido pela gestão atual e como está sendo implantado. Em resposta resumida obtive: “O PAR foi entendido como de muita importância pra Riachuelo, sabendo que mesmo com as dificuldades burocráticas ele seria um impulso pra educação municipal” (informação verbal, 2014). Em contexto básico o entrevistado quis dizer que a realidade legislativa e educacional do município entendeu a importância do PAR para o desenvolvimento da educação, tanto que na continuação de fala ele relatou que “Em 2007 veio um comitê do MEC que ficou aqui em Riachuelo uma semana, manhã, tarde e noite trabalhando no diagnóstico inicial junto com a equipe local” (informação verbal, 2014).

Segundo o Secretário esse fato mobilizou todos que faziam parte da rede educacional, para assim se formar o comitê local que trabalhou junto ao MEC e elaboraram junto um diagnóstico inicial do município. Ele disse ainda que “foi uma semana intensa de atividades, para transparecer a realidade local” (informação verbal, 2014), para que assim pudesse ser elaborado o PAR local e haver a liberação de recursos para investimento da educação. Cabe dizer que nas visitas realizadas ao município encontrei apenas uma pessoa que fez parte do comitê formado.

O Secretário salientou ainda, conforme já referendado acima, as dificuldades burocráticas do Plano, pois disse que “a demanda de solicitação de documentação é extremamente excessiva para liberação de recursos, isso acaba por dificultar nosso trabalho na secretária de educação e de contrapartida no próprio Conselho Municipal de Educação”

(informação verbal, 2014). Essa dificuldade demanda também da própria mudança de cargos comissionados ainda dentro do município. Então, a cada mudança de gestão municipal existe uma grande dificuldade de omissão de documentos, de arquivos e por vezes até desaparecimento ou extravio dos mesmos, o que acaba dificultando o cumprimento da parte burocrática. Quanto mais tempo de protelação do cumprimento burocrático mais tempo pra liberação de recursos ao município.

Outro ponto importante que foi abordado na entrevista consiste, justamente, no seguinte questionamento: O Conselho Municipal de Educação de Riachuelo deve ter papel fundamental na execução do PAR. Quais os segmentos representados nesse Conselho? E como eles são “escolhidos”? O Secretário respondeu da seguinte forma:

Nós temos representantes de diretores, de professores, da sociedade civil e do sindicato de trabalhadores rurais. Eles são escolhidos em reunião com todos os segmentos da educação local. São dados alguns nomes e são colocados alguns aspectos dos possíveis conselheiros que irão contribuir para educação. Em seguida se tivermos alguma objeção, democraticamente, verificaremos como proceder. (informação verbal, 2014).

Na realidade a concepção de democracia, neste sentido, precisa ser repensada, pois os segmentos acabam sendo concebidos por indicação e não democraticamente, como referenda o final da do discurso. E, muitas vezes, por falta até de conhecimento, as outras instâncias acabam por apoiar uma determinada indicação, apenas pra que não se fique sem representação ou por conta de pressões políticas da realidade partidária local. O princípio da Gestão Democrática, que devia tentar integrar e gerar participação da comunidade, conforme explicitado no documento da CONAE (2014, p. 162) quando diz, em suas proposições e estratégias, que se deve “Criar conselho educacional com a participação e integração dos professores, funcionários e a família para garantir melhores condições de financiamento da aprendizagem”, acaba não sendo cumprido, mas sim usurpado por defrontes e conflitos internos do ambiente educacional local, que vão além da realidade da educação e adentram no cenário político.

A partir da forma como é concebida a composição dos conselheiros, percebe-se que outras fragilidades acontecem, justamente, por conta dessa composição. Verifiquei tais fragilidades após resposta do Secretário à seguinte pergunta: Como o Conselho Municipal acompanha a execução das ações do Plano? A resposta imediata foi: “O Conselho acompanha apenas quando tem uma necessidade de ‘julgar’ algum fato” (informação verbal, 2014). Ou

seja, espera-se que o erro aconteça, para poder ser tomada alguma atitude de acompanhamento ou supervisão. Não de deliberação, mas de umas dessas duas vertentes, o que acaba tirando o verdadeiro papel do CME que é de autonomia e descentralização de tomada de decisões. Destaco aqui a importância do movimento dos cargos que contemplam a secretária de educação, de forma especial, o de Secretário (a) de Educação, para, assim, levando em consideração o contexto e o todo da realidade local, poder ter variação de ideias e inovações, até mesmo dentro do próprio CME.

A partir do art. 3 de lei nº 363, pode-se constatar que o Conselho Municipal de Educação em foco não exerce funções deliberativas, tirando uma das características principais do colegiado que é o poder de deliberação. O exercício de democracia fica estagnado, parado e sem utilidade dentro do conselho, uma vez que, os integrantes do mesmo não podem deliberar sobre nenhum assunto que compete à educação local. Os conselheiros acabam apenas por exercer ações de supervisão dos recursos (conforme os incisos 6 e 7 do Art. 2º) e, segundo o último inciso, deveria supervisionar e acompanhar o desempenho dos profissionais do magistério. É visível que ainda há ausência do verdadeiro papel do conselho municipal junto à educação local e a própria secretaria. Talvez a ausência de compreensão do verdadeiro papel do conselho aconteça também pela falta de efetividade do mesmo.

Como supracitado no documento da CONAE RN (2014), em uma de suas proposições e estratégias, a Gestão Democrática versa “Garantir caráter deliberativo das instâncias de controle social, quanto à aplicação de suas decisões e em caso de descumprimento pelo gestor caracteriza-se crime de improbilidade administrativa” (CONAE RN, 2014, pg. 162). Sendo o CME um dos indicadores de Gestão Democrática presentes no PAR, constata-se que até o presente momento o mesmo não tem desenvolvido papel democrático no seio da comunidade de Riachuelo. De acordo com estudos da realidade concreta do município, muito mais tem exercido influências partidárias que ações colegiadas.

Diante do momento de entrevista, penso que a pergunta mais estarrecedora feita ao Secretário de educação foi “O conselho tem ajudado efetivamente no cumprimento das ações democráticas previstas no PAR?” A resposta do secretário se deu da seguinte forma:

Bem, o Conselho, sendo bem franco, ele não tem se reunido. Apenas quando aparece alguma necessidade. Mas, não estamos conseguindo ter a reunião como tem que ser. Sabemos que o conselho deve julgar ações de possíveis

coisas erradas que possam está acontecendo, mas isso não vem acontecendo (informação verbal, 2014).

Versando sobre o contexto atual do conselho em foco percebe-se que o CME não tem cumprido o que está regulamentado através da Lei municipal nº 363, de 27 de agosto de 1998, já referendada no capítulo anterior, quando estabelece que o CME deve se reunir ordinariamente uma vez por mês e, extraordinariamente, sempre que o prefeito ou qualquer membro do conselho faça a convocação. As reuniões que deveriam ser ordinárias acabam acontecendo apenas em necessidades extraordinárias. Não foram apresentados argumentos palpáveis que pudessem justificar a ausência das reuniões. Mas, um dos primeiros pontos que deviam começar a ser superados é a realidade de se efetivar as reuniões mensais do CME, para assim haver uma melhoria da qualidade de ações municipais e até melhor democracia local.

Quando perguntado sobre se a Secretária Municipal de Educação priorizou a execução de alguma ação? Quais? Por quê? O entrevistado respondeu:

Sim, em relação à estrutura das escolas, para assim os alunos terem mais meios de aprender. Por exemplo, laboratórios de informática, para melhorar as atividades. Mas, tivemos mais problemas com burocracia, pois tínhamos que esperar um profissional de informática do MEC pra fazer as instalações. Acabou que um eletricista daqui mesmo que teve que fazer. As creches e escolas são insuficientes. O estabelecimento de uma nova creche foi uma prioridade durante o PAR. O transporte também foi outra prioridade para que pudesse sair do Pau de arara. Além da capacitação docente também ter sido nossa prioridade. (informação verbal, 2014).

Nota-se certa disparidade nas necessidades da infraestrutura ao transporte, não vislumbrei no discurso do secretário a prioridade do melhor organizar o Conselho Municipal, ou pelo menos por em ordem as reuniões do CME, que deveriam ser mensais e não apenas extremamente extraordinária.

Cabe salientar que além de não ter sido citado como prioridade pelo secretario, o CME ainda diante de análise do diagnóstico do PAR 2007-2011 do município de Riachuelo, através do indicador 2 do PAR, denominado “Existência, composição, competência e atuação do Conselho Municipal de Educação (CME)” (informação verbal, 2014) obteve pontuação 3, o que aponta para uma situação satisfatória, com mais aspectos positivos que negativos, ou seja, o município de Riachuelo, em sua avaliação, desenvolve, parcialmente, ações que favorecem o desempenho do indicador, segundo comitê de acompanhamento. Mas, diante da realidade

exposta nas visitas, entrevistas, conversas e questionários o que se constatou é que existem mais aspectos negativos que positivos. Vê-se assim, uma disparidade entre o exposto no diagnóstico e a realidade total do CME.

Fora que em sua justificativa o mesmo município afirma que CME é representado pelos segmentos de classe, mas, não participa do planejamento municipal de educação, sendo sugerida a participação do CME no planejamento municipal de educação e acompanhamento dos recursos e nas avaliações. Ou seja, um órgão colegiado que deveria ter como função deliberar sobre os rumos educacionais do município, propor normas pedagógicas e administrativas não estava participando do planejamento junto à Secretaria Municipal de Educação e mesmo assim foi avaliado como indicador que não necessitava de intervenção da União. É possível que não houvesse clareza sobre as reais funções do CME no momento de elaboração do documento, por parte dos gestores que o elaboraram.

Perante essas necessidades apresentadas no CME, percebi que era necessário perguntar ao Secretário sobre a existência ou inexistência do Regimento do Conselho Municipal de Educação. Quando indagado sobre essa temática, deu-nos uma resposta que pode ser considerada vaga: “Em relação ao Regimento do Conselho, eu não sei dizer concretamente, mas existe, como em qualquer outro órgão que precisa ser regido. Ele deve está em algum local aqui da secretaria” (informação verbal, 2014). A resposta demonstra mais um fator preocupante, pois, posteriormente, o regimento não foi encontrado e nenhum dos funcionários tinha conhecimento de tal documento, nem mesmo o Presidente do CME. Como utilizar o conselho como instrumento de Gestão Democrática, de participação da comunidade, de autonomia se o mesmo não tem em sua essência nem um regimento para ser cumprido e modificado segundo a realidade das ações locais? A situação se torna ainda mais preocupante e vejo a ausência de preocupação com princípio da gestão democrática. O processo de descentralização fica comprometido, uma vez que não se tem um “norte” que rege o CME e encaminha para as ações prioritárias.

Ainda durante a entrevista perguntou-se acerca de uma realidade decretada pela Lei nº 363 de 1998, que regulamenta o conselho, pois a mesma concebia que o presidente do CME deveria ser sempre o Secretário Municipal de Educação. Como respostas ouviu-se o seguinte:

Mesmo com a lei passada dizendo que o Presidente do Conselho deve ser o secretário de educação, isso não vigora mais aqui. Com a posse da nova

prefeitura tivemos decreto que estabelecia o término desta realidade. Hoje temos uma presidente do conselho que é a professora “X”. Esse pensamento foi só no início de promulgação da lei. (informação verbal, 2014).

Mesmo sendo um pensamento do início da promulgação da lei, evidencio que trouxe muitos entraves durante o tempo de permanência, já que só foi localizada a portaria municipal nº 093/2013 que declarava e expressava os representantes do CME, inclusive o presidente, para o biênio 2013-2015. Através da documentação conseguida apenas com esta nova gestão municipal houve mudança. Mas, até chegar 2013, se passaram mais de dez anos que não há informação concreta ou documentação que comprove que realmente o presidente não tenha sido o secretário de educação.

Mas um fator preocupante foi quando perguntamos sobre papel do CME na elaboração e acompanhamento do plano municipal de educação (ou documento equivalente). Em que fase está esse plano? A resposta leva a entender ainda mais o descompasso existente dentro do CME: “Existe uma proposta de Plano Municipal em trâmite, mas ainda não está consolidada. Mas, já está encaminhada as partes principais” (informação verbal, 2014). No primeiro semestre de 2015, quando fiz a primeira visita ao município, fui informada de que a proposta do PME já estava sendo avaliada junto à Secretaria Estadual de educação. Isso significa dizer que o processo de elaboração já leva muito tempo em trâmite. O CME acaba sendo ainda mais prejudicado, já que não tem nem regimento, nem Plano Municipal de Educação. Diante do discurso exposto nota-se certa ausência de preocupação e prioridade em terminar este plano. Finalizando a entrevista o Secretário foi deixado livre para fazer suas considerações finais:

Como considerações finais, eu digo que o PAR é uma proposta muito boa, mesmo com dificuldades devido a burocracia, a educação mudou depois do PAR. Não apenas em Riachuelo , mas acho que ele veio trazer muitas melhorias pra educação de todo pais. (informação verbal, 2014).

De forma abrangente, percebe-se que o Secretário limita as dificuldades do PAR a uma única vertente: a burocrática. Quase que somente utiliza sempre esta justificativa para os problemas que precisam ser vencidos. Em nenhum momento fala de dificuldades das parcerias entre União, Estados e Município. Nem trata com muita preocupação a realidade do CME local, e como se pode perceber são muitas limitações que precisam ser ultrapassadas.

[...] a gestão democrática como condição da qualidade sociocultural da educação. Não basta garantir o direito à educação. É preciso garantir a participação de todos: a educação não será para todos enquanto todos não participarem da educação. A sociedade pode e deve expressar-se e construir coletivamente os rumos da educação nacional, permitindo a discussão em nível local, estadual e nacional, respeitando a autonomia de cada ente federativo. Nesse contexto é importante realçar o papel das organizações não governamentais e dos movimentos sociais populares em defesa do direito a uma educação emancipadora, como vem defendendo o Fórum Mundial de Educação (FME). Precisamos de um pacto Nacional pela educação.

O processo de efetivação da gestão democrática da educação descobre nos conselhos, órgãos importantíssimos de representação social e deliberação, espaço que pode ser considerado excepcional para estabelecer o contraponto da deliberação singular do Executivo, muito embora não seja sempre isso que aconteça na realidade concreta.

Segundo Bourdieu (2009), as instituições educativas vinculam relações de poder impositivas através de autoridades pedagógicas de alguns sujeitos, permitindo certo disfarce da violência simbólica. Pode-se evidenciar isso claramente na forma como são compostos os conselheiros, pois aquilo que é declarado democrático, de fato, não o é. A afirmação de que existe democracia é apenas um disfarce, quando na realidade existem “representantes” que são impostos aos demais membros da educação local e assim compõem o conselho. Apenas se houver alguma oposição à indicação é que se reavalia a situação. Imposição não é democracia.

Durante muitos anos vivenciaram-se os modelos de gestão burocrática e gerencial, como já foi enfatizado em capítulos anteriores. Esse pensamento tecnicista de gestão deixou resquícios que rendem até hoje. Com o discurso do Secretário percebe-se que esses perfis de gestão ainda predominam no cenário de Riachuelo, uma vez que, por exemplo, é evidente o posicionar do papel do gestor chave, neste caso o Secretário de Educação, como o delimitador de práticas ainda centralizadas, ainda que seu discurso seja na perspectiva da gestão democrática.

É constatável que a palavra do Secretário apresenta uma posição privilegiada a este membro, tendo em vista que ele, mesmo não sendo o presidente do CME, tem a palavra final no caso de impasses entre os conselheiros. Nesta perspectiva, Bourdieu (2008, p. 87) afirma que:

Há uma retórica característica de todos os discursos institucionais, quer dizer, da fala oficial do porta-voz autorizado que se exprime em situações solenes, e que dispõe de uma autoridade cujos limites coincidem com a delegação institucional.

Nos próximos itens deste capítulo percebe-se o quanto o CME em foco é frágil e não se