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O Conselho Municipal de Educação no Brasil: Síntese Histórica

2.2 O PAR E A DIMENSÃO QUE SERÁ ANALISADA: APRESENTANDO A GESTÃO EDUCACIONAL E O INDICADOR DO CME

2.2.2 O Conselho Municipal de Educação no Brasil: Síntese Histórica

O termo conselho tem sua origem latina e significa ouvir ou ser ouvido, conforme Cury, (2000, p.47) “[...] tanto [...] ouvir alguém como submeter algo à deliberação de alguém, após uma ponderação refletida, prudente e de bom senso”.

Os conselhos são órgãos colegiados criados para gerar uma participação democrática, sendo espaços de aprendizagem democrática, que se baseiam em processos decisórios de

participação e deliberação pública, tendo dentro das suas metas o crescimento dos indivíduos enquanto cidadãos e da própria sociedade.

O Conselho deve possuir uma coordenação, que se enquadra no mesmo patamar dos demais membros, procurando sempre fazer valer a vontade da maioria ou consensual do órgão.

Segundo Moreira (1999, p.65) os Conselhos são órgãos concebidos com a função de “Influir constitutivamente na vontade normativa do Estado, mediante o exercício de competências conferidas pelas referidas leis criadoras, que devem trazer as linhas definidoras de seu campo de atuação”. Ou seja, os Conselhos não podem deliberar além do campo de atuação, que é o campo das políticas sociais. Não se pode, tampouco, adentrar em âmbitos que ultrapassem a esfera de governo e as atribuições que lhe foram conferidas.

Os Conselhos surgem nas sociedades organizadas da Antiguidade e existem até a atualidade. Segundo Bottomore (2001), um movimento que pressagiou os Conselhos no século XX foi a Comuna de Paris. A Comuna substitui aparentemente a máquina de Estado quebrada por uma democracia mais completa.

Falar sobre os conselhos municipais de educação é articular minha fala com a gestão da educação desde a segunda metade do século XX. Assim sendo, os conselhos surgem através do processo de reordenação da sociedade brasileira, sendo relacionados diretamente ao fortalecimento da Sociedade Civil. Isso significa dizer que têm um papel a ser cumprido dentro do âmbito municipal. O processo de articulação e mobilização da sociedade civil assumiu papel relevante no final da década de 1970, lutando contra o regime burocrático, centralizador e tecnoburocrata. As próprias políticas educacionais passaram a enfatizar em seu discurso a defesa de um ensino público de qualidade, a democratização do acesso à educação e a participação popular na construção dos projetos pedagógicos das instituições de ensino. É preciso construir e aperfeiçoar os espaços democráticos tanto de tomada de decisão quanto de controle social, para possam ser garantidas novas estratégias de organização e gestão, sendo respaldado de forma que facilite o processo de interlocução e diálogo entre setores da sociedade, pretendendo buscar um consenso entre os interesses e visões que favoreçam a tomada de decisões de forma coletiva.

Levando em consideração os estudiosos da temática, os Conselhos seriam de fundamental importância para o início da redemocratização das relações da gestão escolar (GADOTTI, 1994). Em outra vertente de pensamento, alguns estudos empíricos têm revelado

os Conselhos como instrumento de tutela, de confirmação de decisões tomadas em instâncias superiores, o que acaba situando os conselhos em duas opiniões distintas: como uma instância importante para gestão democrática; e como aparelho de consolidação de poderes dominantes. O Estudo possibilita realizar uma análise de dados e situações presentes no município em foco, mediante o qual poderei fazer não apenas um estudo diagnóstico, mas a produção de uma pesquisa que possa ser materializada por meio da interpretação do real.

No ano de 1984 o movimento “Diretas Já” assinalava a importância da participação do povo na tomada de decisões. Esse processo de organização já havia sido desencadeado no Brasil nas décadas de 60 e 70, mas acabou passando por um enfraquecimento devido à ação do regime militar. Com a Constituição Federal de 1988, que trouxe em seu discurso um olhar para o processo de democratização, acaba-se prevendo aspectos de participação em conselhos gestores, que vão atingir diretamente a escola, pois o povo pode participar mais ativamente das questões governamentais, sendo de forma direta ou indireta. O advento da Carta Magna fez surgir espécies de órgãos colegiados, que foram designados de Conselhos. Isso fez parte de um processo de descentralização que atingiu o país.

A descentralização reflete diretamente no processo de redemocratização que passou pelo Brasil, através do qual se estimulou a formação de conselhos. Outra característica dessa descentralização administrativa aconteceu, justamente, pela exigência da ideologia neoliberal que se instalava no Brasil na década de 90.

A cada dia surgem mais estudos e discussões sobre esta temática dos Conselhos Municipais e, para conseguir dar conta dessa temática, os estudiosos acabam englobando assuntos pertinentes, como: democratização, descentralização, participação, cidadania, autonomia e poder. Fatores como esses estudos me levam a fazer um elo dos Conselhos Municipais com a própria tentativa da gestão democrática nos âmbitos municipais.

Os Conselhos devem ser espaços de composição plural e paritária que fazem parte da sociedade civil, representando instâncias que compõem a sociedade civil. Essa pluralidade, muitas vezes com interesses distintos e por vezes opostos, são elementos-chave para a formação democrática do conselho enquanto órgão deliberativo. Eles são instâncias deliberativas que carregam em si a competência não apenas de formular/estabelecer políticas, mas também de fiscalizar sua implementação.

No Brasil os Conselhos de educação estão presentes desde a época do império. Cury (2000) afirma que foi através de uma procura por uma organização mais sistemática para o ensino superior que os Conselhos de Educação vão se destacar um pouco.

Considera-se o início dos Conselhos Municipais de Educação, na perspectiva brasileira, a partir do reconhecimento legal, por intermédio de normatizações e publicações que legitimaram sua legalidade. O pioneirismo da criação dos CME se deu no estado do Rio Grande do Sul, através do Decreto 5.044, datado de 13 de junho de 1954, que coloca em prática o que foi recomendado por Anísio Teixeira na Constituição de 1946, que se pautava em um modelo de gestão descentralizado. Onze anos depois ocorreu a elaboração da Primeira LDB Nacional, a Lei 4.024/61, que não fazia menção aos conselhos municipais de educação. A perspectiva de descentralização se consolida exatamente na lei 5.692/71, a qual, em seu artigo 41, constitui a educação como dever da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios, das empresas, das famílias e da comunidade em geral, podendo haver entrosamento para unir esforços em prol da melhoria educacional. Aqui já é possível verificar a sinalização de parcerias entre os entes federados.

O Art. 58 da mesma Lei deixava a legislação estadual como supletiva, conforme o disposto no Art. 15 da Constituição Federal (1969), “as responsabilidades do próprio estado e de seus municípios no desenvolvimento dos diferentes graus de ensino, dispondo de medidas mais eficientes à aplicação de recursos públicos destinados à educação, com a progressiva passagem para a responsabilidade municipal de encargos e serviços da educação, especialmente os de 1º grau”. Em seu Art. 71, definiu que os Conselhos Estaduais de Educação delegariam parte de suas atribuições aos conselhos de educação que se organizassem nos municípios. Entretanto, até aquele momento o município não tinha um sistema reconhecido pela legislação da educação, pois as municipalidades não podiam estabelecer normas pedagógicas.

No ano de 1988, com a implementação da nova Constituição da República Federativa do Brasil, os municípios passaram a ter, juntamente com a União, os estados e o Distrito Federal, responsabilidades com seu sistema de educação, o que se tornou uma das maiores inovações para a esfera do poder local no estabelecimento de normas pedagógicas, vindo ao encontro de uma política municipalista em voga (RIBEIRO, 2004).

É importante dizer que a década de 1990 é fundamental importância para a concretização dos conselhos municipais de educação no Brasil, especialmente porque esse

decênio traz conquistas formidáveis em termos educacionais para a Sociedade Civil e o Estado brasileiro, ainda com as contradições visíveis nas propostas de ação e planejamento educacional no país, apresentando captações antagônicas que levariam a interpretações diversas com relação aos compromissos educacionais assumidos pela União, pelos estados e municípios e pelo Distrito Federal através do Regime de Colaboração. Este “desenho” afirma o pensamento de Rodrigues (2010) quando diz que nas duas últimas décadas do século XX o cenário político do Brasil foi perpassado pela retomada da democracia política e pela confrontação de projetos divergentes que correspondem a concepções antagônicas de democracia.

Com a chegada da década de 1980, os municípios passam a exercer autonomia para legislar sobre assuntos educacionais, independentes ou em cooperação com o Estado, o qual entra em ação nos casos em que os municípios não conseguem assumir os compromissos administrativos e financeiros, bem como via cooperação técnica.

Por isso, os conselhos municipais de educação apresentam basicamente quatro funções, o que não impede que outras sejam evidenciadas, porém o poder público não pode se furtar de exercer pelo menos estas quatro:

a) Consultivas, quando respondem indagações e consultas sobre questões atinentes à educação; b) Normativas, quando estabelecem regras, normas, e dispositivos a serem observados no sistema sob sua jurisdição; c) Deliberativas, quando decidem questões submetidas à sua apreciação; d) Fiscalizadoras, quando acompanham o cumprimento das normas sob sua jurisdição (RIBEIRO, 2004, p. 52).

A partir dessas afirmações, salienta-se que a tarefa de mediar a tomada de decisões dos conselhos não é nada fácil.

Diante do exposto, é importante observar que não é tarefa fácil organizar um pensamento sobre a tomada de decisão ligada a esses conselhos, sendo ainda um obstáculo a se vencer. Segundo dados do próprio IBGE, no que se refere ao perfil dos municípios brasileiros, na vertente educacional, constata-se que:

A MUNIC registra o crescimento no número de municípios que declararam possuir Conselho de Educação local, passando de 68,0%, em 2006, para 79,1% do total, em 2009. No mesmo intervalo, o percentual de conselhos com constituição paritária salta de 48,0% para 70,8%, bem como a indicação de conselhos com caráter consultivo passa de 53,0% para 64,8%, com caráter deliberativo vai de 51,0% para 65,0%, com função normativa sai de 41,0%

para 51,1% e de perfil fiscalizador vai de 49,0% para 60,0%. (IBGE, 2010, p.51).

Ao se falar desses dados percebe-se que o CME é “convidado” a exercer mais e mais funções, assumindo um papel de agente do poder administrativo, o que para Rodrigues (2010) não seria uma coisa positiva, pois, segundo a autora, os conselhos municipais de educação não devem se tornar num todo agentes do poder administrativo. É necessário ter um olhar de preocupação nesta perspectiva, pois há o risco de se estar defendendo uma concepção de participação legitimada do Estado.

Os órgãos gestores da educação, no que se refere ao papel dos municípios que possuem Conselho Municipal de Educação, têm centralizado suas ações em distintas áreas educacionais, destacando-se: a capacitação de professores, diminuição da evasão escolar, regulamentação e valorização da carreira do magistério, melhorias do transporte escolar, participação da comunidade da escola etc. O que se nota é que ainda não existe uma total efetividade nas ações que são pertinentes aos conselhos, já que existem diversos atores envolvidos na educação, e os mesmos, por vezes, não sabem a delimitação de suas atribuições. Os conselhos ainda têm muito o que evoluir. Esperamos que as metas e ações presentes no PAR possam contribuir para sua melhor efetivação.

3 CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO: A SITUAÇÃO DE RIACHUELO/RN