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Mapa 21 África do Sul: 1994

3 MANUAIS ESCOLARES, COMPÊNDIOS E LIVROS DIDÁTICOS: O CASO DA

3.4 U M AUTOR ENTRE DIVERSOS AUTORES

O primeiro autor que iremos analisar, Tancredo do Amaral, é natural de São Paulo. Nascido em 1866, após concluir o ensino básico formou-se em Humanidades pela Escola Normal da Capital. Posteriormente foi licenciado professor primário na cidade de Salto, no interior de São Paulo26.

Na condição de sócio do IHGSP, Tancredo do Amaral conheceu Francisco Alves, um apaixonado por Geografia, colecionador de álbuns e figurinhas que tratavam dos continentes e países, e dono da editora e livraria Francisco Alves. A amizade cresceu, gerando projetos ligados à expansão do mercado editorial. Nos anos de 1890 Tancredo do Amaral inicia carreira como escritor de livros escolares de História e Geografia, e com o passar dos anos sua

26 Paralelamente participou da fundação do Partido Republicano; do jornal Correio do Salto, do qual foi redator

chefe; e fez parte da diretoria do Clube Republicano 14 de Julho, também em Salto. Em 1906 diplomou-se pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, deixou os cargos que exercia no magistério e passou a atuar no campo da política, tendo sido nomeado inspetor escolar, diretor geral da instrução pública do Estado e membro fundador do Instituto Histórico Geográfico de São Paulo (IHGSP). De acordo com a Revista do Instituto (IHGSP, 1928, p. 464), em discurso proferido pelo então Dr. Affonso Freitas Junior, Tancredo do Amaral “foi nomeado sócio em 30 de novembro de 1894, conjuntamente com Theodoro Sampaio e Orwille Derby [...], foi louvado pela opinião pública competente de Coelho Neto e Olavo Bilac”, como republicano, jornalista, magistrado. Foi também por algum tempo redator, cronista teatral e secretário da redação do jornal Correio Paulistano.

obra chega a diversos estados, e seus livros ficam entre os mais vendidos do Brasil27.

Tancredo do Amaral esteve presente na inauguração da filial da Livraria Alves em São Paulo, no dia 23 de abril de 1894, acompanhado de boa parte da elite intelectual, como médicos, advogados, engenheiros, jornalistas e negociantes28. Em 16 de julho de 1910, a casa inaugura uma sede no estado de Minas Gerais, associando-se posteriormente a livrarias, papelarias e editoras em Portugal e na França29. Pela Francisco Alves30 Tancredo do Amaral publicou seus livros, entre os quais O Livro das Escolas (1890); Geografia Elementar (1890); História de São Paulo ensinada pela biografia de seus vultos mais notáveis (1894); O Estado de São Paulo (1894); e Analectos Paulistas (1896), todos aprovados, indicados e adotados oficialmente nas escolas públicas.

Um dado que revela o grande alcance das obras desse autor é que o estado de São Paulo nesse período estava ampliando seu sistema educacional, através de modelos de ensino, leis, decretos, normas e também do mercado editorial31. É nessa fase que a editora Francisco Alves inicia suas exportações para os estado de Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Paraná, Pernambuco, Piauí e Santa Catarina (MONIZ, 1943, p. 87-95).

27 Cabe aqui a nossa provocação de chamar os livros escolares de “donos do saber”. Isso porque concordamos

com Choppin (2002, p. 552-553) em que “os livros escolares assumem múltiplas funções”. O livro escolar se consolidou como o principal instrumento de educação, estando entre os mais lidos e respeitados após a Bíblia.

28 Seguramente, esse é um dos motivos que levou a Livraria Francisco Alves a ter grande repercussão no

território brasileiro, vindo a ser conhecida como o “Rei do Livro”, segundo Bragança (2001, p. 161-189). Na sua inauguração no Rio de Janeiro estavam presentes personalidades como Silvio Romero e Júlio Aillaud (MONIZ, 1943, p. 134).

29 De acordo com Moniz (1943, p. 57), “no testamento do livreiro-editor o mesmo deixou toda sua imensa

fortuna para Academia Brasileira de Letras”, exigindo que esta promovesse concursos para divulgar trabalhos na língua portuguesa no país. A instituição passava por dificuldades econômicas e veio a publicar diversos livros, entre os quais um famoso Atlas geográfico de Stieler para o ensino escolar no Brasil.

30 De acordo com Bragança (2004, p. 1-7), esta foi inaugurada com o nome de Livraria Clássica em 1854, pelo

imigrante português Nicolau Antonio Alves. Mais tarde seu sobrinho e sócio Francisco Alves comprou o nome da empresa.

31 Entre as publicações estão a obra História de São Paulo (1895), uma das quais publicou sobre José Bonifácio.

Tabela 1 - Gêneros literários publicados pela Livraria Francisco Alves (1890) Gêneros Participação Escolares 28% (10) Infanto-juvenis 8% (3) Paradidáticos 5,5% (2) Universitários 25% (9) Jornalismo e crônicas 5,5% (2) Ficção 14% (5) Fonte: Bragança, 2001, p. 179.

De acordo com os dados observados, os livros escolares e paradidáticos representam 33,5% dos contratos ligados às tiragens da editora Francisco Alves (MONIZ, 1943, p. 12). Uma das características da editora, que é consoante à personalidade do próprio Francisco Alves, foi que ela sempre buscava firmar parceria com seus autores, inclusive nos lucros (MONIZ, 1943, p. 12).

Na capa da segunda edição de Geographia Elementar (AMARAL, 1893), podemos ler a seguinte qualificação dada ao autor: “professor pela escola normal de São Paulo e sócio do Instituto Histórico Geográfico de Paulista”, o que intenta a legitimação do autor de livro didático para o público do seu livro, através de uma oficialidade. A capa registra ainda que a “obra [foi] aprovada unanimemente pelo conselho superior da instrução pública de São Paulo e adotada nas escolas” (AMARAL, 1893), revelando que o autor e seu editor tiveram uma preocupação em seguir o modelo vigente proposto nas reformas educacionais no campo do ensino32. Contudo sabemos que as mudanças educacionais eram mínimas, não passando de pequenos interesses dos grupos sociais dominantes.

32 As informações constantes das capas da segunda e da décima edição do livro de Amaral (1893; 1907) revelam

a expansão do mercado editorial no território brasileiro: na primeira lemos que a publicação da obra deu-se em São Paulo; na segunda, 14 anos depois, indica-se a cidade do Rio de Janeiro como local de publicação, e o selo da editora vem acompanhado da indicação de suas filiais em Minas Gerais e São Paulo.

Imagem 1 - Capa da 2ª edição do livro Imagem 2 - Capa da 10 ª edição do livro

Geographia Elementar, de Tancredo do Amaral (1893).

Exemplar pertencente à Biblioteca Florestan Fernandes, da FFLCH/USP.

Geographia Elementar, de Tancredo do Amaral (1907).

Exemplar pertencente à Biblioteca Florestan Fernandes, da FFLCH/USP.

Já o índice do livro de Amaral (1890), pertencente a escola primária, pode ser analisado em diferentes aspectos e perspectivas. Nesta tese, as reflexões a esse respeito estão concentradas nos capítulo 4 e 5, no qual procuramos analisar o que foi publicado nesse compêndio como Geografia escolar referente à África.

Quadro 1 - Sumário do livro Geographia Elementar. a África na obra de Tancredo do Amaral (1890).

África

I Descrição physica. Limites, posição, superfície, aspecto, clima e produções p. 65

Mares, Golfos e estreitos da África p. 69

Ilhas e Cabos da África p. 69

Montanhas, vulcões e vertentes p. 70

Lagos e rios da África p. 71

II Descripção política. Importância p. 71

Populações e Raças p. 71

Línguas p. 71

Religiões p. 71

Fonte: Amaral, (1890, p. 12).