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Mapa 21 África do Sul: 1994

3 MANUAIS ESCOLARES, COMPÊNDIOS E LIVROS DIDÁTICOS: O CASO DA

4.7 C ONTEÚDOS DA Á FRICA NOS LIVROS ESCOLARES

Neste tópico, nossa análise será a respeito da publicação das iconografias nos manuais escolares, que, no final do século XIX e no início do século XX, aconteciam pela xilogravura e tipografia. Com o estudo desses documentos, perseguimos nosso objetivo que é de analisar a África na Geografia escolar, mas também o conjunto texto-imagem, uma vez que as figuras (mapas, gravuras, desenhos, fotografia) traduzem palavras a partir de suas representações. Também pretendemos discutir a respeito das bases teóricas e metodológicas da disciplina escolar Geografia referente ao continente africano. Acreditamos que não considerar as iconografias presentes nos livros seria o mesmo que negar o contexto em que estas foram produzidas. Por sua vez, elas podem duplicar a representação ou diminuir a presença dos

84 Sob o controle salazarista, Angola e Moçambique passam pela repressão de superioridade e intolerância.

Valdemir Zamparoni (2000 e 2002) e Omar Thomaz (2002) debatem a respeito do pensamento racista nas colônias portuguesas.

signos escritos. Lembrando Marc Ferro (1981, p. 11), “controlar o passado ajuda dominar o presente e a legitimar tanto as dominações como as rebeldias”. Sob esse pressuposto, pretendemos debater como tais representações e palavras podem nos orientar no decorrer da tese, que consiste em problematizar os porquês das continuidades ou rupturas dos conteúdos escolares nos livros.

Na busca de um maior alicerce para nossa discussão, buscamos leituras e análises dos materiais escolares do tema da África desenvolvido por outros campos das ciências humanas que não a Geografia. Um exemplo foi a utilização do livro redigido na Bélgica que, segundo Edouard Vincke (1985, p. 116), “ocorreu uma consolidação do etnocentrismo nos manuais escolares reforçando a desinformação ou ainda produzindo o racismo com a presença de outras fontes presentes nos livros como os jornais”. No caso de alguns países africanos, Appiah (1997, p. 21), relata que

Não podemos ignorar, por exemplo, do lado honroso, as dificuldades práticas de desenvolver um sistema educacional moderno numa língua em que nenhum dos manuais e livros didáticos foi redigido; tampouco devemos esquecer, na coluna dos débitos, a possibilidade menos nobre de que essas línguas estrangeiras, cujo domínio havia marcado a elite colonial, tenham-se transformado em marcas status precisas demãos para serem abandonadas pela classe que herdou o estado colonial.

As palavras do ganês Kwame Anthony Appiah (1997) nos fizeram pensar constantemente que existem diferentes entendimentos, correntes teóricas e posicionamentos a respeito do continente africano no livro escolar. Até porque essa leitura e compreensão passa pela discussão das línguas maternas africanas, ou aquelas de países colonizadores. O ponto comum da análise de Appiah (1997) é desconstruir a invenção de uma África que possui diferentes identidades nacionais e supranacionais.

Em outro estudo sobre o tema das iconografias e textos nos livros de história no Brasil, Oliva (2007) dedica sua análise a respeito das representações da África desenvolvidas pelos africanos no decorrer do século XX nas escolas portuguesas e brasileiras. Uma das bases de sua discussão foi a propagação das imagens nos livros escolares brasileiros e textos acadêmicos portugueses. Entre seus objetivos de estudo, um foi “mapear as inúmeras ‘ideias’ da África construída ao longo do século XX, e, dessa forma, elaborar uma síntese das representações, propriamente ditas, confeccionadas sobre os africanos e suas sociedades” (OLIVA, 2007, p. 37). Dentre o conjunto de resultados e discussão, a pesquisa de caráter comparativo nos ajudou a entender os diversos recortes e debates a respeito das interpretações

dos africanos nos livros escolares brasileiros e portugueses.

Sabendo que os registros iconográficos dizem mais do que mil palavras, buscamos ser cuidadosos na discussão das imagens. Em contato com o material escolar selecionado, partimos dos documentos para as análises propriamente ditas. O primeiro recorte foi dos mapas do continente africano, e o segundo foi o dos habitantes desse continente. Isso porque temos que a comunicação entre cartografia, população e território possui um importante papel no ensino da Geografia escolar.

A cartografia escolar é repleta de signos e símbolos que compõem as diferentes representações do mapa escolar. Em certa medida, tais imagens demonstram a representação da população local e seus limites territoriais, e contribuem com o processo de interpretação dos diferentes territórios e territorialidades na organização do espaço, ajudando na compreensão das diferentes disputas territoriais. Certos dessa proposta e com os objetivos elencados, elaboramos duas linhas do tempo com iconografias e textos para a análise. A primeira será a respeito de como o território africano foi publicado a partir de mapas. A segunda é de como a população foi elencada no livro escolar em forma de textos e imagens. Já embasado na conceituação de Chartier (1991) de “lutas de representação”, no início dessa tese, registramos que as figuras e os textos nos livros escolares podem ter diferentes interpretações dos conteúdos referentes ao continente africano. Acreditamos que os livros didáticos são as fontes, os instrumentos mais úteis para captar as nuances dos discursos e as transformações da análise na Geografia escolar sobre o continente africano. São eles documentos que demonstram o tema do ensino e debate a respeito do continente africano. Por isso, as análises das figuras estarão articuladas com a concepção de África de cada momento histórico.

E foi com apoio em Castellar e Vilhena (2010, p. 23-42) que confeccionamos algumas tabelas, com o objetivo de comparar as diferentes representações iconográficas em forma de mapas presentes nos livros escolares. Alguns critérios foram selecionados para fazer parte da nossa análise: título, escala, orientação, legenda, limites, países, cidades e outras informações. Acreditamos que tais itens são essenciais para a leitura cartográfica do mapa escolar no livro, uma vez que são as bases de tais representações iconográficas. Posteriormente, partimos da técnica de comparar de modo particular e paralelo algumas imagens e seus conteúdos. Para reproduzimos no decorrer do texto partes dos livros escolares como subsídios para justificar o nosso caminho teórico. Relacionamos as representações textuais e as imagens presentes junto a elas e que trataram do continente africano. Foi realizada a pesquisa em todos os mapas

presentes nas obras escolhidas. Foram analisados cinco livros escolares, que compõem um total de 120 páginas.

Tabela 2 - Composição da parte dedicada à África nos livros didáticos analisados Obra Número de mapas Número de páginas Demais figuras

Tancredo do Amaral (1890) 1 10 0

Aroldo de Azevedo (1934) 2 21 14

Aroldo de Azevedo (1978) 4 21 14

Zoraide Victorello Beltrame (1975)

8 37 35

José Willian Vesentini e

Vania Vlach (2003) 14 31 19

Organização: Rosemberg Ferracini.

Tabela 3 - Informações presentes nos mapas analisados Obra Fronteiras Países Cidades

Tancredo do Amaral (1890) X X

Aroldo de Azevedo (1934) X

Aroldo de Azevedo (1978) X

Zoraide Victorello Beltrame (1975) X X X

José Willian Vesentini e Vania Vlach (2003)

X X

Tabela 4 - Elementos contidos nos mapas analisados

Obra Título Escala Rosa dos ventos Legenda Fonte

Tancredo do Amaral (1890) Aroldo de Azevedo (1934) - Mapa 1

X Aroldo de Azevedo (1934) - Mapa 2

X X

Aroldo de Azevedo (1978) - Mapa 1

X Aroldo de Azevedo (1978) - Mapa 2

X X

Zoraide Victorello Beltrame (1975)

X Zoraide Victorello Beltrame

(1975)

X Zoraide Victorello Beltrame

(1975)

X X

José Willian Vesentini e Vania Vlach (2003)

X X X X X

Organização: Rosemberg Ferracini.

Observando os dados sistematizados a partir da análise dos livros didático, podemos notar que o número de mapas presente em cada período, assim como o número de páginas que trataram do continente africano quase duplicaram. Percebe-se que as representações dos mapas foram sendo aprimoradas. Entretanto podemos afirmar que não existiram muitos rigores cartográficos na confecção dos mapas presentes nos livros escolares.

No mapa de Tancredo do Amaral (1890), encontramos os nomes de diversos países como Congo, Marrocos, Argélia, Egito e Moçambique, porém não se apresentam limites territoriais entre um Estado e outro. A primeira representação de Aroldo de Azevedo (1938) é um mapa da África com os nomes de Foureau, Cecil Rhodes, Barth, Stanley, Livingstone, Serpa Pinto, dentre outros exploradores europeus, cada qual demarcando um território específico de anexação colonial. Posteriormente encontramos o mapa que traz o Império Britânico (1938), que se faz presente em negrito nos Estados Unidos, Índia, Austrália e no continente africano. As causas e discussões a respeito do império não estão nas obras escolares, fato que levantaremos em discussão.

intitulada O Mundo Britânico, há uma legenda que divide a imagem em “Domínios autônomos” e “Outros Territórios”. Na segunda imagem, (1938) temos O Mundo Francês, que na parte de fora do mapa encontramos registrado como “O Império colonial Francês”, em referência às colônias francesas.

Em leitura dos mapas de Zoraide Victorello (1975), temos uma tentativa de ruptura no modo como o continente africano vinha sendo publicado por meio da anexação territorial da Europa. A nosso ver, o que careceu nesse trabalho foi uma discussão a respeito dos acontecimentos geográficos como a partilha da África e os porquês das independências no decorrer dos anos 1970. Por fim, no livro de José Willian Vesentini e Vania Vlach (2003), retomamos algumas discussões a respeito da colonização e descolonização da África e o que seria a nova reconfiguração territorial do continente, sempre atentos aos nossos objetivos.

5 TEODOLITOS, RÉGUAS E TRAÇADOS: O MAPA DA ÁFRICA NOS LIVROS