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8 STATUS DA AUTORALIDADE NA E-SCIENCE

8.5 AUTORIA COLABORATIVA E ATRIBUIÇÃO COMPARTILHADA

Considerando o entendimento que a autoria colaborativa está em evidência na atual era digital, proporcionada pelas tecnologias digitais de informação e comunicação, redes

sociais colaborativas e pela internet. No caso da e-Science há de se considerar que a autoria é colaborativa em virtude de que os dados científicos são compartilhados e gerenciados por diferentes autores e propósitos distintos, que configuram a multiplicidade autoral e colaborativa. A autoria colaborativa é diferenciada pela proporcionalidade de sua colaboração à obra, partindo do princípio que a pesquisa envolveu a participação individualizada e proporcional de diferentes atores no processo criativo ou inventivo.

Desta forma, o autor científico pode ser compreendido sob a condição de autoria científica em um ambiente colaborativo. Além dos pesquisadores-autores configuram também neste cenário outros participantes, tais como: curadores, bibliotecários, indexadores, especialistas tecnológicos, dentre outros profissionais envolvidos com a área-fim. A condição autoral científica passa a ser mais um requisito que valida os preceitos metodológicos, éticos e científicos no processo de investigação científica, mas não é o centro da autoralidade na e-

Science.

Assim, sob o ponto de vista moral permanece o entendimento de autoria primária (originária) e sob a ótica do compartilhamento dos dados de pesquisa, os autores são derivados e passam a gozar de uma condição de autoria colaborativa. É mister ressaltar que o cerne das atuais discussões concentra-se não mais na propriedade e autoralidade individual e privada, mas na recompensa autoral. O Direito de Autor no cenário de compartilhamento deve ser considerado numa perspectiva onde,

A capacidade de estabelecer rapidamente se uma ideia anteriormente foi levada adiante - e creditá-la corretamente, se assim for - é importante para os cientistas. Completa identificação do autor e o conteúdo pesquisável de forma central irão simplificar este processo e facilitarão a atribuição e o reconhecimento (SERINGHAUS; GERSTEIN, 2007, p. 2, tradução nossa).

Acerca da atribuição de dados, o estudo de Bowker e outros (2010) foi desenvolvido um modelo a partir de dimensões relacionadas às práticas que envolvem a citação e atribuição de dados. A infraestrutura no modelo exemplificado convenciona características que permitem as práticas para alcance global, inserção social, construção de uma base local e transparência técnica a partir da incorporação de padrões e procedimentos. Cada dimensão, “ela é um ponto de partida útil para avaliar como essas características de infraestrutura são aplicadas à citação de dados e atribuição: a prática social, usabilidade, identidade, persistência, descoberta, procedência, relacionamentos, propriedade intelectual e política” (BOWKER et al., 2010). O modelo é constituído em quatro partes chamadas de dimensões. A representação dessa infraestrutura dimensional está demonstrada na Figura 21.

Figura 21 - Dimensões de infraestrutura

Fonte: Traduzido de BOWKER e outros (2010).

A dimensão técnica do modelo está relacionada com a infraestrutura e incorporação de padrões e executada em uma base local. Entre as bases instaladas que influenciam a citação de dados estão os protocolos de Internet, práticas de publicação e métodos de catalogação da biblioteca.

Na dimensão social, a infraestrutura está ligada a convenções de prática – quer seja catalogação ou gestão de dados – e é reconhecida como parte de membros em uma comunidade (por exemplo, bibliotecários ou astrônomos). Essa dimensão é apoiada pelo modelo de gerenciamento de dados e associada ao sistema de recompensa autoral, e um tópico social de particular interesse é a relação dos sistemas de recompensa para a citação de dados (BOWKER et al., 2010).

Na dimensão local do modelo está contemplado o contexto com menor amplitude, que pode estar focado em uma instituição, uma biblioteca ou um laboratório de pesquisa, e onde encontram-se práticas individuais para gerenciar dados e práticas de biblioteca para administração de dados (BOWKER et al., 2010). As práticas científicas preferencialmente devem ser conduzidas pelo modelo de ciclo de vida para o gerenciamento de dados. A

realização de práticas e procedimentos ocorre em um ambiente local, onde o projeto de pesquisa está sendo desenvolvido.

A dimensão global, por sua vez, é a que representa o caráter inerentemente internacional do projeto de pesquisa científico. O contexto internacional oportuniza as práticas colaborativas, compartilhamento e intercâmbio de dados. É uma dimensão importante, onde a infraestrutura já deve estar garantida de modo que a citação e atribuição devem funcionar de forma eficaz através das fronteiras disciplinares, institucionais e políticas (BOWKER et al., 2010). No quadrante técnico-global, os dados são mais passíveis de captura automática, gerenciamento e descoberta. Tecnicamente, a infraestrutura deve estar preparada para que os dados sejam capturados, interoperáveis, gerenciáveis e que possam ser descobertos e reusados.

O modelo se aplica ao compartilhamento de diferentes tipologias de dados. Dados recolhidos de telescópios baseados no espaço, e associados com as estruturas estabelecidas de dados, ferramentas analíticas e repositórios, por exemplo, são mais facilmente citados. Por outro lado, os dados relacionados às dimensões do quadrante local-social tendem a ser mais heterogêneos em forma e conteúdo, mais artesanais em métodos de coleta de dados, e mais variados em práticas de gestão, utilização e reutilização (BOWKER et al., 2010). Devido a essa heterogeneidade, contexto local e procedimentos metodológicos ineficazes poderão dificultar a captura, gerenciamento, citação, e atribuição de dados em contextos locais e sociais.

Isto posto, o modelo exemplificado colaborou no entendimento de uma infraestrutura sustentável que envolve os aspectos técnicos e práticas locais, sociais e internacionais. Tem a finalidade de dar visibilidade aos dados científicos a partir do reconhecimento da autoralidade, utilizando a atribuição e citação como meio técnico.

A atribuição e o crédito autoral devem ser fixados dentro de sua proporcionalidade. A identificação pode ser realizada aos autores primários às suas publicações ou dados de pesquisa, com identificadores tais como: ORCID e DOI. Além da figura do autor, outros colaboradores devem ser destacados a exemplo, curadores e gestores de dados. Por vezes, essas atribuições podem ser contribuições primárias, secundárias ou acessórias, que exercem a função de colaboração típica, requerendo que as atribuições dos créditos sejam feitas na proporcionalidade de participação de cada envolvido, pois a,

Atribuição é feita à parte responsável. Atribuição pode, portanto, ser dada a um investigador individual, a uma equipe de pesquisa, para uma universidade, para uma agência de financiamento, para um repositório de dados, para uma biblioteca ou para

outra parte responsável pela coleta, montagem, curadoria, ou, por outro lado, contribuindo para a disponibilidade de dados para outros usarem. (BORGMAN, 2012, p. 5, tradução nossa).

Atribuir a cada colaborador o reconhecimento autoral é proporcionalmente dar o crédito individual pela contribuição e responsabilidade no processo de pesquisa. A distinção entre a atribuição e a citação: o reconhecimento atribuído é realizado tanto à pessoa física como pessoa jurídica e a citação utiliza-se de mecanismos para realizar as referências a cada atribuição. Na linguagem bibliométrica, referências são feitas e citações são recebidas (BORGMAN, 2012). Assim é por meio da citação que se atribui o reconhecimento autoral. Atualmente existem sistemas de citação, identificação e software que ajudam na atribuição e mensuração autoral.

Não se trata de propriedade e transferência dos dados científicos (primários e derivados), mas, sim de reconhecimento sob os aspectos de atribuição e licenciamento dos direitos autorais de bens intelectuais, científicos e artísticos. A citação e a atribuição autoral devem ser consideradas no contexto da utilidade dos dados digitais como objetos reusáveis e de bem comum.

Nas práticas da e-Science é percebido claramente que as diferentes atribuições são dadas na proporcionalidade da responsabilidade e participação de cada colaborador. A criação não mais goza apenas de um autor, coautores ou pesquisadores, mas de contribuídores que colaboram no processo de gerenciamento e de responsabilidade científica mútuas. Portanto, a

Atribuição é mais estreitamente associada à noção de contribuição ou colaborador do que com o autor, que está entre as diferenças entre a manipulação de dados e manipulação de publicações. Como publicações, no entanto, a atribuição implica responsabilidade social para dar crédito onde o crédito é devido. Quando escrevemos artigos de periódicos e livros, nós fazemos referência a outras publicações e às provas em que se baseiam para atribuir as nossas fontes (BORGMAN, 2012, p. 5, tradução nossa).

Preliminarmente é entendido que a noção de contribuidor ou colaborador direciona a diferentes envolvidos, que pode ser pesquisador, autor, co-autor, curador, fotografo, agência, universidade, organizações governamentais e não governamentais e institutos científicos sob a condição de autoria colaborativa, cuja atribuição é proporcional à sua responsabilidade e contribuição. A responsabilidade se fixa na conduta ética e profissional que cada envolvido contribui no processo de investigação científica. Essa contribuição ela não possui uma hierarquia que se sobrepõe entre os diferentes envolvidos, pois a relação é conduzida pela colaboração mútua. A citação é distinta para cada colaborador. A atribuição é realizada por meio de identificadores persistentes e créditos autorais são fixados individualizados. A

condição autoral passa a ser um requisito que valida os preceitos metodológicos, éticos e científicos no processo de investigação científica.

Do ponto de vista da autoria originária - que cabe ao autor, co-autor, colaborador ou inventor - a primariedade da criação, invenção e participação considera a condição de autoria originária se estende a todos os envolvidos na pesquisa. No caso do reuso de dados primários a condição de autoria tem caráter colaborativo e assume a autoria derivada.

O capítulo trouxe uma visão distinta dos processos científicos tradicionais, visto que as práticas da e-Science são realizadas pelos envolvidos que atuam com atribuições e finalidades distintas para um propósito único. A individualidade de atribuição e a citação proporcional a cada colaborador não distingue a importância, pois a autoria é constituída em processo coletivo, pluralista, e por conseguinte, colaborativo.