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4 SOBRE AS LUTAS: CONHECENDO O DOJO

6.4 Quarto round: descrição das aulas

6.4.4 Avaliação (Aula 4)

A professora entregou aos alunos uma folha de exercícios41 que deveriam ser

feitos em duplas. A consulta ao Caderno do Aluno foi permitida, e após os alunos responderem, foram liberados para ir à quadra, em aula livre. Não declarada como

prova pela professora, a atividade consistia em sete questões: as cinco primeiras de múltipla escolha e as duas últimas discursivas.

A professora nos esclareceu que, mesmo não tendo nomeada esta atividade

como “teste” ou “prova”, a mesma foi utilizada como critério de avaliação, valendo dois

pontos na nota final, que foi composta adicionalmente de três pontos de participação

e cinco pontos no “provão”42. Esta prova/atividade de judô foi formulada

predominantemente a partir das questões do Caderno do Aluno, a professora selecionou as questões que mais lhe agradaram e as reproduziu na prova: “Eu peguei questões da apostila que eu gostei mais [...] porque eu não gostei das perguntas da

“atividade avaliadora” do final. [...] eu tirei da apostila, a maioria das perguntas tinha na apostila, igualzinho, só copiei e colei” (Professora).

De fato, a quase totalidade das questões foi extraída do Caderno do Aluno43,

entretanto, mesmo a professora afirmando ter ignorado o Caderno do Professor na elaboração da prova/atividade, uma questão (questão 6) foi claramente retirada do

tópico “atividade avaliadora” do mesmo material. Outro elemento que nos chamou atenção foi a função da prova/atividade, pois, com exceção de uma questão (questão 7), os demais exercícios foram copiados do CEF-SP. Ora, o Caderno do Aluno é um material de apoio ao aluno, seus exercícios e textos são complementos das aulas de Educação Física e exercem função de tarefas a serem desenvolvidas em casa. Quando a professora incorporou o Caderno do Aluno na prova/atividade, pretendeu condensar todas as páginas de tarefa em uma só folha: "só copiei e colei, mas para

evitar aquela coisa de ter que pegar uma apostila grande, [...] eu juntei tudo numa única folha que eu acho mais fácil".

Indagados aos alunos sobre seus desempenhos na prova/atividade, Atena, Chuck Norris, Hulk, Elektra, Ana, Anderson, Bruce Lee, Julia e Elisabete (9 dos 17 alunos entrevistados) afirmaram que foram “bem” tendo em vista a facilidade das questões e por consistir uma atividade em dupla e com consulta ao Caderno do Aluno: “Fui bem [...] Porque a maioria das perguntas, ela já tinha explicado” (Atena).

“Bem, porque o Paulo, muito malandro, copiou naquele dia tudo do Caderno do Aluno.

Eu acho que a gente foi bem”. (Hulk)

42 Avaliação que continha todo o conteúdo do ano. 43 SÃO PAULO, 2009b.

“Eu prestei bastante atenção no que a professora explicou. Eu sabia quase tudo. Na verdade, eu sabia tudo”. (Elektra)

“Ah, a gente sentou em dupla, um discutiu a opinião do outro. Eu acho que fomos

bem.” (Bruce Lee).

“Acho que a gente se saiu bem. A professora disse que a gente acertou algumas, eu

acho.” (Julia).

Paulo, Morfeu, Ranger Verde e Liliana utilizaram a palavra “mais-ou-menos

para definir o desempenho na prova/atividade. Os alunos sentiram dificuldades em algumas questões, principalmente nas perguntas que incluíam palavras e expressões japonesas, conforme nos explica Ranger Verde e Talita:

“Essa última aqui, a seis... [que diz] que a palavra Judô é composta de ideogramas japoneses” (Ranger Verde).

“É porque os nomes são meio esquisitos, sei lá. Aí confunde” (Talita).

Independentemente de suas opiniões sobre o desempenho na prova, diversos alunos (Paulo, Stalone, Chuck Norris, Talita, Anderson, Lucas e Ranger Verde) relataram dificuldades de resolução e interpretação nos enunciados de algumas questões. As questões 5, 6 e 7 foram as que mais receberam reclamações, as quais passaremos a expor.

Na questão 5, Stalone, Chuck Norris, Lucas e Liliana tiveram dificuldade de interpretar o enunciado e, novamente, relacionar o que foi aprendido em aula com as expressões japonesas. Questionava-se:

5. As faixas e suas cores representam a graduação no judô, indicando o nível de eficiência dos seus praticantes. A ordem crescente (menos qualificação – mais qualificação) dessa graduação se refere, respectivamente, a:

a) Kyu e Dan. b) judogi e yuko. c) Dan e kyu. d) yuko e judogi. Resposta correta: A)

Expondo suas dúvidas, Stalone, Chuck Norris e Liliana declararam que:

“Eu não soube interpretar essa questão. Tava mal perguntada por que (o trecho) ‘essa graduação se refere a respectivamente a’. Tinha que ser, tem uma graduação da faixa

que é da branca até a marrom e a graduação da preta a vermelha. Tinha que ser assim a pergunta, aí se é Kyu e Dan, ou se é Dan e kyu. Eu deixaria essa pergunta

mais curta e mais fácil de entender” (Stalone).

“Eu não lembrava os nomes direitos. Eu lembrava o que era kyu e Dan, só que eu não sabia a ordem” (Chuck Norris).

“Quando ela perguntou sobre o nome das faixas que eu não tinha decorado” (Liliana). As reclamações dos alunos foram pertinentes, já que o tema sobre a hierarquia e as faixas do judô não foi tão bem detalhada nas aulas como sugere a questão. Conforme foi observado, a hierarquia do judô foi tratada de modo superficial, tendo havido apenas comentário sobre as cores das faixas, mas não em referência às expressões kyu e dan44. A aula 1 foi o único momento em que foi abordada a

hierarquia do judô por meio das faixas, de modo que as alunas Elektra e Talita lembraram apenas de suas cores e não de sua nomenclatura: "Bom, aprendi sobre as

faixas, as cores. A faixa preta achei que fosse a última faixa. No Judô, a vermelha que é mais" (Elektra); "eu pensava que era assim, era só a branca e a preta que usava"

(Talita).

Na questão 6, o enunciado da questão pedia:

“Analise as imagens ao lado (figura 4) e perceba que é uma luta de judô. Elas

estão em situação de agarramento e desequilíbrio. Qual delas tem mais probabilidade de cair? A atleta da direita (cabelo preso) ou a da esquerda? Por

quê?”

Figura 4: Ilustração proposta na questão 6

Stalone e Lucas ficaram com dúvidas de quem teria maior probabilidade de cair). Na minha opinião, a questão 6 não possui uma resposta, isto é, não é possível afirmar que a moça da esquerda derrubará ou cairá perante a adversária. No entanto,

44 Tradicionalmente, a graduação dos judocas são hierarquizados em kyu e dan.Kyu assemelha-se a um ranking de estudantes do Judô, enquanto dan para os professores/mestres (sensei). No âmbito do Kyu, existem oito níveis diferenciados em cores, em ordem crescente: branca, cinza, azul, amarela, laranja, verde, roxa e marrom. No dan, há 10 níveis (10 dans), sendo: a) do 1° ao 5 dan, faixa preta; b) 6° ao 8° dan, faixa vermelha e branca; e c) 9° e 10° dan, faixa vermelha.

em conversa informal com a professora, ela demonstrou entusiasmo com esta questão, pois a considera como uma valiosa pergunta que instiga os alunos a cogitar hipóteses e refletir sobre os movimentos de ação e reação do Judô.

Já na questão 7, o enunciado sugeria: “A palavra “judô” é composta por

ideogramas japoneses: ju significa não resistência, flexível, suave; e do significa

caminho ou via; ou seja, caminho ou via da flexibilidade ou suavidade. Por quê?”.

Paulo, Anderson, Talita e Ranger Verde não demonstraram confiança em suas respostas. Para Paulo, o enunciado estava confuso, resultando-lhe em

incompreensão: “porque a gente não entendeu que “ju” significa “não resistência”,

“flexível” e “suave”; e “do” significa “caminho ou via” (Paulo). Anderson sentiu-se prejudicado com a questão, pois, segundo ele, a pergunta não estava conectada com

as aulas de judô: “Não me lembro de ter tido” (Anderson).

Em contraposição, a fala de Anderson, Ranger Verde e Talita afirmaram que o conteúdo foi ensinado, todavia, não se recordam do que foi dito. Estes dois últimos alunos estão corretos, pois a professora apresentou o significado da palavra Judô na aula 1. Nessa ocasião, a professora enfatizou as forças de ação e reação do judô, e que nem sempre é necessário utilizar a agressividade para derrubar o adversário, pelo contrário, sugere-se utilizar a suavidade do movimento a fim de conduzir a força do outro. Entretanto, parece que esta fala não foi significativa para os alunos, uma vez que, não lembraram claramente do exposto.

Apesar da importância de uma atividade avaliadora para acompanhar o desempenho dos alunos, esta tarefa/prova foi desnecessária. Primeiro, os alunos só tiveram três aulas de judô antes da prova, sendo uma delas expositiva. Se o CEF-SP sugere que o professor ministre o conteúdo em 6 a 8 aulas, seria contraditório utilizar a quarta aula para avaliação, visto que o trato do conteúdo judô ainda estava em processo de andamento. Segundo, com exceção de uma questão, todas as outras foram retiradas do Caderno do Aluno e, portanto, poderiam ser respondidas como tarefa de casa e posteriormente corrigidas pela professora.