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AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DE RISCO A SITUAÇÕES ATMOSFÉRICAS EM CUIABÁ/MT

Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil,

AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DE RISCO A SITUAÇÕES ATMOSFÉRICAS EM CUIABÁ/MT

LUCÍ HIDALGO NUNES1

1 Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP/IG/DGEO luci@ige.unicamp.br

Resumo

Com vistas a avaliar a percepção climática cidadãos de Cuiabá (MT, Brasil) foram entrevistados, em duas oportunidades, 148 pessoas, escolhidas ao acaso em diferentes pontos da cidade. Houve questões para caracterizar a pessoa (idade, escolaridade, gênero etc.) e 12 perguntas abertas sobre o tema. Os resultados revelaram que muitas pessoas usam o conhecimento empírico para fazer sua própria previsão do tempo, as vezes associando com informações provenientes da televisão, que prepondera como fonte de informação. Assinalam, também, que notícias de diferentes partes do mundo sobre o clima veiculados na mídia são entendidos como influentes nos fatos atmosféricos vividos pelas pessoas na escala local. A maioria acredita estar havendo sinais de mudanças climáticas, que se manifestariam por temperaturas mais altas e maior irregularidade. Os entrevistados foram, no geral, críticos com a atuação do poder público, mas muitos lembram que a população também teria parcela de culpa no advento de calamidades. Os fenômenos mais citados como passíveis de engendrar transtornos foram as queimadas, o que condiz com a realidade local. Alguns dos entrevistados afirmaram já ter passado por situações de risco e foi recorrente o apreço por seus lugares de vivência.

Palavras-chave: Percepção. Risco. Cuiabá.

Abstract

In order to assess the public perception of climate people of Cuiabá (MT, Brazil) 148 people, chosen at random, were interviewed in two moments. There were questions to characterize the person (age, education, gender, etc.) and 12 open questions on the topic. Results revealed that many people use empirical knowledge to make their own weather forecast, sometimes associated with information obtained from television, which predominates as a source of information. Results also underline that News concerned to the theme but of other áreas of the world spread by the media are seen as influential in their location. Most of interwiewers believe there are signs of climate change, exemplified by higher temperature and greater irregularity in recente years. In general, people were critical to the performance of the government, but many said that the population would be partly responsible for the advent of calamities. Wild fires were the phenomena cited as more likely to engender disorders, which is consistent with the local reality. Some of the respondents have stated that they had already been under risk, and many told they like the place where they live.

Revista Equador (UFPI), Vol. 4, Nº 3, (2015). Edição Especial XVI Simpósio Brasileiro de Geografia

Física Aplicada. Teresina- Piauí. Home: http://www.ojs.ufpi.br/index.php/equador

Key-words: Perception. Risk. Cuibá.

1. Introdução

O distanciamento das pessoas em relação às condições atmosféricas é forte contribuinte para a perda da identidade com o lugar de vivência, podendo ampliar o risco de elas serem vitimadas por situações extremas ou até mesmo por aquelas dentro do padrão habitual. Assim, a análise da percepção de risco é vital para minimizar os impactos dos eventos climáticos, que têm produzido grande número de vítimas em todo o mundo, não sendo diferente no Brasil.

Neste estudo avaliou-se a percepção das condições atmosféricas, em particular, das situações de risco, a partir de entrevistas aos residentes de Cuiabá (Figura 1). Capital do estado de Mato Grosso e com população estimada de 1.090.512 habitantes (IBGE, 2013), a cidade é uma das capitais mais quentes do país, com pequena amplitude térmica anual. A diferenciação climática é conferida pelas precipitações, com clara estação seca e úmida. Os efeitos das queimadas na Amazônia são sentidos com frequência, especialmente nas épocas de seca, e trazem impactos bastante negativos na economia e na saúde local.

Figura 1: Localização do município de Cuiabá em relação ao estado de Mato Grosso e Brasil.

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Fonte: Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cuiab%C3%A1) 2. Metodologia de Trabalho

Foram aplicados 148 questionários, divididos em duas ocasiões (74 em cada vez) em agosto de 2012 e janeiro de 2013, estações sazonais contrastantes. As pessoas foram escolhidas ao acaso em diferentes pontos e horários do município. Foram considerados na análise apenas respondentes que habitavam o mesmo local por ao menos 5 anos e maiores de 20 anos, que em princípio teriam conhecimento empírico das situações atmosféricas locais.

A análise seguiu a fenomenologia, que avalia como um fenômeno é percebido a partir da experiência individual, e como ela é interiorizada e interpretada de acordo com variações pessoais. Segundo Piaget (1976) a percepção é inerente aos processos cognitivos, sendo construída à medida que o sujeito se desenvolve pressupondo, portanto, a influência da experiência adquirida. Nos estudos de percepção sob o enfoque geográfico, a categoria lugar - entendida como o espaço vivido e para pensar o viver, o habitar, o uso e o consumo, bem como os processos de apropriação do espaço e conflitos (Carlos, 1997) - e a experiência humana – que abarca os laços de afetividade com o local de vivência do indivíduo - têm papel fundamental: Tuan (1983) explorou bastante essa questão, e para ele a experiência simboliza a capacidade de aprender pela própria vivência; a partir dessa abordagem, o autor procura apreender as atitudes e valores do sujeito com seu meio e de que maneira ele sente e vivencia o espaço. Nesta investigação o lugar é visto como uma construção social, envolvendo as dimensões econômicas, políticas e sócioculturais.

3. Resultados e Discussão

Na Tabela 1 constam os resultados das perguntas iniciais, caracterizadoras das amostras. Sua análise demonstra que nas duas ocasiões foram entrevistados mais homens e que a maioria se constituiu de pessoas provenientes de outras cidades brasileiras, tendo havido um estrangeiro

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(argentino). Também houve mais jovens entrevistados e a maior parte dos indivíduos frequentou ao menos o ensino médio.

Após essas perguntas iniciais aplicou-se o questionário, composto de diversas questões abertas para estimar as percepções das pessoas quanto à variabilidade das situações atmosféricas locais, bem como as fontes de obtenção de informações sobre a previsão do tempo (mídia ou observação pessoal).

Tabela 1: Resultado das questões caracterizadoras da amostra

Gênero Nascimento Faixa Etária (anos)

Masc. Fem. Cuiabá Outro 21-30 31-40 41-50 51-60 > 60

2012 46 28 22 52 26 5 12 15 16 2013 48 26 19 55 24 18 13 11 8 Escolaridade Sem estudos Fundamental Completo Fundamental Incomp. Médio Completo Médio Incomp. Superior Completo Superior Incomp. Estu- dante 2012 3 6 5 4 3 11 1 1 2013 1 8 5 9 25 13 13 0

Fonte: Lucí Hidalgo Nunes, a partir das entrevistas realizadas com moradores de Cuiabá, MT

As perguntas 9 e 12 somente foram respondidas no caso das anteriores (Questões 8 e 11, respectivamente) terem tido respostas positivas. As perguntas foram: Q1 - O senhor (a) gosta do local onde reside?; Q2 - Qual a influência do clima em sua vida? Q3 - Que tipo de situação atmosférica lhe traz algum incômodo?; Q4 - Em quais meses o(a) senhor (a) percebe maiores alterações do tempo?; Q5 - No seu dia a dia para saber a previsão do tempo, o(a) senhor(a) se orienta consultando meios de comunicação ou observa as situações de tempo?; Q6 - Alguém lhe ensinou a observar a natureza para prever o tempo? Quando e como o(a) senhor(a) aprendeu?; Q7 - O(A) senhor(a) acha que o tempo e o clima variam mais hoje do que no passado? Por que?; Q8 - O(a) senhor(a) já vivenciou alguma situação relativa à condições de tempo que lhe causou transtorno?; Q9 - Caso positivo, como foi e quando? Houve perdas materiais / humanas?; Q10 - Como o(a) senhor(a) avalia a atuação do poder público em relação ao evento?; Q11 - Existe alguma

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ação de sua coletividade com vistas a solucionar os problemas que acontecem por causa das condições de tempo e clima?; Q12 - Caso positivo, ela conta com algum tipo de participação do governo local?; Q13 - Há algo mais que o(a) senhor(a) queira acrescentar?

As respostas foram transformadas em concordância (sim) ou discordância (não). Nessa contagem foram classificadas como “não”, além das negações claras, respostas do tipo: “não sei”, “não se importa”, ou quando o respondente não opinou. Os resultados aparecem na Tabela 2:

Tabela 2: Respostas transformadas em afirmação ou negação.

2012 2013 2012 2013

Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Q1 72 2 57 17 Q8 36 38 36 38 Q2 67 7 55 19 Q9 22 52 65 8 Q3 70 4 66 8 Q10 25 49 46 28 Q4 70 4 76 0 Q11 19 55 11 63 Q5 72 2 69 5 Q12(*) 4 15 1 10 Q6 44 30 60 14 Q13 30 44 37 37 Q7 54 20 67 7

(*)Q12: 2012 de 19 respostas anteriores positivas e de 11, em 2013

Fonte: Lucí Hidalgo Nunes, a partir das entrevistas realizadas com moradores de Cuiabá, MT

Nota-se haver diferenças entre as mesmas perguntas nos dois períodos, sendo que as maiores semelhanças ocorreram no caso das Questões 3, 5 e 8.

A maior parte dos indivíduos alegou gostar do local onde mora (Questão 1), ainda que um número menor tenha expressado isso na enquete mais recente. A maioria entende que o clima influencia suas vidas (Questão 2), tendo sido lembrados para justificar: saúde, humor, gastos com energia e comércio.

A situação atmosférica que traz mais incômodo aos entrevistados é a seca, (Tabela 3); porém, outras condições foram lembradas, inclusive frio - circunstância incomum na cidade e que, provavelmente por isso, quando acontece é particularmente desagradável.

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Tabela 3: Situações atmosféricas que trariam incômodo aos entrevistados

Calor Frio Chuva Seca Vento Mais de um

elemento Variação

Sem incômodo

2012 14 20 7 23 0 4 2 4

2013 13 13 10 24 1 5 2 6

Fonte: Lucí Hidalgo Nunes, a partir das entrevistas realizadas com moradores de Cuiabá, MT

Quanto à Questão 4, todos os meses foram mencionados como muito variáveis, tendo sido mais citados os que correspondem ao período da seca.

A televisão é o veículo mais usado para obter informações de tempo, e vários indivíduos relataram espontaneamente que sua fonte única ou associada de informação é a observação, tendo sido relatados coloração do céu, estrelas, formigas e pássaros como elementos que permitem aferir como será a condição de tempo.

Tabela 4: Meios de obtenção de informações do tempo

TV Radio Jornal Fone Internet Observaçã o pessoal

Não se interessa

2012 56 6 4 0 17 15 2

2013 46 5 2 1 26 5 5

Fonte: Lucí Hidalgo Nunes, a partir das entrevistas realizadas com moradores de Cuiabá, MT

Na questão 6 (como aprendeu a observar os sinais da natureza) foram 34 indivíduos em 2012 que disseram ter aprendido a observar por si mesmo(a) de forma a tentar fazer sua previsão; ainda, 10 citaram a família como fonte, mas 30 disseram não ter jamais aprendido a observar qualquer sinal com fins preditivos. Em 2013 menos entrevistados (11) relataram ser autodidatas nesse assunto, sendo que 32 aprenderam com a família, 1 na escola e 30 confirmaram não ter aprendido a interpretar os sinais da natureza com fins de previsão das situações de tempo.

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Como resposta à pergunta 7, mais pessoas acham que o tempo e o clima variam mais do que as que acreditam que ele não têm se alterado, e em complementação ao que consta na Tabela 5, que apresenta resumidamente as respostas, foi alegado que as transformações seriam o desmatamento, o aumento das cidades, o aquecimento global, a destruição da camada de ozônio, vingança da natureza e até os políticos. Mas vários indivíduos, especialmente em 2012, disseram que o padrão tem se mantido, exemplificando com as cheias no Pantanal.

Situações de perigo ou desconforto não são incomuns para o morador da capital mato-grossense, mas boa parte (38 em 2012 e 46 em 2013) disse nunca ter vivenciado algo mais grave. Os casos relacionados ao excesso de chuva e ventos foram os mais comuns (24 e 27, respectivamente), tendo sido também mencionado incêndio (5 e 1, respectivamente).

Tabela 5: Tempo e clima variando mais atualmente do que no passado

Sim, está mudando Não está mudando

Calor Frio Chuva Mais variável

Mais poluído Sem mudança

Não sabe

2012 9 2 3 28 9 14 6

2013 33 3 3 37 0 5 2

Fonte: Lucí Hidalgo Nunes, a partir das entrevistas realizadas com moradores de Cuiabá, MT

Em resposta à Questão 9, 21 pessoas em 2012 e 15 em 2013 informaram ter sofrido perdas materiais, algumas consideráveis, como casa ou veículo. Em 2012 um entrevistado relatou perda humana.

Pelas respostas da Questão 10 depreende-se que o morador de Cuiabá mostrou-se crítico no tocante à atuação do poder público quando do registro de eventos calamitosos relacionados à atmosfera, notadamente os arguidos em 2012, quando 49 respondentes alegaram não ver atuação alguma do governo, conforme aparece na Tabela 6. Alguns disseram que igreja, exército e defesa civil (os dois últimos, interpretados pela população como independentes do poder constituído) também oferecem ajuda. Boa parte das pessoas até reconhece alguma ação, mas que foi entendida como insuficiente. Numerosos

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entrevistados disseram que os cidadãos também têm que fazer sua parte, como a limpeza urbana ou evitando habitar áreas de risco.

Tabela 6: Atuação do poder público quando ocorre alguma calamidade relacionada à condição da atmosfera em Cuiabá.

Sim, ajuda Sim, mas insuficiente Outros

ajudam Não sei

Não ajuda

2012 8 15 0 2 49

2013 3 38 2 3 28

Fonte: Lucí Hidalgo Nunes, a partir das entrevistas realizadas com moradores de Cuiabá, MT.

As Questões 11 e 12 queriam saber dos entrevistados se há ações que partem da comunidade: das poucas lembradas, 4 em 2012 e 1 citada em 2013 têm auxílio do governo.

A última questão (13) foi um momento dos entrevistados fazerem algum comentário extra sobre o tema, caso desejassem: 30 pessoas em 2012 e 37 em 2013 usaram essa oportunidade, usada por alguns para reafirmar que o clima estaria mudando, especialmente no centro da cidade, e que isso seria irreversível, sendo um dos frutos de uma sociedade consumista. A inoperância do governo perante os fatos e a ineficiência da limpeza urbana foram argumentos reforçados, tendo sido dito, também, que as universidades deveriam ter papel mais próximo da comunidade e que o cidadão aprecia a oportunidade de exarar sua opinião sobre o assunto, já que os governantes não se preocupariam com isso, a não ser em período eleitoral.

Referências

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acessado em: setembro de 2014.

Carlos, A.F.A. O lugar: mundialização e fragmentação. In: Santos; M., (org.) O novo mapa do

mundo: fim de século e globalização. São Paulo: Hucitec, 1997.

Piaget, J. A equilibração das estruturas cognitivas: problema central do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1976, 175p.

Tuan, Y.F. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983, 250p. Wikipedia – A Enciclopéia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Cuiab%C <3%A1>. Acessado em: setembro de 2014.

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Esta pesquisa foi financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Brasil), Proc. 308269/2009-8.

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LEVANTAMENTOS DOS PARÂMETROS DE TEMPERATURA VOLTADOS À