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A VARIAÇÃO TERMOHIGROMÉTRICA NO BAIRRO MÉIER, RIO DE JANEIRO/RJ

Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil,

A VARIAÇÃO TERMOHIGROMÉTRICA NO BAIRRO MÉIER, RIO DE JANEIRO/RJ

HENDERSON DA SILVA NEIVA1 JULIA FERNANDES CATTAE2

LAURA DELGADO MENDES3

1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) hendersonsn@hotmail.com

2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) ju.cattae@gmail.com

3 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) lauradmendes@gmail.com

Resumo

O intenso processo de urbanização pelo qual as cidades vêm passando resulta em diversas consequências ambientais, dentre elas a formação de um clima específico à cidade, gerando o clima urbano, no qual o espaço é modificado para atender as necessidades dos homens, levando a mudanças no comportamento climático local. O presente trabalho tem por finalidade analisar as variações de temperatura do ar, de superfície (asfalto e gramado) e umidade relativa do ar entre dois pontos do bairro Méier, localizado na Zona Norte da capital fluminense, durante a realização de um trabalho de campo no dia 1º de fevereiro de 2014. O objetivo foi de comparar e entender a variação destes elementos climáticos entre os pontos observados ao longo do dia, começando às 09h e terminando às 18h, coletando os dados no intervalo de uma hora. Os pontos foram o Jardim do Méier e a Rua Dias da Cruz, que possuem uma paisagem bastante diferenciada, enquanto que o primeiro apresenta uma cobertura natural ainda presente, o segundo é caracterizado por forte intervenção antrópica em seu meio, com grande presença de veículos, dentre outros elementos de caráter urbano e com pouca presença de cobertura vegetal, observando assim, como a heterogeneidade do espaço urbano pode levar a formação de um microclima urbano no bairro, mesmo em dois pontos não muito distantes entre si.

Palavras-chave: Clima urbano. Ilha de calor. Áreas verdes.

Abstract

The intense process of urbanization that the cities have been passing through results in many environmental consequences, as the development of an specific climate to the cities, forming the urban climate, when the space is modified to attend the human necessities, happening modifications in the behavior of the local climate. This work aims to analyze the variation of air temperature, surface (asphalt and grass) and air humidity between two spots in Meier neighborhood, located at the North Zone of the city of Rio de Janeiro, during a fieldwork realized on February 1st of 2014. The objective was to compare and understand the variation of these climatic elements between the observed spots all day long, starting it at 09am and finishing it at 6pm. The analyzed spots were Jardim do Méier and Dias da Cruz street, that are

Revista Equador (UFPI), Vol. 4, Nº 3, (2015). Edição Especial XVI Simpósio Brasileiro de Geografia

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very different about your spaces, while the first one still has a natural vegetal surface, the second one is characterized by a strong anthropic intervention on its space, with a big presence of vehicles and many others urban elements, but almost without vegetation, observing this way, how the heterogeneity of the urban space is able to form an urban microclimate at the studied neighborhood.

Key-words: Urban climate. Heat island. Green areas.

1. Introdução

O intenso processo de urbanização pelo qual as cidades passam é responsável por moldar o espaço geográfico, de modo que atenda às demandas da população. A tentativa de adequar a cidade de acordo com os seus interesses leva a mudanças no uso e ocupação do solo nos grandes centros, onde o natural é retirado e substituído por elementos resultantes da ação antrópica, gerando diversos problemas ambientais.

A modificação dos componentes naturais da paisagem ocasionada pela intensa verticalização, crescimento da população e industrialização, leva a produção de uma nova atmosfera para a cidade, formando um clima específico, o clima urbano, devido à mudança no balanço energético local. (Amorim, 2013)

Devido à intensificação dos processos de urbanização e o agravamento dos problemas ambientais decorrentes do mesmo, surge o interesse em estudar o clima das cidades, em que aqui no Brasil, Monteiro (1976) formula a teoria do Sistema Clima Urbano (S.C.U), buscando revelar o clima da cidade como fruto das atividades humanas, que resulta na formação de uma atmosfera urbana modificada. (Mendonça, 2012)

Desse modo, a inter-relação que há entre o homem e a natureza leva à formação do Sistema Clima Urbano. Isto porque a retirada da cobertura natural em substituição a outros materiais, como o asfalto e o concreto, dentre muitos usados na construção civil, vai influenciar no processo de receber e refletir radiação solar, pelo fato de serem materiais de albedo diferenciado daqueles existentes antes da intervenção antrópica. (Amorim, 2013)

Segundo Danni-Oliveira e Mendonça (2007), o albedo dos materiais vai caracterizar-se pela “capacidade que os corpos têm de refletir a radiação solar que incide sobre eles. O albedo varia de acordo com a cor e a constituição do

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corpo”. Desse modo, quanto mais clara for a cor de determinado material, maior é o albedo, logo, menor é a absorção de energia, pois a maior parte da radiação é refletida.

Desse modo, quando se analisa o espaço urbano, é perceptível que os elementos que constituem as cidades, como o asfalto, concreto, determinados tipos de telhado e os materiais usados nas paredes dos edifícios, possuem albedos muito baixos, muitas vezes bastante inferiores a superfícies vegetais e outros materiais mais claros. Quanto mais próximo de 0% menor é o albedo, ou seja, maior é a capacidade de absorver energia e assim aprisiona calor no meio em que está.

Tabela 1 – Albedo de algumas superfícies.

Tipo de superfície Albedo (%)

Gramado 15 - 30

Concreto 17 - 20

Asfalto 5 - 10

Fonte: Mendonça, Danni-Oliveira, 2007 Organizado por Neiva, 2014

De acordo com a tabela 1, é possível analisar que o gramado possui o maior albedo, chegando a 30%, dentre as superfícies mostradas, o que facilita compreender a importância de preservar áreas verdes nas cidades, amenizando os efeitos causados pelo clima urbano.

A presença de vegetação tem a importância de proporcionar menor aquecimento para áreas que são fortemente construídas, principalmente durante os momentos de maior aquecimento diário. Além disso, a intensa presença de corredores de prédios com mais de 4 andares favorece a formação do “canyon urbano”, onde os materiais espelhados utilizados pela arquitetura, engenharia civil, o fluxo de automóveis e toda a dinâmica urbana da cidade levam ao aprisionamento do calor nestes corredores, favorecendo a presença de temperaturas mais elevadas em determinadas áreas da cidade, caracterizando o fenômeno climático de ilha de calor urbana. (Amorim, 2013)

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O objetivo deste artigo é de comparar os dados de temperatura do ar, de superfície e umidade relativa obtidos durante o trabalho de campo nos dois pontos analisados do bairro Méier, e compreender a variação destes elementos climáticos a partir da análise dos diferentes padrões de uso e ocupação do solo. Atentando para a presença de microclimas em pontos bastante próximos e o quão importante é o planejamento urbano-ambiental.

2. Metodologia

Esta pesquisa foi impulsionada a partir de uma disciplina do curso de Geografia da UFRRJ, em que era necessário realizar um estudo a partir de um trabalho de campo. Após isso, foi realizado um levantamento bibliográfico na área de Climatologia Urbana, atentando-se para o fenômeno de ilha de calor urbana.

O trabalho de campo ocorreu no bairro Méier, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro (vide mapa 1), no dia 1º de fevereiro de 2014, em dois pontos, o primeiro foi a Rua Dias da Cruz (P1) e o segundo o Jardim do Méier (P2). A escolha dos pontos foi devido à diferença da paisagem entre ambos, levando ao interesse em investigar como seria o comportamento climático em cada ponto.

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Base cartográfica: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro - Instituto Pereira Passos e IBGE. Organizado por Cattae e Neiva, 2015

A escolha da leitura horária foi das 9h às 18h. Para tal, foram utilizados alguns materiais; Em cada ponto havia um termohigrômetro da marca “Incoterm” para medir a temperatura do ar (TA) e a umidade relativa do ar (UR), que foi colocado em um miniabrigo meteorológico, construído pelos alunos, estando a 1, 50m da superfície (asfalto e gramado), buscando evitar qualquer tipo de influência da radiação terrestre, já para a coleta da temperatura da superfície (TS) foi utilizado um termômetro infravermelho, onde colocávamos a 20 cm de distância do asfalto ou gramado a cada hora.

Após a ida a campo foram realizadas análises e interpretação dos dados, atrelada à teoria estudada anteriormente sobre clima urbano resultando no presente artigo.

Para a confecção do mapa de localização do bairro foi utilizado o software de geoprocessamento Quantum Gis (QGIS) versão 1.8, para os mapas de localização dos pontos foi utilizado o software Google Earth. Já os gráficos foram criados através do Microsoft Excel.

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A cidade do Rio de Janeiro, localizada na latitude 22º 54’ 10’’ S e longitude 43º 12’ 28’’ O, é a segunda maior metrópole do país e de acordo com a estimativa do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para 2013, a capital possui 6.429.923 habitantes. A cidade é caracterizada por um cenário bastante heterogêneo, com grande diversidade de ocupação do solo, e que vem se intensificando a cada ano, principalmente devido a novas construções, refuncionalização de pontos da cidade para atender às demandas mais atuais.

O bairro Méier é, de acordo com os estudos de Lucena et al (2012), um dos bairros que possuem as maiores temperaturas de superfície continental (TSC), pois está incluso nos bairros que constituem a Zona Norte, e esta é caracterizada por forte presença de uso do solo do tipo “urbano” que foi evoluindo progressivamente este tipo de ocupação desde a década de 80 até os dias atuais, o que acaba resultando em TSC próximas a 70ºC, devido a maior retirada da cobertura natural que ali existia.

De acordo com a figura abaixo, é possível analisar o espaço dos dois pontos observados em campo. O P1 trata-se da Rua Dias da Cruz e o P2 do Jardim do Méier. É perceptível a maior presença de elementos de caráter mais urbano no P1 do que no P2. No primeiro há asfalto, concreto, fluxo de veículos e pessoas, além da pouca arborização e presença de vegetação, já no segundo, há uma forte cobertura de árvores, além da presença de gramado e solo em boa parte de sua área, sem fluxo de veículos. Ambos os pontos estão próximo à linha férrea da Estação de Trem do Méier, basicamente separando os dois pontos.

Durante o campo, a primeira TA foi coletada às 09h, o P2 apresentou-se em 28,4ºC, ao mesmo tempo, o P1 teve registrado 33,3ºC, sendo 4,9ºC de diferença. Já a TS foi registrada em 29,2ºC no P2 e em 40,2ºC no P1. Às 14h o P2 obteve a máxima TA do dia, sendo ela de 37,9ºC, já no P1 a máxima foi registrada às 15h e foi 41,4ºC, resultando em 3,5ºC de diferença entre as máximas dos dois pontos. Já a TS máxima ocorreu às 14h em ambos os pontos, sendo 68,2ºC para o P1 e de 34,2ºC para o P2, obtendo 34ºC de diferença.

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Física Aplicada. Teresina- Piauí. Home: http://www.ojs.ufpi.br/index.php/equador Fonte: Google Earth

A partir das 15h no P2 e às 16h no P1 começou a redução da TA, sendo de 37,4ºC e 39,3ºC, respectivamente, e foi registrado até às 18h, sendo 36,1ºC para o P2 e 38,0ºC para o P1. Já a TS teve a sua redução a partir das 15h no P1 e às 16h no P2, sendo registrados 67,0ºC e 33,2ºC, respectivamente.

Figura 2 – Temperaturas do ar e de superfície dos P1 e P2

Organizado por Neiva (2015)

Quanto à UR foram obtidos os maiores valores quando a TA estava menor, assim, às 09h, os dois pontos registraram os seus picos de UR, sendo 59% para o P2 e 53% para o PI. Já os menores valores de UR foram obtidos entre 12h e 15h, exatamente no momento em que ambos os pontos obtiveram

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as suas maiores TA, sendo 24% para o P1, às 14h e de 32% para o P2, às 13h. Os valores da UR voltaram a aumentar a partir do ponto de resfriamento da TA, que ocorreu a partir das 16h, obtendo às 18h, último horário de coleta, 46% para o PII e 34% para o PI.

Figura 3 – Umidade relativa do ar dos P1 e P2

Organizado por Neiva (2015)

Ao analisar esses valores (figuras 2 e 3), pode-se notar que o comportamento microclimático entre os pontos foi diferenciado. O P2 obteve valores de TA e TS menores, e de UR maiores, já o P1 comportou-se de modo bem distinto, obtendo as maiores TA e TS e os menores valores de UR. A diferença máxima de TA entre os pontos chegou a 4,9ºC, de TS foi de 30ºC e de UR 12%, nos mesmos horários.

4. Conclusão

Após estudar os resultados obtidos no trabalho de campo, foi possível reconhecer a Rua Dias da Cruz como uma ilha de calor e o Jardim do Méier como uma ilha de frescor, o principal objetivo do campo era analisar o quão diferente pode ser os valores de temperatura do ar e de superfície, como também, o de umidade relativa no entorno de uma área verde, que foi o caso do P2.

Assim, a heterogeneidade existente no espaço urbano do P1 favoreceu maior aprisionamento de calor, enquanto que o P2 possui menor capacidade de absorver calor e maior de dissipá-lo, evidenciando que não é necessário distanciar-se muito de um ponto para perceber diferença no comportamento

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climático, a ilha de calor existe mesmo dentro de um bairro, como foi o caso do Méier, atuando como um fenômeno microclimático.

Referências

Amorim, M. C. C. T. Clima urbano: estrutura térmica e ilhas de calor. In: Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim; João Lima Sant´Anna Neto; Ana Monteiro. (Org.). Climatologia

urbana e regional: questões teóricas e estudos de caso. 1ed. São Paulo: Outras

Expressões, 2013, v. 1, pp. 191-220.

Mendonça, F; Danni-Oliveira, I. M. Climatologia: Noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. 206 p.

Mendonça, F. M; Pinheiro, G. M; Lima, N. R. Clima urbano no Brasil: Análise e contribuição da metodologia de Carlos Augusto Figueiredo Monteiro. Geonorte, Manaus, v. 2 n. 5, p.626-638, 2012.

Lucena, A. J. de, et al. A evolução da ilha de calor na região metropolitana do Rio de Janeiro. Geonorte, Manaus, v. 2, n. 5, pp.8-21, 2012.

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