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ONDA DE CALOR EM OUTUBRO DE 2014 E OS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS

Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil,

ONDA DE CALOR EM OUTUBRO DE 2014 E OS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS

VICTOR DA ASSUNÇÃO BORSATO1 MITCHEL DRUZ HIERA2

Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão victorb@fecilcam.br

Resumo

Maringá no Paraná é uma cidade sobre o Trópico de Capricórnio, zona transição climática com alternância entre os sistemas atmosféricos de origens tropical continental e oceânicos tropical ou polar. Na estação mais quente prevalecem os sistemas continentais e de baixa pressão, nos meses mais frios, prevalecem a atuação dos sistemas atmosféricos oceânico tropical ou polar. No mês de outubro, ocorre a mudança de estação, termina o inverno e inicia a primavera. Mês com grandes oscilações na pressão e na temperatura, consequência da ampliação da massa Tropical continental, sistemas atmosféricos com mais participação no estado do tempo. Como é um sistema continental e de pouca umidade, o tempo mais característicos são dias quentes com baixa umidade relativa do ar. Estudaram-se a participação dos sistemas atmosférico para a região de Maringá para o mês de outubro e verificou-se que a onda de calor que assolou todo o Centro Sul do Brasil foi consequência da participação mais ativa da massa Tropical continental. Por isso também, o volume de chuva foi abaixo do esperado.

Palavras-chave: Climatologia Geográfica. Estado do tempo. Massas de ar

Abstract

Maringa Parana is a city on the Tropic of Capricorn, a climatic transition zone which alternates between atmospheric systems of continental tropical origins and tropical oceanic or polar oceanic origins. In the warmer season, continental and low pressure systems prevail. In the cooler months however, the actions of tropical and polar oceanic weather systems predominate. In October, the season changes, with the winter followed by the spring. This particular month is characterized by large fluctuations in pressure and temperature, as a result of the expansion of the continental Tropical mass, the atmospheric system with more participation in the weather. Being a continental and low humidity system, the most characteristic weather are hot days with low relative humidity. The participation of the atmospheric systems in October were studied for the region of Maringa. It was found that the heat wave that swept across the Brazilian South center was a result of a more active participation of the Tropical continental mass. For the same reason, the amount of rain was lower than expected.

Revista Equador (UFPI), Vol. 4, Nº 3, (2015). Edição Especial XVI Simpósio Brasileiro de Geografia

Física Aplicada. Teresina- Piauí. Home: http://www.ojs.ufpi.br/index.php/equador 1 . Introdução

Todo o Centro Sul do Brasil foi assolado por sucessivas ondas de calor no final do inverno e início da primavera de 2014. Considerando que as oscilações na temperatura com grandes amplitudes em intervalos de semanas é característica da estação da primavera. Investigou-se a dinâmica dos sistemas atmosféricos para acusar a massa de ar gênese do calor intenso. As configurações das massas de ar em todo o Centro Sul do Brasil propiciaram essa condição anômala. Por uma questão de brevidade, a pesquisa se limitou à região de Maringá, localizada no norte do estado do Paraná.

Em setembro, o Sol, em seu movimento aparente e anual tangencia a linha do Equador, por isso, diminiu-se gradativamente o período diário de luz para o hemisfério norte e aumenta para o Sul, sendo que o equilíbrio “equinócio” ocorre no dia 22 ou 23 de setembro. Portanto, não é o período de luminosidade e tão pouco a intensidade da luz solar, a principal razão da elevação excepcional da temperatura em todo o Centro Sul do Brasil. A causa pode ser explicado pela dinâmica e interação entre os sistemas atmosféricos e os elementos geográficos.

Partindo-se das constatações, temperaturas máximas recordes para o mês de outubro em várias localidades dessa macrorregião, estudou-se a dinâmica dos sistemas atmosféricos para a região da cidade de Maringá, segundo a quantificação dos sistemas atmosféricos (PÉDELABORDE, 1970) e a análise rítmica (MONTEIRO, 1971).

Os resultados mostraram que a dinâmica dos sistemas atmosféricos proporciona condições para temperaturas elevadas, principalmente no período de máxima ampliação da massa de ar Tropical continental. Esse sistema se expande e domina o estado do tempo por vários dias em grades áreas do Centro Sul do Brasil. Por outro lado, verifica-se também que, a massa de ar Tropical atlântica também contribui, considerando que o seu centro de ação (Alta Subtropical do Atlântico Sul) bloqueia os avanços dos sistemas frontais, favorecendo a ampliação dos sistemas continentais.

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A circulação sinótica é uma grandeza espacial que vai de centenas a milhares de quilômetros quadrados e os sistemas atmosféricos, fenômenos atmosférico de tal grandeza se manifestam com duração de dias. Isso caracteriza a dinâmica dos campos ou sistemas barométricos. Nas cartas, são representadas pelas isóbaras, linhas que unem os pontos de igual pressão.

Com o propósito de proceder a participação cronológica dos sistemas atmosféricos e a análise rítmica, e observando as considerações de Monteiro (1971), procedeu-se a escolha da estação climatológica de Maringá-PR. Na sequência, organizaram-se os dados diários dos principais elementos do tempo, fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia do Governo Federal (INMET, 2012).

Os sistemas atmosféricos considerados foram aqueles que atuaram no Centro Sul do Brasil, ou seja: Sistema Frontal (SF), massa Tropical continental (mTc), massa Tropical atlântica (mTa), massa Polar atlântica (mPa), massa Equatorial continental (mEc) (VIANELLO 2000; VAREJÃO-SILVA 2000; FERREIRA 1989). Para o registro dos sistemas identificados foram elaboradas tabelas em planilha do excel®. As chuvas também foram classificadas como frontais ou convectivas em conformidade com o sistema atmosférico.

Para essa análise e classificação dos sistemas, utilizaram-se as cartas sinóticas diárias (12 TMG) da Marinha do Brasil e as imagens de satélite Goes 13 (CPTEC-INPE, 2014) e os dados diários dos elementos do tempo para a 12 TMG. Para a confecção dos gráficos, foi utilizado o programa computacional “RÍTMOANALISE” (BORSATO et al, 2004).

3. Resultados e Discussão

A cidade de Maringá é atravessada pelo trópico de Capricórnio, –23.4° de latitude, –51.9° de longitude e 542 metros. Nessa região é característica da estação do verão, o predomínio dos sistemas de baixa pressão e elevadas temperaturas, o inverno apresenta temperaturas amenas, principalmente durante a atuação da mPa, sistema de alta pressão e baixa temperatura. De

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maneira geral, o clima da região é comandado basicamente por quatro massas de ar, aquelas que atuam no Centro Sul do Brasil (BORSATO, 2006).

Para se fazer uma descrição pormenorizada dos tipos de tempo seria necessário o acompanhamento diário dos sistemas atmosféricos com a análise dos tipos de tempo, o que resultaria em um grande volume de informações, por isso apresentam-se os resultados mais significativos sintetizados em histogramas e em tabelas.

A análise rítmica e a quantificação dos sistemas atmosféricos revelaram que para outubro de 2014, o sistema atmosférico com maior participação nos tipos de tempo foi a mTc, com 42,2% (Tabela 1). Esse sistema se caracteriza por apresentar baixa pressão e baixa umidade relativa, é mais persistente nos meses mais quentes (NIMER, 1979).

(...). Sua região de origem é a estreita zona baixa, quente e árida, a leste dos Andes e ao sul do Trópico. É oriunda da frontólise na Frente Polar Pacífica, cujos ciclones se movem para sudeste ocluindo depois de transpor os Andes, onde sofre efeito da dissecação adiabática. Esse fato ligado à grande insolação do solstício do verão, deve contribuir para a elevação da temperatura e secura da massa. A depressão do Chaco se constitui assim em fonte da mTc (NIMER, 1979, p. 11).

Nas análises das cartas, verifica-se que a mTc, como é um sistema temporário, ressurge, na maioria das vezes, com o envelhecimento da mPa. À medida em que a mPa escoa para o leste, os ventos anticiclonais desse sistema, ao contornar o centro da alta pressão, posicionado na costa do Atlântico, percorrem longo trecho continental, assimilando as característica continentais, aquecendo-se em função já da baixa latitude da região. Por outro lado, Nimer (1971) considera:

(...) a origem é a estreita zona baixa, quente e árida, a leste dos Andes e ao sul do Trópico. É oriunda da frontólise na Frente Polar Pacífica, cujo ciclone se movem para sudeste ocluindo depois de transpor os Andes, onde sofrem efeito de dissecação adiabática. Êsse fato, ligado à grande insolação do solstício de verão, deve contribuir para a elevada temperatura e secura da massa. A Depressão térmica do Chaco se constitui assim em fonte da mTc. Esta é constituída por uma circulação ciclônica na superfície, de forte convergância. Entretanto, sua baixa umidade, aliada à forte subsidência da Alta superior, dificulta a formação de nuvens de convecção e trovoada, sendo, portanto, por tempo quente e seco (NIMER, 1971 p. 48 – 49).

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A análise dos dados apresentados no gráfico do Desvio Padrão também apontam para a mTc como o sistema que dominou o estado do tempo no mês e também durante os dias mais quente no mês (Figura 1).

Verifica-se também que do oitavo ao décimo oitavo dia do mês a mTc atuou na região, a máxima para Maringá foi superior a 34,0°C. A média compensada mostra que do dia 11 até o 18 a temperatura oscilou acima do Desvio Padrão para o mês.

A mPa foi o segundo sistema com mais tempo de participação (25,3%) seguido pela mTa (17,2%) e SF (15,1%). A mEc não atuou na região no mês.

As chuvas também foram escassas no mês, registraram-se 58,1mmb e 100% foram frontais (Tabela 1). Observa-se que para o período do estudo foram registrados quatro epsódios de chuva e todas foram classificadas como frontais.

Tabela 1 – Participação dos sistemas atmosféricos, pressão atmosférica (hPa) lida nas cartas e chuva.

Data SF mPa mTa mTc mEc Sistema Pressão Chuva

01/09/2014 24 SF 1016 0 02/09/2014 24 mPa 1022 20,7 03/09/2014 24 mPa 1025 0 04/09/2014 24 mPa 1021 0 05/09/2014 24 mPa 1020 0 06/09/2014 24 mTa 1020 0 07/09/2014 24 mTa 1018 0 08/09/2014 24 mTc 1013 0 09/09/2014 24 mTc 1012 0 10/09/2014 24 mTc 1012 0 11/09/2014 12 12 SF/mTc 1012 0 12/09/2014 12 12 mTa/mTc 1015 0 13/09/2014 12 12 mTa/mTc 1015 0 14/09/2014 12 12 SF/mTc 1013 0 15/09/2014 12 12 SF/mPa 1016 30,3 16/09/2014 24 mTc 1013 0 17/09/2014 24 mTc 1012 0 18/09/2014 24 mTc 1012 0 19/09/2014 12 12 SF/mTc 1010 0 20/09/2014 12 12 SF/mPa 1017 1,3 21/09/2014 24 mPa 1018 2 22/09/2014 24 mPa 1019 0 23/09/2014 12 12 mPa/mTa 1017 0 24/09/2014 24 mTc 1012 0

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25/09/2014 24 mTc 1012 0 26/09/2014 24 mTa 1016 0 27/09/2014 8 8 8 SF/mPa/mTa 1015 0 28/09/2014 12 12 mTa/mTc 1016 0 29/09/2014 24 mTc 1010 0 30/09/2014 8 16 SF/mTc 1008 0 01/10/2014 12 12 SF/mTc 1012 3,8 Soma 112 188 128 316 0 // // // % 15,1 25,3 17,2 42,5 0,0 // // //

Figura 2 – Oscilação da média compensada, Desvio padrão e temperatura máxima diárias para o mês de outubro para a cidade de Maringá-PR. Na abscissa a temperatura e

na ordenada os sistemas atmosféricos.

Organização – autor

4. Considerações finais

A mTa, foi bastante ativa no mês, ela modifica-se à medida em que avançam para interior do continente, a partir da costa atlântica do Sudeste e sul do Nordeste brasileiro. As modificações favorecem a ampliação da mTc, conforme observou Padilha (2008).

“ Quando não existe nenhuma frente ou sistema transiente atuando na região central do país, há o predomínio da massa de ar tropical marítima, devido à penetração da Alta Subtropical do Oceano Atlântico Sul (ASAS) sobre o continente sulamericano (Nimer, 1979; Bastos e Ferreira, 2000). Esta massa de ar, ao permanecer sobre o continente durante alguns dias, torna-se seca e transforma-se em uma massa de ar tropical continental” (PADILHA, 2008, p. 28).

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Observações bastante semelhantes foi constatado no início de outubro. Uma mPa avançou a partir do dia 2 e gradativamente deslocou-se para o interior do Atlântico que a partir do dia cinco e seis foi assimilada pela ASAS que se configurou como um bloqueio aos avanços dos sistemas frontais. O aquecimento continental e a ampliação da mTc propiciaram intenso aquecimento e consequentemente um rebaixamento da umidade relativa. Referências

BORSATO, V. A. BORSATO F. H e SOUSA E. E. Análise Rítmica e a Variabilidade Têmpora – Espacial. In: VI Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica. Teoria e Metodologia em Climatologia. Universidade Federal de Sergipe, Núcleo de pós Graduação Geográfica, Aracajú SE. Outubro 2004. Eixo 3 tema 3 - CD-ROM.

BORSATO,V.A.A participação dos sistemas atmosféricos atuantes na bacia do Auto Rio Paraná no período de 1980 a 2003. 2006. Tese (Doutorado em Ciências Ambientais)

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FERREIRA, C.C. Ciclogêneses e ciclones extratropicais na Região Sul-Sudeste do Brasil

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MONTEIRO, C. A. de F. A análise rítmica em climatologia: problemas da atualidade climática em São Paulo e achegas para um programa de trabalho. São Paulo: USP, 1971 (Série Climatologia, 1 p. 1-21).

NIMER, E. Climatologia da Região Sul do Brasil. In: Revista Brasileira de Geografia. Introdução a Climatologia Dinâmica. Rio de Janeiro : IBGE, n. 4. p. 3 - 65. 1971.

NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1979. p. 421.

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Brasil, São José dos Campos: INPE, 2008. (INPE-14492-TDI/1173) 139 p.

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VIANELLO, R. L., Meteorologia Básica e Aplicações. Universidade Federal de Viçosa: Editora UFV, 2000.

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DISTRIBUIÇÃO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO PERÍODO