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A avaliação de ciclo de vida é normalizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Segundo a norma ABNT ISO/TR 14047 (ABNT, 2016) uma análise de ciclo de vida “consiste em uma compilação e avaliação das entradas, saídas e dos impactos ambientais potenciais de um sistema de produto ao longo do seu ciclo de vida”. De forma mais geral, pode ser vista como uma técnica que visa identificar os impactos ambientais que se associam a produtos manufaturados e consumidos, visando o entendimento e mitigação desses impactos. Ainda, segundo a ABNT (2016), a ACV é responsável por compilar um inventário de entradas e saídas pertinentes de um sistema de produto; avaliar os impactos ambientais potenciais associados a essas entradas e saídas; e interpretar os resultados das fases de análise de inventário e de avaliação de impactos em relação aos objetivos dos estudos.

O “sistema de um produto” é compreendido por um conjunto de processos que realiza a função do produto ABNT (ABNT, 2016), isto é, aqueles que compõem o ciclo de vida do biodiesel, para o caso deste trabalho. Desta forma, uma análise do ciclo de vida constitui um total de quatro etapas:

1. Definição do escopo e objetivos;

2. Análise de inventário;

3. Avaliação de Impacto;

4. Interpretação dos resultados;

Uma breve explicação de cada fase, como definidas pela ABNT (2016) estão a seguir.

2.6.1 Definição do Escopo e Objetivo

A primeira etapa de um estudo de ciclo de vida, consiste declarar-se inequivocamente a aplicação da análise em questão, as motivações por trás do estudo e o público alvo pretendido.

Durantes as definições de escopo devem ficar claros os aspectos:

• A unidade funcional;

• O sistema do produto a ser estudado;

• As fronteiras do sistema do produto;

• Procedimentos de alocação;

• Tipos de impacto e metodologia de avaliação de impacto e interpretação subsequente a ser usada;

• Suposições;

• Limitações;

• Requisitos dos dados;

• Tipo de análise crítica, se aplicável;

• Tipo e formato do relatório requerido para o estudo;

• As funções dos sistemas de produto, já que este é um estudo comparativo.

A unidade funcional é a unidade de medida utilizada para representar o desempenho das saídas funcionais do sistema de produto. Ela serve de referência, relacionando as entradas e saídas, e assim garante uma comparabilidade de resultados (ABNT, 2016).

Devem ser definidos os limites do sistema de forma compatível com a proposta e objetivo da análise, estabelecendo-se as etapas incluídas na análise. Fronteiras muito extensas podem inviabilizar a obtenção de dados e fronteiras muito estreitas podem não trazer conclusões

adequadas por excluírem elos da cadeia com potencial de impacto. As fronteiras podem ser definidas com base em fatores como localização, sistema natural em que está inserida a análise, dependência de processos externos e bens de capital, público-alvo, restrições de custo de projeto, suposições, critérios de corte e aplicabilidade do estudo (Ribeiro, 2009).

Com base nas fronteiras, as ACVs são classificadas:

Fronteira do tipo Cradle-To-Grave (berço ao túmulo): Caracterizada por incluir desde a produção dos insumos básicos do sistema até o uso e emissões do uso do produto.

Fronteira do tipo Cradle-To-Gate (berço ao portão): Consiste em uma análise de ciclo de vida incompleta incluindo somente a extração dos recursos naturais no cenário considerado até a obtenção do produto. Não considera o transporte do produto ao consumidor e as emissões do uso.

Fronteira do tipo Cradle-to-Cradle, closed loop (berço a berço ou análise de ciclo fechado): Um tipo específico de análise do tipo Cradle-to-Grave, na qual o após o uso do produto os resíduos do mesmo são reaproveitados de forma plena, seja via reciclagem completa ou por inclusão durante o processo de produção. Utilizada em sistemas nos quais praticamente não há emissões caracterizando um sistema em closed loop.

Fronteira do tipo Gate-to-Gate (portão a portão): Considera apenas a etapa de produção do produto, desconsiderando a extração de recursos naturais para obtenção de insumos e as emissões do uso/transporte do produto.

2.6.2 Análise de Inventário

A análise de inventário é a etapa mais importante de uma ACV e também é a mais intensiva tanto em recursos quanto em tempo (Ribeiro, 2009). Esta etapa consiste na definição e obtenção de todos os gastos materiais, energéticos, de capital financeiro e capital humano dentro da fronteira definida (ABNT, 2016).

Estes dados podem ser obtidos de diversas formas, não existindo uma padronização (ABNT, 2016). O uso de fontes externas e bases de dados é mais comum na diversidade de ACV’s presentes na literatura. Ao se utilizar ambientes computacionais comerciais (e.g., Gabi e SIMAPRO), bases de dados já são incluídas sobre diversos processos permitindo fácil acesso a alguns dados. Dados que não estão disponíveis devem ser coletados em literatura específica,

conforme o necessário. Por se tratar de informação prospectada, deve-se atentar para fatores como aplicação dos dados ao sistema avaliado – há casos em que a fonte de dados assume premissas em desconformidade às da aplicação em questão, além de tipos de tecnologias cobertas e localizações geográficas diferentes das consideradas na ACV. Deve-se atentar para o requisito da uniformidade de qualidade de dados, unidades funcionais, fronteira dos sistemas e metodologia. Por fim deve-se também considerar o ano de publicação das referências, que devem estar situados em períodos temporais similares.

Usualmente, os dados são organizados em matriz na qual cada linha consiste em um insumo (seja ele material, energético, de capital financeiro ou de capital humano) e cada coluna uma etapa do ciclo de vida (ABNT, 2016). Convenciona-se compartimentar a matriz em uma parte tecnológica com informações materiais, energética, e outra ambiental, com fluxos ambientais. Neste trabalho também será definida uma parte social contendo todos os fluxos de capital humano.

A análise do inventário de ciclo de vida é um processo iterativo e à medida que mais se coletam dados recomenda-se que as fronteiras dos sistemas sejam revistas, com possível aperfeiçoamento ou expansão dos dados ABNT (2009). Uma ACV deve ser interpretada após o término de cada etapa, ou seja, após a obtenção dos dados, estes são interpretados e caso se constate inadequação das fronteiras, estas devem ser alteradas e o processo reiniciado.

2.6.3 Avaliação de Impacto

Consiste em utilizar os dados obtidos na compilação do inventário para análise de impacto, relacionando-se os insumos dos processos com seus respectivos impactos ambientais e à saúde humana (Matthews et al, 2002). As emissões do ciclo de vida são então inicialmente classificadas em categorias de impacto (e.g., mudanças climáticas, acidificação, eutrofização e esgotamento de recursos, EU (2016)) e depois caracterizadas, i.e, calculadas dentro da unidade funcional do sistema (EU, 2016). Em ACV tradicional, a avaliação de impacto se limita a cálculos na dimensão ambiental.

Esta etapa é uma das mais questionadas em análises de ciclo de vida devido a alocações e ajustes nela realizados (EU, 2016). Outro fator que gera dúvidas em análises de impacto consiste na qualidade dos dados utilizados.

2.6.4 Intepretação

Após a avaliação dos impactos, deve-se avaliar o ciclo de vida (ABNT, 2009), considerando-se o objetivo inicial da análise. Ressalta-se, novamente, que a análise de ciclo de vida é uma análise iterativa. Assim, um resultado obtido em alguma das etapas pode afetar uma etapa anterior. Ao final de parte do ciclo de vida, tem-se uma interpretação parcial para averiguar a necessidade de ajustes na metodologia. Estes ajustes podem ser mudanças nas fronteiras, seja via uma expansão ou redução, reavaliação do inventário para computar outra categoria de impacto, entre outros. A Figura 7 demonstra o caráter iterativo de uma ACV.

Figura 7 Metodologia de uma ACV. Fonte: ABNT, 2009.

Neste trabalho, as análises MCA e PCA substituem a tradicional avaliação de impacto, permitindo integrar a dimensão social da sustentabilidade à ACV. O foco, portanto, da metodologia de ciclo de vida neste trabalho consiste na formulação dos inventários das cadeias de biodiesel metílico e etílico. Tendo em vista o objetivo de comparar ambas as cadeias de biodiesel e que a etapa de uso de biodiesel não diferenciaria ambas as cadeias, a unidade funcional utilizada não irá contabilizar o uso final de biodiesel como é comum em ACV’s.

Metodologia