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2.3 Sustentabilidade e suas dimensões

2.3.4 Métricas e Indicadores

Determinar a sustentabilidade de um processo/produto de forma objetiva se torna um ponto central para qualquer análise de sustentabilidade em uma tentativa de reduzir a subjetividade de análises deste tipo. Assim, surgem os indicadores da sustentabilidade como auxiliares na medição e quantificação da sustentabilidade (Sikdar, 2012). Não há um conjunto de indicadores de uso geral para comparação e identificação coesas entre as diferentes cadeias produtivas ou processos industriais, ou que possam ser incorporados nas cadeias produtivas de maneira fiel à realidade (Azapagic et Perdan, 2000). Portanto, estabelecer métricas e indicadores torna-se necessário para tomadas de decisão quanto à continuidade, ou não, de alguma prática vigente, bem como para a implantação de novas rotas produtivas.

A Figura 6 apresenta a visão dos indicadores dentro das dimensões da sustentabilidade.

Percebe-se que uma diversidade de indicadores pode ser proposta que contemplam somente uma dimensão (indicadores ambientais, sociais ou econômicos), duas dimensões (indicadores sócio-econômicos, sócio ecológicos e de ecoeficiência) ou três dimensões (indicadores de sustentabilidade).

Figura 6 - Indicadores e suas dimensões. Fonte: Adaptado de Sikdar, 2003.

Ademais, indicadores podem ser classificados de outra forma, a saber indicadores qualitativos e indicadores quantitativos (Araújo, 2015). Indicadores quantitativos são aqueles que conseguem medir de forma numérica certo aspecto desejado. Já indicadores qualitativos são comumente usados para expressar aspectos que não podem ser medidos numericamente.

Usualmente, indicadores da dimensão econômica são quantitativos, indicadores sociais qualitativos e indicadores ambientais uma mistura dos dois tipos (Kinderytė, 2010). A Tabela 2 mostra alguns exemplos de indicadores, tanto quantitativos quanto qualitativos das três dimensões:

Tabela 2 – Indicadores Quantitativos e Qualitativos. Fonte: Adaptado de Kinderytė, 2010 e Azapagic et Perdan, 2000.

Indicadores Econômicos Qualitativos Indicadores Econômicos Quantitativos

Estabilidade produto no Mercado Capex

Ética na produção econômica Opex

Desenvolvimento dos empregados Tempo de Retorno sobre investimento Indicadores Ambientais Qualitativos Indicadores Ambientais Quantitativos Substituição de insumos fósseis por renováveis Emissões de CO2

Tornar um processo “verde” Ecotoxicidade

Serviços de eco-sistemas Geração de Resíduos Indicadores Sociais Qualitativos Indicadores Sociais Quantitativos

Preservação de valores culturais Geração de Empregos Serviços à comunidade local Geração de Renda

Satisfação com o trabalho Doenças causadas pelo Trabalho

O uso de indicadores quantitativos é preferido quando comparado aos qualitativos (Santoyo-Castelazo et Azapagic, 2014), pois facilitam tomadas de decisão e eventuais comparações (Sikdar, 2012). Isto ocorre, pois, os indicadores qualitativos, por não terem um valor absoluto, estão sujeitos a influências e tendências do analista. Tomando como exemplo o indicador da Tabela 2 “Preservação de valores culturais”, para certos analistas alguns aspectos culturais serão mais importantes que outros e, portanto, o indicador sofreria alterações dependendo do indivíduo em questão. O caráter subjetivo dos indicadores qualitativos pode resultar em laudos tendenciosos de pouca utilidade final. Além disto, indicadores qualitativos são extremamente influenciado pelas premissas de um estudo sofrendo grande alterações caso uma premissa seja alterada. Porém alguns aspectos da sustentabilidade não podem ser quantificados de forma direta por indicadores quantitativos (Araújo et al., 2015; Santoyo-Castelazo et Azapagic, 2014), tornando os indicadores qualitativos ainda essenciais em análises de sustentabilidade.

2.3.4.1 Indicadores únicos

Utilizar indicadores quantitativos não garante uma tomada de decisão simples, visto que os indicadores podem ser uni/multidimensionais e alguns verificam somente aspectos específicos do processo/produto analisado. Ademais, alguns indicadores como “Geração de Empregos” podem ser listados como indicadores sociais quando na verdade o mesmo é um indicador bidimensional socioeconômico, visto que a geração de empregos depende de uma série de fatores macroeconômicos (ILO, 2007). Atingir uma boa representatividade do sistema que inclua diversos aspectos do processo em questão e diversas dimensões da sustentabilidade pode gerar um número excessivo de indicadores, impossibilitando uma decisão simples. Este grande número de indicadores, é de difícil interpretação e raramente gera uma decisão clara.

Desta forma, a formação de um indicador único que inclua as três dimensões da sustentabilidade e possa agregar todo o processo produtivo é recomendado (Sikdar, 2015; Araújo et al., 2015).

Um indicador único que represente o sistema em sua totalidade facilita o processo de decisão reduzindo a quantidade de comparações necessárias e ajudando na redução de ambiguidades (Sidkar, 2012).

Este indicador pode ser obtido de diversas formas. Duas tendências podem ser observadas na literatura como demonstram Sikdar (2015) e Araújo et al. (2015). A primeira

opção consiste em definir um indicador que já seja tridimensional, ou seja, um indicador de sustentabilidade. A segunda opção, adotada no presente estudo, consiste em calcular uma série de indicadores mono/bidimensionais e agregá-los em um indicador único.

O intuito dos indicadores, neste trabalho, é abranger a totalidade da cadeia produtiva, expandindo a análise dos mesmos a cada elo da cadeia. É importante salientar que a cadeia do biodiesel é muito diversificada, pois abrange processos agrícolas, logísticos e industriais.

Assim, envolve diferentes setores, a saber, indústria, serviços e agricultura, com diferentes características e níveis de profissionalização, regulação do trabalho e estruturação. Assim criar um conjunto de indicadores que nos permita medir todas as inter-relações entre os elos das cadeias e compará-los de forma efetiva, visualizando os efeitos sinérgicos e antagônicos de integração de cadeia, se torna uma parte central do trabalho.

Desta forma, adotou-se para este trabalho a metodologia de padronização de indicadores utilizada por Azapagic e Perdan (2000). Nesta, é verificado que indicadores padronizados discernem e identificam mais opções sustentáveis, segundo as seguintes motivações abordadas no trabalho:

• Comparação de diferentes processos que produzem o mesmo produto, a saber o biodiesel;

• Avaliação do progresso para o desenvolvimento sustentável em um determinado setor;

Benchmarking de unidades dentro da cadeia produtiva;