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4.2 Cálculo dos Indicadores Quantitativos

4.2.4 Empregos Gerados

O indicador “Empregos Gerados” é um indicador misto (socioeconômico) pois os empregos além de melhorarem as condições das famílias ajudam a incentivar a economia (ILO, 2017). A importância da geração de empregos se evidencia em diversos outros estudos (e.g., Battisti 2017; Kang et al. 2015) e constitui um dos principais objetivos do PNPB. A OECD (2013) destaca que a geração de empregos é um fator crítico para o desenvolvimento econômico futuro e deve sempre tentar maximizar o valor produzido. Milazzo et al. (2013) comentam como os biocombustíveis e, em especifico, o biodiesel conseguem providenciar soluções sustentáveis a problemas sociais via a geração de empregos e, por fim, Kang et al., (2015), mostram como os empregos são instrumentais nas estratégias de sustentabilidade dos principais países asiáticos.

Porém, ao se propor indicadores de empregos gerados, grande parte dos estudos disponíveis foca em cálculos agregados para a cadeia como um todo. As unidades costumam ser, então, número de empregos totais de uma etapa ou de uma cadeia. Apesar de extremamente importante, este tipo de análise dificulta extrapolar os valores de empregos para mudanças de escala na cadeia produtiva. Com isso em mente, a inclusão da geração de empregos em uma análise do inventário do ciclo de vida permite relacioná-la com uma unidade funcional, no caso MJ de biodiesel, que pode ser transformada a forma mássica. Assim, tem se um valor de

empregos para cada etapa da cadeia relacionado diretamente ao produto final obtido permitindo um cálculo direto para qualquer escala.

Os resultados do indicador “Empregos Gerados” se encontram na Tabela 44.

Tabela 44-Indicador Empregos Gerados ao longo da cadeia.

Processos Número de Empregos (número de empregos/kgBiodiesel)

Agricultura da Soja 6.33E-06

Transporte da Soja -

Moagem e Refino da

Soja 2.39E-04

Fabricação do Metanol -

Transporte do Metanol -

Transesterificação

Metílica 5.15E-05

Transesterificação

Etílica 5.15E-05

Transporte de Biodiesel -

Agricultura da Cana 6.02E-08

Transporte da Cana -

Produção de Etanol 9.00E-09

Transporte de Etanol -

Os valores para empregos nas etapas de transporte e na fabricação do metanol não puderam ser calculados. Ambos se encontram agregados com outras cadeias produtivas e não foram possíveis de explicitar. Para evitar a adição excessiva de premissas, e por consequência, uma perda de qualidade geral dos dados, optou-se por estimar estes valores durante a MCA.

Uma análise de interesse consiste em comparar a cadeia da soja com a cadeia da cana.

Similarmente com o observado nos casos de trabalho escravo, esperava-se que a cadeia da cana dominasse este indicador devido à menor mecanização quando comparada com a cultura altamente mecanizada da soja. Porém, observa-se nas cadeias que a soja tende a produzir mais empregos do que a cana de açúcar. A justificativa reside novamente na divisão da produção total de cana para somente o valor necessário para o biodiesel. Ou seja, no total geral, os empregos gerados pela cultura de cana são maiores do que a de soja, porém considerando somente o necessário para produzir o biodiesel a soja tende a empregar mais que a cana.

Outro fator interessante consiste no maior número de empregos gerados durante as etapas industrializadas do que nas etapas agrícolas. A etapa de moagem e refino do óleo de soja

e as transesterificações são as etapas com maior número de empregos gerados. Ambas as transesterificações possuem o mesmo valor pois atualmente todas as plantas capazes de produzir biodiesel etílico também são capazes de produzir o metílico, e a troca do agente de transesterificação não torna os processos mais ou menos intensivo em trabalho (Leoneti et al., 2016). Este potencial gerador de empregos que tanto o óleo de soja quanto as transesterificações possuem sugere que o foco na pequena agricultura, como proposto pelo PNPB, pode não ter o impacto desejado. Um possível outro foco seria a capacitação de pessoal e a criação de pequenos hubs de transesterificação ao longo do território nacional, visto que é uma reação de pouca complexidade e relativo fácil controle. Nesse cenário, as grandes unidades industriais poderiam ser utilizadas para purificar e separar o biodiesel obtido destes pequenos hubs.

Um comparativo entre as duas cadeias resulta na cadeia etílica tendo uma performance bem melhor que a da etílica neste indicador. Por mais que o plantio de cana e a produção de etanol sejam pouco influentes na geração de empregos estes serão empregos a mais que a cadeia do metanol não irá gerar. Porém, deve-se ter em mente que os novos empregos gerados irão resultar em um maior número de casos de trabalho forçado, com baixo salário médio e uma notável disparidade salarial na produção do etanol.

Grandes questionamentos são feitos ao uso do óleo de soja em prol do uso de outros óleos vegetais. No Brasil, os óleos de maior aplicabilidade seriam o óleo de palma e o óleo de algodão devido à produção relativamente alta, comparado com outros óleos de pequena produção como canola, e compatibilidade com o clima nacional (CONAB, 2017). Discute-se que a inclusão destes óleos poderia grandemente favorecer a indústria de biodiesel nacional.

Dados obtidos de Monteiro (2013) e ABRAPA (2011), para a cadeia do óleo de palma e óleo de algodão respectivamente, demonstram um total de 4.9E-05 empregos para o óleo de palma e 2.64 E-05 para o óleo de algodão. Estes valores incluem a agricultura e as etapas de obtenção do óleo vegetal (como purificações, secagens, moagens entre outras) porém excluem etapas não relevantes à indústria do biodiesel, como etapas extras para permitir a tecelagem do algodão.

Ao comparar estes valores com o total de 2.45E-04 para a cadeia da soja percebe-se que o óleo de soja além de ser o óleo de maior produção nacional e menor preço, também gera benefícios empregatícios a mais do que seus concorrentes. O óleo de algodão tem grande parte dos empregos concentrados nas etapas de formação de fios e fibras para a indústria de tecelagem e relativamente poucos empregos na parte de plantio e separação do óleo (ABRAPA, 2011) indicando que o mesmo não seria o mais adequado quando o produto final desejado é o biodiesel. Já o óleo de palma tem a capacidade de extrapolar a soja em número de empregos

gerados tanto devido à mecanização crescente da soja quanto à expansão das produções do óleo de palma, que ainda é muito manual nas partes de plantio.