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Avaliação do modelo atual de outorga

IV. FRENTE TÉCNICA

3. DIRETRIZES E RECOMENDAÇÕES PARA OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

3.3. Outorga de Direitos de Uso

3.3.2. Avaliação do modelo atual de outorga

As várias unidades da Federação abrangidas pela bacia hidrográfica do rio São Francisco adotaram diferentes critérios de definição da vazão máxima outorgável em função das suas disponibilidades de água, avaliadas pelas estatísticas Q90, Q95 e Q7,10.

O quadro seguinte sistematiza as vazões de referência e vazões outorgáveis aplicadas ao longo da BHSF.

Quadro 2 – Síntese das vazões de referência e vazões outorgáveis referentes à BHSF.

Autoridade Outorgante

Vazão de

referência Vazão outorgável

Legislação relacionada

ANA Q95%

 70% da vazão de referência em corpos d’água fronteiriços e transfronteiriços

 Em corpos d’água com comprometimento hídrico superior a 70% da vazão de referência os pedidos de outorga deverão ser

submetidos à Diretoria Colegiada

 De resto, não havendo definição formal de vazões ecológicas ou remanescentes por meio, por exemplo, de solicitação do órgão de meio ambiente, é possível outorgar até mais do que 100% da vazão de referência, por meio do estabelecimento de regras especiais de uso da água (ANA, comunicação escrita, março de 2016) Resolução ANA n.º 467/2006 Resolução ANA n.º 542/2004 IGAM (MG) Q7,10  50% da Q7,10

 30% da Q7,10 para captações nas bacias hidrográficas dos rios Jequitaí, Pacuí, Urucuia, Pandeiros, Verde Grande, Pará, Paraopeba e Velhas

 50% da Q7,10 para as áreas em conflito situadas nas bacias hidrográficas dos rios indicados em cima Resolução Conjunta SEMAD/IGAM n.º 1.548/2012 INEMA (BA) Q90

 80% da Q90, quando não houver barramento (nos casos de abastecimento humano os limites podem atingir 95%)

 80% das vazões regularizadas com 90% de garantia (Q90), dos lagos naturais ou de barramentos implantados em mananciais perenes (nos casos de abastecimento humano os limites podem atingir 95%)

 95% das vazões regularizadas com 90% de garantia (Q90), dos lagos naturais ou de barramentos implantados em mananciais intermitentes

Instrução Normativa n.º 01/2007

Autoridade Outorgante

Vazão de

referência Vazão outorgável

Legislação relacionada

APAC (PE) Q90

 Águas superficiais: 90% da Q90

 Surgências: 60% da vazão de referência (calculada através de métodos citados na legislação) Resolução da Diretoria Colegiada da APAC n.º 02/2012 SEMARH (AL) Q90  90% da Q90 Decreto n.º 06 de 2001 SEMARH (SE) Q90  90% da Q90 Resolução CONERH n.º 01/2001 SECIMA (GO) Q95  50% da Q95 Resolução CERH n.º 09/2005 ADASA (DF) Qmmm

 80% da Qmmm, quando não houver barramento

 Até 80% das vazões regularizadas, dos lagos naturais ou de barramentos implantados em mananciais perenes

Resolução n.º 350/2006

Fontes: ANA, 2011a; Pereira & Rosal, 2012; IBI/ENGESOFT, 2010; PROJETEC/TECHNE, 2011; SEMARH/SRH, 2012; ECOPLAN, 2012.

Se cada um destes critérios utilizado na bacia hidrográfica do São Francisco fosse adotado de forma uniforme em toda a bacia hidrográfica, o valor outorgável para o total da bacia hidrográfica variaria entre 335 m3/s e 905 m3/s (cf. detalhes no Relatório RP5 – Arranjo Institucional para a Gestão de Recursos Hídricos e Diretrizes e Critérios para a Aplicação dos Instrumentos de Gestão dos Recursos Hídricos).

No sentido de subsidiar os processos de análise e de decisão relativos à outorga do direito ao uso da água foram realizadas simulações da utilização dos recursos hídricos disponíveis pelos vários usuários, adotando duas hipóteses da política de outorga, recorrendo ao modelo de simulação LabSid-ACQUANET 2013. Adotou-se a mesma abordagem metodológica utilizada no RP4 – Compatibilização do Balanço Hídrico com os Cenários Estudados, sintetizada no Capítulo 4.4 do Volume 1 (Diagnóstico e Cenários) do RF2.

A hipótese base simulada corresponde à satisfação da demanda prevista (estimativa da vazão de retirada que se calcula ser necessário captar para atender os diversos

usos consuntivos) no cenário B para o ano 2025 (cf. Volume 1 – Diagnóstico e Cenários do RF2).

De acordo com o cenário B, a vazão de retirada total para usos consuntivos atingirá, no ano de 2025, 585,3 m3/s. Este valor total de vazão de retirada em 2025 deverá ser essencialmente satisfeito por origens superficiais (534,0 m3/s) e, em menor grau, por origens subterrâneas (50,2 m3/s).

Na simulação da operação do sistema alternativa à hipótese base assumiu-se um valor total da vazão de retirada próximo dos 650 m3/s, distribuídos pelas várias bacias de acordo com os seguintes critérios:

 O valor alocável a cada sub-bacia não pode ser inferior à demanda (dada pela vazão de retirada) estimada para 2025 de acordo com cenário B, uma vez que se assume os valores da demanda decorrem de iniciativas já encetadas;

 A diferença entre os valores totais de 650 m3/s (hipótese alternativa) e 585 m3/s (cenário B) foi distribuída tendo em conta a população de cada sub-bacia de modo a aproximar, na medida do possível, os valores da demanda por habitante.

Na hipótese base, analisando a garantia de satisfação dos diferentes usos consuntivos, verifica-se que existem dificuldades de satisfação das demandas das sub-bacias dos rios Curaçá, Pontal, Margem Esquerda do Sobradinho, Alto Rio Ipanema, Baixo Ipanema e Baixo SF e rio Verde Grande, mas que os usos das restantes sub-bacias são satisfeitos com valores de garantia elevados. Como resultado da política de operação assumida, as garantias de satisfação da demanda do setor agropecuário (com valores mínimos de cerca de 42% na hipótese base, na sub-bacia do rio Pontal) são inferiores às associadas ao consumo humano urbano e rural e ao consumo industrial que, com exceção dos casos referidos (que poderão ter valores mínimos próximos dos 86%, na sub-bacia do rio Pontal para a hipótese base), são satisfeitos a 100%. O papel das transposições previstas no PISF é fundamental para ultrapassar os problemas de conflito de uso de água das sub-bacias dos rios Brígida, Curituba e Macururé.

No futuro, prevê-se que os grandes projetos de irrigação sejam abastecidos com uma garantia de 100%.

Os volumes a transpor no âmbito do PISF para consumo humano e dessedentação animal serão garantidos a 100%, bem como os usos adicionais no eixo norte. Os usos adicionais do eixo leste são abastecidos com um nível de garantia elevado, mas o volume médio fornecido em caso de falhas é 0%.

Na hipótese alternativa é ainda possível satisfazer, com uma garantia de 100%, os usos adicionais considerados, que totalizam 65 m3/s. Note-se que a prioridade destes usos adicionais é inferior à prioridade de abastecimento dos usos existentes e dos usos para consumo humano e dessedentação de animais do PISF, mas superior à prioridade de abastecimento dos usos não prioritários do PISF e à prioridade para geração de energia.

Com as políticas de operação dos reservatórios adotadas, para a hipótese base, é possível assegurar valores de vazão a jusante de Três Marias superiores a 500 m3/s

durante 70% do tempo e valores superiores a 450 m3/s durante 85% a 90% do tempo.

No extremo oposto, valores de vazão superiores a 1.000 m3/s só ocorrem durante cerca de 10% do tempo. Os resultados da aplicação da hipótese alternativa indicam que os valores de vazão a jusante de Três Marias são inferiores a 300 m3/s em 12

meses do período de simulação (3% do tempo) e inferiores a 450 m3/s em 53 meses

do período de simulação (14%).

A jusante de Sobradinho e na foz do rio São Francisco, assumindo um valor de outorga de 585,3 m3/s (534,0 m3/s satisfeita por origens superficiais) e a política de operação adotada, a vazão é superior a 2700 m3/s durante 25% do tempo, superior a 1.500 m3/s durante 85% do tempo e superior a 1.300 m3/s durante 95% do tempo. Já os resultados da aplicação da hipótese alternativa (vazão outorgada de 650 m3/s, com 598,8 m3/s satisfeitos por origens superficiais) conduzem a valores da vazão na foz inferiores a 1.300 m3/s durante 10% do tempo. Trata-se de uma situação insatisfatória que desaconselha claramente a outorga do valor de 650 m3/s (598,8 m3/s de origens superficiais) na bacia hidrográfica do rio São Francisco.

No que diz respeito à vazão ambiental, os valores obtidos na simulação da hipótese base estão acima dos propostos pelos estudos da ECOVAZÃO e da AHIA na maior parte dos meses, permitindo concluir que a política de operação simulada consegue garantir uma vazão ambiental satisfatória.

A avaliação da capacidade de satisfação das demandas supridas por origens subterrâneas (cf. cap. 3 do Volume 7 do Relatório RP1A – Diagnóstico da Dimensão Técnica e Institucional e cap. 5 do Volume 1 do Relatório RP4 – Compatibilização do Balanço Hídrico com os Cenários Estudados) revela que podem existir problemas localizados de superexplotação dos sistemas aquíferos. Ainda assim, tendo em conta a estimativa da recarga média anual (1.827,9 m3/s) e da vazão explotável (365,6 m3/s), estimada em 20% da recarga (cf. capítulo 2 do Volume 5 do relatório RP1A – Diagnóstico da Dimensão Técnica e Institucional), será possível assegurar a satisfação de cerca de 70 m3/s a partir de origens subterrâneas, desde que se compatibilize a distribuição deste valor com a disponibilidade de água dos sistemas aquíferos mais produtivos existentes na bacia hidrográfica, de modo a não agravar os problemas de superexplotação existentes. Esta proposta conservativa que poderá ser flexibilizada no futuro, com o aprofundamento do conhecimento sobre as disponibilidades de águas subterrâneas da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

3.3.3. Diretrizes para a outorga