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Balanço da cobrança pelo uso de recursos hídricos

USOS EXTERNOS

3.4.4. Balanço da cobrança pelo uso de recursos hídricos

Os arquivos do Cadastro Nacional dos Usuários de Recursos Hídricos (CNARH) disponibilizados pela AGBPV (2014) por região fisiográfica totalizam 67.131 fichas de cadastro na bacia do rio São Francisco, das quais 9.905 correspondem a usuários com uso significante dos recursos hídricos da bacia do rio São Francisco: 25% referem-se ao Alto, 25% ao Médio, 47% ao Submédio e apenas 3% ao Baixo São Francisco. Estes usuários se distribuem em águas de domínio da União (5.071) e em águas de domínio estadual (4.834).

Considerando os arquivos dos usuários “cobrados” em 2014, também disponibilizados pela AGBPV (2014) por região fisiográfica, apenas 15,7% dos usuários com uso significante são sujeitos a cobrança pelo uso de corpos d’água na bacia do rio São Francisco, com porcentagens ligeiramente acima da média no Submédio (19,1%) e no Baixo (20,9%). A região menos coberta é o Médio, com boletos de cobrança emitidos a menos de 11% dos usuários com captação de água superior a 4,0 l/s.

A taxa de cobertura da cobrança pode ser calculada, alternativamente ao número de usuários, comparando o volume anual de água captado, constante nas fichas de cobrança (designado de ora em diante por “base da cobrança”), com o volume outorgado que está nas fichas de cadastro. A taxa média assim obtida (12,4%) é um pouco mais baixa face à calculada com o número de usuários, mas é inesperadamente elevada no Baixo (45,1%) e no Alto (21,9%). Mais uma vez, a cobrança parece ser menos universal no Médio São Francisco dado que apenas 7,4% dos volumes outorgados estão a ser sujeitos a cobrança pelo uso de recursos hídricos:

Em 2014, o valor total cobrado pela ANA em águas de domínio da União na bacia do rio São Francisco foi superior a 24 milhões de reais, de acordo com a base de dados fornecida pela AGBPV à NEMUS, que difere ligeiramente dos valores indicados no histórico de valores cobrados e arrecadados (disponível no sítio da ANA: www.ana.gov.br/cobranca). Os valores arrecadados pela ANA são integralmente repassados à AGB Peixe Vivo, entidade equiparada à Agência de Bacia Hidrográfica; cabe à AGB Peixe Vivo desembolsar os recursos nas ações previstas no Plano de Recursos Hídricos da bacia e conforme as diretrizes estabelecidas no plano de aplicação, ambos aprovados pelos CBHSF; a AGBPV pode utilizar até 7,5% do montante assim arrecadado para o pagamento das suas despesas de custeio administrativo (www.ana.gov.br/cobranca - Bacia do rio São Francisco).

De acordo com o indicado, a cobrança pelo uso de águas de domínio Estadual apenas está a ser aplicada na bacia afluente do rio das Velhas, inserida no Estado de Minas Gerais, com um encaixe financeiro, ainda assim, com algum significado (quase de 10,8 milhões de reais). Os valores assim arrecadados são aplicados na bacia hidrográfica que deu origem à arrecadação, mediante expressa aprovação por parte do respectivo comitê de bacia hidrográfica, garantida a conformidade da aplicação com os Planos de Recursos Hídricos; no caso de uma agência de bacia hidrográfica ou entidade a ela equiparada atuar em mais de uma bacia hidrográfica, a despesa com seu custeio e com o monitoramento dos corpos de água limitar-se-á a 7,5% do total dos recursos arrecadados em cada bacia hidrográfica.

Em termos de distribuição dos valores cobrados por região, observa-se uma importante concentração no Submédio (42%) e no Alto (41%) seguidos, a larga distância, pelo Baixo (11%) e Médio São Francisco (6%; Figura 2).

41% 6% 42% 11% Alto Médio Submédio Baixo

Figura 2 – Distribuição do valor cobrado por região fisiográfica da bacia do rio São Francisco (2014).

Fonte: CNARH – Cadastro Nacional dos Usuários de Recursos Hídricos (AGBPV, 2014) e ANA/IGAM/MG – Histórico dos valores cobrados e arrecadados (disponível em:

www.ana.gov.br/cobranca), com cálculos NEMUS.

A importância relativa do Submédio e também do Baixo São Francisco na cobrança está relacionada com o uso externo de transposição, mais concretamente com o Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF), a partir do Submédio, e com a captação da DESO no Baixo São Francisco para reforçar o abastecimento de Sergipe. De fato, a finalidade de transposição gerou uma arrecadação próxima dos 13,2 milhões de reais em 2014), o que corresponde a quase 60%, considerando a cobrança nos corpos d’água de domínio da União.

Já a importância relativa do Alto São Francisco está relacionada com a referida cobrança estadual que está confinada a uma única bacia afluente (Rio das Velhas) localizada, exatamente, nesta região fisiográfica, embora tal recurso não seja contabilizado no PAP do CBHSF.

Entre os usos internos à bacia destacam-se as categorias de diversos (57%) e de abastecimento e saneamento (23%), de acordo com a agregação dos valores apresentada na Figura 3. A irrigação, que corresponde a mais de 80% dos volumes captados, contribuiu para cerca de 18% da cobrança por usos internos. Esta contribuição, relativamente modesta, da irrigação é explicada pelo coeficiente Kt

aplicável aos usos de irrigação, criação animal e aquicultura que, na prática, introduz um desconto de 97,5% na cobrança devida pela captação e consumo de água por esses setores (cf. Quadro 6, mais acima).

23% 18% 2% 57% Abastecimento e saneamento

Irrigação, criação animal e aquicultura

Indústria, mineração e energia

Diversos

Figura 3 – Distribuição do valor cobrado em corpos d´água do domínio da União (usos internos) por finalidade (2014).

Fonte: CNARH – Cadastro Nacional dos Usuários de Recursos Hídricos (AGBPV, 2014), com cálculos NEMUS.

4.4% 11.1% 0.1% 0.1% 40.2% 38.4% 5.8% Alagoas Bahia Distrito Federal Goiás Minas Gerais Pernambuco Sergipe

Figura 4 – Distribuição do valor cobrado por Estado (2014).

Fonte: CNARH – Cadastro Nacional dos Usuários de Recursos Hídricos (AGBPV, 2014) e ANA/IGAM/MG – Histórico dos valores cobrados e arrecadados (disponível em:

Relativamente à distribuição estadual do valor arrecadado, verifica-se que os empreendimentos localizados nos Estados de Minas Gerais e de Pernambuco repartem entre si quase 80% da cobrança, seguidos dos empreendimentos na Bahia (11,1%), Sergipe (5,8%) e Alagoas (4,4%; Figura 4). As contribuições do Distrito Federal e de Goiás são residuais (cerca de 0,1% do total, em ambos os casos).