• Nenhum resultado encontrado

MECANISMOS DE COBRANÇA EM DUAS PARTES

No documento DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO (páginas 107-111)

Quando uma atividade econômica apresenta uma estrutura de custos em que os encargos fixos são muito importantes, é frequente decompor-se o preço ou tarifa em duas partes: uma fixa, que se destina a suportar esses custos que não dependem das quantidades fornecidas do bem ou serviço em causa, e outra variável, que depende dessas quantidades.

Em particular, a aplicação de tarifas em duas partes é muito comum em setores como as telecomunicações, o fornecimento de energia elétrica, gás e água ou de serviços de saneamento básico que se caracterizam por importantes investimentos em infraestruturas. De fato, trata-se de atividades com elevados custos fixos e não raras vezes com funções produção subaditivas, ou seja, em que é mais econômico (ou

eficiente) fornecer o serviço através de uma única entidade em vez de múltiplas entidades – situação de monopólio natural.

Os monopólios naturais estão, por seu turno, não raras vezes associados a bens públicos como é o caso dos recursos hídricos. Faz, pois, algum sentido financiar o gerenciamento e conservação desses recursos com base em mecanismos de cobrança em duas partes. Assim, os custos fixos associados ao CBHSF e à AGB Peixe Vivo poderiam ser suportados por uma cobrança mínima fixa por usuário/ano. Já os custos variáveis associados a estudos, projetos e obras e/ou que dependem da quantidade de água que é utilizada seriam alocados aos itens da cobrança que dependem de uma «base de cálculo» (quantidade captada, quantidade consumida ou quantidade lançada de efluente), de acordo com o descrito mais acima.

É de notar que a cobrança de uma componente fixa pelo uso de recursos hídricos pode não ser inteiramente compatível com o disposto no artigo 21º da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 2007, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos na medida em que na fixação dos valores a serem cobrados devem ser observados os volumes retirados, no caso de derivações, captações e extrações de água, e lançados, no caso dos esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos. Assim, a eventual introdução de um mecanismo de cobrança em duas partes deverá ser precedida de estudos, não apenas econômicos, mas também jurídicos. Aliás, de uma forma geral, a implementação das diretrizes específicas acima indicadas deve ser alvo de assessoria jurídica permanente, para além do necessário apoio político.

3.5.

Enquadramento dos Corpos d´Água

3.5.1. Introdução

A Lei n.º 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelece (capítulo IV) como seu instrumento o enquadramento dos corpos de água em classes, estabelecidas pela legislação ambiental, segundo os usos preponderantes da água. Este enquadramento visa (seção II):

 Assegurar às águas a qualidade compatível com os usos mais

exigentes a que forem destinadas;

 Diminuir os custos de combate à poluição das águas, através de ações

preventivas permanentes.

A Resolução CONAMA n.º 357/2005, de 17 de março, define (art. 4º) as classes de qualidade de águas em função dos usos preponderantes em cada corpo de água doce (salinidade igual ou inferior a 0,5 ‰), salobra (salinidade superior a 0,5 ‰ e inferior a 30 ‰) ou salina (salinidade igual ou superior a 30 ‰). Para as águas enquadradas em classe Especial a Resolução CONAMA n.º 357/2005 estabelece (art. 13º) que devem ser mantidas as condições naturais do corpo de água. Para as restantes classes, esta resolução define (art. 14º, 15º, 16º e 17º, respectivamente, para as classes 1, 2, 3 e 4), para um conjunto de parâmetros de qualidade da água (gerais, inorgânicos e orgânicos), os valores limites exigidos.

Como disposição transitória a Resolução CONAMA n.º 357/2005 estabelece (art. 42º) que, enquanto não aprovado o seu enquadramento, as águas doces serão classificadas com classe 2 e as salinas e salobras com classe 1, exceto se as condições de qualidade atuais forem melhores, o que determinará a aplicação da classe mais rigorosa correspondente.

A Resolução n.º 91/2008, de 5 de novembro, dispõe sobre procedimentos gerais para o enquadramento dos corpos de água superficiais e subterrâneos, estabelecendo (art. 2º) que o enquadramento se dá pelo estabelecimento de classes de qualidade de água, tendo como referências básicas a bacia hidrográfica como unidade de gestão e os usos preponderantes mais restritivos.

Este enquadramento corresponde ao estabelecimento de objetivos de qualidade a serem alcançados, através de metas progressivas intermediárias e final da qualidade de água.

A Resolução CNRH n.º 141/2012 estabelece critérios e diretrizes para a implementação do enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes, em rios intermitentes e efêmeros. Para os rios intermitentes ou efêmeros esta Resolução estabelece (art. 6º) que o enquadramento somente será considerado no período em que o corpo hídrico apresentar escoamento superficial. Para o enquadramento dos rios perenizados a Resolução estabelece que se considere como vazão de referência a vazão regularizada no respectivo trecho.

O enquadramento dos corpos de água vigente para o território da bacia hidrográfica do rio São Francisco, abrangendo apenas águas superficiais, é definido pelo seguinte:

 Rio Piauí (Alagoas): Decreto 3.766/1978;

 Rios São Francisco, Paracatu, Preto, Urucuia, Verde Grande, Verde

Pequeno, Carinhanha, Moxotó, Ipanema e Traipu: Portaria IBAMA 715/1989;

 Principais corpos d’água da sub-bacia do rio Paraopeba (Minas Gerais):

DN COPAM 14/1995 (Minas Gerais);

 Principais corpos d’água da sub-bacia do rio das Velhas (Minas Gerais):

DN COPAM 20/1997 (Minas Gerais);

 Principais corpos d’água da sub-bacia do rio Pará (Minas Gerais): DN COPAM 28/1998 (Minas Gerais);

 Para os restantes corpos d’água doce, considera-se o disposto no artigo

42º da Resolução CONAMA n.º 357/2005, sendo enquadrados em classe 2.

Junto com o PRH-SF 2004-2013 foi elaborada uma proposta de reenquadramento dos corpos de água superficial da bacia hidrográfica mas esta proposta não veio a ser selecionada para aprovação.

Tendo em conta os aspectos legais e normativos a observar quando se analisa e implementa o enquadramento de corpos de água (cf. detalhe em Relatório RP5 – Arranjo Institucional para a Gestão de Recursos Hídricos e Diretrizes e Critérios para a Aplicação dos Instrumentos de Gestão dos Recursos Hídricos), segue-se na seção 3.5.2 a proposta metodológica para o enquadramento das águas superficiais, que

inclui o balanço do estado atual do conhecimento e da gestão da qualidade das águas

No documento DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO (páginas 107-111)