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Diretrizes para o enquadramento das águas subterrâneas

No documento DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO (páginas 141-151)

DIRETRIZES PARA O ENQUADRAMENTO

3.5.3. Diretrizes para o enquadramento das águas subterrâneas

BALANÇO DO ESTADO ATUAL DO CONHECIMENTO DAS ÁGUAS

SUBTERRÂNEAS

O conhecimento do estado atual das águas subterrâneas na bacia é particularmente influenciado pelo grau de implementação da rede de monitoramento, mas também pela ausência de estudos hidrogeológicos que permitam subsidiar, de forma adequada, o processo de enquadramento.

À exceção dos aquíferos Urucuia, Tacaratu e Bambuí o monitoramento destinado a acompanhar as condições hidroquímicas do meio hídrico subterrâneo é escasso. Mesmo nestes casos, a informação disponível é ainda pouco representativa, uma vez que a rede de monitoramento é relativamente recente. Para a grande parte dos aquíferos da bacia hidrográfica a informação das características físico-químicas ou não existe ou é antiga ou ainda é restrita a zonas muito específicas dos corpos d´água subterrânea.

É assim particularmente importante a continuação no esforço de monitoramento de aquíferos, bem como o desenvolvimento de um maior número de estudos hidrogeológicos, que permitam estabelecer uma situação de referência e acompanhar a evolução da qualidade da água subterrânea da bacia.

O enquadramento dos corpos d´água em classes de uso deve ser definido em conformidade com o Plano de Bacia, contudo a atual ausência de informação que subsidie esse processo não permitiu que nesta fase de atualização fosse concretizado para qualquer um dos aquíferos. A falta de dados atuais e representativos da qualidade da água subterrânea, mas também o conhecimento aprofundado dos usos preponderantes dos aquíferos, não permitiu, até este momento, a classificação e a definição das metas para se atingir a qualidade necessária aos usos desejáveis.

É neste contexto que se considera essencial a definição de critérios e diretrizes destinados ao desenvolvimento do processo de enquadramento no período de abrangência do PBH-SF.

DIRETRIZES PARA O ENQUADRAMENTO

O Capítulo V da Resolução CONAMA n.º 396/2008 de 3 de abril estabelece as diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas.

No Relatório RP5 – Arranjo Institucional para a Gestão de Recursos Hídricos e Diretrizes e Critérios para a Aplicação dos Instrumentos de Gestão dos Recursos Hídricos apresentam-se as orientações e diretrizes propostas para o desenvolvimento de cada uma das fases de enquadramento para as águas subterrâneas da bacia hidrográfica do rio São Francisco. As diretrizes apresentadas visam enquadrar sistemas aquíferos, podendo, de acordo com o grau de detalhe da informação hidrogeológica que venha a estar disponível, efetuar-se uma classificação em determinadas porções dos mesmos.

Cabe aqui destacar as orientações e diretrizes que são especialmente relevantes, tendo em conta os estudos efetuados para a atualização do PRH-SF e as dificuldades de implementação do enquadramento das águas subterrâneas na bacia. Estas referem-se aos seguintes aspectos:

 Diagnóstico da qualidade das águas subterrâneas;

 Valores de referência de qualidade;

 Alternativas de enquadramento;

 Definição de medidas.

DIAGNÓSTICO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Atendendo que na fase de diagnóstico do Plano se identificaram lacunas de informação importantes para o processo de enquadramento, apresentam-se algumas das condições a cumprir e atividades a desenvolver tendo em vista o aprofundamento e a consolidação do conhecimento que existe atualmente.

Para a avaliação e diagnóstico da qualidade da água subterrânea torna-se de essencial relevância o aprofundamento do conhecimento de base, compreendendo para tanto o desenvolvimento das seguintes atividades:

 A implementação de uma rede de monitoramento, com

 A realização de estudos hidrogeológicos destinados a fornecer subsídios ao enquadramento, em particular estudos para gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos subterrâneos e superficiais e notadamente de forma a garantir a preservação do escoamento de base do rio São Francisco;

 A classificação da qualidade atual dos recursos hídricos subterrâneos.

Até 2020, a ANA tem prevista a instalação de 3.000 pontos de monitoramento em aquíferos prioritários. Este investimento é essencial para a obtenção de dados confiáveis e capazes de suportar uma classificação dos sistemas aquíferos da bacia do S. Francisco, bem como para definir alternativas de enquadramento e apoiar o processo decisório a partir de um diagnóstico detalhado.

Face à extensão regional da bacia hidrográfica e aos custos inerentes, quer à implementação da rede de monitoramento, quer ao desenvolvimento de estudos hidrogeológicos apresentam-se a seguir as principais diretrizes a considerar relativamente a estes casos.

A rede de monitoramento das águas subterrâneas deve estender-se à globalidade dos sistemas aquíferos da Bacia do S. Francisco.

Refira-se que, nos termos da Resolução CNRH 107/2010 de 13 de abril, a Rede Nacional de Monitoramento Integrado Qualitativo e Quantitativo de Águas

Subterrâneas deverá ser planejada e coordenada pela Agência Nacional de Águas –

ANA e implantada, operada e mantida pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM, ambas as instituições em articulação com os órgãos e entidades gestoras de recursos hídricos dos estados e do Distrito Federal.

Uma rede de monitoramento adequada ao processo de enquadramento deve ser delineada de forma a garantir que as estações de amostragem têm uma distribuição regular e são representativas dos sistemas aquíferos. É ainda essencial que haja continuidade nas observações, permitindo a obtenção de séries históricas.

A densidade e a localização dos pontos de monitoramento deverão assim respeitar o estabelecido no Art. 3º da Resolução CNRH 107/2010.

Para além disto, aRede de Monitoramento de Águas Subterrâneas deve especificar, para cada aquífero:

 A quantidade e distribuição espacial de poços georreferenciados a serem construídos exclusivamente para monitoramento;

 A quantidade e distribuição de poços georreferenciados existentes a serem integrados a rede de monitoramento.

A densidade de pontos de monitoramento necessária para a caracterização quantitativa e qualitativa das águas subterrâneas é um dos aspectos técnicos que oferece maior incerteza numa fase inicial de implementação de uma rede.

Não havendo ainda informação sobre a hidrodinâmica e química das águas para sustentar uma análise quantitativa matemática, a estimativa da densidade pode ser baseada nos seguintes critérios práticos:

 Parcimônia, i.e., inicia-se a rede com um número razoavelmente

pequeno de pontos, utilizando-se a informação recolhida nestes para decidir sobre a melhor localização de novos pontos;

 Comparação com casos semelhantes, notadamente com experiências

internacionais para redes com dimensão geográfica comparável. A título de exemplo referem-se no Relatório RP5 – Arranjo Institucional para a Gestão de Recursos Hídricos e Diretrizes e Critérios para a Aplicação dos Instrumentos de Gestão dos Recursos Hídricos as redes de monitoramento das águas subterrâneas instaladas nos Estados Unidos da América (EUA) e na União Europeia (EU).

O número de pontos para cada aquífero deverá ser estimado recorrendo, se possível, a metodologias estatísticas para amostragem estratificada, ou aleatória, consoante se opte ou não pela subdivisão do corpo d´água subterrânea. Para tanto, poderá utilizar- se uma variável hidráulica, ou geoquímica disponível para o aquífero, com um nível de detalhe espacial suficiente.

A distribuição espacial dos pontos de monitoramento deverá ser o mais regular possível para evitar problemas de enviesamento. Para este fim poderão utilizar-se algoritmos específicos desenvolvidos para optimização de redes de monitoramento, em particular os baseados em estatísticas espaciais, utilizando informação auxiliar proveniente de estudos hidrogeológicos.

O projeto e as características construtivas dos poços de monitoramento deverão cumprir os procedimentos de qualidade previstos nas Normas Brasileiras (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Para garantir a implementação de uma rede de monitoramento que forneça uma panorâmica coerente e completa da qualidade da água subterrânea é ainda essencial ter informação que permita avaliar tendências, a longo prazo, de aumento das concentrações de poluentes antropogenicamente induzidas.

A rede de monitoramento deve cumprir, no mínimo, os seguintes requisitos relativamente à amostragem (cf. detalhes em Relatório RP5 – Arranjo Institucional para a Gestão de Recursos Hídricos e Diretrizes e Critérios para a Aplicação dos Instrumentos de Gestão dos Recursos Hídricos):

 Todos os corpos d´água subterrâneos explotados para qualquer uso

humano deverão ser monitorados com uma frequência suficiente, de acordo com períodos de maior recarga e explotação, pelo menos com uma amostragem e medição dos níveis de água nos períodos seco e úmido (de acordo com o disposto no Art. 5º da Resolução CNRH 107/2010);

 Na presença de fontes de poluição com assinatura química não coberta

pelas análises previstas nos diplomas referidos, deverão ainda ser acompanhadas as concentrações das substâncias indicadoras específicas (por exemplo MTBE em zonas com contaminação de postos de combustível). Deveria ainda ser estudada a possibilidade de vir a incluir na lista de substâncias a monitorar alguns dos poluentes emergentes, em função daquelas que são as principais pressões em cada aquífero;

 Todos os corpos d´água subterrâneos passíveis de estarem expostos a

fontes de poluição (por exemplo agricultura, explotação mineral, indústria, entre outros) deverão ser monitorados para acompanhamento da qualidade, mesmo quando não utilizados para abastecimento, procurando-se em particular acompanhar o impacto das substâncias potencialmente contaminadoras pelas pressões presentes na sua área de recarga (por exemplo, agrotóxicos, em perímetros agrícolas irrigados);

 As periodicidades e os parâmetros deverão ser ajustados em função das características hidrogeológicas e hidrogeoquímicas dos aquíferos, e da evolução das pressões e das concentrações observadas no histórico de registros;

 A amostragem deverá utilizar os procedimentos de controle de

qualidade previstos na Resolução CONAMA nº 396/2008, bem como os estabelecidos nas Normas Brasileiras sobre monitoramento de águas subterrâneas (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Tendo em conta que atualmente pouco ou praticamente nada se conhece das características físico-químicas da maioria das águas subterrâneas da bacia, o diagnóstico só poderá ser realizado quando houver um registro de dados representativo, recomendando-se que este seja de pelo menos cinco anos.

Consideram-se estudos hidrogeológicos prioritários para subsidiar o processo de enquadramento:

 Estudos relativos ao enriquecimento natural de determinadas

substâncias nos sistemas aquíferos devido a processos de interação água-rocha;

 Estudos de aferição das taxas de recarga dos sistemas aquíferos;

 Estudos relativos ao potencial hidrogeológico das coberturas detrito- lateríticas;

 Estudos de avaliação das relações entre águas subterrâneas e águas superficiais;

 Estudos de identificação dos ecossistemas dependentes de águas

subterrâneas;

 Avaliação da influência de fontes de contaminação na qualidade das águas subterrâneas, em particular dos principais perímetros agrícolas irrigados e de áreas de explotação mineira;

 Avaliação do fluxo e transporte em sistemas aquíferos que se

desenvolvem em bacias hidrográficas adjacentes (por exemplo a bacia sedimentar do Parnaíba).

Nos casos em que os sistemas aquíferos são de pequena dimensão e a informação disponível é escassa, deverão ser realizados trabalhos de campo destinados à obtenção de dados e ao robustecimento do processo de enquadramento.

Tendo por base os dados de qualidade resultantes do programa de monitoramento e de estudos hidrogeológicos deverá ser verificada a qualidade atual da água subterrânea, comparando-a com os objetivos de qualidade, estipulados na Resolução CONAMA nº 396/2008, para os diferentes usos preponderantes atuais.

Para os parâmetros que apresentem desconformidades, devem ser avaliadas as causas associadas.

VALORES DE REFERÊNCIA DE QUALIDADE

A Resolução CONAMA nº 396/2008, de 3 de abril, estabelece no seu Art. 12 que parâmetros a serem selecionados para subsidiar a proposta de enquadramento das águas subterrâneas em classes deverão ser escolhidos em função dos usos preponderantes, das características hidrogeológicas, hidrogeoquímicas, das fontes de poluição e outros critérios técnicos definidos pelo órgão competente.

Os parâmetros selecionados deverão servir de base para a definição de ações prioritárias de prevenção, controle e controle da qualidade da água subterrânea.

Neste sentido, é essencial estabelecer os padrões para qualidade da água subterrânea, por classe, de acordo com o proposto no Anexo II da Resolução CONAMA nº 396/2008, e seguindo os Valores Máximos Permitidos constantes no Anexo I da mesma Resolução e Valores de Referência de Qualidade, sendo um dos pontos de partida para o enquadramento a definição dos Valores de Referência de Qualidade.

No âmbito da atualização do PBH-SF propõe-se a seguinte metodologia para a obtenção de Valores de Referência de Qualidade (VRQs).

Os VQRs deverão ser estabelecidos por aquífero, utilizando dados de química da água, quando disponíveis, ou valores espectáveis para a formação, de caráter provisório, quando não existam resultados de monitoramento.

A metodologia a utilizar deverá seguir de perto a indicada na Resolução 420/2009, de 28 de dezembro, no que concerne à determinação de valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas.

O VRQ de cada substância deverá ser estabelecido com base no percentil 90 do universo amostral, filtrado dos valores anômalos. O referido VRQ deverá ser determinado utilizando tratamento estatístico aplicável e em conformidade com a concepção do plano de amostragem e com o conjunto amostral obtido. As anomalias deverão ser avaliadas por metodologias específicas e interpretadas estatisticamente (cf. métodos apresentados no Relatório RP5 – Arranjo Institucional para a Gestão de Recursos Hídricos e Diretrizes e Critérios para a Aplicação dos Instrumentos de Gestão dos Recursos Hídricos).

Para as determinações das substâncias químicas em que todos os resultados analíticos forem menores do que o LQP do respectivo método analítico, deverá eleger- se “< LQP” como sendo o VRQ da substância e excluir-se dos demais procedimentos de interpretação estatística.

Para interpretação estatística das substâncias químicas em que parte dos resultados analíticos forem menores que o LQP, substituir-se-á o valor por LQP/2.

Para as substâncias que apresentem mais do que 60% de resultados superiores ao limite de quantificação, a definição de agrupamento de tipos de água subterrânea deverá ser realizada com base em testes estatísticos para comparação de médias.

Para estabelecimento do VRQ de cada substância, avaliar-se-á a necessidade de se excluir da matriz de dados os resultados discrepantes (outliers), identificados por métodos estatísticos (conforme referidos anteriormente).

Para as substâncias cujo percentil selecionado for igual ao LQP/2, adotar-se-á “< LQP” como sendo o VRQ da substância.

ALTERNATIVAS DE ENQUADRAMENTO

Tendo em consideração o estado atual da água subterrânea e os cenários prospetivos, deverão ser apresentadas alternativas de enquadramento dos sistemas aquíferos.

As propostas de enquadramento deverão ser prioritariamente desenvolvidas em sistemas aquíferos críticos do ponto de vista da importância dos recursos hídricos e das pressões a que os mesmos estão sujeitos, de forma a poder, atempadamente,

implementar medidas tendo em vista a melhoria das suas condições de uso e a garantia da preservação das condições de escoamento de base do rio S. Francisco.

As propostas de enquadramento devem ser subsidiadas como resultado de monitoramento e de modelagem da qualidade da água subterrânea, devendo ter em consideração o nível de qualidade desejado pela sociedade e as prioridades de uso sustentável da água.

Estas propostas devem ser equacionadas tendo presente a importância de considerar de forma integrada as águas subterrâneas com as superficiais, garantindo a necessária disponibilidade de água com qualidade compatível com os usos.

Para todas as alternativas de enquadramento serão estimados os custos e benefícios socioeconômicos e ambientais.

DEFINIÇÃO DE MEDIDAS

Para alcançar as metas de qualidade associadas ao enquadramento, serão necessárias medidas de mitigação dos impactos, a fim de obter uma qualidade de água compatível com os usos estabelecidos e pretendidos.

Deverá assim ser apresentado um programa de medidas destinado ao cumprimento das metas, devidamente calendarizado e especializado.

As medidas a apresentar devem, entre outros aspectos, ir ao encontro:

 Do cumprimento da legislação destinada à preservação da água

subterrânea e ao controle de emissões poluentes;

 Da implementação de áreas de proteção de aquíferos e do

estabelecimento de perímetros de proteção de poços de abastecimento;

 Da importância de condicionar, restringir e interditar usos e/ou

alterações ao uso do solo em áreas de recarga;

 Da melhoria e recuperação de sistemas aquíferos em que ocorrem

descumprimentos;

 Da gestão integrada das águas superficiais e subterrâneas;

 Da necessidade de articular o enquadramento das águas subterrâneas

cobrança pelo uso, licenciamento ambiental), bem como noutros que tenham o enquadramento como referência para a sua aplicação;

 Da necessidade de proceder ao monitoramento e à divulgação periódica

das condições de qualidade do meio hídrico subterrâneo;

 Da necessidade de monitorar, e eventualmente recuperar, os

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