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VALORES APLICÁVEIS A CORPOS D’ÁGUA DE DOMÍNIO ESTADUAL

A Deliberação CBHSF nº 40/08 deixou, desde logo em aberto, a possibilidade da Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos na bacia do São Francisco respeitar as especificidades das bacias hidrográficas de rios afluentes, de modo a uniformizar a implantação do instrumento de Cobrança em toda a bacia.

Em particular, o respectivo Anexo II refere que cabe aos comitês das bacias de rios afluentes definir os valores dos PPU e dos coeficientes multiplicadores por meio de deliberações próprias, de acordo com as suas especificidades, mas considerando a necessidade de uniformização de procedimentos e critérios em toda a bacia.

Em outubro de 2015, apenas o uso de recursos hídricos da bacia afluente do rio das Velhas estava a ser alvo de cobrança. Os mecanismos específicos, aprovados através da Deliberação Normativa CBH-Velhas n.º 04/2009, de 20 de março, com as alterações promovidas através da Deliberação Normativa CBH-Velhas n.º 04/2009, de 6 de julho, introduziram alguma complexidade no esquema básico aplicável aos corpos d’água de domínio da União, acima descrito.

Assim, foi introduzido um coeficiente Kcap classe para captações de águas subterrâneas igual a 1,15, isto é, ligeiramente superior ao aplicável aos corpos d’água de classe 1 ou especial (cf. Quadro 6 acima). Aquele valor do coeficiente é utilizado até que se faça o enquadramento das águas subterrâneas na bacia do rio das Velhas. Todos os

demais coeficientes Kcap classe, relativos a corpos d’água superficial, não foram alterados face ao indicado no Quadro 6 (mais acima).

Paralelamente, o coeficiente de boas práticas Kt, aqui apenas utilizado no cálculo do valor anual da cobrança pela captação de água, passou a assumir valores específicos para o setor da mineração, de 0,75 para empreendimentos onde houver rebaixamento de nível d’água e de 0,50 para os demais. Tal como acontece com os corpos d’água de domínio da União, “atividades rurais” como a agricultura (irrigada), criação animal, aquicultura e piscicultura beneficiam de um coeficiente de abatimento bastante generoso de 0,025 (cf. Quadro 6, acima). Todas as demais atividades não são sujeitas a qualquer abatimento no valor cobrado. Desta forma, essas atividades pagam 40 vezes mais do que a agropecuária com exceção do caso especial da mineração.

Ao contrário dos corpos d’água de domínio da União, em que o coeficiente específico do consumo de água (Kcons) é sempre igual ao coeficiente Kt, na bacia afluente do rio das Velhas é unitário (= 1,0) para todos os usuários, com exceção das referidas “atividades rurais” em que é igual a 0,025, logo igual ao respectivo Kt. Na prática, o referido abatimento no valor cobrado ao segmento da mineração é apenas aplicado ao volume captado, mas não ao consumido.

Para o setor do saneamento, a cobrança pela captação de água no rio das Velhas é calculada com base em equação específica que cruza os volumes outorgados e efetivamente captados (medidos). Nesta equação surgem vários coeficientes novos com a seguinte interpretação (cf. detalhe na formulação no Relatório RP5 – Arranjo Institucional para a Gestão de Recursos Hídricos e Diretrizes e Critérios para a Aplicação dos Instrumentos de Gestão dos Recursos Hídricos):

 Kout = peso atribuído ao volume anual de captação outorgado;

 Kmed = peso atribuído ao volume anual de captação medido;

 Kmedextra = peso atribuído ao volume anual de captação outorgado e não

utilizado.

O valor anual de cobrança pelo lançamento de efluentes no meio hídrico segue também uma abordagem inovadora no caso do rio das Velhas. Apesar de, na prática, o anexo único à Deliberação Normativa CBH-Velhas n.º 04/2009 adotar a mesmo procedimento aplicado aos corpos d’água da União, baseado na Demanda Bioquímica de Oxigênio de 5 dias a 20ºC de temperatura, no artigo 5.º dessa mesma deliberação

é dada a possibilidade da cobrança poder ser calculada com base nas cargas de diversas substâncias lançadas no corpo hídrico. Ou seja, não é inteiramente posta de parte a possibilidade de, no futuro, se apurar a cobrança devida pelo lançamento de efluentes com base em uma equação mais complexa do tipo:

Valorlanç = Somatório (i = 1, …, n) [CAsubs(i) × PPUlanç(i) × Klanç(i)]

Todos os demais critérios e parâmetros de cobrança aplicáveis aos corpos d’água de domínio estadual do rio das Velhas são, em geral, idênticos aos adotados para os corpos d’água da União.

Existem, ainda, mais duas bacias afluentes do rio São Francisco que poderão vir a ter, em breve, uma cobrança específica. No caso dos corpos d’água de domínio estadual do rio Pará, o respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH) estabeleceu os critérios, normas e valores para a cobrança através da Deliberação Normativa n.º 24/2013, de 26 de junho. Esta deliberação foi já aprovada pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais (CERH-MG) mas a cobrança ainda não se iniciou por depender da assinatura de um Contrato de Gestão com a AGB Peixe Vivo.

De um modo geral, os mecanismos de cobrança do rio Pará adotaram as inovações ensaiadas no rio das Velhas. No entanto, os mecanismos específicos de cobrança do rio Pará foram mais longe quando diferenciam o coeficiente de boas práticas na captação Kt de acordo com o sistema de irrigação e dimensão das irrigações, procurando introduzir um elemento de racionalidade econômica e eficiência na utilização dos mananciais escassos.

Outra medida deliberada pelo CBH do rio Pará é a diferenciação do coeficiente para a quantificação do volume consumido pela agricultura (Kcons irrig) de acordo com o sistema de irrigação.

Menos consensual é, contudo, a consideração de um coeficiente Kcons específico à água consumida pelo segmento da indústria e da mineração igual a 0,70. Na prática, tal corresponde a um desconto de 30% concedido a esse setor no que se refere ao valor anual de cobrança pelo consumo de água (Valorcons), seguindo uma abordagem próxima da adotada no rio das Velhas para a cobrança pelos volumes captados pela mineração.

Os mecanismos de cobrança do rio Pará são, não obstante, inovadores também por considerarem outros segmentos ou usos específicos. Por exemplo, no caso da mineração de areia em leito de rios e no uso de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica por meio de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH).

Também a bacia do rio Verde Grande poderá vir a ter, em breve, um mecanismo de cobrança específico, aplicável não apenas aos rios e mananciais subterrâneos de domínio estadual (como nos casos anteriores, Velhas e Pará), mas também aos rios de domínio da União, incluindo a calha principal do São Francisco. A Deliberação CBH-Verde Grande n.º 50/2015, de 5 de maio, já foi aprovada pelo CNRH para vigorar nos rios de domínio da União (em substituição da Deliberação CBHSF nº 40/2008) mas não no CERH de Minas Gerais.

A Deliberação CBH-Verde Grande n.º 50/2015 segue de muito perto a Deliberação CBHSF nº 40/2008 inovando, contudo, por via da possibilidade em aplicar aos PPU um coeficiente multiplicativo de escassez Kescassez. É de notar que o coeficiente Kescassez somente será aplicado aos trechos da bacia do rio Verde Grande que sofrerem restrição de uso de recursos hídricos, incluindo eventualmente corpos d’água de domínio da União. Tal poderá ser o caso de zonas mais áridas desta bacia afluente.