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IV. Estágio em Contexto de Educação Pré-Escolar

7. Avaliação

7.1. Avaliação Geral do Grupo

A avaliação, sendo complexa e subjetiva, carece que o educador utilize várias técnicas e instrumentos que auxiliam o processo de sistematização de dados recolhidos sobre as crianças, ao longo da intervenção-ação. Assim, a observação participante, as entrevistas à equipa pedagógica, os projetos de sala, os registos práticos32, as fotografias, as filmagens, as grelhas de preenchimento de avaliação, os trabalhos e os artefactos das crianças, fornecem um cruzamento de informações que vão permitir uma avaliação mais adequada. Com vista a

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obter uma prática mais centrada nos interesses e nas necessidades reais do grupo, recorreu-se ao apoio do SAC de Portugal e Laevers (2010). Este foi um instrumento que auxiliou o desenvolvimento de práticas reflexivas acerca da qualidade das intervenções realizadas com as crianças, através da elaboração de registos práticos, da estruturação da avaliação e da adequação constante das estratégias pedagógicas aplicadas.

O envolvimento ativo das crianças nas atividades pressupõe a construção do seu desenvolvimento e aprendizagem (ME, 1997). Como tal, utilizou-se escalas de medição para avaliar o envolvimento das crianças nas atividades, almejando “(…) o nível alto de implicação e bem-estar das crianças” (Portugal & Laevers, 2010, p.14). Estas escalas de medição estão associadas a tabelas de registo do SAC, que permitem realizar uma avaliação, em cinco níveis, do bem-estar emocional e da implicação das crianças. Estes níveis variam entre o “muito baixo”, quando a criança não está minimamente envolvida na atividade e “muito alto” quando a criança encontra-se completamente concentrada (Portugal & Laevers, 2010). De modo geral, os níveis de bem-estar emocional representam sentimentos como satisfação e prazer, energia e vitalidade, quando a criança revela uma serenidade interior expressando que “a sua saúde emocional está garantida” (Laevers et al, 1997). Relativamente aos níveis de implicação sintetizam-se na concentração, na persistência, na motivação, no interesse e no fascínio pelas suas atividades ou ações (Portugal e Laevers, 2010). Estas condições emocionais e afetivas são fáceis de verificar, uma vez que a criança poderá, por um lado, estar inativa e relevar ações com muitas interrupções ou, por outro lado, ter momentos de intensa ação. O manual do SAC apresenta e define, mais especificamente, quais os diversos indicadores dos níveis de bem-estar emocional e de implicação das crianças que devem ser considerados.

Para avaliar o grupo de crianças da sala de transição utilizou-se a Ficha 1g do SAC33 que considera cada criança individualmente, facilitando a colocação de cada uma num nível de bem-estar emocional e de implicação. Os níveis mais baixos são assinalados a vermelho, os médios a amarelo e os altos a verde. As tabelas do SAC apresentam uma zona de comentários, onde o educador pode registar aspetos ocorridos com o propósito de analisar as especificidades de cada criança. Estas colunas foram um suporte para os meus registos de campo ao longo da intervenção pedagógica. Abaixo (Quadro 9) apresento um excerto exemplar do preenchimento de uma Ficha 1g do SAC.

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Quadro 9. Excerto do quadro do preenchimento da ficha 1g do SAC Ficha 1g Nível de Bem-Estar Emocional Nível de Implicação Comentários/Observações Nomes 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1. Ana Carolina

- A criança ficava tensa com a minha presença e mostrava ter dificuldade em concentrar-se nas atividades.

2. Constança

- O adulto tem de estar sempre a dizer o que a criança deve fazer, não dá aso à sua imaginação e criatividade. Não brinca nem explora sozinha.

3. Filipa

- Evidenciou ter preferência por atividades com música e dança. Não demonstrou entusiasmo em realizar atividades de outro tipo.

4. Frederico - Esteve em Período de Adaptação.

5. Guilherme - Evidenciou muita implicação durante as

atividades.

6. Ivo - Não veio à escola nesta semana.

Ao longo do período de estágio preenchi esta ficha de grupo em três momentos para monitorizar o desenvolvimento da minha prática e avaliar continuamente os efeitos da aprendizagem. Na Circular nº. 4 /DGIDC/DSDC/2011, emitida pelo ME, evidencia-se o processo contínuo que a avaliação deve integrar.

Acerca da utilização do SAC como apoio ao desenvolvimento de alunos estagiários, futuros educadores de infância, Gabriela Portugal (s/d) descreve:

Na utilização do SAC, os alunos desenvolvem competências de avaliação do desenvolvimento das crianças, aprofundam a sua compreensão em torno de conceitos chave como implicação, bem-estar emocional, currículo e áreas de conteúdo, além de robustecerem práticas que integram a observação, escuta da criança, avaliação, reflexão e desenvolvimento curricular (p.9).

No meu ponto de vista, avaliar é um processo complexo que precisa de ser aprendido, para que o educador possa olhar para a sua pedagogia prática e real e consiga apontar os

aspetos que precisam de ser reformulados. Esta aprendizagem é constante e, sem dúvida, que só é possível quando os estudantes estagiários encontram-se no contexto in loco.

A partir da Ficha 1g pude apurar os níveis de bem-estar emocional e de implicação obtidos por cada criança nos três momentos avaliados34. Os gráficos que apresento de seguida sintetizam os dados obtidos na avaliação de cada momento pelas crianças da sala de transição. É, de salientar, que uma criança não frequentou o infantário nas três primeiras semanas do meu estágio, pelo que os dois primeiros gráficos comtemplam apenas treze crianças. Nos gráficos, as crianças encontram-se distribuídas por três níveis:

 Baixo: nível 1 e 2, a vermelho;

 Médio: nível 3, a amarelo;

 Alto: nível 4 e 5, a verde;

É de salientar que, nos Gráficos 10, 11 e 12, a coluna situada à esquerda representa o bem-estar emocional e a coluna da direita apresenta a implicação, em cada nível.

Gráfico 10. Primeira avaliação dos níveis de bem-estar emocional e implicação das crianças – Data: 9/11/2012

34 Recordo que o Estágio Pedagógico na componente de Educação Pré-Escolar teve a duração de seis semanas

com início a cinco de novembro e término a doze de dezembro, do ano 2012, num total de 100 horas.

Baixo Médio Alto

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5

4

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Núm er o de Cria nça s

Gráfico 11. Segunda avaliação dos níveis de bem-estar emocional e implicação das crianças – Data: 23/11/2012

Gráfico 12. Terceira avaliação dos níveis de bem-estar emocional e implicação das crianças – Data: 7/11/2012

Nos gráficos acima representados, os níveis mais baixos de bem-estar emocional representam os casos mais preocupantes, pelo facto de serem crianças que habitualmente estão tristes e desconfortáveis, como por exemplo, o Rui que frequentemente chorava no infantário, evidenciava raiva e tensão corporal, estava muitas vezes insatisfeito e o seu relacionamento com os outros era difícil ou quase nulo. “A satisfação destas crianças está

Baixo Médio Alto

2

3

8

2

4

7

Núm er o de Cria nça s

Níveis de Bem-Estar Emocional e Implicação

Baixo Médio Alto

2

3

9

3

2

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Núm er o de Cria nça s

ameaçada, predominando na sua experiência frustração e mal-estar, sendo o seu funcionamento global negativamente afectado” (Portugal & Laevers, 2010, p.22). O nível de implicação baixo (primeiro nível) representa a ausência ou quase nula atividade desenvolvida, tal como Portugal e Laevers (2010) descrevem as crianças estão mentalmente ausentes, não fazendo qualquer atividade. Já no segundo nível, as crianças exploraram um pouco, mas de forma muito limitada e reduzida.

Relativamente aos níveis médios de bem-estar emocional foram evidenciados nas crianças que demonstravam comportamentos positivos alternados com negativos, sendo que os seus indicadores são incertos, ora parecem tristeza e desconforto ora prazer e conforto. Neste nível as crianças expressam os seus desejos e interesses, mas de seguida estão passivos e relaxados, sem manifestar vitalidade. A Maria Matilde, por exemplo, por vezes, demonstrava-se dinâmica e extrovertida e no momento seguinte assumia uma postura neutra que a levava a um estado muito repousado. Os níveis de implicação médios demonstram uma ação pouco intensa, parecendo que a criança ocupa o tempo com a atividade, mas não a explora vivamente: “há falta de concentração, motivação e prazer” (Portugal & Laevers, 2010, p.29). A atividade que a criança está a desenvolver é rapidamente interrompida por qualquer outro estímulo.

Os níveis altos de bem-estar emocional representam-se a verde e, em geral, os sinais positivos de satisfação e felicidade são evidentes, pois as crianças manifestam-se confortáveis, vitalícias e autoconfiantes nas suas ações. O Martim é um exemplo claro do quinto nível de bem-estar emocional, pois estava alegre, sorria, cantarolava, era espontâneo e autêntico, demonstrando-se sempre aberto a relacionar-se com o mundo. Relativamente ao nível de implicação alto, este foi atribuído quando a criança estava ativa no processo de aprendizagem, estando no limite das suas capacidades, onde a persistência e a concentração são bastante elevadas. O Guilherme sentia-se desafiado e, por isso, muito motivado, realizando as atividades propostas sem interrupções, verificando-se que este se envolvia num período de atividade intensa e continuada.

Ao comparar os dados obtidos pelos três gráficos verifica-se que houve um aumento do bem-estar emocional e da implicação das crianças com o decorrer do período de estágio. Ao analisar esta constatação recordo que a partir da avaliação sistemática pode-se ter consciência dos efeitos das aprendizagens das crianças, podendo desenvolver estratégias adequadas a cada dificuldade. A atitude de avaliação constante permite ao educador regular a sua intervenção através da análise que realiza sobre os acontecimentos educativos (Diego, 2000).

Com esta adequação constante as crianças beneficiam e, consequentemente, aumentam o seu nível de bem-estar emocional e implicação. Com o SAC dispomos de elementos que facilitam o planeamento adequado que conjuga o trabalho curricular, as competências e a intencionalidade do educador. Assim, revela-se uma forma de valorizar os progressos de cada criança e distinguir as principais dificuldades e necessidades, promovendo que o educador possa adequar estratégias para igualar as oportunidades a cada criança.

Na sua generalidade, os níveis de bem-estar emocional e de implicação encontram-se relacionados, pois um influencia o outro. De facto, quando uma criança está triste é natural que a sua capacidade de persistência e vontade de realizar uma atividade seja menor, pois “as suas dificuldades emocionais não lhe deixam espaço mental para investimentos cognitivos” (Portugal & Laevers, 2010, p.81). Do mesmo modo, quando a criança não encontra incentivos ou desafios nas atividades, não se esforça para realizá-las, apresentando dificuldades em se implicar.

A partir da avaliação constata-se que existem crianças que estão com um nível médio de bem-estar emocional, mas têm um nível baixo de implicação. Esta situação sucede pelo facto dessas crianças estarem felizes mas não se sentirem desafiadas pela atividade sugerida, não tendo vontade para a explorar. Noutra perspetiva, também existem crianças que estão num nível baixo de bem-estar emocional, encontram-se tristes, mas apresentam um nível superior de implicação. Estas crianças veem nas atividades motivos interessantes e aliciantes que lhes despertam a atenção, fazendo-as explorar ativamente.

Com o decorrer da intervenção pedagógica, as atividades-chave cada vez mais se direcionavam para experiencias que relacionavam a criança com o seu próprio corpo, favorecendo a sua identidade e a autonomia. A organização de um conjunto de atividades exploratórias no sentido de desenvolver a área de formação pessoal e social da criança trouxe efeitos positivos na sua aprendizagem. O desenvolvimento da formação pessoal e social da criança a nível da aquisição de valores e atitudes permitem a criança relacionar-se consigo própria e com os outros (Portugal & Laevers, 2010). Como tal, quando a criança vê os seus interesses e necessidades a serem atendidas, aumentam os seus níveis de bem-estar emocional e implicação nas atividades.