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IV. Estágio em Contexto de Educação Pré-Escolar

3. Caraterização da Sala Pedagógica

3.4. Caraterização das Famílias

Em paralelo com a rotina diária vivida pela criança no infantário, também a família tem um papel fulcral na formação pessoal e social da criança. A Lei-Quadro n.º 5/97, de 10 de Fevereiro, emitida pelo ME esclarece que, sendo a Educação Pré-Escolar a primeira etapa de Educação Básica, esta deve contemplar a ação educativa das famílias e desenvolver, com ela, uma relação estreita, com o objetivo de favorecer a formação e o desenvolvimento da criança a vários níveis. Deste modo, o educador não pode preterir o papel da família na educação de cada criança, que se desenvolve a par de um conjunto de valores e crenças particulares. Estes incluem-se numa “cultura familiar” que se diversifica em cada família pelo estilo de vida, pelas atividades que ocupam os tempos livres, pelos hábitos sociais, pela linguagem utilizada, pela promoção das qualidades individuais da família. Gonçalves (1996) refere que “é exactamente essa força influente do meio familiar que deve ser aproveitada e não negligenciada e é nessa perspectiva que entendemos a família como agente dinamizador da educação” (p.71).

Assim, considerou-se fundamental dar atenção ao local/meio onde as famílias das crianças vivem, uma vez que a partir dele, o educador consegue compreender melhor qual a ação educativa que deve desenvolver. Pela análise do Gráfico 6, verificamos que todas as famílias têm a sua residência num contexto urbano, no Concelho do Funchal; sendo que a maioria (12 famílias) residem na freguesia de São Martinho. Por sua vez, destaco pelo Gráfico 7, os sítios pertencentes à freguesia de São Martinho, onde o Bairro da Nazaré e o Bairro da Ajuda acolhem a maioria, respetivamente, seis e cinco famílias.

Social: Comportament o - Desenvolver o comportamento social (a longo prazo) - Estabelecer um contato pessoal entre escola-família

- A Educadora entrega a criança ao adulto da família enquanto trocam informações sobre aspetos relacionados com as intervenções pedagógicas desenvolvidas.

Gráfico 7. Residência das doze famílias na freguesia de São Martinho

Assim, constata-se que a maior parte das residências familiares são próximas ao infantário, denotando-se que cerca de metade vive nas redondezas do mesmo. Com estes factos, considera-se que as características sociais, culturais e económicas do meio, descritas “Caraterização do Meio” do presente relatório são, efetivamente, representativas destas famílias.

Em relação à caracterização sociológica da família, destaca-se o número de elementos do agregado familiar (Quadro 6), que varia entre 3 a 6 pessoas, observando-se que este fator influencia o envolvimento dos pais da sala de transição, na escola. A partir das conversas informais com os pais, percebeu-se que a maioria achava que não dava a atenção devida aos seus filhos, porque o seu tempo tinha de ser divido entre outro(s) filho(s) e os afazeres domésticos.

No que concerne à idade atual dos pais (Gráfico 8), verifica-se que a maioria encontra- se entre os 30 e os 40 anos, seguindo-se o intervalo dos 20 aos 30. Destaco que alguns pais foram pais adolescentes, que conceberam os seus filhos, não planeados, ainda em idade escolar. Estes são os que motivam mais preocupação, uma vez que a par da pouca idade,

12 1 1 Concelho do Funchal Freguesia de São Martinho Freguesa de Câmara de Lobos Freguesia de São Roque 0 1 2 3 4 5 6 Bairro da Nazaré Bairro da Ajuda Barreiros Nú m er o d e Fam ílias

Freguesia de São Martinho Gráfico 6. Residência das famílias no

concelho do Funchal

2 10 12 3 1 Menos de 20 dos 20 aos 30 dos 30 aos 40 dos 40 aos 50 Mais de 50 Ida de Número de Pais

possuem fracas condições financeiras, muitas vezes insuficientes para suprir as necessidades de todos os elementos do agregado familiar, principalmente do seu educando. Consequentemente, a função de educar fica muitas vezes entregue aos avós.

Quanto à atividade profissional, a grande maioria está empregada, à exceção de cinco pais que estão em situação de desemprego e quatro são

estudantes. De entre as profissões, encontrou-se diversos trabalhadores por ordem de outrem, como empregados na área da restauração, comerciantes e empregados de lojas, auxiliares e assistentes em serviços administrativos e de educação, professores, um militar, um pedreiro e um operador metalúrgico. As habilitações académicas dos pais (Gráfico 9) correspondem a um nível de formação média. Os pais situam-se, em termos médios, entre o 2.º Ciclo e o 3.º Ciclo, apenas dois frequentaram apenas o 1.º Ciclo e três têm uma licenciatura. Relativamente às mães, aparentam ter um nível académico mais alto, sublinho o facto de três apresentarem uma licenciatura e três terem realizado o Ensino Secundário.

Gráfico 9. Habilitações académicas dos pais da sala de transição

A importância dada ao nível das habilitações académicas dos pais advém do facto de se verificar que quanto mais escolarização, mais os pais enaltecem o valor cultural da escola.

0 1 2 3 4 5 6

1.º Ciclo 2.º Ciclo 3.º Ciclo Ensino Secundário Ensino Superior Núm er o de P a is

Nível de Ensino Concluído

Habilitações Académicas

Pai Mãe

Verifica-se o esforço destes pais para participar mais ativamente na vida escolar dos filhos, por exemplo, através de pedidos de orientações e estratégias para conseguirem dar continuidade às aprendizagens em casa, reconhecendo o papel fulcral da ligação entre escola- família.

3.4.1. Importância da Vinculação Afetiva

O ambiente pré-natal é o corpo da mãe, esta é grandemente responsável pelas influências ambientais iniciais no seu futuro filho. Virtualmente tudo o que afecta o bem-estar da mãe, desde o seu regime alimentar até ao seu humor, pode alterar o ambiente do seu futuro filho e afectar o seu crescimento (Papalia, Olds & Feldman, 2006, p.105).

Antes mesmo do seu nascimento, as crianças desenvolvem uma proximidade com a família, em particular com a mãe, que ao longo do seu crescimento tem um papel fundamental no seu desenvolvimento pessoal, social e afetivo. A influência da família é um processo contínuo na vida da criança, que se inicia, mais afincadamente, aquando o seu nascimento, com o desenvolvimento do processo de vinculação.

A vinculação ou attachment traduz-se pela ligação da criança à mãe e carateriza-se por ser um processo demorado, considerado a chave para o desenvolvimento afetivo e social da criança (Portugal, 1998). A mãe29 é uma forte figura de vinculação para a criança, principalmente, nos primeiros anos de vida. Constata-se que a Teoria da Vinculação, a partir dos estudos de Bowlby e Ainsworth, é “a ligação da mãe ao bebé, fundamenta o modelo das relações futuras do sujeito, promove expectativas e assunções acerca dele próprio e dos outros, susceptíveis de influenciar a competência social e o desenvolvimento emocional ao longo da vida” (Ferreira & Pinho, 2009, p.1).

O envolvimento afetivo das primeiras relações da criança determina a qualidade das futuras relações sociais que construirá, sustentadas pela confiança, segurança e intuição emocional. A creche é um local privilegiado para a construção dessas relações, onde a criança começa a contactar com outras pessoas, crianças e adultos, fora do seio familiar. Para algumas crianças da sala de transição, o processo de separação da mãe tinha iniciado há

29

O termo “mãe” é aqui utilizado para designar a figura materna, progenitora da criança. No entanto, esclarece-se que, por vezes, esta não é a pessoa mais significativa para a criança, como tal, nesses casos, considere-se a figura mais próxima que lhe dispensa os cuidados maternos (Ainsworth, 1989), com quem a criança estabelece uma relação de vinculação.

pouco tempo, pelo que ainda choravam muito no momento do acolhimento. Para Lipp (2002) é a creche o primeiro ambiente social onde a criança é inserida sem a mãe e é acolhida por outra pessoa. Também para a mãe é um processo difícil, no entanto, quando a vinculação é um processo bem conseguido e o trabalho desenvolvido pela creche é de qualidade, não há a influência negativa sobre a relação da criança com a mãe (Portugal, 1998). Quando os pais constatam que a creche é de qualidade, torna-se menos doloroso deixar o filho na creche e a adaptação do mesmo é facilitada.