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AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: CONCEPÇÕES E SIGNIFICADOS

UM OLHAR SOBRE A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL

2.2 AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: CONCEPÇÕES E SIGNIFICADOS

Faz-se imprescindível traçar uma diferenciação básica entre os conceitos envolvidos na avaliação educacional e na avaliação institucional.

A avaliação institucional está voltada para a instituição escola como um todo, em suas dimensões, pedagógica e administrativa. “[...] refere-se à análise do desempenho global da instituição, considerando todos os fatores envolvidos, em face dos objetivos ou missão da instituição, no contexto social, econômico, político e cultural no qual está inserida” (BELLONI, 2000, p. 40).

A avaliação educacional envolve a aprendizagem, sendo também aplicada ao estudo do “currículo” e de “programas de ensino”. Ainda segundo Belloni (2000, p. 40, grifos da autora), a avaliação educacional concentra-se em:

[...] situações de aprendizagem, isto é, quando um indivíduo ou grupo são submetidos a processos ou situações com vistas à aquisição de novo conhecimento ou habilidade; refere-se, assim, à análise de desempenho de indivíduos ou grupos, seja após uma situação de aprendizagem ou, regularmente, no exercício de uma atividade, em geral, profissional.

Portanto, a diferenciação básica se encontra em que uma, a avaliação educacional, concentra-se na aprendizagem e no desempenho de pessoas ou grupos em situações de aprendizagem, enquanto a institucional se concentra no desempenho da escola de uma forma global, em suas dimensões pedagógicas e de administração, vista como uma instituição social. A avaliação institucional participativa requer uma cultura de avaliação da totalidade das ações e uma cultura de participação coletiva na instituição escola. Pode também contribuir para a construção dessa visão de escola.

Justifica-se a avaliação da instituição escola em vista da grande influência que as diferentes condições em que o ensino se processa têm sobre os resultados da aprendizagem dos alunos. Esses resultados não dependem somente do aluno, do professor, da capacidade de ambos em aprender ou ensinar. Dependem de um conjunto de fatores que devem ser considerados na hora de julgar os resultados das ações da escola para que se possam processar mudanças em busca de melhorias tanto quantitativas como qualitativas.

Deriva daí nossa defesa da avaliação da escola como um todo. Tomar a escola como uma instituição complexa é fundamental para nos posicionarmos diante do exame da proficiência dos estudantes em áreas específicas. Só assim superaremos os limites da medida educacional e produziremos um verdadeiro processo de avaliação que utilizará a medida apenas como uma de suas etapas (LOED, 2005a, p. 3).

Segundo o SINAES, a avaliação institucional interna ou auto-avaliação é assim definida:

A avaliação interna é um processo contínuo por meio do qual uma instituição constrói conhecimento sobre a sua própria realidade, buscando compreender os significados do conjunto de suas atividades para melhorar a qualidade educativa e alcançar maior relevância social (BRASIL, 2004b, p.6).

A auto-avaliação institucional, portanto, constitui-se de um olhar da escola para dentro da própria escola, com o objetivo de provocar mudanças em busca de melhorias na totalidade de suas ações educacionais e de administração, considerando o seu papel social no contexto político e econômico em que está inserida.

Para trabalhar as suas principais características, há uma definição de avaliação institucional que, como diz a própria citação, é simples, mas a consideramos bastante significativa:

Em uma definição simples, a auto-avaliação pode ser sucintamente definida como o ato de uma pessoa avaliar a si própria. No cotidiano, quando nos olhamos no espelho, provavelmente estamos nos auto- avaliando: nossa fisionomia, nosso corpo, um gesto determinado. Algumas vezes as impressões são favoráveis, outras desfavoráveis e a maior preocupação é melhorar o que for possível (DEPRESBITERIS, 2005, p. 9).

A partir de sua definição a autora (2005, p. 9-10, grifos nossos) delineia o que julga importante no processo da auto-avaliação. “Coragem” é um fator importante porque não é fácil você julgar a si mesmo, procurando seus acertos e principalmente seus desacertos. A auto-avaliação implica “crítica e reflexão, estimulando um diálogo interno construtivo”. Entretanto, só pensar sobre os problemas internos da instituição não é suficiente. É fundamental “agir para uma auto-regulação, automodificação”.

É preciso autocontrole como um olhar contínuo sobre nossas ações, sem, portanto, conotações negativas burocráticas do controle pelo controle. O conceito de auto-regulação contrapõe-se e complementa o sentido positivo do controle, uma vez que busca a automodificação, a transformação da escola. A ação reguladora da escola será exercida pela própria escola por meio de seus múltiplos atores em processos por ela definidos. A visão interna da escola também poderá ser complementada pela visão externa, isto porque a escola não se encerra em si mesma, é uma instituição da sociedade e deve ser avaliada pela sociedade.

Assim, a partir de tais considerações, podemos concordar, em tese, com o que diz o SINAES sobre avaliação institucional:

Para tanto, sistematiza informações, analisa coletivamente os significados de suas realizações, desvenda formas de organização, administração e ação, identifica pontos fracos, bem como pontos fortes e potencialidades, e estabelece estratégias de superação de problemas. A avaliação interna ou auto-avaliação é, portanto, um processo cíclico, criativo e renovador de análise, interpretação e síntese das dimensões que definem a Instituição (BRASIL, 2004b, p. 6-7).

A auto-avaliação institucional caracteriza-se pelo seu sentido emancipador, uma vez que faz da escola o agente de sua própria transformação. Saul (1988), falando sobre os pressupostos teóricos da avaliação emancipatória, descreve algumas de suas características que guardam semelhanças com aquelas aqui já descritas. Caracteriza-se como democrática, é uma crítica institucional e uma criação coletiva. Portanto, um processo participativo, um olhar da escola para a própria escola que observa sua realidade, absorvendo e analisando as críticas externas, fazendo a crítica de sua prática, para uma ação transformadora. Para a autora:

A avaliação emancipatória caracteriza-se como um processo de descrição, análise e crítica de uma dada realidade, visando transformá-la. Destina-se à avaliação de programas educacionais e sociais. Ela está situada numa vertente político-pedagógica cujo interesse primordial é emancipador, ou seja, libertador, visando provocar a crítica, de modo a libertar o sujeito de condicionamentos deterministas. O compromisso principal desta avaliação é o de fazer com que as pessoas direta ou indiretamente envolvidas em uma ação educacional escrevam a sua “própria história” e gerem as suas próprias alternativas de ação (SAUL, 1988, p. 61, grifo da autora).

Na falta de procedimentos próprios que caracterizam especificamente a avaliação institucional de escolas de ensino básico, os procedimentos utilizados, como referência, têm sido os do modelo hoje instituído no Brasil que é o do SINAES, conforme indica SORDI (2006a, p. 56, grifo da autora):

Uma certa “transferência da tecnologia” contida na proposta do Sinaes foi nosso ponto de partida para incentivar processos de autoconhecimento e auto-avaliação nas escolas e isso nos levou a indagar as possibilidades

concretas de trabalho das CPAs como instâncias catalisadoras de processos de avaliação institucional participativos tanto do ensino superior como do ensino fundamental na atual forma de organização escolar.

O modelo de AIP proposto pelo LOED tem como referência o SINAES, procurando criar a sua própria identidade. A CPA, que o modelo propõe, será constituída por meio de um processo democrático e participativo do coletivo da escola, composta por representantes de todos os segmentos: direção, professores, alunos, funcionários, pais/comunidade. Não é um órgão executivo, mas oferece à direção a visão do todo da escola, apontando à direção caminhos a seguir. A CPA não substitui a direção, mas compartilha com ela caminhos e ações, na busca da melhoria da qualidade social da escola. Em resumo, é uma comissão da própria escola que se incumbe de dinamizar o processo de avaliação institucional e articular os esforços na direção dos interesses coletivos. A CPA é uma forma de resistência, de trabalho, para que a avaliação institucional seja emancipatória.

A constituição de uma CPA implica assumir como princípio que o processo de avaliação é obra coletiva e descentralizada. Envolve compartilhamento responsável de ações que vão desde a proposição de caminhos até o processo decisório. Depende do pleno envolvimento da equipe gestora da escola, mas acresce a esta equipe toda a energia advinda dos demais atores interessados na produção de qualidade nas escolas (SORDI et al., 2005a, p. 4).

A CPA, portanto, caracteriza-se por: ter representantes de todos os segmentos da escola trabalhando de forma coletiva; ter o projeto político-pedagógico como referência de ação; responsabilizar-se pelo processo de avaliação institucional da escola; ter o cuidado de não provocar competição entre as áreas envolvidas em processos de avaliação internos; envolver e estimular todos os segmentos da escola a participar do processo de avaliação institucional interno; desenvolver um processo de comunicação com a comunidade escolar, mantendo-a informada dos trabalhados desenvolvidos e resultados; implementar ações que demonstrem a sua efetiva participação, estimulando o senso de urgência; praticar a meta avaliação (SORDI et al., 2005a).

que temos para que ela possa cumprir a função social que deve ter, ou seja, formar cidadãos comprometidos com a produção de uma sociedade humana e justa” (SORDI et al., 2005a, p. 5). Também a CPA deve ser constituída levando-se em consideração a realidade de cada escola.

Destacamos que a constituição de uma CPA pode se dar de diferentes formas, valendo-se sempre de um exame prévio e crítico das condições de funcionamento já existentes nas escolas. Não há fórmulas definitivas nem caminhos sem atalhos. Trata-se de escolhas que envolvem algum risco e contém muitas possibilidades (SORDI et al., 2005a, p. 4).

Mantendo o SINAES (2004b, p. 8 a 12) como referência para um modelo de auto- avaliação das escolas de ensino fundamental, podemos utilizar as etapas do processo por ele propostas que são:

Etapa 1 – Preparação que abrange: • Constituição da CPA • Sensibilização

• Elaboração do Projeto da Avaliação

A primeira etapa se refere basicamente ao planejamento para se desenvolver um projeto de avaliação institucional. Após a constituição da CPA, a ênfase passa a ser a sensibilização da comunidade escolar para com o projeto a fim de que a escola o assuma como seu e não apenas da direção.

Nessa fase também são explicitados e validados os problemas que a escola quer trabalhar, bem como os indicadores de qualidade a serem alcançados. Na verdade, trata-se, então, da elaboração de um Plano de Avaliação Institucional da escola, que será construído com a participação de todos os atores da escola e socializado a toda a comunidade escolar.

Etapa 2 – Desenvolvimento que se constitui de: • Ações

• Análise das informações • Relatórios parciais

Na etapa de desenvolvimento, trata-se da concretização do que foi planejado na etapa anterior. Caso necessário, serão elaborados instrumentos de coleta de dados para a avaliação do plano de trabalho da escola. Procede-se, então, à avaliação do Plano de Avaliação Institucional da escola, a análise dos dados levantados e à elaboração de relatórios.

Etapa 3 – Consolidação que envolve: • Relatórios

• Divulgação • Balanço crítico

A terceira etapa constitui-se da elaboração, divulgação e análise do relatório final. No balanço crítico, procura-se fazer uma reflexão dos resultados obtidos pela instituição com o objetivo de planejar novas ações e dar continuidade ao processo de avaliação interno. Essa etapa é também o momento da meta-avaliação, da retroalimentação do sistema. Justifica-se a avaliação da avaliação quando a escola pretende que seu processo de auto-avaliação seja competente, buscando crescer e se desenvolver como instituição, bem como os seus atores, como pessoas e profissionais.

A avaliação bem-intencionada e madura não pode se furtar a ser ela própria objeto de avaliação. [...] Haverá algo mais educativo e libertador do que exercitarmos nossa capacidade de avaliar a avaliação, reconhecendo que sua complexidade não se encontra na seleção dos dados a coletar, mas na decisão do olhar interpretativo que será utilizado? E a competência de quem avalia cresce na razão direta em que o avaliador consegue desvelar o intrincado jogo de interesses que atravessa a avaliação e assumir com coragem a decisão de compreender o que viu e de agir de acordo com sua consciência ética (SORDI, 2002, p. 68-80).

É importante a criação de uma memória pela escola, documentando, registrando todos os passos do processo utilizado para a construção e operacionalização de seu modelo

de avaliação institucional. Esses registros documentados facilitam o olhar da escola para si mesma. Passam a ser um espelho de suas conquistas, insucessos e instrumentos de revisão e, se for o caso, de mudança de percurso de ação. Portanto, elementos para uma meta- avaliação. Servem também para possíveis avaliações externas. É a escola construindo a sua própria história escrita e documentada.

Ainda utilizando os procedimentos do SINAES (2004a) como referência, a avaliação institucional também poderá ser externa. Será feita por comissão constituída para tanto e dependendo da complexidade da instituição por mais de uma comissão. Quem determina essas comissões é o próprio Ministério da Educação por meio da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES). No caso das escolas de ensino fundamental, como não existem procedimentos específicos para o seu funcionamento, entendemos que essas comissões deveriam ser formadas por múltiplos agentes da comunidade em que a escola está inserida.

Para viabilizar a avaliação externa é essencial que a escola tenha o registro de seu histórico e de todos os passos efetivados no processo da avaliação interna, conforme explicitado acima. Há que se ter toda a documentação necessária para que os avaliadores externos tenham como proceder à avaliação: projeto político-pedagógico; plano de avaliação institucional da escola; indicadores de qualidade; corpo social da escola (professores, alunos, funcionários, pais, direção); registro das avaliações internas tanto de aprendizagem como da instituição; instalações físicas e outros.

A avaliação institucional externa proporciona à escola um olhar de quem está de fora, não envolvido no dia-a-dia da instituição, portanto, podendo enxergar além do que se convencionou definir como adequado à instituição. A combinação de dados da avaliação institucional interna com os da externa pode dar mais consistência e legitimidade às ações da escola. Entretanto, o mais importante para se proceder a uma avaliação externa, é analisar se a escola está preparada, tanto burocrática quanto culturalmente, para esse tipo de avaliação, para um olhar externo.

A avaliação externa, coordenada pelo Conaes com a participação efetiva da comunidade acadêmica, é também um importante instrumento cognitivo, crítico e organizador, juntamente e coerentemente com a auto-avaliação. Ela exige a organização, a sistematização e o inter-relacionamento do conjunto de informações, de dados quantitativos, de juízos de valor sobre a qualidade das práticas e da produção teórica de toda a instituição que está sendo avaliada. Por isso, as ações combinadas de avaliação interna e externa são processos importantes de discussão e de reflexão sobre os grandes temas de política pedagógica, científica e tecnológica. São igualmente fundamentais para a tomada de decisão com vistas ao fortalecimento e ao re-direcionamento de ações relativas à auto-regulação e à regulação estatal (BRASIL, 2004a, p. 110).

A avaliação institucional só fará sentido quanto estiver intimamente ligada ao projeto político-pedagógico da escola, como guia das ações educativas da escola; à direção em suas dimensões pedagógica e administrativa, como suporte às ações educativas da escola; ao trabalho coletivo ou à qualidade negociada, entendida como uma construção coletiva e contínua.

A peça chave na questão da avaliação institucional é o projeto político- pedagógico da escola e suas relações com a gestão escolar. Tem como pressuposto a gestão escolar democrática e participativa e articula seus compromissos em torno à construção do projeto pedagógico da escola. Neste sentido, parte de uma concepção de educação aceita pelo coletivo e que deve unir as ações deste na escola. Inclui não só a comunidade interna da escola, mas envolve relações com a família e com a comunidade externa mais ampla. A escola não pode pensar a si mesma desconhecendo suas relações com seu entorno (FREITAS et al., 2004, p. 68, grifos dos autores).

2.3 A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL PARTICIPATIVA COMO PROPOSTA DE