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INDICADORES PARA UM PLANO DE AÇÃO EM AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL PARTICIPATIVA

PRESSUPOSTOS DA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL PARTICIPATIVA

3.1 A DIREÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA NO CONTEXTO DA ATUALIDADE

3.1.2 INDICADORES PARA UM PLANO DE AÇÃO EM AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL PARTICIPATIVA

A avaliação institucional participativa propicia à escola, enquanto instituição social, acessibilidade à sua administração para que seu coletivo influencie conjunta e sistematicamente na elaboração de um Plano de Ação com indicadores de qualidade. Nesse sentido é importante focar a direção da escola pública, não a considerando apenas como um

componente técnico, mas inserindo-a no contexto econômico, político e social que determinam o ensino e a aprendizagem escolar. O objetivo social da escola pública pode descaracterizar o tecnicismo da administração e manter distantes os propósitos de que se reveste, quando posta a serviço do modelo de produção empresarial capitalista. Portanto, para que não se transfira para a escola a lógica da administração empresarial, é necessário que estejam presentes os objetivos sociais e políticos da educação e a possibilidade de o coletivo também aprender com a participação.

A visão da administração que transcende seus aspectos puramente técnicos implica imprimir à direção escolar uma dimensão política e social, compondo uma unidade em que as atividades administrativas servem de suporte ao alcance dos objetivos educacionais da escola. Não se pode entender que a dimensão administrativa seja determinante da direção escolar, mas elemento secundário e determinado.

Administrar uma escola é fazer a coordenação dos esforços pedagógicos e tem importância decisiva no alcance dos objetivos educacionais. O administrador escolar antes de tudo é um educador. Cabe, portanto, a ele a função de educador e não apenas de administrador. Essa premissa parte do pressuposto de que administrar uma escola é estar sempre administrando a educação, porque é essa que determina aquela. O dirigente escolar é aquele que dá direção ao processo pedagógico que se desenvolve na escola, fazendo uso de suas habilidades técnicas e políticas.

Um dirigente deve, então, saber unir estas duas habilidades, para que possa se tornar capaz de liderar o processo: ser tecnicamente competente e politicamente hábil. Ultrapassa, dessa forma a visão de que dirigir bem uma instituição é apenas administrá-la, para incorporar a idéia de que dirigir bem uma instituição significa administrá-la de maneira competente e, ao mesmo tempo, liderar os processos educacionais que lá se desenvolvem. Só assim ele poderá dar direção ao processo que se desenvolve no âmbito das escolas. E, só assim, ele poderá congregar alunos, professores, pais e a comunidade para se tornarem um único corpo: um bloco sólido em que todos caminham na mesma direção, para realizar o projeto educacional (RODRIGUES, 1984b, p. 105-106).

Sabemos que a direção da escola sofre constantes pressões de “fora”, exercidas pelo “sistema”, em relação às atividades administrativas burocráticas, como também de “baixo e de dentro” da própria escola em relação ao conteúdo necessário ao aprendizado dos alunos. Sobre esse assunto, assim se manifesta Saviani (1982, p.190, grifos do autor):

Em termos ideais caberia ao diretor efetuar a mediação entre os dois focos de pressão, saturando de conteúdo as formas que decorrem das exigências da chamada “instância superior” (o sistema); sua ação se dirigiria, então, no sentido de subordinar e adequar as prescrições administrativas à finalidade educativa colimada no interior da escola. Na prática, poderíamos mesmo dizer que um diretor será tanto mais educador quanto maior o grau de autonomia que mantém em relação às exigências do “sistema”, subordinando suas formas aos conteúdos educativos; e será tanto mais administrador quanto menor o grau de autonomia referido, o que o levará, em conseqüência, a se ater à rigidez das “normas superiores” mantendo-as esvaziadas do conteúdo que lhes daria sentido.

A questão do poder é um fator importante no processo de “coordenação do esforço humano coletivo”. O poder pode ser de duas naturezas: o poder de posição, aquele que é outorgado pela organização/instituição e o poder pessoal, aquele que emana das características pessoais do dirigente. O poder de posição depende da autoridade delegada, tendo como base a capacidade do dirigente em recompensar ou punir e a sua sustentação se dá pela obediência. O poder pessoal depende da autoridade legitimada, tendo como base a especialização, a informação, a referência aos traços pessoais do dirigente e a sua sustentação consiste na comunhão de objetivos entre o dirigente e o grupo. O exercício do poder está diretamente relacionado ao nível de maturidade profissional e ao estilo de liderança utilizado pelo líder: o exercício do poder de posição está mais para os estilos diretivo e persuasivo, ao passo que o poder pessoal é mais utilizado quando o líder trabalha com indivíduos ou grupos de profissionais de alta maturidade, portanto, liderando nos estilos participativo e delegador (HERSEY; BLANCHARD, 1977). Quando se tem a capacidade de harmonizar o uso do poder de posição e do poder pessoal, o exercício da coordenação se torna mais eficaz. Essa capacidade depende do uso e desenvolvimento de conhecimentos técnicos e de habilidades humanas.

A liderança permeia todo o processo de direção, é a formação política importante para dirigir a escola. Tanto em relação às atividades específicas da administração pedagógica, como as que estão no centro e na razão de ser da escola, como em relação às atividades administrativas, entendidas como meios. A administração de pessoas, por outro lado, atua como o elemento que dá vida à organização, que por intermédio dos recursos das pessoas orienta o alcance dos resultados educacionais da escola.

O dirigente escolar não será um gerente – autoritário, controlador e racionalizador de processos e resultados. Entretanto, em função do alcance dos objetivos da escola, cabe a ele administrar a unidade escolar, coordenando os meios materiais e o conjunto de pessoas, entendido como o esforço humano coletivo.

[...] a essência do ato educativo é incompatível com uma administração da educação centrada na dominação. [...] Os limites da ação administrativa em educação são dados, conseqüentemente, pelos limites da própria ação educacional. Tanto quanto a educação, a administração ultrapassaria suas barreiras próprias se enveredasse pelo terreno da manipulação. Manipular é dominar; educar é superar a dominação; logo, administrar a educação é dirigir a não-manipulação (SILVA JUNIOR, 1993, p. 77-78, grifo do autor).

O dirigente escolar, fazendo uso do poder pessoal, deverá ter a sua autoridade legitimada pelo coletivo da escola, baseada em seus conhecimentos técnicos, em suas habilidades humanas (saberes especializados) e em sua ação política e social. Assim, ao mesmo tempo que participa como um membro da equipe, terá legitimação dos seus pares para dirigi-la e conduzi-la. O dirigente passa a ser um intelectual orgânico. Conforme Gramsci, (2000, p. 53, grifos do autor):

O modo de ser do novo intelectual não pode mais consistir na eloqüência, motor exterior e momentâneo dos afetos e das paixões, mas numa inserção ativa na vida prática, como construtor, organizador, “persuasor permanente”, já que não apenas orador puro – mas superior ao espírito matemático abstrato; da técnica-trabalho, chega à técnica-ciência e à concepção humanista histórica, sem a qual permanece “especialista” e não se torna “dirigente” (especialista + político).

A direção escolar articula três grandes dimensões: a técnica, a política e a humana.

Para que a administração da escola seja mais racional e eficaz, é necessário que suas dimensões estejam definidas para todo o coletivo. Para tanto, um quadro de referência de administração pode indicar um caminho a seguir na elaboração do Plano de Ação da escola. Adiante apresentamos um quadro de referência de administração escolar, que procura mostrar em detalhes as dimensões, categorias e indicadores gerais de qualidade. Tem como objetivo ser um quadro de referência de como se pode administrar uma escola, levando-se em consideração as dimensões específicas de uma instituição social voltada para a educação. O quadro está baseado em estudos conduzidos pelo Projeto Geres – O questionário do diretor e da escola (2004), pelo documento da Secretaria Municipal de Educação de Itatiba, São Paulo – Roteiro das ações de gestão – temário (2005), em textos da Revista Argentina Novedades Educativas: De la gestión educativa al gobierno de las instituciones. Planificar, liderar, asesorar: el trabajo de los directores em una comunidad democrática (2004) e em nossas experiências pessoais na área de Recursos Humanos e no trabalho desenvolvido com as escolas pesquisadas.

O quadro apresentado pode comportar as dimensões, as categorias e indicadores gerais de qualidade que se quer avaliar, objetivando a coleta de dados para posterior estudo e, se for o caso, rever, redimensionar ou implementar novas linhas de ação, mudando a direção de percurso do Plano de Ação.

As dimensões marcam as grandes áreas de atuação da administração escolar; as categorias são as atividades pertinentes a cada dimensão; os indicadores de qualidade podem indicar o desempenho de cada dimensão e categoria trabalhadas. As dimensões e as categorias mostram a abrangência da direção participativa que, utilizando-se dos indicadores de qualidade, podem facilitar a definição do nível de qualidade da escola e da educação praticada por ela.

As dimensões da administração aqui apresentadas foram desenvolvidas e divididas em três grandes grupos por se entender que elas representam os aspectos significativos da

direção escolar e por cobrir todas as atividades importantes e necessárias para a avaliação institucional participativa da escola.

Em primeiro lugar, colocamos a questão pedagógica – ensino e aprendizagem. Como a principal função da escola é a formação e a instrução, a direção pedagógica é de fundamental importância para que a escola atinja esses objetivos. Essa dimensão concentra aquelas atividades escolares, ou categorias, ligadas diretamente ao processo de ensino e aprendizagem e que focam o Plano de Ação da escola nos objetivos educacionais a que se propõe. Essa dimensão também articula as possíveis dimensões culturais, políticas e sociais a que a escola pública se propõe.

A segunda grande dimensão é a questão das tarefas – atividades administrativas. Engloba todas as atividades, ou categorias, burocráticas da escola e que não estão diretamente ligadas à dimensão pedagógica. Entretanto, demandam criatividade e inovação para não se tornarem atividades fins em si mesmas, mas como meio para o alcance dos objetivos pedagógicos da escola. A direção escolar, ao encarar essas atividades nessa perspectiva, torna-se um dirigente, não um simples burocrata.

A terceira grande dimensão é a administração de pessoas - recursos das pessoas. Envolve essencialmente a questão da participação das pessoas na vida da escola. Define as ações, ou categorias, que demandam, mais propriamente, as habilidades humanas daqueles que assumem a direção. A eles cabe inspirar as pessoas, motivando-as, dirigindo e comandando o trabalho coletivo da escola. Uma equipe coesa, participativa, co-responsável e atenta à participação de pais e alunos, afinada com os ideais pedagógicos da escola, pode promover e facilitar o alcance dos resultados da educação que a escola almeja.

Os indicadores gerais de qualidade sugeridos no Quadro de Referência de Administração Escolar, embora não apontem marcas específicas, como ponto de partida ou de chegada, constituem uma referência de ação para a direção da escola e representam uma amostra de dados de qualidade que podem ser utilizados na avaliação institucional

participativa da escola. Marcas específicas, qualitativas ou quantitativas, tanto de partida como de chegada, podem ser definidas no momento da elaboração do Plano de Ação.