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A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL PARTICIPATIVA COMO PROPOSTA DE MELHORIA DA QUALIDADE SOCIAL DA EDUCAÇÃO NAS ESCOLAS

UM OLHAR SOBRE A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL

2.3 A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL PARTICIPATIVA COMO PROPOSTA DE MELHORIA DA QUALIDADE SOCIAL DA EDUCAÇÃO NAS ESCOLAS

PÚBLICAS DE ENSINO FUNDAMENTAL

Apresentamos a seguir o modelo de avaliação institucional participativa do ensino fundamental formulado pelo LOED.

A avaliação institucional participativa como um processo de autoconhecimento, de auto-avaliação e auto-regulação pode se transformar em potencial meio do trabalho coletivo e da melhoria da qualidade social da escola e da educação. Para o modelo proposto é essencial explicitar-se em seu conceito a participação, uma vez que a AIP supõe ações democráticas, em que o poder seja compartilhado e que seja um instrumento do coletivo da escola e não da direção, embora seja fundamental seu total envolvimento. Aparecerão conflitos inerentes ao processo, para os quais haverá dirigentes capazes de enfrentá-los, administrá-los e fazer deles alavancas de melhorias da qualidade da educação ofertada pela escola à sociedade. Nesse sentido:

[...] devemos ser intransigentes na defesa dos princípios democráticos que regem o trabalho de avaliação e que implicam horizontalização das relações de poder existentes, mantendo a base dialógica inclusive nos processos decisórios. Trata-se de luta paradigmática em campo historicamente interessado em regulação e controle. Consolidar uma base emancipatória no campo da avaliação não se dará de forma não conflituosa, dados os interesses que estão em jogo. [...] Destacamos que o reconhecimento destas contradições no campo das políticas de avaliação é importante para as utilizarmos em favor de nossos compromissos com o desenvolvimento humano da sociedade. Não basta denunciarmos, precisamos agir mesmo nas condições adversas que enfrentamos. [...] Entendemos que a complexidade e contradições que atravessam o campo da avaliação institucional participativa não retiram seus significados altamente promissores na transformação da qualidade de nossas instituições educativas (SORDI, 2006a, p. 60-61)

A avaliação institucional aqui formulada parte do princípio de que a escola deve construir o seu próprio modelo, utilizando-se de métodos e técnicas de avaliação institucional, criando processos compatíveis com a sua realidade e necessidades por meio do trabalho coletivo, a participação de toda a comunidade escolar, o diálogo contínuo e permanente.

Dados de avaliação devem fazer sentido e produzir novos sentidos. Assim, o desenho do modelo de Avaliação Institucional (AI) não pode prescindir do apoio e da adesão daqueles que na realidade se responsabilizam pela produção de uma educação de boa qualidade. Nenhum processo de avaliação que se esqueça disso poderá esperar por grandes transformações no cotidiano das escolas (LOED, 2005a, p. 3).

O modelo de AIP proposto pelo LOED não menospreza os modelos de avaliação externa, mas procura adaptá-los à realidade e necessidade de cada unidade ou de cada sistema escolar. Nesse sentido, esse modelo é construído pela escola e não para a escola. A avaliação externa é tomada como um meio, como contribuição, não como fim, e seus dados podem ser consumidos pela escola por meio da avaliação interna. A relação da avaliação externa com cada unidade ou sistema escolar deve ser bilateral.

A bilateralidade da avaliação institucional supõe que a escola, pelo seu coletivo, faça a sua avaliação e cobre as condições necessárias do poder público para que atinja os seus objetivos de qualidade social. Dessa forma, compartilham-se responsabilidades. A escola em contrapartida precisa assumir compromissos de melhorias junto ao poder público que, por seu lado, deverá cobrar os resultados compromissados. Há que se demandar não só pela demanda, mas pelos compromissos assumidos pela escola. Demandas e compromissos devem caminhar juntos. O projeto político-pedagógico deve ser a referência das demandas e compromissos.

Na contramão da responsabilização da escola pelos seus resultados, como conseqüências das políticas públicas de avaliação, está o social conformismo. É preciso que a escola defina os seus problemas e demandas, internas e externas, e que se aproprie deles e que priorize um conjunto de fatores, não tratados isoladamente, que entende ser necessário para a melhoria da educação que oferece à sua comunidade. A própria qualificação continuada de seus profissionais deve estar vinculada aos problemas e compromissos da escola. Assim sendo, a referência passa a ser a própria escola que assume compromissos consigo mesma, com a classe social que a freqüenta, amparada pelo poder público.

[...] O apropriar-se dos problemas da escola incluí um apropriar-se para demandar do Estado as condições necessárias ao funcionamento da escola. Mas inclui, igualmente, o compromisso com os resultados dos alunos da escola. Foi a esse processo bilateral que chamamos antes, de “qualidade negociada” (FREITAS, 2007b, p. 978, grifos do autor).

Enquanto a avaliação dos sistemas educacionais tem como protagonista o Estado, a sala de aula, o professor, a avaliação institucional da escola tem como protagonista o seu coletivo. O fazer da avaliação interna, a definição do conjunto de fatores e elementos a serem compromissados são tarefas que devem se dar pela negociação, pelo diálogo contínuo entre todos os segmentos da escola. A qualidade da educação de uma escola não depende apenas da ação de sua direção, mas envolve todos os atores da escola que estão interessados em práticas educativas que elevem o nível de educação dos alunos.

Qualidade é transação, isto é, debate entre indivíduos e grupos que têm interesse em relação à rede educativa, que têm responsabilidade para com ela, com a qual estão envolvidos de algum modo e que trabalham para explicitar e definir, de modo consensual, valores, objetivos, prioridades, idéias sobre como é a rede para a infância e sobre como deveria ou poderia ser (BONDIOLI, 2004, p. 14).

Nesse sentido a avaliação institucional participativa renega a punição dos envolvidos, bem como não pratica a premiação. Privilegia o diálogo, a participação, a continuidade do processo, bem como entende a avaliação institucional como ação formativa do coletivo da escola. Utilidade e pertinência social são aspectos relevantes do modelo proposto (LOED, 2005a).

Esse modelo de avaliação institucional é orientado para a emancipação da escola. Em cada escola uma possibilidade de emancipação. Resultados servem para auto-regulação, para ações transformadoras. Vislumbra-se, portanto, um novo modelo de avaliação institucional. Uma avaliação emancipatória contra hegemônica. A avaliação institucional participativa é uma possibilidade de controle da avaliação regulatória externa. A ação do coletivo da escola se reveste de grande importância política.

A avaliação institucional, vista por esse prisma, passa a ser uma força transformadora da feição da escola que temos. É um processo de reconstrução, de análise da nossa posição, do trabalho coletivo. Assim, as ações em avaliação institucional passam a ser políticas da escola, de uma comunidade e não apenas da vontade de sua direção. A

avaliação institucional participativa pode contribuir para a construção da identidade da escola.

A avaliação institucional participativa serve para legitimar politicamente as ações de melhoria da escola. A escola não pode ser surpreendida por processos de avaliação externos. A avaliação institucional participativa pode significar uma ação de resistência a um projeto de educação que não interessa à sua realidade e necessidades. A regulação externa não pode escapar ao projeto político-pedagógico da escola, dos compromissos assumidos por ela. Pode sim contribuir fornecendo dados para o processo de análise interno, porém nunca como instrumento de controle e imposição de ações que não façam sentido e nem venham contribuir com a melhoria da qualidade social daquela comunidade escolar.

Há necessidade de se diferenciar o modelo de AIP proposto pelo LOED daquilo que recomenda a CEPAL, a partir da década de 1960, em relação ao planejamento descentralizado, focando os aspectos da realidade e necessidades da escola, desresponsabilizando o Estado de suas obrigações (OLIVEIRA, 2007). A própria autora, porém, aponta caminhos para que se chegue a uma educação verdadeiramente democrática, fugindo dos planejamentos tradicionais:

Alguns estudos apontam para a necessidade de desenvolvimento de metodologias e opções políticas concretas que efetivamente incorporem setores organizados da sociedade civil. A busca de uma nova metodologia capaz de superar as formas “tradicionais” e “basistas” de planejamento deve pautar-se no compromisso com a democratização da educação. Estas novas formas não podem, contudo, prescindir dos seus aspectos operacionais, sem o que corre-se o riso de incorrer na crítica pela crítica. Mas não devem também cair no deleite fácil das propostas “milagrosas”, ditas participativas e democráticas, sem a devida fundamentação conceptual e político-metodológica, sem o que poderão contribuir no a- politicismo tecnocrático às avessas ou no basismo comunitário (OLIVEIRA, 2007, p. 97-98, grifos da autora).

A avaliação institucional participativa contribui para que a escola repense as suas práticas de forma crítica e comprometida, refletindo sobre o seu papel na sociedade e sua responsabilidade com os alunos, em especial com as camadas populares.

A utilidade e relevância social da avaliação institucional participativa passa pela sua prática e pela ação formativa do coletivo da escola, como instrumento de integração de todos os seus atores à vida social, à cidadania. A avaliação institucional participativa pode recuperar a função social da escola ao provocar mudanças que signifiquem a liberdade de ação do ser humano na sociedade.

Dar início ao processo de AIP somente faz sentido se o que se pretende é a transformação da sociedade. Importa mobilizar instrumentos de participação para que a escola estatal passe a ser do povo e não apenas para o povo, tornando-a realmente pública. Se for mais um procedimento burocrático, apenas trará mais tarefas à escola, dificultando o alcance das metas de seu fazer essencial de ensino e aprendizagem. Pode trazer maior controle do Estado, mas não assegurará maior qualidade social à educação. Se o objetivo for a transformação da sociedade, proporcionará às camadas populares um espaço para a participação política na educação escolar de seus filhos.

Estabelecer nova configuração de processos avaliativos firmados no compromisso político de induzir níveis de qualidade que levem em conta a formação do homem necessário para a transformação qualitativa de nossa sociedade, recuperando valores e princípios éticos, hoje mais do que nunca deve ser o eixo norteador de nossas opções educacionais (LOED, 2005a, p. 2).

O modelo de avaliação institucional participativa pode potencializar a qualidade social das escolas agindo como instrumento de formação coletiva e democrática dos seus múltiplos atores. Uma avaliação institucional nesses moldes seria possível? Interessa ao sistema que a escola, a partir de sua própria história, de sua realidade e necessidades, conduza os seus destinos, perfazendo seus próprios caminhos?

CAPÍTULO 3

PRESSUPOSTOS DA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL