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4.1 MAPA DA NOSSA HISTÓRIA NARRATIVA

4.1.1 B USCANDO O EQUILÍBRIO

O termo “homeostase” tem origem na biologia e na física, e é definido como a capacidade de um sistema aberto e dinâmico de manter a estabilidade e o equilíbrio do seu ambiente interno, através de processos autorregulatórios inter-relacionados, em busca de condições ideais de sobrevivência diante de alterações no ambiente (SPERELAKIS, 2001).

Para facilitar o entendimento do conceito de homeostase, faremos uma analogia entre uma equipe e o corpo humano, um dos sistemas que deu origem a definição da homeostase. O corpo humano é um sistema aberto extremamente complexo composto por órgãos com funções e tarefas específicas, e por sistemas circulatórios e regulatórios que coordenam e integram as atividades realizadas individualmente por cada órgão, para garantir o funcionamento correto do todo e o atingimento do seu principal objetivo, a sobrevivência do sistema. Quando todos esses elementos funcionam corretamente, dizemos que o corpo está saudável, ele está em equilíbrio.

Como o corpo é um sistema aberto e dinâmico, ele recebe constantemente influências e interferências do meio em que vive, ao comer, ao dormir, ao passar frio, ao pegar uma gripe, etc., e também vivencia dentro do seu próprio sistema, mudanças e alterações de origem interna. Essa é a realidade do corpo humano, está sempre exposto a mudanças contínuas de maior ou menor intensidade. Sendo assim, seu equilíbrio nunca é estático, imutável, ele está sempre passando por variadas perturbações no seu sistema.

Quando o corpo é capaz, através de seus processos autorregulatórios, de se adaptar a cada uma dessas perturbações, mantendo condições internas relativamente uniformes, esse

sistema está em equilíbrio dinâmico, ou seja, ele conserva sua homeostase, pois é capaz de manter sua estabilidade interna resistindo a interferências no seu funcionamento.

Entretanto, quando o corpo passa por uma forte perturbação no seu equilíbrio dinâmico, por exemplo, quando sofre um acidente ou desenvolve uma doença grave, ele terá maior dificuldade para manter e retomar seu equilíbrio interno. Em alguns casos, o sistema perde sua homeostase e sua tentativa de adaptação não é suficiente para retomar a estabilidade do sistema, colocando sua sobrevivência em risco.

No caso da equipe de software, ao invés de órgãos, ela tem pessoas com atribuições e responsabilidades; ao invés de um sistema circulatório, ela tem ferramentas, metodologias e processos de comunicação para garantir a coordenação e integração entre as atividades realizadas por todos os integrantes da equipe. Enquanto o objetivo final do corpo humano é a sua saúde e sobrevivência física, o objetivo principal das equipes de software é garantir seu adequado funcionamento interno para a realização do seu escopo, entregando com a qualidade necessária e no prazo acordado.

Toda equipe, a partir do momento em que é criada, passa por fases na sua história, buscando atingir um estado que Tuckman (1965) chama de “estágio de performance”, onde seu funcionamento interno é adequado, com engrenagens trabalhando de forma coordenada e com bons resultados alcançados sem esforço adicional. Quando cada integrante da equipe consegue desempenhar individualmente de forma adequada e quando os processos de coordenação e integração das atividades individuais funcionam corretamente, permitindo o atingimento dos objetivos pré-definidos para a equipe, dizemos que esta equipe está em equilíbrio dinâmico. Internamente, essa é a busca principal da equipe, funcionar bem e alcançar os objetivos para a qual foi criada.

Da mesma forma que o corpo humano sofre influências externas na sua homeostase, a homeostase da equipe também está sujeita a interferências externas, como, por exemplo, da empresa e dos seus clientes. O equilíbrio dinâmico da equipe também pode ser influenciado por mudanças internas como a saída ou entrada de integrantes ou mudança nos seus processos formais. Quando essa equipe recebe interferências externas ou passa por mudanças internas, mas consegue manter ou recuperar rapidamente sua estabilidade garantindo condições internas e de desempenho relativamente uniformes, podemos afirmar que a equipe mantém sua homeostase, através dos seus processos autorregulatórios, conservando sua estabilidade interna.

Os processos autorregulatórios da equipe podem ser formais ou informais, e tem como principais objetivos integrar e coordenar seus esforços, atividades e eventos internos. Eles são autorregulatórios pois são processos originados intraequipe para garantir que ela funcione corretamente. Exemplos de processos autorregulatórios são reuniões de planejamento, ferramentas para comunicação interna, acompanhamento das atividades, etc.

Entretanto, quando uma equipe consegue manter sua homeostase através da sobrecarrega ou insatisfação de algum dos seus integrantes, ou exigindo grande esforço dos seus processos autorregulatórios internos, esse equilíbrio tende a não ser sustentável. Se seus integrantes individualmente também não estiverem em equilíbrio, a qualquer momento um dos componentes da equipe pode se mover ou ter seu desempenho prejudicado.

Durante a apresentação da nossa teoria, mostraremos que em empresas como as de desenvolvimento de software, com uma cultura flexível e informal, e uma estrutura organizacional horizontalizada, a autorregulação da homeostase das suas equipes é garantida mais por pessoas, suas interações, do que por processos de integração e coordenação pré- definidos e formalizados. Não é à toa que as empresas de tecnologia buscam cada vez mais por profissionais proativos, comprometidos e autogerenciados que se antecipem aos problemas e atuem quando e como for necessário, como analisaremos na Seção 4.4.2.

Neste contexto, definimos a coesão da equipe como o resultado de uma rede de relacionamentos e vínculos criada dentro da equipe, que gera um conjunto de forças para garantir seu equilíbrio interno. Quando a intensidade do relacionamento e do vínculo entre os integrantes da equipe é ampla, se estendendo entre vários ou todos os integrantes, cria-se uma rede que vai tecendo, facilitando e encurtando a distância das interações autorregulatórias entre os membros da equipe. Conforme essa rede se desenvolve, ela vai criando um núcleo dentro dessa equipe que potencializa sua tendência em manter seu equilíbrio interno de forma espontânea e autogerida. Quando essa rede de relacionamentos não se desenvolve, a equipe precisa recorrer a processos internos formais de autorregulação para tentar encontrar seu equilíbrio e desempenhar conforme o esperado.

A coesão é o resultado da composição dos sentimentos individuais, dos integrantes da equipe, de pertencer à sua equipe, e do comportamento conjunto, desses integrantes, funcionando como um todo integrado, coordenado e harmônico. A combinação desses dois fatores estão relacionados a aspectos afetivos/sociais, e profissionais/da tarefa, que caracterizam a coesão social e a coesão profissional, respectivamente.