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Balanço do mercado de trabalho juvenil ao longo das décadas de 1990 e 2000

2.1 A inserção dos jovens no mercado de trabalho

2.1.1 Balanço do mercado de trabalho juvenil ao longo das décadas de 1990 e 2000

Um aspecto relevante nesta discussão é que durante o período da industrialização brasileira (1930 – 1980), os jovens tiveram perspectivas de condições de vida e trabalho superiores a de seus pais, tal como salienta Pochmann (2000). Convém destacar que, entre as décadas de 1930 e 1980, houve crescimento do emprego assalariado, sobretudo com registro em carteira, além da perda de importância do emprego informal e das ocupações não assalariadas. Pochmann ressalta que, nesta conjuntura, as condições de inserção dos jovens no mundo do trabalho eram menos desfavoráveis.

De acordo com Welters (2009), nos anos 1970, o ingresso dos jovens no mercado de trabalho foi intenso por causa do alto dinamismo dos setores industriais e de serviços. Contudo, nos anos 1980, a crise econômica diminuiu as possibilidades dos jovens no mercado de trabalho; nos anos 1990 houve uma piora ainda maior das condições dos jovens no mercado de trabalho.

Do mesmo modo Lourenço (2002) afirma que, nos anos 1980, a incorporação dos jovens ao mercado de trabalho se dava de maneira diferenciada, normalmente em empregos assalariados com registro formal.

Já na década de 1990, as questões relacionadas à inserção dos jovens no mercado de trabalho ganham relevância devido às mudanças ocorridas na economia brasileira e também por

causa do processo de reestruturação produtiva27, realizado pelas empresas que afetaram o

mercado de trabalho e a situação dos jovens. “O estreitamento do mercado de trabalho na década

27 De acordo com Antunes (2007), a reestruturação produtiva foi implementada pelas empresas com o objetivo de

recuperar o ciclo de reprodução do capital. Essa reestruturação criou uma nova divisão do trabalho e um forte movimento de flexibilização da produção, dos processos de trabalho e das relações de trabalho.

de 1990 dificultou fortemente a entrada do adolescente e do jovem na atividade econômica” (BALTAR et al., 2006, p. 31). Outro fator que precisa ser destacado nesse período é a queda da taxa de participação dos jovens no mercado de trabalho. Desse modo, a década de 1990 foi muito desfavorável para os jovens no mercado de trabalho.

Welters (2009) sublinha que, ao longo dos anos 1990, a desestruturação do mercado de trabalho, que foi marcada pelo desemprego e precarização, afetou fortemente os jovens. “Deste modo, as alterações no cenário econômico e as transformações no mercado de trabalho, particularmente a partir dos anos noventa, contribuíram sobremaneira para que os jovens perdessem espaço na PEA (População Economicamente Ativa)” (WELTERS, 2009, p. 20).

Conforme destacam Proni e Ribeiro (2007), a crise dos anos 1990 afetou com mais intensidade a situação de alguns grupos sociais no mercado de trabalho, tais como os jovens. Esses autores assinalam que o problema ocupacional dos jovens tem contornos mais graves no Brasil do que em outros países, em razão das grandes desigualdades sociais.

Lourenço (2002) argumenta que, no processo de enxugamento de empregados pelas empresas, ocorrido nos anos 1990, os empresários acabaram optando mais por trabalhadores adultos a jovens, pois os primeiros possuem experiência profissional e hábitos de trabalho mais sedimentados. Isso se dá mesmo quando os adultos possuem níveis de escolaridade semelhantes ou inferiores ao dos jovens. “Os anos noventa marcam um processo de deterioração do padrão de inserção juvenil no mercado de trabalho brasileiro, contrapondo-se ao verificado nas décadas anteriores” (LOURENÇO, 2002, p. 11-12).

Não se pode perder de vista que ao longo dos anos 1990, o Brasil passou pela implementação de várias políticas neoliberais que produziram efeitos negativos sobre o padrão de inserção ocupacional dos jovens, sobretudo por fazer os jovens serem um grupo extremamente vulnerável no mercado de trabalho. Desde os anos 1990, os jovens tornaram-se uma das principais vítimas dos mecanismos de precarização elaborados pelas empresas, assim como se transformaram em alvo da informalidade e da rotatividade. Campos (2010) assinala que muitos jovens são excluídos dos benefícios da legislação trabalhista.

Baltar et al. (2006) afirmam que o crescimento do emprego ao longo dos anos 1990 foi insuficiente para atingir o aumento da PEA (População Economicamente Ativa), por isso houve ampliação do desemprego e crescimento das dificuldades de ingresso dos jovens ao mundo do trabalho. Esses autores salientam que, após 1999, houve um crescimento do emprego formal no

país causado pelo crescimento do PIB e pela maior concentração desses empregos em empresas mais organizadas, as quais têm maior tendência a formalização dos empregos. Todavia, os autores também consideram outro fator para o crescimento da formalização a atuação de três instituições públicas da área do trabalho: o Ministério Público do Trabalho (MPT), a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a Justiça do Trabalho.

De acordo com Proni e Ribeiro (2007), na primeira metade da década de 2000, ocorreu um aumento no desemprego dos jovens. Segundo os dados da PNAD (2001-2005), analisados pelos autores, o desemprego juvenil passou de 3,5 milhões de jovens em 2001, para 4,2 milhões, em 2005. Convém destacar que no ano de 2005 o desemprego dos jovens representava mais de três vezes do desemprego registrado entre os trabalhadores com 25 anos ou mais.

A partir de 2004, com o maior crescimento da economia, há a estabilização das taxas de desemprego e o crescimento do emprego formal. Porém, essa nova situação, tal como assinalam Proni e Ribeiro (2007), não aumentaram as chances dos jovens conseguirem um emprego. Os autores destacam também:

A pressão sobre o orçamento familiar, de um lado, e o apelo ao consumo, de outro, parecem ter estimulado uma parcela maior dos jovens a sair da inatividade e buscar uma ocupação, elevando as taxas de desemprego aberto deste grupo etário, num período de certa estabilidade nas taxas de desemprego de trabalhadores com idade superior a 24 anos (PRONI e RIBEIRO, 2007, p.24).

O estudo da OIT “Trabalho Decente e Juventude no Brasil” (2009) demonstra que, no período de recuperação do emprego formal, entre os anos de 2004 e 2008, os jovens não foram beneficiados da mesma forma que os adultos, ou seja, o peso dos novos empregos formais foi menor entre os jovens.

Vale destacar alguns dados sobre o mercado de trabalho juvenil no ano de 2009, a partir da PNAD. Nesse ano, o total de jovens ocupados era de 17,2 milhões, o que representava 51,5% da população juvenil.

A partir da Tabela 11, nota-se que o maior número de jovens ocupados está na faixa etária entre 20 e 24 anos, assim como as jovens representam pouco mais da metade do total de jovens ocupados do sexo masculino. Portanto, a participação da população juvenil, no total de ocupados, é maior entre os jovens do sexo masculino. Convém salientar que na primeira faixa etária, 15 a 17

anos, as jovens representam 35,1% do total de ocupados, enquanto na última faixa etária, 20 a 24 anos, elas já representam 41,3% do total de ocupados.

Tabela 11 – Jovens ocupados em 2009, por faixa etária e gênero (em mil pessoas)

Faixa etária Masculino Feminino Total

15 a 17 anos 1.861 1.009 2.870

18 e 19 anos 1.990 1.327 3.317

20 a 24 anos 6.475 4.566 11.041

Total 10.326 6.902 17.228

Fonte: PNAD (IBGE) 2009

Vale salientar que a taxa de atividade pode ser definida como a porcentagem da PEA (População Economicamente Ativa) em relação a PIA (População em Idade Ativa). A taxa de atividade dos jovens é maior nas faixas etárias entre 18 e 19 anos e entre 20 e 24 anos, ou seja, ela cresce conforme aumenta a idade dos indivíduos, tal como se verifica na Tabela 12. Os jovens dessas faixas etárias possuem maior escolarização e provavelmente já possuem alguma experiência profissional, o que influencia a entrada e a manutenção no mundo do trabalho.

No que tange à variação entre 2008 e 2009, tem-se que houve queda da taxa de atividade entre os jovens de 15 a 17 anos de idade, o que denota o alto desemprego juvenil e as dificuldades para conseguir o primeiro emprego. A queda da taxa de atividade entre os jovens dessa faixa etária se dá desde 1998, quando era de 45% e chegou a 36% em 2009. Essa queda, por sua vez, ocorre em relação aos jovens de ambos os sexos. A redução da participação dos jovens dessa faixa etária no mercado de trabalho é boa porque pode propiciar a eles maior permanência na escola e, consequentemente, até a queda dos índices de evasão escolar. Contudo, para essa redução ser efetiva, é preciso que existam políticas públicas que tenham como objetivo postergar o ingresso dos jovens no mercado. Para isso, é necessário garantir renda a esses jovens, sobretudo aos que pertencem às famílias de baixa renda, os quais enfrentam desde cedo a pressão para ingressar no mercado de trabalho.

Tabela 12 – Taxa de atividade dos jovens nos anos de 2008 e 2009, por faixa etária (em %)

Faixa etária 2008 2009

15 a 17 anos 36,6 36,0

18 e 19 anos 66,1 65,1

20 a 24 anos 78,5 78,4

Fonte: PNAD (IBGE) 2008 e 2009

Não se pode perder de vista que essa redução na participação no mercado de trabalho deve ser resultado mais das barreiras impostas pelo mercado de trabalho aos jovens, do que o objetivo dos próprios jovens de postergar o ingresso ocupacional.

Segundo a PNAD, no ano de 2009, houve queda da taxa de atividade entre os jovens de 18 e 19 anos e os que possuem entre 20 e 24 anos. No que tange aos jovens da faixa etária entre 18 e 24 anos, existe certa diferença na taxa de atividade dos jovens e das jovens no mercado de trabalho. Isso porque, segundo os dados da PNAD 2009, as jovens tinham uma participação substancialmente menor que a dos jovens, 85% e 65%, respectivamente. Além disso, a PNAD demonstra que o desemprego tem caído para os jovens dessa faixa etária. Contudo, ainda permanece grande a diferença entre o desemprego dos jovens e das jovens, sempre superior para elas.

Abaixo, segue tabela sobre a taxa de atividade dos jovens nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, Estados em que foram entrevistados jovens para esse estudo.

Tabela 13 – Taxa de atividade dos jovens nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul no ano de 2009, por faixa etária (em %)

Faixa etária São Paulo Rio Grande do Sul

15 a 17 anos 42,8 42,4

18 e 19 anos 76,9 80,2

20 a 24 anos 90,2 89,7

Fonte: PNAD (IBGE) 2009

No Rio Grande do Sul, a taxa de atividade dos jovens da faixa etária de 18 a 19 anos é superior a do Estado de São Paulo e, ainda, é maior que a taxa nacional. Isso pode ser explicado pelo fato de que a população juvenil desse Estado é bem inferior que à do Estado de São Paulo. A

taxa de atividade dos jovens paulistas é maior nas faixas etárias entre 15 e 17 anos e entre 20 e 24 anos, sendo também maior que a registrada para a taxa nacional.

Um dado interessante na discussão das condições encontradas pelos jovens de 16 a 24 anos de idade no mercado de trabalho se refere ao número de horas trabalhadas por semana. Segundo a PNAD 2009, 43,1% dos jovens possuem empregos com jornada semanal de 40 a 44 horas, 26,5% trabalham 45 horas ou mais e 30,4% dos jovens têm empregos com jornada semanal de até 30 horas semanais. Esses dados demonstram que os jovens estão inseridos em empregos marcados por longa jornada de trabalho, o que pode ter implicações negativas no processo de escolarização. Sendo assim, esse grande número de horas trabalhadas pode ampliar a evasão escolar e o número de faltas na escola, bem como pode fazer com que os jovens tenham pouco tempo para se dedicar aos estudos, o que prejudica a sua formação e pode resultar em menores chances de bons empregos no futuro.

A PNAD 2009 traz dados sobre a remuneração dos jovens trabalhadores (16 a 24 anos de idade excluí-se os jovens de 15 anos devido à proibição do trabalho dos menores de 16 anos). Aproximadamente 50% deles possuem remuneração maior que um salário mínimo. Enquanto 27% têm remuneração entre meio e um salário mínimo e 23% deles tem remuneração de até meio salário mínimo. Isso indica que metade dos jovens ocupados tem remuneração de até um salário mínimo, o que demonstra que parcela da juventude encontra empregos que oferecem baixos salários. Essa baixa remuneração, por sua vez, acaba sendo muitas vezes um estímulo para que os jovens permaneçam por pouco tempo no trabalho e isso os faz conviverem frequentemente com o desemprego e a rotatividade no mercado de trabalho.