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3.2 A Justiça do Trabalho no Brasil

3.2.1 Outras instituições públicas da área do trabalho

Além da Justiça do Trabalho, há mais duas instituições públicas da área do trabalho: a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o Ministério Público do Trabalho (MPT). Essas instituições representam algumas das formas de atuação do Estado no mercado de trabalho.

A fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego tem como objetivo fiscalizar o cumprimento, por parte das empresas, da legislação trabalhista, das normas de saúde e de segurança do trabalho e, assim, combater a informalidade e o desrespeito aos direitos dos trabalhadores.

O Ministério Público do Trabalho58 foi criado praticamente junto com a Justiça do

Trabalho, na década de 1930. Mas apenas com a Constituição de 1988 que o MPT garantiu independência institucional. No que se refere à atuação judicial do MPT, ela pode dar nos processos judiciais, seja como parte, autora ou ré, ou mesmo como fiscal da lei. E, ainda, a atuação do MPT tem sido bastante relevante na luta pela erradicação do trabalho infantil, do trabalho forçado e escravo, assim como na atuação contra diversas formas de discriminação no mercado de trabalho.

58 Já fez parte do Ministério Público do Trabalho importantes juristas, como Marco Aurélio de Farias Mello,

Conforme assinala Krein (2006), o MPT tem como objetivo defender a ordem jurídica, a democracia e os interesses individuais e sociais indisponíveis. A atuação do MPT se dá em questões que envolvem um coletivo de trabalhadores e esse órgão pode apurar e investigar denúncias e até realizar o encaminhamento judicial de situações que impliquem em desrespeito à legislação que afeta um coletivo de trabalhadores ou mesmo a sociedade (Krein, 2006).

Na visão de Baltar et al. (2006), as instituições públicas da área do trabalho tiveram um papel importante no aumento da formalização do trabalho no Brasil, a partir de 2003. Entretanto, os autores consideram que a melhoria da dinâmica econômica e do mercado de trabalho também foi muito importante para a ampliação da formalização do trabalho. Esses autores ressaltam ainda que várias questões relativas às relações e condições de trabalho sofrem influência das ações das instituições públicas da área do trabalho.

No que se refere à atuação da fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, Baltar et al. afirmam que, a partir da ação do MTE houve crescimento do número de trabalhadores registrados no período entre 1999 e 2000 e a partir do ano de 2004. Para Baltar et al. (2006), a fiscalização trabalhista no Brasil é extremamente precária, pois a quantidade de auditores fiscais do trabalho é muito pequena em relação ao tamanho do mercado de trabalho e à enorme precariedade e ilegalidade existentes nesse mercado. Segundo esses autores, o principal alvo da fiscalização dos auditores fiscais do trabalho é a regularização do registro dos trabalhadores.

Não se pode deixar de mencionar que, no Brasil, o descumprimento da legislação trabalhista é muito frequente e existem muitas formas de burlar a legislação vigente, tais como a utilização indevida dos estagiários pelas empresas, a contratação de trabalhadores na condição informais, o desrespeito às normas de saúde e segurança do trabalho, entre outras.

Na presente discussão é importante destacar a argumentação de Cardoso e Lage (2007):

Denunciar a rigidez da legislação, como a faz a literatura econômica hegemônica no debate nacional, sem levar em conta o fato de que simplesmente parte dela não é cumprida, é cometer o sério equívoco de tomar o direito pelo mundo, a norma legal pelos fatos (CARDOSO e LAGE, 2007, p. 10).

Quanto ao Ministério Público do Trabalho, esse órgão tem tido em muitas cidades brasileiras, o papel de combate a fraude trabalhista e vem contribuindo para formalizar a relação de emprego, tal como menciona Baltar et al. (2006).

Na análise de Krein (2006), o MPT tem sido uma força de resistência ao processo de flexibilização do direito do trabalho.

Conforme destacam Baltar et al. (2006), a Justiça do Trabalho, juntamente com outros órgãos públicos da área do trabalho, é primordial para garantir aspectos relativos às condições de trabalho e às relações de trabalho. A atuação da Justiça do Trabalho frente à terceirização é exemplo disso, pois, a partir de jurisprudências, se responsabiliza subsidiariamente a empresa que contratou os serviços de terceirização. Deste modo, se a empresa contratada para terceirizar determinada atividade não pagar os direitos trabalhistas dos seus funcionários, a empresa que terceirizar poderá ter que arcar com o pagamento desses direitos.

De acordo com Cardoso e Lage (2007), pouco se analisam os efeitos das instituições públicas da área do trabalho para garantir eficiência ao mercado de trabalho, e, sobretudo, o respeito à legislação trabalhista. Cardoso e Lage afirmam, ainda, que um país pode ter um sistema de regulação do trabalho bastante detalhado e rígido em termos formais, mas bastante flexível na prática, pois os empregadores têm a opção de não cumprir o que a legislação determina. Para esses autores, o Brasil é exemplo disso, uma vez que o sistema de relações do trabalho no país oferece instrumentos relevantes para que a legislação trabalhista não seja respeitada. “Ocorre que uma norma só existe no processo de fazer-se valer” (Cardoso e Lage, 2007, p. 10).

Vale destacar que a Justiça do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério do Trabalho e Emprego, juntamente com entidades da sociedade civil, possuem grande relevância para que a legislação trabalhista seja cumprida e que não exista apenas na teoria. Assim, um aspecto relevante para o cumprimento das normas trabalhistas é a fiscalização da aplicação da lei pelas Delegacias Regionais do Trabalho do MTE e pelo MPT aliada às penalidades pelo não cumprimento da legislação trabalhista aplicadas pela Justiça do Trabalho.