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1.2 Elementos para uma discussão sociológica sobre a juventude

1.2.1 Juventude, escola e trabalho

A escola e o trabalho são duas instituições que deveriam fazer parte da vida dos indivíduos. No que se refere aos jovens, a educação é de grande importância para a formação dos novos cidadãos e profissionais, mas ela ainda não é garantida a todos os jovens, visto que muitos ainda nem terminaram o Ensino Fundamental e nem todos têm a possibilidade de concluir o Ensino Médio. Já o trabalho deveria fazer parte da vida dos jovens após eles terem adquirido uma série de conhecimentos e terem acesso à educação formal. Contudo, mesmo após a passagem pela educação formal, muitos jovens enfrentam obstáculos, quase intransponíveis, para ter a possibilidade de ingressar e permanecer no mercado de trabalho. Muitas vezes, o mercado de trabalho encontrado pelos jovens está muito distante de suas expectativas devido à precariedade, à rotatividade e aos empregos e estágios oferecidos.

Os dados da PNAD para os anos 2000 indicam que houve crescimento do número de jovens que estudavam e trabalhavam no Brasil. Esse movimento é diferente do que tem se verificado nos países centrais, pois lá os jovens têm conseguido retardar o ingresso no mercado de trabalho e ampliado a escolarização.

Conforme afirmam Silva e Oliveira (2007), na escola os jovens passam um longo tempo de suas vidas, por estar na escola parte dos jovens são ‘poupados’ da inserção no mercado de trabalho e das responsabilidades do mundo adulto. Enquanto outra parcela dos jovens, mesmo estando na escola já está inserida no mercado de trabalho e tem que conciliar educação e trabalho. Mas como lembram as autoras há, no Brasil, ainda muitos jovens que abandonam os estudos para

trabalhar, o que compromete seu processo de formação e também de capacitação profissional. Silva e Oliveira destacam ainda que no Brasil, as dificuldades encontradas pelos jovens para ter acesso à educação e ao mercado de trabalho acabam por aprofundar as desigualdades sociais.

Na visão de Segnini (2000), os jovens brasileiros, como de outros países, são um dos grupos sociais mais escolarizados, mas são também um dos grupos mais afetados pelo desemprego e pelo trabalho precário.

Outra análise sobre essa questão é de Saraví (2009). Segundo esse autor, a escola e o trabalho têm se tornado menos importantes para os jovens urbanos de menores rendas. Isso ocorre mesmo com a ampliação do acesso à educação entre os jovens dos países latino- americanos. Mas Saraví ressalta que o acesso ao Ensino Secundário, o atual Ensino Médio no Brasil, ainda é pequeno, visto que, em muitos países latino-americanos, menos da metade dos jovens consegue terminar o Ensino Secundário.

Outro aspecto relevante citado por Saraví é que a questão da renda familiar e as condições do lar de origem dos jovens influenciam no seu desempenho escolar e no acesso ao Ensino Secundário. Para os jovens dos estratos sociais médios e altos, a conclusão do Ensino Secundário é de grande importância e é estimulada pela família. Ao passo que, para os jovens de menor renda, a escola, especialmente a secundária, se torna menos importante porque eles esperam que essa instituição garanta melhores oportunidades de trabalho e há, entre esses jovens, um desanimo quanto à escola e as atividades relacionadas a ela. O resultado desse desânimo é o aumento da evasão escolar durante o Ensino Secundário; junto a isso há o fator de que nem sempre os pais desses jovens consideram importante a conclusão dos estudos. Além disso, Saraví assinala que pesquisas feitas na Argentina e no México indicam que há, entre os jovens pobres, a idéia de que estar na escola significa perda de tempo e que eles entendem que a escola não pode gerar nenhuma transformação em suas vidas. Além desses fatores, a baixa renda familiar é um elemento que estimula muitos jovens a abandonarem a escola e ingressar no mercado de trabalho, mesmo prematuramente, e isso terá reflexos futuros para esses jovens. Saravi indica que o sentido do trabalho para muitos jovens está relacionado com a esfera do consumo, ou seja, trabalhar significa, nesse contexto, ter acesso a bens que são considerados importantes para a juventude, como celulares, roupas da moda, tênis, computadores, aparelhos de MP3, entre outros.

Saraví afirma que o fato de muitos jovens terem amigos que permaneceram bastante tempo na escola e só encontraram empregos precários ou ficaram desempregados faz que esses

jovens acabem concluindo que a educação não tem importância para melhorar suas condições de vida e trabalho. Junto a isso, muitos jovens relacionam a escola quase que exclusivamente com sua possibilidade de gerar melhores condições de trabalho no futuro e há, ainda, a perda do interesse de seguir estudando. Sobre esses aspectos Saraví diz:

A experiência de familiares, amigos ou conhecidos é um argumento poderoso que conduz [os jovens] a questionar as virtudes da escola quando esta é valorizada unicamente por suas potencialidades econômicas (SARAVÍ, 2009, p. 55 – tradução do autor).

Para Saraví, a escola como meio de mobilidade e integração social tem perdido espaço para outras instituições e enfrenta a competição de rotas alternativas, como o trabalho e as atividades ilícitas.

No que tange à questão do trabalho, Saraví ressalta que tem sido alterada a visão dos jovens quanto ao trabalho, pois muitos não mais o relacionam uma vocação e também deixa de ser relevante a idéia de trabalho vinculado a um ofício, uma ocupação. Saraví demonstra que o objetivo de trabalhar para muitos jovens pobres está relacionado com o auxílio ao orçamento familiar e a satisfação de necessidades pessoais, como a aquisição de bens que são tipicamente marcantes para os jovens. Contudo, nem sempre o trabalho possibilita recursos para a aquisição desses bens e existem jovens que lançam mão de ocupações ilegais, ou mesmo criminosas, para ter acesso a esses bens. Isso se dá também pela importância dada por muitos jovens ao consumo e a aquisição de certos bens, bem como a pressão realizada pela propaganda e a publicidade para as pessoas consumirem.

Um aspecto interessante discutido por Saraví é que as expectativas que os jovens depositam no trabalho vão sendo diminuídas a partir do momento que encontram a precariedade no mercado de trabalho. Há aqueles jovens que com o passar dos anos não conseguem melhorar suas condições, ou seja, obter empregos melhores e vivenciam a precariedade e a frustração por sua situação. Desse modo, o que para alguns é a recordação do início da carreira profissional, para outros se converte em um ritual permanente de sua experiência no mercado de trabalho.

Saraví destaca que, em alguns países, como o México, a alternativa as dificuldades encontradas no mercado de trabalho e na escola é a imigração, sobretudo para os Estados Unidos. Porém, nem sempre essa possibilidade de migração vai resultar em melhorias nas condições de vida e trabalho.

No Brasil também existem jovens que decidem sair do país e buscar melhores condições de vida e trabalho nos países centrais, sobretudo nos Estados Unidos, Japão e alguns países da Europa Ocidental. Dados do IBGE indicam que, entre 1991 e 2000, emigraram do Brasil 1,3 milhão de jovens, o que significa que 160 mil jovens deixaram o país anualmente.