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3. GOVERNANÇA CORPORATIVA

3.2. BARREIRAS DA INFORMAÇÃO – CHINESE WALLS

fortalecimento destas práticas, com destaque para as atualizações da Lei das Sociedades por Ações, e do Código Civil, ocorridas respectivamente no ano de 2001 e 2002 e a adoção da Lei Sarbanes Oxley pelas empresas brasileiras, listadas na Bolsa de Valores do mercado norte americano.

Além disso, é importante destacar a criação do Novo Mercado e dos níveis diferenciados de governança corporativa, o mercado tradicional, Nível 1, Nível 2 e o Novo Mercado, instituídos pela Bolsa de Valores de São Paulo. Na estrutura da governança no Brasil merece destaque as responsabilidades atribuídas ao Conselho de Administração, responsável principalmente por decidir sobre conflitos existentes entre acionistas majoritários e minoritários, assim como entre gestores e acionistas (conflitos de agência), a definição de critérios e limites de forma a proporcionar a melhor relação custo e benefício (custos de agência), direitos assimétricos de voto e alinhamento geral de interesses da organização.

Diferentemente das características identificadas nos Estados Unidos e Reino Unido, no Brasil, há concentração da propriedade acionária, na média estão centradas em poder de três controladores, com predomínio de empresas familiares. Realidade esta que proporciona conflitos entre os acionistas majoritários e minoritários.

Outro fator marcante e que mudou o rumo da governança no Brasil, foi à criação do IBGC, em 1999, sociedade civil e sem fins lucrativos, que tem como foco, difundir os melhores conceitos e práticas, formação de profissionais, promover pesquisas e contribuir para perpetuação do assunto nas empresas, o instituto é responsável pelo lançamento do código das melhores práticas de governança corporativa.

3.2. BARREIRAS DA INFORMAÇÃO – CHINESE WALLS  

Assim como a muralha da China, que foi construída com o objetivo de proteger-se de países invasores, em 1929 a ideia de proteção e segregação física foi expandida para o Mercado Financeiro, com objetivo de separar e isolar fisicamente as áreas que desempenhassem atividades conflitantes, como exemplo, bancos de investimentos versus áreas responsáveis pela negociação (compra ou

venda) de títulos, bem como se buscou estabelecer fronteiras éticas dentro das instituições.

Conforme Bertin (2010, p.41-42):

O combate ao insider trading é justificada, de maneira geral, por razões econômicas e éticas. Econômicas, pois visam à eficiência na determinação dos valores dos títulos. A cotação precisa refletir apenas as informações disponíveis publicamente em determinado momento, devem estar disponíveis a todas as pessoas ao mesmo tempo, sem que ninguém que esteja por dentro da empresa possa utilizá-las em proveito próprio ou de outrem, antes de sua publicação ou divulgação. Éticas, porquanto fundadas na confiança do mercado, evitando a desigualdade.

Conforme Corsetti (2009, p.106) “a igualdade de condições de acesso às informações, mais do que a proteção de sujeitos individuais ou de grupos, visa, sobretudo, a proteção do mercado como um todo”.

A adoção de tais conceitos, e regras, englobam as boas práticas de governança corporativa, que muitas vezes não são mensuráveis, em virtude da ausência de regras e definições claras que podem induzir à subjetividade, e dificultar a análise, comparação e qualificação do nível de aderência das instituições às melhores práticas.

Dentre estas regras, cita-se como forma de regulação: Regras de prudência - essenciais para assegurar a segurança das instituições financeiras, pode-se citar como exemplo, a necessidade de capital mínimo exigido às instituições; Regras de competitividade - garantem a concorrência de forma saudável, sem a criação de cartéis ou monopólios; Regras para evitar a concentração do poder econômico - impedindo que alguns setores existentes no mercado financeiro sejam dominados por outros; Regras de proteção ao consumidor – visam coibir o abuso de poder pelo mercado sobre os consumidores; Regras de conflitos de interesse - instituições financeiras como único manuseador de recursos financeiros pertencentes ao mercado devem ser confiáveis e justas, ou seja, não deve aproveitar-se de tal poder para obter benefícios, sendo necessário, desta forma, o estabelecimento de regras para evitar tais situações.

As regras de Chinese Wall ou Barreiras da Informação são apontadas como mecanismos que minimizam riscos relacionados à existência de conflitos de interesse, cujo objetivo principal é evitar a comunicação e disseminação de informações confidenciais entre áreas ou setores existentes dentro das instituições que possam ocasionar eventuais conflitos de interesse.

O Banco Central do Brasil (Resolução 2.624/99) define o termo como:

Conjunto de procedimentos adotados por uma instituição financeira, ou conglomerado financeiro, com o objetivo de impedir o fluxo de informações privilegiadas e sigilosas para outros setores dessa instituição ou empresa do mesmo grupo, de forma a evitar situações de conflitos de interesse.

Nos Estados Unidos a FINRA, define o termo como procedimentos adotados dentro de uma empresa que visa restringir o acesso público aos departamentos e áreas que manuseiam informações confidenciais, os quais auxiliam evitar o uso indevido de informações privilegiadas.

Conforme McVea (1993) o termo Chinese Wall relaciona-se a um conjunto de procedimentos e ações que visam inibir o fluxo de informações não públicas e sensíveis, ainda conforme o autor a adoção de tais procedimentos não é voltada apenas ao bloqueio de informações confidenciais, mas também evita à disseminação de conhecimentos adquiridos pelos funcionários durante o exercício de suas funções.

McVea defende que para uma boa prática de Chinese Wall é necessário o estabelecimento de políticas e procedimentos que visam inibir o fluxo de informações sensíveis, cujo conhecimento não seja de domínio público dentro e fora da organização.

Entretanto, não há regra definindo padrões de políticas e procedimentos. Tais definições podem variar de empresa para empresa, assim como podem divergir entre os diferentes mercados e países.

Porém alguns pontos são apontados como primordiais, destacando-se os manuais de conformidade, conhecidos como compliance ou códigos de ética, que devem definir os padrões comportamentais mínimos que os funcionários das empresas devem seguir; identificação e definição das potenciais áreas de riscos e geradoras de situações conflitantes; procedimentos de gerenciamento de riscos, relacionados à gestão de riscos e ao vazamento de informações e conflitos de interesse; a definição clara das principais responsabilidades e atribuições esperadas dos funcionários; adoção de atividades de monitoramento e revisão periódica dos procedimentos estabelecidos, visando identificar o nível de aderência às regras; planos contingenciais para situações não planejadas, como a ocorrência de vazamento de informações, e que tenham como objetivo estabelecer ações em situações não esperadas, de forma a reduzir o impacto das mesmas à empresa;

programas contínuos de treinamento como forma de garantir o aprimoramento contínuo dos funcionários acerca de legislações e normas internas e externas relacionadas ao assunto; canal com órgãos reguladores e associações para garantir alinhamento das políticas internas da instituição com normas e procedimentos externos; incentivos aos clientes para divulgação de informações confidenciais e sensíveis ao mercado tempestivamente; procedimentos que esclareçam os conceitos sobre informações confidenciais, restritas e sensíveis, bem como fornecendo diretrizes de quando uma informação não deve ser divulgada dentro da organização e ao mercado; e manutenção do registro das negociações, e identificação dos responsáveis por cada uma delas.

Nos Estados Unidos a SEC estabelece como elementos básicos para adoção de adequadas práticas de Barreiras da Informação - Chinese Wall, primeiramente a definição do que são consideradas negociações de títulos e valores mobiliários com cunho proprietário (pessoal), e a necessidade de formalização e documentação das políticas e procedimentos da instituição, estabelecimento de monitoramento sobre as comunicações realizadas entre áreas internas da empresa.

Para a bolsa de valores de Nova Iorque – NYSE e para a NASD devem ser definidos elementos mínimos necessários para adequado estabelecimento de Barreiras da Informação - Chinese Wall, os quais incluem a formalização e definição de políticas e procedimentos, abrangendo medidas a ser adotada para investigação em situações de não cumprimento às definições, como exemplo, a utilização indevida de informações privilegiadas, bem como o estabelecimento de penalidades para estes casos; estabelecimento de listas de títulos e valores mobiliários restritos a negociação, e que conceituem negociações proprietárias, as quais não devem ser operadas por funcionários ou pessoas a ele relacionadas. Além disso, estas relações devem apresentar os períodos de restrição (data e horário), responsáveis pelas inclusões ou deleções (no geral, funcionários pertencentes ao banco de investimento ou área research).

Também é considerada como boa prática, adoção de listagens de monitoramento, que apresentam títulos não restritos, porém, cuja negociação deve ser previamente submetida à avaliação de área específica (Legal ou Compliance), visando evitar eventuais situações de conflito de interesse. Assim como as listas restritas, estas devem apresentar também, datas de inclusão e/ou exclusão, bem como os nomes de contato para eventuais esclarecimentos de dúvidas; adoção de

procedimentos para monitoramento da empresa, visando identificar negociações (internas e externas) de títulos incluídos nas listas restritas ou de monitoramento, realizadas por funcionários da empresa, bem como de seus familiares. Formalização e verificações acerca das declarações dos investimentos pessoais dos funcionários, assim como monitoramentos voltados para verificação e atualização das mesmas. Elaboração de relatórios e disponibilização aos órgãos competentes, contendo situações de descumprimento às regras, apresentando detalhes que possibilitem a identificação dos envolvidos, em quais situações ocorreu o descumprimento, os títulos negociados; restrições quanto à disseminação de informações confidencias entre funcionários de departamentos/áreas distintas da empresa, estabelecimento de mecanismos de monitoramento destas comunicações, bem como de procedimentos para formalização dos eventos que forem necessários; e a segregação física de áreas conflitantes com adequadas restrições de acesso, e treinamentos contínuos dos funcionários para conhecimentos das normas, bem como declaração do funcionário dando ciência sobre as mesmas (em áreas sensíveis, deve haver renovação anual destes termos).

No Reino Unido, o termo Barreiras da Informação - Chinese Wall é definido como acordo no qual estabelece se que as informações adquiridas por determinada pessoa, no curso de suas atividades devem ser mantidas com o respectivo indivíduo, não devendo ser utilizadas por outras pessoas que desempenhem outras atribuições na empresa.

 

3.3. ASPECTOS REGULAMENTARES - BRASIL, ESTADOS UNIDOS E