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F: Olha, eu confio em todos eles, eu eu costumo assim analisar bem a pessoa quando (conheço) observo, estou atento a tudo, nos mínimos detalhes, se a pessoa tive assim com

6. ANÁLISE DOS DADOS

6.2 A BASE VERBAL PERCEPTIVO-VISUAL

6.2.1 Base verbal olhar

Em nossas análises, verificamos que a base verbal é especificada no nível mesoconstrucional, precisamente no nível mesoconstrução‘, quando ocorrem dois agrupamentos pela semântica verbal olhar e ver. Os MDs de base verbal perceptivo-visual olhar, com sentido reconfigurado para ―compreensão do que se requer‖ como estratégia de regulação da interação através da manutenção do espaço de atenção, estão agrupados por semelhança em olhar(x). Esse agrupamento maior subdivide-se em conjuntos menores por semelhanças mais especificadas de suas segundas subpartes.

As construções de base verbal olhar sem preenchimento de segunda subparte estão agrupadas em olhar(ᴓ). As construções de base verbal olhar com preenchimento de sua segunda subparte composta de um advérbio com função locativa, estão agrupadas em olhar(loc). As construções de base verbal olhar com preenchimento de sua segunda subparte composta de um advérbio com função focalizadora encontram-se agrupadas em olhar(foc).

Em um nível menos abstrato, podemos reagrupar a família de mesoconstruções‘‘ por partes e subpartes:

- a mesoconstrução‘‘ olhar(ᴓ) sanciona as microconstruções olha, olhe e olhem; - a mesoconstrução‘‘ olhar(loc) sanciona as microconstruções olha aqui, olhe aqui, olha lá, olhe lá, e olha aí;

- a mesoconstrução‘‘ olhar(foc) sanciona as microconstruções olha só e olha bem.

Vejamos, no quadro a seguir, a frequência token e a frequência type das microconstruções sancionadas pela mesoconstrução‘ olhar(x).

Quadro 03: Distribuição das frequências token e type da base verbal olhar. MICROCONSTRUÇÃO TOKENS TOTAL PARCIAL de TOKENS TYPE VIRTUAL uma parte Olha 1.719 1.953 olhar(ᴓ) Olhe 227 Olhem 7 duas subpartes olha aqui 29 97 olhar(loc) olhe aqui 19 olha aí 16 olha lá 11 olhe lá 22 olha bem 4 84 olhar(foc) olha só 80 TOTAL GERAL 10 microconstruções 2.134 tokens 3 conjuntos de formas

No quadro 03, podemos observar a frequência token e a frequência type das formas de apresentação do padrão construcional da construção Vpv(x)md no nível microconstrucional e mesoconstrucional.

O levantamento da frequência token demonstra que, das microconstruções de base verbal olhar formadas por uma subparte, a que apresenta maior número de ocorrências por dados é a forma olha, com 1.719 ocorrências, seguida por olhe, com 227 ocorrências. A forma menos frequente é olhem, com apenas sete ocorrências. O maior número de ocorrências, entre as microconstruções formadas por duas subpartes, é a forma olha só, com 80 ocorrências, seguida de olha aqui, com 19 ocorrências. A forma menos frequente entre as microconstruções com duas subpartes é olha bem, com quatro ocorrências.

Com o levantamento da frequência token, é possível agrupar as formas por similaridades de composição, distinguindo os conjuntos de forma que compõem a frequência type virtual. Também é possível identificar os membros mais marginais de cada type na rede linguística funcional, o que torna possível visualizar os membros mais prototípicos de cada padrão pelo efeito de frequência e representatividade.

Em termos de frequência type, verificamos a existência de três padrões types na composição das microconstruções:

1) de base verbal de percepção visual olhar, sem o preenchimento da segunda subparte:

(21) F: É estudam junto, é tudo junto, aí né tudo homem. Aí eu digo ―puxa a Luana tem muito amigo homem.‖ Aí ela diz: ―Pai eu tenho muito segurança.‖ Mas é legal.

E: É, tá certo. E... você acha que... O que você acha deles? Você acha que eles são pessoas assim...

F: Olha, eu confio em todos eles, eu... eu costumo assim analisar bem a pessoa quando (conheço) observo, estou atento a tudo, nos mínimos detalhes, se a pessoa tive assim com um dedinho de fora, eu vou olha aquele dedinho, tá entendendo? (PEUL/RJ, séc. XX, falante 9, 1999)

O MD olha é formado por apenas uma parte – fixa -, a base verbal olhar. Seu type virtual é representado por olhar(ᴓ). Os MDs olhe e olhem compartilham esse type.

2) de base verbal perceptivo-visual olhar, com o preenchimento da segunda subparte por um elemento de base adverbial com especificidade locativa:

(22) DOC. - É. Antes de ir pro convento eles têm essa formação religiosa LOC. - Ah, seminário

DOC. - O... olha aqui, a gente estava falando de limpeza, partindo daí, aí mais ou menos uma espécie de, de vida pública da cidade, existe uma ocorrência... rotineiras, né? São comuns, normais, eu não sei... são anormais, né? Bom, assim dentro de uma grande cidade como o Rio, quais seriam as ocorrências anormais, os acidentes?

LOC. - Anormais?

DOC. - Exato. (NURC-RJ, Inq. 14, Loc.17, 1971)

O MD olha aqui é formado por duas subpartes. A primeira é fixa - a base verbal olha - e a segunda parte é preenchida, mas não fixa. Os elementos que podem preenchê-la são advérbios com funções de locativos (aqui, aí e lá). Seu type virtual é representado por olhar(loc). Os MDs olhe aqui, olha aí, olha lá e olhe lá compartilham esse type.

3) de base verbal perceptivo-visual olhar, com o preenchimento da segunda subparte por um elemento de base adverbial com especificidade de focalizador.

(23) E: ahn... eh... Fernando eu estava querendo que você me contasse... uma história que tenha acontecido com você... que pode/ essa história pode ser boa... pode ser... triste... I: uma história... alegre... olha só... foi... foi... quando eu viajei... viajei... passei uma semana... um fim de semana... e... gostei... um dia/ sempre ia pra praia... assim quando não chovia... aí um dia desses eu tirei/ foi o último dia que a gente já estava indo... indo pra viagem... vindo pra casa... e... a gente fomos em... Macaé. (D&G/RJ, Inf. 46, oral, NR, 1993)

O MD olha só, no exemplo (23), é formado por duas subpartes. A primeira parte é fixa - a base verbal olha - e a segunda é preenchida, mas não fixa. Os elementos que podem preenchê-la são advérbios com funções focalizadoras (só e bem). Seu type virtual é representado por olhar(foc). Compartilha esse type, o MD olha bem.

O padrão mais produtivo, dentro deste levantamento de frequência type, é o de base verbal de percepção visual olhar, com o preenchimento da segunda subparte por um elemento de base adverbial locativa, olhar(loc). Em consequência, constitui o conjunto de formas com mais microconstruções à disposição na memória dos falantes. Do padrão olhar(loc), captamos cinco microconstruções individuais.

O quadro 03 ratifica o cumprimento de um dos nossos objetivos específicos, o de quantificar a frequência de uso (token) e a frequência das formas (type) do padrão construcional Vpv(x)md.

Ao compararmos o quadro 02, de distribuição de esquematicidade, com o quadro 03, de aferições de frequência, fazemos nossa primeira constatação: a frequência type reflete o nível de esquematicidade das mesoconstruções‘‘. Tal constatação ratifica a organização da hierarquização do padrão construcional proposto e atesta que o padrão construcional é motivado pelo uso. Assim, cumprimos parte de nosso objetivo geral - identificar e levantar o padrão construcional de Vpv(x)md. Cumprimos, ainda, um dos nossos objetivos específicos, o de hierarquizar os níveis de esquematicidade do padrão construcional de Vpv(x)md.

As análises seguintes tratam de cada mesoconstrução‘‘ e seu conjunto de microconstruções. Nossa escolha metodológica - discorrer sobre as funcionalidades de cada microconstrução - parte da necessidade de demonstrar concordância com Traugott e Trousdale (2013), porquanto as autoras consideram cada microconstrução um type individual. Para isso, nos apoiamos no princípio da não sinonímia (GOLDBERG, 1995, p. 67-68), segundo o qual as distinções pragmáticas diferenciam as construções. Após o término das análises das microconstruções, tecemos algumas considerações gerais sobre a mesoconstrução‘ de base verbal olhar.

6.2.1.1 Mesoconstrução‘‘ olhar(ᴓ)

A mesoconstrução‘‘ olhar(ᴓ) sanciona as microconstruções olha, olhe e olhem. Dentre todos os padrões construcionais de base verbal perceptivo-visual olhar(x), os que compõem o padrão olhar(ᴓ) são as formas mais diretas e leves de intervenção entre interlocutores, as mais

frequentes do padrão. O conjunto de formas olha, olhe e olhem apresenta menor grau de complexidade estrutural e cognitiva, configurando-se as mais próximas do padrão neutro, a fala. Destacamos que são formas compostas por apenas uma parte fixa e um slot zero, para identificar a ausência de subparte. Com essas especificações, categorizamos a mesoconstrução‘‘ olhar(ᴓ) como um type não marcado do padrão construcional olhar(x).

Vejamos cada microconstrução sancionada pelo padrão olhar(ᴓ) com especificidades dos tokens em seus contextos de uso:

- microconstrução olha

(24) DOC. – Hoje muito se fala na multiplicação do dinheiro. Qual o seu modo de dizer sobre esse negócio da multiplicação do dinheiro? Qual a melhor maneira

LOC. – Sim, eu sei. Olha, por exemplo, eu entrei prum fundo, sabe, de investimento. Eu achei muito interessante porque eu fiquei pensando: puxa, pagar oitenta e poucos cruzeiros por mês pra depois daqui a cinco anos ter não sei quanto milhões, como eles disseram, não é? E como é um, é uma companhia assim de bastante credenciada, eu entrei. (NURC/RJ, DID, inq. 47, Loc. 56, 1972)

No exemplo (24), o constructo olha é um token extraído dos 1.719 dados levantados na instância de uso, virtualmente, representado pela microconstrução olha.

Em (24), o contexto remete à interação do tipo entrevista, em que os sentidos negociados são direcionados para o cumprimento textual-discursivo do par Pergunta-Resposta (P-R). Ao ser questionado, o falante (locutor) afirma saber a resposta com a declaração ‗Sim, eu sei‘. O falante negocia sentidos com intenção comunicativa de se legitimar na interação como atribuidor de significado.

Nesse início de resposta, o uso do advérbio afirmativo (sim), a indicação da pessoa do discurso (eu) e o uso do tempo verbal no indicativo (sei) com verbo de cognição constituem configurações que apoiam o sentido assertivo negociado no contexto, sentido esse67 negociado no contexto, garantindo legitimidade à resposta seguinte a ser dada pelo falante. Para reforçar o sentido assertivo de afirmação, a resposta ao par P-R é constituída como uma narrativa introduzida pela expressão ‗por exemplo‘, como uma expressão que atesta , legitima o falante e a informação.

O MD olha confere ao contexto reforço na ideia de clareza, positividade e asserção, levando o ouvinte a acreditar que realmente o falante tem conhecimento da resposta. Dessa

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O termo assertivo, neste trabalho, é utilizado referente a asserção, afirmação, declaração de algo positivo ou negativo.

maneira, o MD desempenha sua subfunção de direcionar a interação. Nessa perspectiva, o MD olha apoia, no contexto, elementos que inferem subjetividade centrada no falante, uma vez que sua intenção discursiva está voltada para seus próprios atos discursivos, sua proposição de positividade diante do par P-R, enquanto negociação de contexto assertivo.

A função discursivo-pragmática apoiada pelo MD olha, nesse contexto de asserção, diz respeito à intenção do falante em declarar informações com conteúdo afirmativo ou positivo, tornando aceitável sua declaração. Nesse arranjo discursivo68, há possibilidade de os interlocutores compartilharem a atribuição de sentidos, uma vez que a negociação de sentidos é menos impositiva por parte do falante. Sendo assim, a função discursivo-pragmática desempenhada pelo MD olha é marcar requisição de atenção ou um chamamento em contexto assertivo.

Constatamos, pela análise dos contextos de uso dos 1.719 tokens levantados, que em 1.192 contextos de uso o MD olha desempenhando a função discursivo-pragmática de marcar requisição de atenção, apoiando negociações de sentidos assertivos (afirmativos).

Vejamos outro contexto de uso do MD olha:

(25) E: e a volta?

I: ... quando fomos teve a brincadeira do piu-piu ... e a brin ... e outra brincadeira aquele também: amigo secreto... é bom... né não? Amigo secreto... aí eu nunca pensava que eu ia tirar o guia... porque ele disse que podia chamar de Luciano ou Sprite... aquele refrigerante... aí... ele disse...olha... ou vocês me chamam de Luciano ou de Sprite né? ... eu sou mais Luciano... nesse dia a gente brincou de piu-piu...aí a gente tinha que dizer quantos piu-piu tinha... aí os homens dizia quantos piu-piu tinha... piu-piu era a letra do nome. (D&G/Natal, Informante 2, 1993)

No exemplo (25), o falante narra momentos em que participou de uma excursão. No meio da narrativa, o falante (I) retrata, em discurso reportado, a fala do guia: uma sequência injuntiva - ‗ou vocês me chamam de Luciano ou de Sprite né?‘. Essa sequência textual expressa um pedido, um direcionamento à ação. O recrutamento do MD olha abre um espaço de atenção na interação para introduzir a sequência injuntiva, cumprindo a subfunção de direcionar a interação.

Nos contextos de uso dos 1.719 tokens levantados do MD olha, em apenas 185 constatamos o uso do MD olha como apoio na negociação de sentidos injuntivos. Consideramos como sentido injuntivo os sentidos expressos tanto por sequências injuntivas quanto pelo chamamento da atenção para tomada de atitude (ação). A função discursivo-

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pragmática apoiada pelo MD olha, em contexto de injunção, diz respeito à intenção do falante em conduzir o ouvinte a realizar ações ou induzi-lo à tomada de atitude futura.

Na função de regular a interação através da manipulação do espaço de atenção, o MD olha é, basicamente, um marcador de requisição direta de atenção, cujo propósito comunicativo no chamamento do ouvinte envolve conferir legitimidade à informação (ou ao falante) e/ou induzir o ouvinte à tomada de atitude.

Conforme Traugott e Trousdale (2013), podemos descrever o pareamento forma- sentido da construção olha como:

[[olhaverboperceptivo-visual]↔[marcar requisição de atenção]]

- microconstrução olhe

(26) Loc. – Uma locomotiva, uma locomotiva diesel, por exemplo, é uma caixa de sapato, certo? Tem uma cabine atrás, na frente tem o motor diesel, que fica escondido, que a gente não vê, debaixo da chapa, e na frente tem o quê? Tem o farol, dois faróis, não deve ter aquele, aquele troço para salvar a gente, porque acho que não se usa mais em locomotiva aquilo.

Doc. – Como é que se chama aquilo?

Loc. – Olhe, não sei o nome daquilo não, rapaz. Eu acho que já su... é, guar... não sei se é guarda-vida o nome daquele negócio.

Doc. – Como é, o que é exatamente? (NURC/RJ, DID, inq.08, loc.11, 1971)

No exemplo (26), o constructo olhe é um token selecionado dentre um total de 227 dados extraído da instância de uso do português brasileiro do século XX, virtualmente representado pela microconstrução olhe.

No exemplo (26), assim como no (24), o contexto remete à interação do tipo entrevista, em que os sentidos negociados são direcionados para o cumprimento textual- discursivo do par P-R.

O falante (Locutor), em sequências descritivas, discorre sobre o funcionamento da locomotiva. Depois de descrever o farol, cita ‗aquele troço para salvar a gente‘ e justifica ‗porque acho que não se usa mais em locomotiva aquilo‘. Por não entender a que o falante se refere, o documentador articula uma pergunta: ‗Como é que se chama aquilo?‘. Ao iniciar sua resposta com o MD olhe, o falante (Loc) introduz uma declaração contrária à esperada pelo documentador, usando, para tal, uma dupla negação ‗não sei o nome daquilo não‘. Dessa

maneira, no contexto, há uma quebra na expectativa da resposta. Para negociar sentidos que comprovem que ele realmente não sabe a resposta, o nome ‗daquele troço‘, o falante (Loc) recruta o MD olhe como apoio nessa estratégia de confirmação da negação. Há um efeito de asseveração na negociação dos sentidos. No final de sua negativa, o falante evoca o interlocutor ‗rapaz‘. O uso do vocativo ‗rapaz‘ traz ao contexto proximidade entre os interlocutores, suavizando a quebra da expectativa. Com esse arranjo discursivo, o falante garante o teor de credibilidade à informação e regula o sentido mantendo uma aproximação impositiva, mas não repreensiva, com o ouvinte.

Dessa maneira, o MD olhe torna-se apoio também para uma implicatura contextual interpretada pelo ouvinte, como um enunciado de pouca margem à contestação de significados, visto que o ouvinte não questiona por que o falante não sabe. Alegamos que esse direcionamento contextual é marcado pela reconfiguração da expressão de ordem/pedido da base verbal olhar; ancorado na cristalização da forma em 3ª pessoa. Sendo assim, no contexto do exemplo (26), verificamos o desempenho da função discursivo-pragmática de apoiar quebra de expectativa da resposta esperada.

Vejamos um exemplo com o uso do MD olhe em que o contexto não negocia sentidos de quebra de expectativa:

(27) Loc. – Eu viajava naquele que eles chamavam DC8, né? Tem aqueles bancos laterais. Não é propriamente avião para transporte de passageiros. È avião para transporte de tropa, vamos dizer, os bancos são laterais. E nós como alunos íamos nessas condições, não é? Agora, ele, ele...

Doc. – O senhor chegou a conhecer por dentro do avião?

Loc. – Olhe, tem a parte onde fica o piloto, depois tem aquela nave central toda e aqueles bancos ficavam todos laterais ao longo da nave. Não é, não é a mesma coisa, a gente vê a descrição aí do, em filmes, em filmes a gente vê a coisa completamente diferente, não é? Porque a gente vê os bancos colocados feito ônibus, às vezes até em situação maior porque tem uma, tem, tem ônibus, tem ônibus, tem, tem, vamos dizer, duas carreiras mas a gente vê nos aviões uma porção delas, nesses aviões grandes, não só de filmes, não é?

(NURC, RJ, DID, Inq. 112, Loc. 128, 1972)

No exemplo (27), o uso do MD olhe não apoia contexto de negociação de sentido de quebra de expectativa; ao contrário, a expectativa do documentador ao perguntar se o locutor ‗conhece por dentro o avião‘ foi satisfeita. O falante recruta o MD olhe para conferir ao contexto sentido de credibilidade de sua informação, imprimindo veracidade à informação.

Dentre os 227 contextos de uso analisados, apenas 32 mostram-se favoráveis à função discursivo-pragmática de quebra de expectativa. Em contrapartida, em 171 contextos de uso observamos a função discursivo-pragmática de reforçar veracidade, como no exemplo (27).

Na função de regular a interação através da manipulação do espaço de atenção, o MD olhe é, basicamente, um marcador de imposição da atenção requerida.

Conforme Traugott e Trousdale (2013), podemos representar o pareamento forma- sentido da construção olhe como:

[[olheverboperceptivo-visual] ↔ [marcar impositividade na requisição de atenção]]

- microconstrução olhem

(28) O charuto estava pelo meio e era aspirado com o vigor de uma bomba poderosa. A cabando de escrever, leu o artigo vagarosamente, e ergueu-se e veio ao umbral do tabique:

- Estás zangado com o Ricardo, Adelermo? - Não, dr., mas...

- Vocês são assomados... É da idade. Se não se atravessar certas coisas, não se vai mesmo. Olhem: eu, logo ao sair da Academia, fui trabalhar com meu pai, no Diário Fluminense. Uma noite, escrevi um artigo e julgava-o sofrível. Pois bem: o velho era casmurro veio até a sala da redação e rasgou-o todinho na minha cara e à vista de uma porção de gente...

Parou de falar, tirou uma fumaça e depois de ter franzido a fisionomia para manter o monóculo no lugar, perguntou vitoriosamente:

- E agora, não estou aqui? (CP, séc. XX, Fic, Barreto, Recordação do Escrivão Isaías

Caminha)

No exemplo (28), o constructo olhem é um token selecionado de um total de sete dados extraídos da instância de uso, virtualmente representado pela microconstrução olhem. A intenção comunicativa do falante é transmitir uma lição aos ouvintes através de sua experiência de vida, para que, assim, os ouvintes modifiquem seu comportamento. Há, no contexto, uma tentativa de convencimento persuasivo dos ouvintes. Nessa negociação persuasiva de sentidos, estratégias textual-interativas atuam para, juntamente com o MD olhem, alcançar intenções comunicativas. Como estratégias textual-interativas, podemos apontar a caracterização dos ouvintes ‗vocês são assomados‘, logo após, uma justificativa dessa qualificação - ‗é da idade‘ - e a sinalização de um julgamento pessoal do falante: ‗Se não se atravessar certas coisas, não se vai mesmo‘. Todas essas porções textuais e seus

sentidos, como um todo, são utilizados para valorizar o restante do contexto que se segue. Após o recrutamento do MD olhem, o falante inicia uma narrativa em que conta sua experiência de vida.

Na análise dos dados, observamos que, das subfunções desempenhadas pela utilização do MD olhem, a que mais se destaca é a estruturação da articulação dos segmentos do discurso. Em (28), Há uma quebra da sequência descritiva para introduzir uma sequência narrativa. Sendo assim, o recrutamento do MD olhem dá suporte à articulação dessa transição entre sequências textuais. E como a intenção do falante é levar, persuadir, conduzir o falante com argumentos que sustentem sua proposição anterior - no caso de (28), sustentar que os jovens ‗são assomados por falta de experiência‘-, essa intenção nos permite apontar que a função discursivo-pragmática, no contexto de uso, é apoiar condução persuasiva do ouvinte.

Verificamos que o MD olhem conserva uma restrição da forma verbal, a flexão de 3ª pessoa do plural. Não podemos deixar de admitir que, em cinco dos sete contextos levantados, notamos o direcionamento da chamada de atenção para mais de um ouvinte. Postulamos que a restrição da flexão menos cristalizada morfossintaticamente demonstra que o MD olhem constitui uma forma mais recente no padrão construcional, um MD em caminho de convencionalização. Sua trajetória de abstração parece indicar sentidos de revisão de argumentos, de evidenciar impressões pessoais e vagacidade no processamento mental.

Na função de regular a interação através da manipulação do espaço de atenção, o MD olhem é, basicamente, um marcador de atenção persuasivo para apoiar proposições argumentativas.

Conforme Traugott e Trousdale (2013), podemos descrever o pareamento forma- sentido da construção olhem como:

[[olhemverboperceptivo-visual]↔[marcar apropriação do espaço de atenção para efeito persuasivo de sustentação de argumento]]

As microconstruções olha, olhe e olhem, agrupadas na mesoconstrução‘‘ olhar(ᴓ), têm