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F: Olha, eu confio em todos eles, eu eu costumo assim analisar bem a pessoa quando (conheço) observo, estou atento a tudo, nos mínimos detalhes, se a pessoa tive assim com

4.3.5 Metáfora e metonímia

O cerne da inferência sugerida não está nas implicaturas inferidas pelo falante, mas nas inferências que o ouvinte lhe atribui. A ação de replicar algo já decodificado contribui mais para a convencionalização daquele significado do que a inovação do ato linguístico. Dessa maneira, significados podem ser inferidos e pareamentos podem ter suas propriedades realinhadas. Subjetividade e intersubjetividade dizem respeito ao nível pragmático-discursivo da organização de inferências de significados. No nível cognitivo, essa organização de inferências de significados diz respeito à metáfora e à metonímia.

Metáfora é ―essencialmente um mecanismo que envolve a conceptualização de um domínio de experiência em termos de outro‖ (FERRARI, 2014, p. 92). Metonímia é ―o deslocamento de significado, no qual uma palavra normalmente utilizada para designar determinada entidade passa a determinar uma entidade contígua‖ (FERRARI, 2014, p. 102). Enquanto significados metafóricos se relacionam em diferentes domínios, os significados metonímicos se projetam no mesmo domínio-fonte.

No tratamento de nosso objeto de pesquisa, a construção Vpv(x)md, quanto à questão da metáfora, nos interessa traçar relações entre entidades significativas de domínio concreto e entidades significativas de domínio abstrato, principalmente decorrentes de implicaturas

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―This expressions of subjectivity and intersubjectivity are expressions the prime semantic or pragmatic meaning of wich is to index speaker atitude or viewpoint (subjectivity) and speaker‘s attention to addressee self- image (intersubjectivity).‖ (TRAUGOTT, 2010, p. 2). [Tradução nossa].

sugeridas e motivadas pelos verbos perceptivo-visuais acompanhados por dêiticos espaciais, com especializações funcionais de locativos e focalizadores.

Quanto à questão da metonímia, nosso interesse é descrever a operacionalidade das entidades significativas de domínio abstrato, em nível construcional, no que diz respeito à significação parte-todo da construção. O que demonstramos nas sugestões de pareamentos ao final de cada microconstrução levantada. Nossas análises visam à funcionalidade dos dados levantados em contexto de uso, com apoio nas palavras de Dasher e Traugott (2005, p. 79):

Esforços são feitos para estabelecer diferenças funcionais entre metáfora e metonímia/associação. Desta perspectiva, metáfora envolve similaridade, mapeamento de um domínio para outro, no que é essencialmente um modo conceptual de analogia, escolha paradigmática e iconicidade. Em contraste, metonímia envolve contiguidade, relações sintagmáticas e indexicalidade, e transferência dentro do mesmo domínio57.

Estudos sobre metáforas motivadas por experiências corporificadas mostram que verbos de percepção visual metaforizam-se em verbos de compreensão. Desse modo, Dasher e Traugott (2005, p. 77), apoiados em Sweetser (1990), descrevem o cline ―percepção visual > percepção mental‖ como a passagem do domínio perceptivo-sensorial para o domínio psíquico-mental. O primeiro é tomado como concreto, visto que reflete uma ação de experienciação humana com o mundo externo. O segundo é tomado como abstrato, porquanto é um resultado de conceptualização.

Com esse embasamento podemos identificar que os marcadores discursivos de base verbal perceptivo-visual ganham sentidos mais abstratos ao assumirem a nossa classe gramatical. Os sentidos são reconfigurados. Como explica Votre (2004, p.41):

[...] ver deixou de ser apenas um veículo de percepção corporal e passou a concorrer com processo de percepção mental, significando aproximadamente: ―notar‖. ―perceber com a mente‖, ―ter visão‖, ―compreender‖, [...].

Alegamos que esta rota de metaforização continua com a passagem para a nova classe.

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―Attempts were made to establish functional diferences between metaphor and metonymy/association. From this perspective, metaphor involves similarity, mapping of one domain onto another, in what is essentially a conceptual mode of analogy, paradigmatic choice, and iconicity. By contrast, metonymy involves contiguity, syntagmatic relations, and indexicality, and shifts within the same domain [...]‖ (DASHER e TRAUGOTT, 2005, p. 79). [Tradução nossa].

4.3.6 Prototipicidade

A prototipicidade e a noção de protótipo permitem uma análise gradual e gradiente dos dados linguísticos, porquanto não encerra em um único representante toda a carga conceitual de representação. Neves (2013) considera o membro prototípico aquele que ―ostenta o maior número de propriedades que bem caracterizam uma categoria, o protótipo determina a classificação dos demais membros dessa categoria‖ (NEVES, 2013, p.22). A prototipicidade atua como um efeito tendencioso do processo de domínio geral da categorização. Segundo Bybee (2010), categorização ―é a similaridade ou compatibilidade de identidade que ocorre quando palavras e sintagmas, bem como suas partes constituintes, são reconhecidos e associados a representações estocadas‖ (BYBEE, 2010, p.7)58

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Para haver prototipicidade é preciso um feixe (grupo) combinatório de características de uma categoria. Isso significa que a categorização não é uma ação cognitiva de uma única e determinada atribuição. Em nossa abordagem construcional, a prototipicidade é útil para justificar a manutenção das características dos membros mais representativos e para descrever outros membros mais afastados do núcleo central da rede. ―O protótipo pode ser caracterizado, grosso modo, como o exemplar-padrão de uma categoria‖ (BATORÉO, 2000, p.136).

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―By categorization I mean the similarity or identify matching that occurs when words and phrases and their component parts are recognized and matched to stored representations.‖ (BYBEE, 2010, p. 7). [Tradução nossa].

5. METODOLOGIA

Nossa proposta metodológica requer a utilização de estratégias de análise e tratamento de dados nos moldes da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU). Essa proposta de análise segue a tendência de alinhar levantamentos quantitativos com embasamentos qualitativos, utilizando dados os mais próximos possíveis da língua em uso. Justificamos a metodologia escolhida considerando ―haver uma relação estreita entre a estrutura das línguas e o uso que os falantes fazem delas nos contextos reais de comunicação‖ (MARTELOTTA, 2011, p. 55-56).

Optamos por trabalhar com os dois verbos perceptivo-visuais olhar e ver, devido à possibilidade de comparação da atuação e recrutamento das formas hierarquizadas no enquadre do padrão construcional, visto que postulamos serem tais formas organizadas, primeiramente, por motivação do uso linguístico.

Para apresentar a metodologia empregada, dividimos este capítulo em duas seções. Na seção 5.1, discorremos sobre a constituição e caracterização dos corpora que formam o corpus. Na seção 5.2, descrevemos os procedimentos adotados na análise e justificamos alguns procedimentos metodológicos empregados.