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Embora como vimos haja bastante consenso entre os investigadores quanto às variáveis que compõem o estatuto socio-económico, o debate continua quanto à forma

ideal de o definir e de o avaliar.

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Contudo, esta variável desempenhou e continua a

14 Uma questão fundamental na avaliação do estatuto socio-económico (ESE) é saber se se trata de uma

variável discreta ou contínua. Enquanto que o termo classe social implica categorias discretas dentro das quais os indivíduos se assemelham em termos do nível de estudos, estatuto profissional, pertença religiosa, etc., o ESE está conotado com uma variável de tipo contínuo, avaliada através de índices compósitos. Na sua maioria estes índices incluem uma avaliação da profissão, do nível educacional e/ou do rendimento familiar, conforme os casos. Exemplos deste tipo de índices são o Hollingshead (Hollingshead, 1975) e o índice de Green (Green, 1970), ambos referidos por Hoff-Ginsberg & Tardif 1995). No entanto, o ESE tem também sido associado ao número de anos de estudo ou mesmo ao

desempenhar um papel relevante na investigação psicológica, particularmente no domínio das práticas familiares e de socialização da criança. Também no domínio da qualidade do ambiente familiar, as relações com o estatuto socio-económico e variáveis com ele associadas têm sido objecto de um constante interesse.

O estatuto socio-económico aparece consistentemente associado a determinados estilos educativos familiares. Os pais de estatuto socio-económico baixo são mais autoritários e susceptíveis de castigar os filhos que os pais de famílias com estatuto mais elevado (Kelley, Sanchez-Hucies & Walker, 1993), têm menos tendência para demonstrar afecto, e colocam mais ênfase em valores como a obediência, o asseio e o evitar problemas (Palácios & Moreno, 1994). A opinião de Hoff-Ginsberg e Tardif (1995), é idêntica - os pais de estatuto socio-económico mais elevado apresentam um estilo predominantemente democrático, enquanto que os de estatuto inferior são mais autoritários. As autoras explicam estas diferenças pela interferência de factores externos e internos. As características encontradas nos estilos educativos de pais com estatuto socio-económico menos elevado - mais restritivos e enfatizando a obediência - são consistentes com a importância que atribuem à conformidade, o que, por sua vez, se explica pelas condições em que vivem. É possível que o facto de estes pais imporem mais restrições aos filhos e serem bastante rígidos na imposição dessas regras, tenha justamente um caracter adaptativo, na medida em que o objectivo último é a protecção das crianças face a ambientes obviamente menos seguros (Kelley et ai., 1993). E também interessante o facto de as diferenças associadas ao estatuto socio-económico serem independentes de factores como a raça ou a pobreza (Parke & Buriel, 1998).

As diferenças são também evidentes nos estilos de interacção, com tendência por parte de mães de baixo estatuto socio-económico para serem mais controladoras, restritivas e discordantes, comparativamente com mães de nível elevado. Hoff-Ginsberg

rendimento familiar, quer directamente quer convertendo os números em escalas que podem ir de 3 até 7 pontos, representando os vários níveis de educação ou rendimento. No opinião de Hoff-Ginsberg & Tardif (1995), cada uma destas opções metodológicas apresenta vantagens e levanta problemas específicos.

Capítulo 3 - Qualidade do ambiente familiar e desenvolvimento infantil

e Tardif (1995) analisaram um número considerável de estudos onde se procedeu à comparação das interacções pais-crianças em grupos de nível socio-económico diferente, concluindo que as diferenças encontradas entre os dois grupos, ao nível das interacções, são mais evidentes em medidas de linguagem do que em avaliações de tipo não-verbal, com vantagens óbvias para as crianças dos grupo socio-economicamente mais favorecido. Nos domínios verbal e linguístico, as diferenças beneficiavam largamente as crianças de grupos com estatuto socio-económico mais elevado: as mães de grupos mais favorecidos falavam mais, forneciam mais nomes de objectos, aguentavam mais tempo uma conversa, respondiam de forma mais contingente às intervenções dos filhos e eram mais capazes de provocar respostas por parte dos filhos (por ex. em situação de leitura de histórias) do que as mães de grupos menos favorecidos.

Palácios (1988), após revisão da literatura, conclui pela influência que a classe social tem na determinação das ideias parentais, embora considere que outras variáveis estão implicados e actuem em simultâneo, como é o caso de variáveis da configuração familiar e o sexo do progenitor.

Existe um corpo substancial de investigação que permite pois concluir por uma relação consistente entre o estatuto socio-económico e as ideias e os comportamentos parentais. Outros estudos revistos por Hoff-Ginsberg e Tardif (1995) apontam para as relações entre as ideias e os comportamentos dos pais, em diferentes grupos sociais, embora as variações observadas nos comportamentos parentais não sejam completamente explicadas pelas ideias. Contudo, verifícou-se que a variação intra- classe ao nível dos valores, era um melhor preditor da variação intra-classe do tipo de práticas parentais, nos grupos de estatuto socio-económico mais elevado. Em grupos com diferente estatuto socio-económico, eram também diferentes as relações entre as ideias e os comportamentos parentais, verificando-se igualmente uma associação mais consistente entre as atitudes e as práticas educacionais nos grupos de estatuto socio- económico mais elevado.

Assim, se por um lado se tentam encontrar diferenças nos comportamentos dos pais de nível socio-económico diferente, por outro, é importante perceber de onde vêm tais diferenças. Uma grande quantidade de tempo e esforço tem sido dispensada no estudo das diferenças nos padrões de parentalidade em diferentes grupos sociais, sem que no entanto esforço idêntico tenha sido dispensado a perceber os reais processos de influência, procurando por exemplo as variáveis mediadoras. Como afirma Elder (1981, cit. por Belsky et ai, 1984) "...não podemos em última análise compreender a relação

entre a classe social e a parentalidade enquanto a variável estrutural não for conceptualizada como um conjunto de processos psicológicos ou mecanismos que causam o fenómeno e o explicam".

Sabemos bem que outras variáveis desempenham um papel mediador e mais directo, sendo responsáveis pelas diferenças encontradas em função da classe social. Variáveis de tipo cognitivo como as ideias, as crenças e os valores desempenham claramente um papel a este nível como vimos no exposto em cima, e o mesmo podemos afirmar em relação a factores de tipo ecológico como é o caso da vizinhança ou do bairro onde a família vive. É importante atender a outras variáveis normalmente associadas à classe social e que poderão estar implicadas, como é o caso da densidade familiar e do número de irmãos. É bem mais provável que um estilo autoritário apareça associado a situações caracterizadas por espaços exíguos e número elevado de filhos, o que é também mais característico das classes menos desfavorecidas.

4.2. Estudos sobre a relação estatuto socio-económico e qualidade do ambiente familiar

A relação entre a qualidade do ambiente familiar e o nível socio-económico é uma questão bastante debatida, não só pelos autores da HOME, como por muitos outros

Capítulo 3 - Qualidade do ambiente familiar e desenvolvimento infantil

investigadores que utilizaram o instrumento e se interrogaram acerca da sua validade e