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parentalidade (Belsky et ai., 1984) Adicionalmente, diferentes contextos definem de

2.1.3. Características do meio: fontes de apoio e de stresse

Além das características dos pais e das características das crianças, as competências de parentalidade estão também dependentes do contexto onde ambas interagem. Para complicar ainda mais um quadro já de si bastante complexo, alguns factores de ordem ambiental, como o tipo de suporte social que os pais recebem, ou aspectos da configuração familiar, e factores do ecossistema como o tipo de emprego dos pais, podem mediar (potencializando ou pelo contrário relativizando) a influência de qualquer um dos determinantes referidos.

O facto de o sistema familiar estar envolvido por anéis de sistemas sociais mais abrangentes, como advogam as perspectivas ecológicas e sistémicas que tomamos como referência, reforça a necessidade de tomar em linha de conta a influência desses sistemas, na determinação das estratégias de socialização, o que equivale a contextualizar as relações pais-criança e, vice-versa, a influência recíproca da família nos sistemas envolventes, já que, também aqui, lidamos com forças bi-direccionais.

De acordo com Parke e Buriel (1998), os sistemas sociais de suporte podem ser menos ou mais estruturados, sendo exemplo dos primeiros os familiares, os amigos ou os vizinhos, e dos segundos, uma organização de tipo comunitário. Qualquer um destes sistemas de suporte poder fornecer apoio à família, quer através de ajuda financeira ou instrumental, quer através de apoio emocional, quer ainda dando orientações ou informações. Para além deste apoio directo, podem existir formas indirectas de influência.

Belsky e colaboradores (1984) consideram quatro fontes exteriores de apoio ou de stresse, que podem promover ou prejudicar as competências parentais: a relação do casal, as redes sociais informais, o tipo de emprego e os recursos sociais formais (jardim de infância, por exemplo).

As relações do casal são, como tivemos ocasião de referir no capítulo 2 deste trabalho, um factor de natureza informal extremamente importante na mediação das relações entre as competências parentais e o desenvolvimento das crianças. A meta- análise de Erel e Burman (1995) em sessenta e oito estudos efectuados neste domínio conclui pela existência de uma ligação suficientemente robusta entre as relações positivas no casal e a qualidade da parentalidade.

A ajuda recebida de redes sociais informais , como vizinhos, amigos ou parentes, bem como o suporte recebido a nível formal, como por exemplo o caso de centros comunitários ou paroquiais, desempenham uma importante função preventiva e remediativa, afectando também a qualidade da parentalidade. O sistema de suporte formal pode assumir uma forma indirecta, nomeadamente através de programas de intervenção. É sabido que intervenções formais no desenvolvimento infantil como acontece em alguns programas de intervenção pré-escolar, podem desempenhar um papel relevante na promoção das competências parentais. De facto, muitos programas tendem actualmente para intervenções do tipo bi-generacional, contemplando duas vertentes, uma direccionada para as crianças, e uma outra vocacionada para os pais. O objectivo desta última é justamente promover os comportamentos de parentalidade, que a investigação demonstrou serem extremamente maleáveis, com as consequências positivas evidentes no desenvolvimento infantil.

Quanto ao emprego materno, Belsky e colaboradores (1984) consideram existir uma relação entre a satisfação no emprego e a qualidade da parentalidade, referindo-se a uma série de estudos que revelam diferenças na qualidade da parentalidade entre mães

Capítulo 3 - Qualidade do ambiente familiar e desenvolvimento infantil

empregadas e não empregadas, diferenças essas que se reflectem nas suas crianças. Se bem que o tipo de emprego dos pais constitui um factor determinante das práticas de parentalidade, na medida em que é um componente do exossistema da criança, vários autores, entre os quais destacamos Gottfried, Gottfried e Bathurst (1995), advertem para a necessidade de tomar em linha de conta outros factores contextuais, que poderão estar implicados na relação entre emprego dos progenitores e parentalidade, sendo bastante cuidadosos nas conclusões tiradas de um estudo longitudinal acerca dos efeitos do emprego materno e paterno na parentalidade. Embora alguns aspectos do ambiente proximal estivessem relacionados com o emprego materno - mães empregadas tinham aspirações mais elevadas para os filhos, mães e crianças viam menos televisão, fomentavam autonomia nos filhos - não se encontraram diferenças ao nível da parentalidade, estimulação e interacções pais-criança. Os autores consideraram o ambiente proximal como o aspecto essencial para o desenvolvimento da criança e só na medida em que este for afectado pela situação de emprego da mãe, é que surgirão efeitos na criança. O estudo de Gottfried e colaboradores revelou ainda que, nos casos em que o estatuto socio-económico e a cultura eram tomados em conta, as crianças de nível mais baixo eram também as mais beneficiadas em termos desenvolvimentais, pelo facto de a mãe não trabalhar, apesar de os mecanismos implicados nesta relação não estarem completamente esclarecidos.

A relação entre o emprego materno e o desenvolvimento infantil não é directa nem linear, havendo factores que medeiam e moderam o seu efeito. O facto de a mãe estar ou não satisfeita com o trabalho, a percepção de conflito entre o trabalho e a família, a possibilidade de optar por cuidados alternativos adequados para os filhos, são exemplo de variáveis mediadoras da relação presumida entre trabalho e parentalidade. O stresse relacionado com a profissão parece ter também um efeito, essencialmente ao nível emocional (Menaghan & Parcel, 1991), verificando-se que as condições negativas associadas a trabalhos mais difíceis - mais rotineiros, mais pesados e submetidos a forte supervisão - poderão ter consequências psicológicas extremamente negativas, contribuindo para diminuir a auto-estima e o auto-controle dos pais e comprometendo

assim a qualidade do ambiente proporcionado aos filhos. Os efeitos deste factor serão tanto mais negativos se aliados a salários baixos e a horários de trabalho mais extensos.

Ainda relativamente ao emprego materno e paterno, refira-se que o estatuto profissional do pai e da mãe é um factor que aparenta estar fortemente associado com o desenvolvimento positivo dos filhos, inteligência, rendimento escolar motivação académica intrínseca e maturidade social. Parece haver uma relação directa entre o estatuto profissional e as aspirações dos pais para os filhos: quanto mais elevado o estatuto profissional, maior a autonomia das crianças e a variedade de experiências fora de casa, e funcionamento familiar positivo. Neste sentido o emprego materno poderá potenciar o efeito de determinadas características maternas - a complexidade da profissão influencia a capacidade das mães para proporcionarem ambientes familiares cognitivamente mais estimulantes, e mais adequados do ponto de vista afectivo e físico (Luster & Okagaki, 1993).

O tipo de profissão desempenhada pela mãe, e particularmente o seu grau de complexidade, parecem constituir um factor relevante do microssistema familiar, com efeitos ao nível do funcionamento psicológico dos pais, ao nível dos filhos e no próprio ambiente familiar. As experiências vividas no trabalho contribuem para dar forma aos seus valores e crenças, afectando também os valores e crenças educativos. Trabalhos mais complexos fornecem mais oportunidades de desenvolvimento da autonomia, enquanto que trabalhos mais rotineiros e menos complexos implicam menos desejo de inovação. Assim, mães que desempenham trabalhos mais estimulantes tenderão a valorizar nos filhos a independência e a internaiização de normas sociais, e estarão menos preocupadas com a conformidade do comportamento em si, enquanto que mães com profissões menos estimulantes procurarão que os filhos sigam normas estabelecidas e tenham comportamentos adequados, valorizando a obediência e a disciplina (Menaghan & Parcel, 1991).

Capítulo 3 - Qualidade do ambiente familiar e desenvolvimento infantil

De uma maneira geral, pode dizer-se que os estudos acerca dos efeitos do