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comportamento é determinado por uma multiplicidade de factores que actuam a diversos níveis da sua ecologia Os processos implicados são representados nos códigos familiares e

símbolos culturais, e são postos em práticas nas interacções familiares e sociais. A

complexidade inerente ao processo de desenvolvimento não obsta a que ressalte, mesmo

assim, a especificidade do processo de desenvolvimento individual.

Para terminar, reportamo-nos às ilações do modelo transaccional quanto à intervenção no desenvolvimento, onde se afirma:

.... os processos de intervenção deverão ser dirigidos a um problema particular, de

uma criança particular, numa família particular e numa cultura particular. Infelizmente, não existe um tratamento universal para todas as crianças22 (Sameroff&

Fiese, 2000, p. 135).

4. O contextualismo desenvolvimental

O contextualismo desenvolvimental (Lerner 1991, 1996, 1998) constitui uma outra perspectiva sobre o desenvolvimento humano, que aborda de forma integrada os níveis múltiplos de organização que se presume fazerem parte da natureza da vida humana, e nesse sentido não muito diversa das duas perspectivas anteriormente referidas. Parte-se também do pressuposto que as variáveis implicadas nestes diversos níveis de análise são do tipo interactivo e dinâmico, influenciando-se reciprocamente no decurso da ontogenia humana.

Os níveis são concebidos como organizações de tipo integrativo, que no seu conjunto formam um todo ou uma estrutura global. Entre as partes e o todo, existem inter-relações organizacionais que é preciso compreender. Adicionalmente, os níveis são interdependentes, e entre eles existe uma relação dialéctica, pelo que qualquer nível em particular resultará sempre da integração dos níveis precedentes. Estas fusões ou interacções dinâmicas determinam finalmente o curso do desenvolvimento (Lerner, 1991, 1996, 1998).

...intervention processes (must) be targeted at a particular problem for a particular child in a particular family in a particular culture. Unfortunately, there are no universal treatments for all children. (Sameroff &

Capítulo 1 - O desenvolvimento humano em contexto

O desenvolvimento é, consequentemente, um conceito essencialmente relacional, que implica mudanças sistémicas - isto é, mudanças organizadas, sucessivas, integradas e a vários níveis ecológicos- que acontecem ao longo da vida do indivíduo, ao longo do tempo. O

sistema de desenvolvimento é composto por múltiplos níveis, desde o biológico à cultura e à

história, organizados concentricamente e entre os quais se estabelecem relações dinâmicas.

Estas relações estão em permanente mudança, mudança essa que é sistemática e sucessiva, e que constitui a essência do desenvolvimento. Como Bronfenbrenner, também Lerner (1996) enfatiza a relevância dos processos implicado na mudança constatada nas relações entre os indivíduos e os seus contextos, sendo importante perceber (..) como

funcionam as estruturas , e como é que as funções se estruturam ao longo do tempo (Lerner,

1996, pg. 781). Ou seja, o ênfase é colocado nos processos, ou relações dinâmicas entre organismos e contextos, tendo em vista compreender como é que os processos biológicos, psicológicos e contextuais se combinam para promover o comportamento e o desenvolvimento ao longo do espaço de vida.

Qualquer processo desenvolvimental tem uma dimensão relacional. De facto, nem mesmo os genes têm no organismo humano um efeito autónomo, mantendo uma relação de influências recíprocas com outras variáveis intraorganísmicas de carácter biológico e com os restantes contextos em que o organismo está integrado (Lerner, 1991). Neste sentido, até o processo desenvolvimental mais básico e primário é de tipo relacional. Esta relação envolve mudança, já que, por natureza, a matéria viva se altera longo do tempo. Desta forma, o sistema biológico composto pela matéria orgânica, funciona numa relação bidireccional e recíproca com todos os componentes do contexto fisiológico e social do indivíduo. O organismo é um sistema de relações com poder para alterar o contexto; por seu turno, as relações entre os vários contextos que formam a ecologia do indivíduo têm também capacidade para alterar o organismo. É através desta interacção dinâmica ou transaccional que o desenvolvimento se processa pelo que, argumenta Lerner (1991), mais do que os componentes, importa considerar as relações que se estabelecem entre eles.

Lerner (1996, 1998) destaca quatro ideias básicas, que partilha com outras abordagens contemporâneas do desenvolvimento e educação e que exprimem opções filosóficas ou meta- teóricas comuns. A primeira ideia relaciona-se com a questão da mudança sistemática. Ao longo do desenvolvimento, existe continuidade e descontinuidade, constância e mudança. Embora a capacidade do ser humano para a mudança não seja total, existindo alguns constrangimentos, possui no entanto um potencial para uma relativa plasticidade do desenvolvimento. O percurso de cada um está dependente de acontecimentos históricos gerais (guerras, crises políticas, etc.) e de acontecimentos pessoais (por exemplo uma doença ou o casamento). À medida que envelhecem, os seres humanos tornam-se marcadamente diferentes uns dos outros, o que aponta para a existência de inúmeros percursos de vida possíveis. Em suma, o desenvolvimento do ser humano é um fenómeno marcado de forma indelével pela plasticidade, o que significa que tanto constância como mudança - continuidade e descontinuidade - poderão sobrevir ao longo da vida (Lerner, 1995).

Uma segunda ideia salientada pelo autor é a da integração entre os múltiplos níveis de organização. Estes níveis incluem o biológico, o individual, psicológico, o das relações sociais próximas (por ex. díades), o sociocultural, e os contextos físicos naturais ou planeados. Todos eles estão estrutural e funcionalmente integrados, e requerem uma abordagem de tipo sistémico (Lerner 1996, 1998). Por outras palavras, é importante que se analisem as relações que se estabelecem entre os diversos níveis de variáveis, mais do que as variáveis em si próprias.

O terceiro aspecto destacado refere-se ao tempo histórico como dimensão crítica na compreensão dos processos de desenvolvimento. Todos os níveis de organização envolvidos no desenvolvimento humano e as variáveis associadas a cada um, estão inevitavelmente submersos na história. A história, ou a mudança que ocorre ao longo do tempo, é algo de incessante e contínuo, o que significa que o tempo atravessa todos os níveis de organização, constituindo um nível de organização adicional. Isto equivale também a dizer que tanto a estrutura como a organização das variáveis se alteram com o passar do tempo (Lerner, 1998).

Capítulo 1 - O desenvolvimento humano em contexto

Finalmente, o último destaque do autor tem a ver com os limites da generalização, da