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2 E-Participação

2.2 Benefícios e barreiras da e-participação

2.2.1 Benefícios

Os benefícios da e-participação são muitos e variados [Smith e Dalakiouridou, 2009]. Falar dos benefícios da participação pública é começar por tentar responder à pergunta: Porque razão se devem fortalecer as relações entre o governo e o cidadão?, como evidenciado em [OCDE, 2001].

De acordo com [OCDE, 2001] a primeira razão que pode ser apontada para o fortalecimento das relações entre o governo e os cidadãos é a ideia de que assim se conseguirá uma melhoria da política pública, já que as várias formas de participação existentes (informação, consulta e participação activa) proporcionam ao governo uma melhor base para a formulação de

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políticas. Simultaneamente, garante-se uma implementação mais efectiva, pois os cidadãos ficam mais bem informados sobre as políticas e tendem a participar no seu desenvolvimento. Para além disso, esse fortalecimento da relação faz elevar os níveis de confiança no governo, dado que, como este revela maior abertura, torna-se mais confiável para o cidadão, e havendo maiores níveis de confiança no governo, então tende também a aumentar a legitimidade do mesmo.

Adicionalmente, uma relação governo-cidadão mais forte, torna também a democracia mais forte. Com efeito, ao realçar-se a base, ou seja a relação governo-cidadão, incentiva-se a cidadania mais activa na sociedade. Para além disso, é ainda estimulado o envolvimento dos cidadãos na esfera pública, como a participação em debates, votações, associações ou outros.

Para além das referidas, muitas outras oportunidades podem decorrer de uma maior e mais genuína participação dos cidadãos. São vários os benefícios intrínsecos da participação pública avançados na literatura, nomeadamente o aumento do conhecimento, a qualidade da opinião, a confiança social e a eficácia política [Gastil e Levine, 2005].

No caso de processos de participação deliberativos, orçamentos participativos e planeamento urbano, têm também sido identificados alguns benefícios mais instrumentais como o aumento da qualidade e da legitimidade da tomada de decisão [Gastil e Levine, 2005;Hartz- Karp, 2005;Röcke e Sintomer, 2007].

No decurso da revisão de literatura que efectuaram, sob financiamento da Home Office's Civil Renewal Unit, [Andersson et al., 2005] identificaram um conjunto de onze benefícios da participação no processo de elaboração de políticas: (1) promover o avanço do conhecimento e da inovação local, (2) reduzir ou evitar conflitos, (3) aumentar a sensibilização e compreensão dos cidadãos sobre os processos de participação, (4) mobilizar novos recursos, como o trabalho de voluntariado, (5) tornar os programas mais sustentáveis através da geração de propriedade da comunidade, (6) aumentar a auto-suficiência dos indivíduos e das comunidades, (7) reduzir os custos de transacção, (8) aumentar a inclusão e coesão social, (9) gerar confiança e capital social, (10) tornar a política mais exequível, incorporando-a nas normas sociais, e (11) gerar novos grupos e organizações para além de fortalecer as já existentes. Embora essa divisão não tenha sido feita pelos autores, alguns desses benefícios estão mais centrados na eficácia e

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eficiência do serviço, outros na qualidade e legitimidade das tomadas de decisão, outros entram na parte de governação, e ainda alguns no campo da cidadania activa.

Como é realçado em [Creasy et al., 2007], uma distinção importante, que deve ser feita quando se aborda a questão dos benefícios da e-participação, é se se está a analisar o fenómeno ao nível dos cidadãos em geral ou ao nível de grupos de cidadãos "interessados", uma vez que o envolvimento dos primeiros nos processos públicos de participação tende a trazer valores de vanguarda para melhoria da sociedade em geral, enquanto que o envolvimento dos segundos (por norma partes interessadas com informação privilegiada), tende a trazer os seus conhecimentos para melhoria de processos de interesse dos próprios.

Neste sentido, deve ter-se em atenção que diferentes tipos de benefícios podem estar ligados a diferentes tipos de stakeholder. Em [Smith et al., 2008] são apresentados quatro grandes grupos de interesse, cada um dos quais com dividendos diferentes a retirar da e-participação.

O primeiro desses grupos são então os participantes, para os quais a e-participação permite aumentar a satisfação, o sentimento de participação, e o engajamento e compromisso na comunidade e na sociedade. A e-participação é uma experiencia emocional, e não apenas racional. O segundo são as organizações, onde os benefícios se centram na melhoria da eficiência, eficácia e legitimidade das organizações, para além do aumento da eficácia e da qualidade das próprias políticas.

O terceiro são os governos, e aqui a e-participação permite dar suporte à coesão social e a outras políticas da sociedade como um todo.

Por fim, o último grupo identificado, não é exactamente um grupo mas sim a comunidade em geral. Assim, para todos os cidadãos ou instituições a e-participação pode ajudar a aumentar a taxa de participação global, não só quantitativamente como qualitativamente, isto se realizada de forma correcta.

Em geral, são três os principais tipos de benefícios associados à participação:

1. Eficácia e a eficiência do serviço (por ex: ter conhecimento mais detalhado das necessidades dos cidadãos para planear de uma melhor forma os serviços a prestar);

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2. Legitimidade e qualidade das tomadas de decisão (por ex: aceitação e compromisso com as políticas elaboradas);

3. Patrocínio de uma cidadania activa (por ex: agregando o capital social e intelectual dos cidadãos, de forma a mobilizá-los para trabalho voluntário, e para a resolução de problemas da sociedade).

Segundo [Smith e Dalakiouridou, 2009], ao incorporar as TIC no contexto da participação, a e-participação vem acrescentar, aos três referidos anteriormente, três novos tipos de benefícios, nomeadamente:

1. Redução dos custos de transacção e coordenação nas relações sociais e políticas;

2. Maior capacidade deliberativa devido às características do meio; 3. Reforço da capacidade de processamento da informação.

Incidindo agora de forma mais particular sobre a e-participação, são vários os estudos que atestam os benefícios da participação pública por via electrónica. Neste sentido, a importância de espaços deliberativos on-line é amplamente referida [Iyengar et al., 2003;Min, 2007;Price et al., 2002], bem como a importância das novas tecnologias 2.0 no engajamento e debate de ideias dos cidadãos nas campanhas políticas [Aysu e Erkul, 2009], e existem ainda algumas evidencias de que a participação através da internet pode trazer melhorias relativamente à inclusividade [Coleman, 2004;Monnoyer, 2006].

Com efeito, como é defendido num estudo patrocinado pelo governo australiano [AGIMO, 2004], os benefícios da realização de consultas através de canais electrónicos resultam fundamentalmente do valor acrescentado que advém da utilização de meios electrónicos para suportar o processo, os quais permitem formas mais rápidas, mais seguras e mais fáceis de gerir de interacção com o cidadão. Para além disso, permitem estender o alcance temporal da consulta sem que existam interregnos, na medida em que é igualmente cómodo participar de manhã, à tarde, ou de madrugada.

Um estudo para a UE [Smith, 2009] realça ainda três diferenças analíticas que devem ser tidas em consideração nos benefícios de uma qualquer forma de participação por via tradicional e/ou electrónica, sendo eles:

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1. Instrumentais ou intrínsecos? 2. Quem se pode beneficiar? 3. Longo prazo ou curto Prazo?

A primeira diferença enunciada tem que ver com a distinção entre o processo de participação ser um meio, ou um fim em si mesmo. Os benefícios instrumentais estão relacionados com os outputs, os resultados e os impactos, enquanto que os benefícios intrínsecos estão relacionados com o processo [Andersson et al., 2005]. Os primeiros estão pelo menos parcialmente alinhados com as necessidades do sistema (o seu objectivo e a sua definição estratégica), ao passo que os segundos não têm relevância directa para as necessidades do sistema [Smith, 2009].

Uma outra distinção analítica é perceber quem pode beneficiar com o processo de participação. O bens públicos (por ex: melhores políticas ou comunidades mais fortes), têm potencial para difundir os benefícios de uma forma muito mais ampla do que os bens privados (por ex: habilidades, informações de estado, ou benefícios de saúde e bem estar), que só revertem para os participantes directos. Embora nem sempre assim seja, os benefícios intrínsecos por norma são bens privados, ao invés dos benefícios instrumentais que tendem a ser bens públicos.

A terceira e última distinção analítica está relacionada com a análise dos benefícios de se viver num ambiente em que de forma regular se incentiva a participação, em contraste com os benefícios que possam ser atribuídos a intervenções específicas ou projectos isolados de e-participação. Neste sentido, existem já estudos que apresentam algumas evidências dos benefícios de viver em comunidades que têm culturas políticas participativas. Entre estes benefícios estão a melhoria da saúde, o aumento da felicidade e da qualidade de vida, a eficiência económica e burocrática, entre outros [Frey et al., 2004]. Já relativamente aos projectos ou intervenções mais isoladas têm existido mais dificuldades em recolher evidencias dos benefícios que estes possam trazer [Smith, 2009].

A Tabela 1 apresenta de forma sistematizada os principais benefícios referidos anteriormente, associando-os aos diferentes contextos analisados.

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Tabela 1 - Principais benefícios da e-participação nos vários contextos analisados

Contexto Benefícios

Benefícios da participação

A eficácia e a eficiência do serviço;

A legitimidade e qualidade das tomadas de decisão; O patrocínio de uma cidadania activa.

Benefícios da e-participação

Redução dos custos de transacção e coordenação nas relações sociais e políticas; Maior capacidade deliberativa devido às características do meio;

Reforço da capacidade de processamento da informação através do poder das TIC.

Benefícios para os grupos de interesse

Para os participantes - permite aumentar a satisfação, o sentimento de participação, e o engajamento e compromisso na comunidade e na sociedade.

Para as organizações - melhoria da eficiência, eficácia e legitimidade das organizações, para além do aumento da eficácia e da qualidade das próprias políticas.

Para os governos - dar suporte à coesão social e a outras políticas da sociedade como um todo.

Para todos - pode ajudar a aumentar a taxa de participação global, não só quantitativamente como qualitativamente.

Benefícios relacionadas com a

política e a governação

Meio ou fim - distinção entre o processo de participação ser um meio, ou um fim em si mesmo. Os benefícios instrumentais estão relacionados com os outputs, enquanto que os benefícios intrínsecos estão relacionados com a prossecução do processo.

Quem se beneficia - os bens públicos (por ex: melhores práticas), têm mais potencial para difundir os benefícios do que os bens privados (por ex: habilidades). Não sendo sempre verdade, os benefícios intrínsecos são por norma bens privados enquanto os instrumentais são por norma públicos.

Longo Prazo ou Curto Prazo - análise dos benefícios de se viver num ambiente regularmente promotor de participação em contraponto com iniciativas isoladas (ou Had- oc). Melhoria da saúde, o aumento da qualidade de vida e a eficiência económica e burocrática são exemplos de benefícios de viver em comunidades com culturas participativas.