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Momento 2 Modelo de caracterização da e-participação ao nível do poder local

3 Fundamentação e descrição do estudo

3.3 Estratégia de investigação

3.3.2 Momento 2 Modelo de caracterização da e-participação ao nível do poder local

O objectivo desta secção é descrever como foi elaborada a proposta do Modelo de caracterização da e-participação ao nível local aqui apresentado. Assim, serão de seguida expostos os elementos que serviram de base à criação do Modelo, e posteriormente será feita a explicação do mesmo.

3.3.2.1Elementos de suporte à criação do Modelo

Depois da já referida dificuldade em aplicar directamente as várias frameworks de caracterização da e-participação referenciadas na literatura ao contexto local, realçada por alguns estudos realizados a esse nível [Esteves e Garot, 2006;Medaglia, 2007], que sentiram a necessidade de cada um deles identificar um conjunto de itens caracterizadores não contemplados nessas mesmas frameworks, foi entendido que este trabalho só poderia acrescentar algum contributo de relevo à área se tivesse como propósito potenciar o cruzamento e harmonização dos esforços já realizados. Assim, foi efectuado um cruzamento entre os principais elementos caracterizadores da e-participação presentes tanto nas principais

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frameworks (já abordadas na Secção 2.4), como nos principais estudos de caracterização da e-participação ao nível dos governos locais (também já evidenciados na Secção 2.5). Da Análise exploratória aos sites das autarquias portuguesas, emergiram também alguns itens de caracterização de relevo que foram igualmente tomados em consideração.

O detalhe do cruzamento efectuado está incluído no Anexo A, e procurou associar os vários itens de análise encontrados nos diferentes estudos, agrupando-os em grandes grupos caracterizadores da e-participação ao nível local e correlacionando-os. O Modelo de caracterização criado será explicado de seguida.

3.3.2.2Explicação do Modelo de caracterização da e-participação

Como resultado do cruzamento dos diferentes estudos referenciados, incrementado pela percepção da própria realidade portuguesa que a análise exploratória possibilitou, os principais elementos caracterizadores da e-participação foram então agrupados num Modelo segundo a forma que se apresenta na Figura 18.

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Este Modelo defende uma visão integrada dos vários blocos caracterizadores da e-participação. O Modelo começa por sustentar que a base de todos os processos participativos assenta na facultação de informação sobre os processos (Disponibilização de informação electrónica), de forma a possibilitar participações/intervenções cidadãs mais informadas e ponderadas. Com este primeiro nível, pretende-se assim perceber se as autarquias disponibilizam vários tipos de informações electrónicas de relevo como informação financeira e orçamental, se possibilitam a subscrição de serviços informativos periódicos, se publicitam os assuntos em discussão pública e se possuem aplicações que permitam obter informações territoriais como os Sistemas de Informação Geográfica (SIG).

No segundo nível (Canais básicos para contacto com o governo local), cabem todos os canais que, não sendo pensados de raiz para suportar processos/iniciativas de e-participação, são, no entanto, espaços que abrem essa possibilidade, sendo os casos mais comuns os emails institucionais ou os formulários de envio de mensagens para departamentos específicos da autarquia. Na mesma linha dos exemplos anteriores, cabem ainda no segundo nível as redes sociais, que promovem cada vez mais uma aproximação entre os e-cidadãos e as autarquias. Assim, pretende-se identificar quais os principais canais disponibilizados pelas autarquias, como é que estas respondem aos envios de questões lançadas pelos cidadãos, e ainda se existem regras institucionalizadas para os cidadãos utilizarem esses canais e para a própria autarquia dar resposta aos pedidos, dúvidas e sugestões que lhe cheguem. Especificamente sobre as redes sociais, interessa ainda perceber quais as mais utilizadas, que papel é que as autarquias têm nessas redes, se existe algum tipo de moderação e, ainda, se procedem à criação de espaços de participação nessas mesmas redes.

O terceiro nível (Participação inclusiva) visa garantir o acesso de todos os cidadãos às informações e canais de participação disponibilizados, prevenindo situações da e-participação se tornar mais um factor de exclusão social. Aqui pretende-se verificar se as autarquias disponibilizam espaços físicos com ligação à internet que permitam o acesso de qualquer cidadão, e ainda perceber se as mesmas têm definidas e implementadas políticas de acesso especiais para grupos potencialmente excluídos.

No seguimento da ideia de e-participação como área inclusiva, o quarto nível (Formação para gerir a interacção) assenta na necessidade dos elementos das autarquias receberem

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formação adequada para as especificidades da interacção com os cidadãos por via da e-participação. Assim, neste nível pretende-se realmente apurar se tanto os elementos eleitos das autarquias como os funcionários/colaboradores tiveram acesso ao tipo de formação especificado.

Os primeiros quatro níveis (Disponibilização de informação electrónica, Canais básicos para contacto com o governo local, Participação inclusiva e Formação para gerir a interacção) formam então um conjunto básico de condições para a existência da e-participação, sendo apenas coerente evoluir para um nível de efectiva disponibilização de iniciativas de e-participação se existir já um bom desenvolvimento da base, isto sob pena de se criarem iniciativas que não assentam numa evolução sustentada e por isso mesmo com muito mais hipóteses de falharem os seus propósitos.

O quinto nível (Iniciativas de e-cidadania), como se pode constatar na Figura 18, é um nível intermédio que não resulta directamente dos níveis de base, isto porque este tipo de iniciativas não estão directamente relacionadas com a tomada de decisão política, mas em todo o caso permitem a colaboração do cidadão em assuntos que lhe são próximos (como por ex: conservação de espaços públicos, recolha de resíduos na sua rua, …). Por este motivo, e dada a importância que este tipo de iniciativas tem vindo a assumir no aumento da participação cívica dos cidadãos, entendeu-se por bem englobá-las num nível intermédio que poderá ou não existir, já que a sua criação não resulta de um desenvolvimento sustentado das bases, nem os resultados aí obtidos influenciam directamente as iniciativas de e-participação que as autarquias possam possuir. Assim sendo, a este nível procura-se apenas perceber se as autarquias têm alguma iniciativa deste tipo e para que finalidade.

Por fim, o sexto e último nível (Iniciativas de e-participação) refere-se à disponibilização de iniciativas versadas directamente na e-participação política, e que evoluindo sustentadamente a partir dos quatro níveis de base anteriormente explicitados, permitem ao cidadão ter um papel mais activo nas tomadas de decisão política da sua autarquia. Este é o principal nível do Modelo de caracterização da e-participação e congrega um conjunto bastante alargado de itens caracterizadores deste tipos de iniciativas. Assim, importa aqui perceber:

 se a iniciativa foi criada de raiz pela autarquia ou se é parte de um projecto financiado a outro nível;

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 quais os parceiros envolvidos na implementação da iniciativa;

 quais os custos de implementação e que ferramentas e tecnologias foram utilizadas;

 se se trata de uma "iniciativa piloto" ou de uma "iniciativa efectiva";

 se existe necessidade de registo por parte dos cidadãos;

 se existe moderação;

 se se informa os cidadãos das regras e directrizes que devem respeitar durante a participação na iniciativa;

 quais as fases do processo de tomada de decisão que comporta;

 qual a área da e-participação onde se insere;

 se são utilizados apenas métodos de participação baseados nas TIC ou se estes funcionam em conjunto com métodos tradicionais;

 qual o nível de e-participação que é concedido ao cidadão;

 se são feitos esforços de promoção da iniciativa;

 e ainda se é efectuado algum tipo de avaliação periódica, que permita a melhoria da iniciativa ao longo do tempo.

Em conjunto, os seis níveis do Modelo permitem ter uma visão integrada da realidade da e-participação no contexto local, não apenas das iniciativas de e-participação propriamente ditas, mas de todo o contexto envolvente.