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Measuring the diffusion of eParticipation: A survey on Italian local Government (2007)

2 E-Participação

2.5 Principais estudos de caracterização de e-participação ao nível local

2.5.3 Measuring the diffusion of eParticipation: A survey on Italian local Government (2007)

Lançado em 2007, o estudo realizado por Medaglia [Medaglia, 2007] foi efectuado ao nível do governo local em Itália, e teve como intuito responder a três questões fundamentais: até que ponto a e-participação se estava realmente a expandir por força da utilização das TIC?, de que forma é que isso poderia ser efectivamente medido?, e ainda quais as variáveis que afectam a adopção da e-participação a nível local?.

Antes de efectuar qualquer avaliação, o autor procurou definir uma ferramenta padronizada para a medição da e-participação. Para isso, e tomando por base os três níveis de

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e-participação defendidos pela OCDE (informação, consulta, e participação activa) [OCDE, 2001], e uma extensa revisão bibliográfica, elaborou uma lista abrangente de itens para cada nível que pudessem representar o grau de participação que é permitido aos cidadãos pelos governos locais. De forma a validar estes itens, foi enviado um questionário on-line para uma comunidade de especialistas reconhecidos na área da e-participação. A comunidade escolhida foi a DEMO-net, tendo sido endereçado o questionário a todos os seus elementos, pedindo que os mesmos avaliassem cada item, de acordo com a importância que lhe atribuíssem em relação a cada dimensão, numa escala de Likert a partir de 1 (item nada importante para a dimensão correspondente) a 5 (item muito importante para a dimensão correspondente), ficando a importância de cada item dependente da média de classificações recebidas por parte dos especialistas. No final era ainda dada a possibilidade de o especialista acrescentar cinco itens por dimensão. A taxa de resposta nesta fase foi de 27%. Não obstante a baixa taxa de respostas, as opiniões recolhidas ajudaram grandemente o autor a definir um instrumento de medição ponderado.

Na Figura 16, pode ser consultada a grelha de análise resultante, especialmente vocacionada para avaliar os sites dos governos locais nas três dimensões de prestação da e-participação apresentadas pelo autor.

Algumas das considerações tecidas pelo autor acerca da validação dos itens são também importantes, nomeadamente a ideia patente de que nem sempre os sites mais evoluídos tecnologicamente são aqueles que melhor respondem às necessidades da e-participação, podendo ser dado o exemplo do item relacionado com a disponibilização electrónica das actas das reuniões do governo local, que obteve uma pontuação bastante superior á disponibilização das reuniões em formato áudio ou vídeo.

Depois de estabilizado o instrumento de medição o autor passou então à fase de recolha de dados, neste caso efectuando uma análise aos sites dos 114 governos locais existentes em Itália. Cada site foi analisado usando a grelha descrita acima, e as pontuações resultantes de cada item foram calculadas para cada governo local.

Assim como no caso português, e como é referido no próprio estudo, o caso italiano é também bastante sui generis pois existe uma grande discrepância entre municípios. Estes variam desde municípios com apenas alguns milhares de habitantes (como em algumas regiões

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da Sardenha), até às cidades metropolitanas com mais de um milhão de habitantes como Roma, Milão e Nápoles.

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De forma pouco surpreendente, este estudo repete algumas das conclusões a que já se havia chegado nos estudos anteriores, sendo indicado que ao nível da e-informação existe já alguma cultura interiorizada, estando a maioria dos governos locais bem cotados a esse nível. Ao nível da e-consulta o cenário foi caracterizado como menos animador, com a maioria a ser avaliada numa escala média baixa. Mas foi claramente ao nível da e-participação activa que foram identificados os maiores problemas, com cerca de 93% dos casos a não apresentarem qualquer item que possibilitasse esse tipo de participação por parte do cidadãos. Estes resultados foram encarados como não surpreendentes e em grande parte contrastantes com os desejos dominantes e os esforços para a disseminação da e-participação, bem como com o propalado impacto revolucionário das TIC para a participação activa dos cidadãos nas decisões políticas a nível local.

Outra conclusão importante do estudo teve que ver com a identificação de uma relação directa entre o tamanho da população dos municípios e as pontuações alcançadas. Principalmente ao nível da e-consulta e da e-participação activa as diferenças são relevantes. No primeiro caso, a oferta de iniciativas de e-consulta por partes das grandes cidades (mais de 200000 habitantes) é 40% superior à média. No segundo caso, o desfasamento é ainda maior, sendo que as grandes cidades têm uma oferta no âmbito da e-participação activa 373% acima da média. Para explicar este fenómeno os autores avançam duas explicações, a primeira relacionada com o abaixamento de custos nos grandes municípios que se conseguem com a disponibilização de alternativas ao atendimento pessoal aos cidadãos, e a segunda (e talvez até mais óbvia) relacionada com a capacidade financeira que os grandes municípios têm para investir em iniciativas desta natureza, se comparados com municípios de pequena dimensão.

Não menos interessante foi a relação encontrada entre a adopção da e-participação e a orientação política. De acordo com os dados recolhidos no estudo, os municípios com uma liderança de centro-direita mostraram ser menos propensos a iniciativas de e-participação, apresentando mesmo um grau de adopção inferior à média. Já os municípios com orientação de centro-esquerda, obtiveram um grau de adopção acima da média. Estes resultados levaram o autor a concluir que no contexto italiano, a facultação de meios electrónicos para a participação dos cidadãos a nível local é um problema no qual a orientação política dos decisores faz toda a diferença.

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Embora muito focado numa avaliação da e-participação centrada nos sites institucionais dos municípios, este estudo é claramente importante na medida em que procurou não só definir um instrumento de avaliação completo e que fosse corroborado pela comunidade científica, como tentou estabelecer correlações (nomeadamente entre a adopção da e-participação por parte dos governos locais e a sua dimensão ou orientação política), que ainda não tinham sido verdadeiramente escalpelizadas em estudos anteriores. É evidente que olhando para a orientação política de um município num determinado momento pode-se de certa forma subverter os resultados, pois o governo pode ter mudado à pouco tempo ou simplesmente as iniciativas existentes podem não ter sido adoptadas com o governo em funções, todavia, e com um estudo mais pormenorizado da evolução das correntes políticas que vão estando à frente dos destinos dos municípios esse pequeno problema pode ser bastante diminuído, sendo este um ponto de partida extremamente interessante para os estudos nesta área e que será revisitado mais à frente na análise ao caso português.

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