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Paz, progresso e modernidade em México: su evolución social O discurso triunfalista do Porfiriato

Mapa 4 – Variações territoriais do México entre 1824 e

2. Porfirio Díaz, o arquiteto do México moderno A construção da imagem do presidente por escritores oitocentistas

2.1. Bernardo Reyes, um general porfirista

Essa centralidade de Porfirio Díaz apareceu em muitas produções de polígrafos que se relacionaram com o governo do oaxaqueño. As interpretações dos presidentes do Congresso Nacional e a de Sierra em México: su evolución social demonstram a construção da imagem solar e central de Díaz. Como afirmou Gantús, “El general adquiría la dimensión del hombre dispuesto a sacrificarse por la causa común, por la República y por el pueblo”. (GANTÚS, 2016, p. 218). Também podemos perceber essa moldura narrativa em outras produções da época. Uma delas é a biografia do presidente escrita pelo porfirista Bernardo Reyes. Reyes foi um importante general mexicano que teve uma carreira militar semelhante à de Porfirio Díaz: começou aos quatorze anos de idade lutando a favor do grupo liberal. Alistou-se contra a Intervenção Francesa nos grupos de guerrilhas de seu estado natal, Jalisco, e participou contra os levantes de Manuel Lozada, militar imperialista que, em Nayarit, mantinha-se rebelde ao governo central (SOTO, 1979). Durante a presidência de Díaz, o general atuou como governador do estado de Nuevo León e encarregado da zona militar da região noroeste do país. Em 1896, foi nomeado pelo presidente à função de secretário de Guerra, importante cargo, mas renunciou. Assumiu novamente o referido Ministério em 1900, permanecendo até 1902, mesmo ano em que escreveu o capítulo “El Ejercito nacional” de México: su evolución social e a biografia de Díaz, intitulada El general Porfirio Díaz. Segundo a historiografia sobre o Porfiriato, Reyes ficou conhecido como um dos pilares do presidente (GARNER, 2003; KRAUZE, 1987; SOTO, 1979; GUERRA, 1991, BENAVIDES, 1998).

O objetivo de Reyes foi criar uma síntese da vida de Díaz, apresentando sua biografia pública – tanto como general quanto presidente do México – à posteridade. O escritor visava consolidar uma memória positiva e triunfal do presidente, interpretando-o como o herói nacional que, após lutar em várias guerras civis e combater tentativas de

intervenções estrangeiras, buscou, com seu patriotismo, regenerar um país imerso em caos e anarquia. Novamente percebemos semelhanças nos conceitos mobilizados no livro e uma forma semelhante de se compreender o passado e o presente. É importante destacar que a representação de um governante como o salvador da nação não foi uma exceção da literatura mexicana no oitocentos. Muitos líderes foram representados a partir dessa moldura narrativa, fenômeno que também ocorreu no México, como vimos nos exemplos dados por Justo Sierra em “La era actual”.

A biografia foi publicada em 1903 pela mesma editora que publicou México: su evolución social, a J. Ballescá y Compañia, Sucessores, Editores. A capa do livro, verde, era suntuosa, trazendo a imagem e o nome do presidente em detalhes dourados. O subtítulo da produção também era sugestivo: Estudio biográfico con fundamentos de datos auténticos y de las memorias del gran militar y estadista, de las que se reproducen los principales pasajes. Em 1892, Díaz escreveu um livro de memórias. Narrou sua vida desde a infância até a participação nas guerras: parou em 1867, quando ocorreu a chamada República Restaurada, em que participou. Essa fonte foi utilizada por muitos escritores que produziram textos sobre o presidente, principalmente para justificar seu patriotismo. Reyes, em 1902, também se valeu desse documento para escrever a biografia, reproduzindo longas passagens das memórias do presidente para validar suas afirmações. O autor fundamentou a autoridade de seu livro no fato de utilizar dados considerados autênticos, provenientes do próprio presidente; e que, portanto, deveriam ser apreciados como verdadeiros.

Ao atentarmo-nos, inicialmente, à organização textual da biografia de Reyes, vemos que ela é constituída por duas partes dissimétricas. Na primeira e maior delas, Reyes narrou, ano a ano, os feitos militares de Díaz nas guerras sofridas pelo país. Isto demonstra a importância que aquele “passado turbulento” – em suas palavras – tinha para a geração que vivenciou essa atmosfera de anarquia e que desejava, em contrapartida, um presente e futuro pacíficos; e como a força da anarquia enquanto moldura narrativa do passado era utilizada para validar ações no presente. Um dos aspectos relevantes a ser destacado é: dar dimensão a esse passado nacional específico se configurou como um dos instrumentos de legitimação do governo, ainda mais que, como veremos no Capítulo 3 da tese, a partir de 1887, e principalmente de 1900, começou a aparecer produções e Clubes Liberais no país que censuravam o Porfiriato. Na interpretação de Reyes, o general, frente ao pretérito mexicano, era necessário no cargo de primeiro magistrado. Somente um

indivíduo com pulsos fortes seria capaz de colocar a nação no sendeiro da paz, da felicidade e do progresso. Reyes, como Sierra, defendia o discurso de alargamento do poder Executivo como medida política para se salvar a nação. “Así empezó a vivir México. En plena anarquía, entre todos estos intereses que pugnaban por su triunfo, por obtener ventajas particulares. Y anarquía es la palabra clave que tiene en sus labios Bernardo Reyes para explicar la situación mexicana hasta antes de la guerra de Reforma.” (FLORES HERNÁNDEZ, 1983, p. 89).

É importante reiterar que o ponto nevrálgico das fontes analisadas é recorrentemente o de destacar os fatos do passado nacional que geravam a sensação de que o país não conseguia se autogovernar. Em comparação com esse pretérito desajustado, as atitudes governativas de Díaz, para manter o México longe dessa anarquia e caos, foram legitimadas. Isso faz sentido quando acrescentamos a informação de que, durante o Porfiriato, o estudo sobre os povos pré-hispânicos ganhou impulso. Por exemplo, o Museu Mexicano, dirigido por Francisco del Paso y Trancoso e apoiado por Justo Sierra, ganhou novos investimentos do governo, bem como o Ministério da Educação passou a buscar especialistas sobre o assunto194. O estudo e a história dos povos pré-hispânicos, em especial dos astecas, esteve, amplamente presente durante o porfirismo mas, principalmente, relacionado ao tema da mestiçagem (discutido em mais detalhes no primeiro capítulo). Esse pretérito aparecia em outras fontes. O que afirmamos, portanto, é que essas camadas remotas do passado não eram tão importantes para se usar como elementos legitimadores do porfirismo. A anarquia causava um efeito de verdade mais potente; ela era datada: as primeiras décadas do século XIX.

Ao mencionar o ano de 1821, Reyes também enfatizou a heterogeneidade nacional pós-independência. Explicou que não havia um elemento dominador que desse unidade

194 Os estudos sobre o passado serviram para sustentar os argumentos da mestiçagem. “Pero sólo durante el largo gobierno de Díaz hubo la paz y la disponibilidad económica para imprimirle a la recuperación del pasado un nuevo aliento. Como se ha visto antes, desde el primer gobierno de Díaz se manifiesta un interés decidido por apoyar el estudio del pasado remoto y se asiste a una revaloración de las culturas indígenas. Entre 1890 y 1910 las imágenes que provienen de este pasado se convierten en icono nacionalista y en emblema del Estado porfiriano. Bajo la dirección de Francisco del Paso y Troncoso, y con el apoyo de Justo Sierra en el ministerio de Educación, el antiguo Museo mexicano vino a ser un edificio privilegiado en el escenario cultural de la capital y un centro de acumulación de conocimientos y formación de nuevos especialistas (historia, lingüística, etnografía, arqueología). En 1895 fue la sede del Congreso Internacional de Americanistas y en 1911 la residencia de una innovadora Escuela Internacional de Arqueología y Etnografía Americanas.”. Ver: Andrés Lira González, “Los indígenas y el nacionalismo”. El nacionalismo y el arte en México. IX Coloquio de Historia del Arte, México, Instituto de Investigaciones Estéticas- Universidad Nacional Autónoma de México, 1986, p. 26.

ao país e sim o conflito entre diversas facções que, como o mesmo escreveu, “ocasionaron una anarquía tan desoladora, que llegó a hacer perder alguna vez hasta la esperanza de la salvación nacional.” (REYES, 1960 [1903], p. 09). A primeira metade do século XIX foi marcada pela querela entre liberais e conservadores. O conflito entre estes dois grandes setores causava uma situação de “horrorosa anarquia” (REYES, 1960 [1903], p. 10). Além deste quadro interno, havia os conflitos com outros países. A perda do Texas pelo então presidente Antonio López de Santa Anna não deixou de ser mais uma vez mencionada. O tema tinha destaque em todas as obras mencionadas nesse capítulo da tese: qual seria o futuro do México? A forma do futuro era amorfa, desconhecida. Um tempo sempre protelado, distante. Para o autor, eram conjunturas que levaram o país ao caos e à perda de mais da metade do território mexicano195. O desejo era por mudança, a nação necessitava se reerguer e se transformar para não perder a soberania. O México precisava de um grande homem, um herói.

Ao escrever sobre o Porfiriato e em comparação com este passado nacional decadente, o México necessitava mudar seu destino. Segundo o tapatío, a paz era base para a construção de uma nação moderna, a ser erguida por Díaz. Como mencionado, o livro era uma biografia, gênero que também possuiu campo fértil no oitocentos, juntamente com o tipo ensaístico. Como afirmou Mary Del Priore, era a época “da história dos grandes homens, motores de decisões.” Ademais, no século XIX, “a biografia assimilou-se à exaltação das glórias nacionais, no cenário de uma história que embelezava o acontecimento, o fato. Foi a época de ouro de historiadores renomados como Taine, Fustel de Coulanges e Michelet, autor de excepcionais retratos de Danton e Napoleão.” (DEL PRIORE, 2009, pp. 08-09). O livro de Reyes narrou a vida do general e presidente a partir de uma forma linear de escrita e construção biográfica, da mesma forma que a história da nação era narrada. O tapatío construiu uma sucessão cronológica de acontecimentos que formava um trajeto coerente sobre a vida do presidente. Como explicou Pierre Bourdieu, esta forma de escrita, coesa, constrói no leitor a sensação de

195Citamos outro trecho que corrobora com nosso argumento: “Tras la derrota, se firmó en la villa de Guadalupe el tratado de paz, en Febrero de 1848, que nos hizo perder en favor del vencedor, además de Texas, desde antes unido á la República del Norte, parte del territorio tamaulipeco, Nuevo México y la alta California. Más tarde el funesto Santa Anna vendía a nuestros vecinos La Mesilla, para que redondearan sus posesiones.

No bien los invasores desocupaban nuestras plazas, cuando la guerra civil, encendida en ambiciones personales, volvía entre llamas y truenos a lanzar su alarido de destrucción.” (REYES, 1960 [1903], p. 11).

que todas as etapas da vida do personagem narrado possuem sentido, harmonizando-se entre si196.

No capítulo inicial do livro, Reyes se remeteu ao nascimento de Díaz. Ao mencionar este episódio, ele relacionou a vida do futuro presidente a um dos momentos históricos mexicanos mais importantes para a história nacional: a própria independência do país. Na biografia, havia um significado e direção dos acontecimentos, como se Díaz fosse predestinado a mudar os rumos da nação. Segundo Paul Garner, 15 de setembro é considerada a data de batismo de Díaz, mas foi amplamente mencionada e usada como a data de seu nascimento. Desta forma, conseguia-se intercruzar sua história de vida pessoal com a história mexicana. Para o historiador, “este enlace umbilical entre Porfirio Díaz y el destino de México sería explotado por el régimen para crear, en la conciencia popular, una relación entre Díaz, la consumación de independencia y la soberanía nacionales.” (GARNER, 2003, p. 32). Escreveu o tapatío,

Viene el general Díaz á la vida en el año de 1830; nace en Oaxaca el 15 de Septiembre de ese año, día que es aniversario de aquel en que Hidalgo profiriera, con fulminante inspirado acento, en 1810, en el pueblo de Dolores, el sublime grito de Independencia, que repercutiendo atronador por valles y montañas, hasta los más apartados confines del virreinato del México, levantó en armas á un pueblo siervo, que tras de once años de lucha heroica, rompió las cadenas que lo ataran por trescientos años á la metrópoli española, para así formar una nación independiente y soberana.

¡Coincidencias inexplicables, pero que por su enlace magnífico hablan de algo inescrutable y grande! Aparece el predestinado para defender y transformar brillantemente á México, en ese aniversario glorioso del grito heroico por su independencia. (REYES, 1960 [1903], p. 09 - grifo no original).

Notamos no trecho acima que o tapatío ligou, de uma forma linear e determinista, a história de vida de Díaz à própria história do México. Em 15 de setembro de 1810 o padre Miguel Hidalgo y Costilla, conhecido no país como um dos pais da pátria, iniciou, segundo o calendário nacional, o processo independentista. Após ter percorrido vários povoados e lutado contra a ordem política vigente, proferiu, no povoado de Dolores, o grito “Viva la Virgen de Guadalupe! ¡Abajo el mal Gobierno! ¡Viva Fernando VII!”197.

196 Como explicou Bourdieu, “produzir uma história de vida, tratar a vida como uma história, isto é, como o relato coerente de uma sequência de acontecimentos com significado e direção, talvez seja conformar-se com uma ilusão retórica, uma representação comum da existência que toda uma tradição literária não deixa de reforçar.” (BOURDIEU, 2006, p. 185).

197 Cabe mencionar que existem várias versões sobre o “Grito de Dolores”. Como o foco não é o seu estudo e cotejo, optamos pela variante de maior circulação. Sobre o tema cf. VILLORO, Luis. “La revolución de

Este evento histórico ficou cristalizado no imaginário nacional como um momento de sublevação de criollos e de parte da população local contra as autoridades do Vice-reino da Nova Espanha. Se Hidalgo levantou um povo subjugado, condenado à servidão, Díaz nasceu para salvar um povo degenerado, desmoralizado, perdido em poças de sangue e escombros, como afirmou Sierra.

Reyes utilizou os conceitos “coincidências inexplicáveis” e “predestinado” para referir-se ao nascimento do futuro presidente. Ao final do parágrafo, o autor optou pelo caráter predestinado do nascimento de Díaz. Ou seja, o herói que, por antecipação, destinado a grandes feitos, viria não apenas “defender”, mas “transformar”, modificar com magnificência, aquele México marcado em toda sua trajetória histórica por instabilidade e desordem. Assumir a primeira magistratura naquele contexto não era tarefa fácil para Reyes. Qualquer estadista, mesmo que egrégio, ou algum afortunado vencedor, sentir-se-ia desalentado, uma vez que reerguer a nação imporia “tarefas titânicas”, gigantescas. Mas tal situação não desanimava Díaz, quem, com o gênio do adivinho, a predestinação do nascimento e o heroísmo decorrente das grandes lutas que participara, enxergou com intuição profética, ou seja, podendo predizer fatos do futuro, um porvir feliz. Como afirmou Florescano, durante o Porfiriato foi construída uma relação determinista e positiva entre Hidalgo, Juárez e Díaz – o que Jiménez Marce intitulou de genealogia liberal. Ignacio Ramírez, Ministro de Justiça e Instrução Pública no início do Porfiriato e Ignácio Altamirano, liberal e relacionado à Educação, afirmaram que a República mexicana e o projeto de estado-nação liberal foram provenientes de Hidalgo, ao proferir o grito de Dolores em 1810. Díaz era o último personagem dessa cadeia, quem conseguiu harmonizar todas as conquistas e elevar a nação ao mundo198. Citamos:

El compromiso era solemne é imponía tareas titánicas, ante cuya perspectiva se hubiera sentido anonadado cualquier estadista ilustre, cualquier afortunado vencedor, pero no quien con el genio del vidente, con la energía del gladiador, desarrollada en grandes luchas; con la fe del triunfador, con la iniciativa del gobernador providente, y con el

independencia”. In: COSÍO, Daniel Villegas et al. Historia general de México. Cidade do México: El Colegio de México, 2000.

198 FLORESCANO afirmou: “En la nueva interpretación de la Independencia que se escribe, pinta y monumentaliza durante el Porfiriato, los orígenes de la patria se sitúan en el movimiento insurgente y en la figura de Miguel Hidalgo. Ignacio Ramírez e Ignacio Manuel Altamirano fueron los primeros en declarar que la República y el proyecto liberal provenían del grito de Dolores proclamado por Hidalgo. Los artistas y políticos del Porfiriato ratificaron esa idea en numerosas pinturas dedicadas a honrar al Padre de la Patria.” (FLORESCANO, 2005, p. 155).

amor á la patria del que hiciérase glorioso combatiendo á muerte por ella, había medido de antemano, con olímpica serenidad y con intuición profética, lo formidable de la empresa á que se arrojara, y entrevisto con los ojos de la mente la realización feliz de sus proyectos colosales… Al solitario de Oaxaca en 1870, á fuerza de encender su pensamiento en los grandes ideales patrióticos, habíase mostrado la visión de la República feliz. Y el vidente se sintió impulsado, volando á realizar los propios destinos, en busca de aquella anhelada prosperidad para México. (REYES, 1960 [1903], p. 267).

A biografia de Reyes assemelhava-se ao gênero épico, apresentando os eventos heroicos de Díaz. A construção da imagem do presidente e general equiparou-se ao herói moderno, consagrado como matriz de pensamento a partir do livro de Thomas Carlyle199. O livro “On heroes, heroe-worship, and the heroic in history”, publicado pela primeira vez em 1841, ganhou uma edição em espanhol no ano de 1893. Como explicou Débora Andrade, o historiador escocês compartilhava de uma tradição oitocentista que se preocupava com as ações dos grandes homens no processo histórico. “As comunidades históricas recorrentemente apropriaram-se do passado e das narrativas ancestrais na tentativa de legitimar ou compreender ações presentes.” (ANDRADE, 2006, p. 229). No início do livro Tratado de los héroes (ed. 1946), o escritor explicou seu objetivo:

(...) a mi entender, la Historia Universal, la Historia de lo que los hombres han realizado en este mundo es, en lo esencial, la Historia de los Grandes Hombres que han actuado en él. Estos Grandes son los conductores de hombres; los modeladores, los ejemplares y, en lato sentido, los creadores de todo cuanto el común de las gentes se han propuesto hacer o lograr; todo lo que vemos persistir de lo realizado en el mundo, es propiamente el resultado material exterior, la realización práctica y corpórea de los Pensamientos que residieron en los grandes Hombres enviados al mundo: el alma de toda la historia del mundo, podemos decirlo con toda razón, ha sido la historia de estos hombres. (CARLYLE, 1946, p. 33).

Neste sentido, para Carlyle, a história universal foi definida como a biografia dos grandes homens, detentores da característica de conseguirem modificar a sociedade em que estavam inseridos – tanto no aspecto material quanto moral e espiritual. Esses importantes cidadãos enviados ao mundo tinham a tarefa de conduzir os outros

199 Carlyle foi historiador e ensaísta durante o reinado de Vitória, no Reino Unido. O escritor foi influenciado pela filosofia alemã, possuindo fundamentação no chamado “Historicismo”. Suas obras foram amplamente lidas entre os séculos XIX e início do XX. Como explicou Andrade, “no historicismo, a vida das nações seria criada e transformada pela ação dos homens, assim como o sentido do mundo histórico seria gerado por ela. (RUEDIGER, 1991).” (2006, p. 246). Sobre esta filosofia, também ver: RUEDIGER, Francisco. Paradigma do Estudo da História. Porto Alegre: IEL, 1991; MATA, Sérgio. “Elogio do Historicismo”. In: VARELLA, F.; MOLLO, H.; MATA, Sérgio da; ARAUJO, Valdei L. de. (Org.) A

indivíduos, servindo sempre como modelo e exemplo a ser seguido e admirado200. A construção da imagem de Díaz reuniu todas as qualidades dos tipos heroicos preconizados por Carlyle: o presidente era o homem predestinado a transformar o México e guiá-lo à uma atmosfera de ordem e estabilidade. Com “intuição profética”, como dito acima, ele guiaria a nação a um futuro feliz, diferente do passado em que vivera o país. Novamente Díaz foi colocado como a chave entre os tempos: o passado, o presente e o futuro. Para Reyes, o caráter do general continha elementos de bravura e, por patriotismo, sacrificava- se nas batalhas e “tarefas titânicas”. Utilizando as palavras do historiador escocês, Díaz era o “Homem Capaz” que sintetizava toda uma época. Para o tapatío, o que movia Díaz a governar o México era seu patriotismo, como vimos também nas passagens de Sierra. Se o passado mexicano era caótico, o presente era caracterizado por uma atmosfera de paz, progresso material e ordem. Reyes acreditava em um bom futuro mexicano, próspero. Para Reyes: “Finalmente, pues, México conocía un período de paz duradera, augurador de una etapa de prosperidad nacional en todos los campos. Y el artífice de tamaña hazaña, bien que preparada con el triunfo de la República obra de Benito Juárez,