• Nenhum resultado encontrado

A literatura de protesto: conceitos e organização do tempo em escritores oitocentistas (1887-1910)

1. Regeneración, um periódico antiporfirista

1.1. Os primeiros números de Regeneración

Os jornais produzidos nessa época se colocavam perante a sociedade como materiais necessários para fazer a população enxergar o que acontecia politicamente no país. Regeneración, por exemplo, dizia que o povo estava adormecido e que necessitava despertar da condição de atonia que o acossava, cobrando maior participação deste na cena política – como veremos, Madero também utilizou a metáfora da nação adormecida em seu livro de 1909247. Os periodistas se preocupavam em formar opinião, que, de certa forma, também funcionava como uma forma de adesão e controle social. Com o selo inicial de “periódico jurídico independente” os editores afirmavam que a democracia estava enfraquecida pela falta de justiça no país. Para eles, era necessário saltar os olhos à gloriosa época da Reforma, em que a Constituição foi respeitada pelos reformadores. Regenerar significava renascer, fazer germinar um momento que havia se perdido no México, então degenerado no presente. O conteúdo do passado ensinava: era necessário mudar o presente, trazendo o que era bom no passado: o respeito à legalidade. Não qualquer passado: o passado da Reforma, de Benito Juárez. No periódico, a refutação do presente era proposta em favor da justiça e da liberdade; pedia-se uma mudança legal. Citamos,

Regeneración en su primera etapa, 1900, estuvo regido por la idea de que la “democracia ha muerto” y comulgaba con la ideología del liberalismo clásico, como ya se indicó anteriormente que provenía de los ideales de la época de la Reforma de 1857. Su interés era desarrollar el ‘espíritu cívico’ del pueblo para restablecer un régimen de libertad. Pero rechaza definitivamente los enfrentamientos violentos. Incluso el lema del primer número de Regeneración fue ‘Contra la mala administración de justicia’, pues el primer número refería la corrupción

247 Discutimos mais detidamente sobre o conceito de povo no primeiro capítulo. Também traremos mais elementos para discussão nas páginas seguintes.

imperante de jueces y tribunales (Hernández,1999248). (ORTÍZ MARÍN, 2013, p. 11).

O primeiro número buscou explicar o objetivo da criação do jornal. Diante da convicção de que a justiça estava corrompida, de que muitos fatos estavam sendo resolvidos fora da lei, o periódico se propôs a combater os funcionários que não trabalhavam corretamente. Existia o diagnóstico: os escritores tinham a convicção de que a justiça fora corrompida. Algo atrapalhava o funcionamento natural do corpo jurídico. A solução era buscar os remédios para esses problemas: denunciar os funcionários abertamente e propor a regeneração da legalidade. O escopo era ajudar os que foram injustiçados pelas autoridades judiciais, promovendo, assim, a regeneração do poder judiciário. Citamos um trecho inicial do periódico:

“Regeneración”.

Este periódico es el producto de una convicción dolorosa.

En el discurso pronunciado en la sesión solemne del 9 del pasado Marzo, al reanudarse las sesiones de la Academia Central Mexicana de Jurisprudencia y Legislación, decía sabiamente el Sr. Lic. D. Luis Méndez: «Cuando la justicia se corrompe, cuando alguna vez las causas se deciden más por consideraciones estrañas [sic] á la ley que por la ley misma, ¿que corresponderá hacer á los que ejercen la noble profesión del postulante ó a los que velan por intereses que no tienen más garantía para su vida y desarrollo, que una honrada administración de justicia? ¿No deberíamos todos, llegado el caso, constituir en el acto un grupo firme como una muralla para resistir injustos ataques, ó vigoroso como una falange griega, para atacar injustas resistencias?».

Tal como se encuentra, con muy honrosas excepciones, la Administración de Justicia en la República, esa falange griega de que habla el ilustre abogado, se estrellaría, como se han estrellado otras muchas energías al protestar contra la venalidad de algunos funcionarios, consiguiendo tan solo persecuciones injustas ó las injustas resistencias do que habla el Sr. Méndez.

Nosotros no tenemos la pretensión de constituir una falange; pero nuestro vigor juvenil y nuestro patriotismo, nos inducen á buscar un remedio, y al efecto, señalar, denunciar todos aquellos actos de los funcionarios judiciales que no se acomoden á los preceptos de la ley escrita, para que la vergüenza pública haga con ellos la justicia que se merecen. (Regeneración, Ano 1, 1ª época, México, 7 de agosto de 1900, p. 01).249

248 HERNÁNDEZ PADILLA, Salvador. El magonismo: historia de una pasión libertaria 1900/1922. México: Era, 3a. Ed, 1999.

249“Quizás más de una vez nuestros ímpetus juveniles herirán con demasiada dureza; pero sírvanos de atenuante nuestro profundo amor á la justicia y el odio que provocan los atentados groseros al derecho. Procuraremos despertar las energías que hay ocultas y que no se manifiestan por injustificado temor. El espíritu público, tan decaído en las actuales circunstancias, dado el momento histórico porque atravesamos, necesita estimulantes enérgicos á fin de que despierte de su marasmo y haga saber sus aspiraciones y sus ideales. Al efecto, ponemos á disposición de todas las personas de la República, las columnas de nuestro periódico, invitándolas á que calcen con sus firmas sus artículos, para que resalte la lealtad en la discusión y no porque queramos rehuir responsabilidades, que desde luego asumimos; pero en todo caso recibiremos con gusto cualquiera observación que se haga á los actos judiciales, y la haremos

O periódico falava da desobediência dos artigos do código civil. A “regeneração” proposta vinha no sentido de um resgate do bom funcionamento da instancia jurídica, que se degenerou em corruptelas que escapavam à lei. Para os escritores, a regeneração resgataria a antiga força que o México tinha. Nesse número não apareceu o nome do presidente Díaz. Conceitos como paz, anarquia, caos, ditadura, também não foram mencionados. Apenas é citada a referência “Ciudadano Presidente da República”, mas como um chamamento para que ele tomasse uma atitude contra juízes que atuavam fora da lei. Logo em seguida, ainda no primeiro número do periódico, os escritores reiteraram:

No constituimos una falange, repetimos, pero sí ayudaremos con todas nuestras fuerzas, y pese á quien le pesare, á todos aquellos, que en lugar de recibir justicia de las autoridades judiciales, hayan recibido, con mengua del derecho y de la moral, la vergüenza de una derrota injusta. Por estos motivos vamos á hacer públicos los actos de las autoridades judiciales. Los actos buenos, aquellos que estén arreglados á los preceptos de la justicia, los aplaudiremos; pero aquellos que haciendo á un lado la verdad, y que desquiciando las fórmulas severas de la justicia, solo sean el producto malsano del voluntarioso capricho de los miembros del Poder Judicial, serán objeto de nuestros ataques. (Regeneración, Ano 1, 1ª época, México, 7 de agosto de 1900, p. 02)

Indagavam: qual deveria ser a atitude dos indivíduos que velavam pela justiça? E respondiam: tornar pública qualquer tipo de desvio moral dos juízes. Valendo-se de Spencer, autor muito citado no século XIX e início do XX mexicano – como, por exemplo, por Sierra em México: su evolución social –, os editores afirmaram que “la mejor protección que deben impartir los gobiernos Republicanos, es la de la justicia.” (Regeneración, Ano 1, 1ª época, México, 15 de agosto de 1900, p. 02). Se se partia do pressuposto que o México era uma República, então a justiça, para esses periodistas, deveria, obrigatoriamente, prevalecer no país.

Foi a partir de 15 de novembro de 1900, que o periódico começou a criticar as festas da paz, procissões que ocorriam na capital para celebrar a chamada paz porfirista, principal símbolo de poder e autoridade do governo de Díaz, como vimos no Capítulo 1 e no 2. Além disto, elas serviam para comemorar as vitórias do presidente a cada nova eleição. Em 15 de dezembro do mesmo ano, por exemplo, o periódico expôs que essas

nuestra, si encaja en nuestras convicciones. (Regeneración, Ano 1, 1ª época, México 7 ago 1900, p. 02). E no número de 31 de agosto de 1900 reiterou o objetivo do periódico: “«Con ese nombre ha empezado á publicarse en México un periódico que se propone señalar los abusos de la judicatura, enderezar la jurisprudencia, moralizar la gente de curia, etc, etc.” (Regeneración, Ano 1, 1ª época, México, 31 de agosto de 1900, p. 03).

passeatas em comemoração à vitória de Díaz nas urnas, bem como o subsídio dado pela Secretaria de Justiça para que escolas participassem desse evento, não era uma atitude democrática e republicana, pois lembrava características de uma monarquia. A crítica era grave para um governo que a todo momento se colocava como republicano, democrático, liberal e moderno. A censura também não era isolada: nesta mesma edição foram citados o El Tiempo e o Diario del Hogar como periódicos contrários aos eventos oficiais referentes à comemoração da paz. Este último periódico foi criado por Filomeno Mata em 1881 com o objetivo de abordar questões cotidianas da capital. Em 1888 mudou seu foco, passando também a criticar as várias reeleições do presidente. Mata foi perseguido e preso. Juntamente com Regeneración e El Hijo del Ahuizote, destacava-se como crítico da administração de Díaz. Gostaríamos de mostrar um exemplo elucidativo da crítica ao porfirismo realizada pelo El Hijo. Ainda em 1890, foi lançada a seguinte caricatura:

Imagem 9: El Hijo del Ahuizote – 21 de dezembro de 1890250

250 Imagem retirada do artigo de Fausta Gantús. Ver: GANTÚS, Fausta. “¿Héroe o villano? Porfirio Díaz, claroscuros. Una mirada desde la caricatura política”. In: Historia Mexicana, DF, vol. LXVI, núm. 1, jul- set., 2016, pp. 209-256. A autora é especialista em analisar periódicos e caricaturas durante o Porfiriato.

Como nos explicou Gantús, a partir da análise da caricatura desenhada em 1890, percebemos que Díaz se transfigurou em um anjo do mal. Sua asa direita trazia o escrito “el ángel pacificador”. Na imagem, o presidente aponta uma baioneta, que representa a ditadura, na direção da mulher. Ela, a personificação da República, sente-se indefesa e assustada perante a atitude do general. Ademais, o primeiro magistrado realiza uma ação amparado na paz, representada por um canhão que, ao invés de garantir o bem, é maléfico e causa grandes estragos. Sobre ele, que o protege, Díaz ganha força, dominando a cena. As balas que esse canhão dispara simbolizam o terror, a tirania, o despotismo, etc., palavras escritas em cada uma delas. Para Gantús, “esto es, con esa y otras imágenes producidas por el semanario se persigue consolidar la idea de que los 14 años de administraciones encabezadas por Díaz y sus correligionarios, tras el triunfo de la causa tuxtepecana, se han caracterizado por el uso de la violencia como estrategia de gobierno.” (GANTÚS, 2016, pp. 230-232)251.

É importante apontar que esse poder sublimado de Díaz, ou seja, a concentração de faculdades políticas no campo do Executivo, foi amplamente criticado pelos escritores de Regeneración, bem como por muitos outros indivíduos – como Madero e Turner. Se, como vimos nos capítulos anteriores, a emergência de um personagem forte na história mexicana, que conduzisse a nação à prosperidade, à felicidade, à união, fortalecimento, etc., era afirmado como algo benéfico, a crítica dos antiporfiristas frisava outro lado desse complexo poliedro: a supressão de direitos sociais, a concentração de poderes sem limites, a tirania, entre outros aspectos. Como vimos anteriormente, o discurso da ditadura atingiu, muitas das vezes, – através de escritores que validavam o porfirismo – o argumento da necessidade; relacionado a isso estava a questão do povo como o elemento que parecia corroborar com todas as atitudes da vida política. Deste modo, queremos afirmar que, em relação aos conceitos, não podemos os entender como universais e estáveis de sentido, como se eles possuíssem uma base transcendental de significação (HUNT; CHARTIER,

251 Explicou Gantús: “La caricatura es por demás elocuente. Díaz aparece transformado en una especie de ángel del mal que domina el escenario nacional con su política de terror. la ironía se acentúa con la leyenda de “el ángel pacificador” inscrita en las alas con las que se le dibuja y con el hecho de que está parado encima de la “oliva de la paz” transformada en un cañón que dispara balas de “terror, tiranía, gabelas, despotismo, ley fuga, asesinato y arbitrariedades”. ése es el monumento “para coronar la tumba del Plan de Tuxtepec” que proponen los redactores de El Hijo del Ahuizote. Esto es, con esa y otras imágenes producidas por el semanario se persigue consolidar la idea de que los 14 años de administraciones encabezadas por Díaz y sus correligionarios, tras el triunfo de la causa tuxtepecana, se han caracterizado por el uso de la violencia como estrategia de gobierno. (GANTÚS, 2016, pp. 230-32).