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1-2-11 Bhagwan Shree Rajneesh/Osho (1931-1990)

Osho nasceu em Kuchwada, no estado de Madhya Pradesh, Índia, em 11 de dezembro de 1931 e seu nome era Mohan Chandra Rajneesh. Seu pai se dedicava ao comércio de roupas e era jainista, religião que recebeu algumas influências do Yoga. Rajneesh morou seus primeiros sete anos de vida com seus avós, que lhe deram plena liberdade e isto fez dele uma criança totalmente independente. Após a morte do avô, em 1938, voltou a morar com seus pais em Gadawara. Era uma criança fisicamente frágil e, já na infância, começou a questionar sobre a vida, a Verdade e a praticar meditação, sendo que suas experiências começaram a surgir na adolescência. Com a idade de 21 anos, teria atingido a iluminação e, aos 25 anos, termina o seu curso de filosofia na Universidade de Saugar. Nos quinze anos posteriores, ele, além de lecionar na Universidade de Jabalpur, por nove anos, participa de conferências e debates, ficando conhecido no seu país como Bhagwan, o Abençoado. Em 1974, cria um ashram em Poona e continua a desafiar os líderes religiosos em debates públicos. Por muitos, era visto como um rebelde.

O período de 1955 à 1970 se encaixa com o conhecido movimento da contracultura quando vários ocidentais começaram a buscar na Índia novas alternativas de vivências

espirituais. No contato com esses jovens, Rajneesh conclui que as técnicas de meditação ensinadas pelos antigos mestres não funcionariam para nossa sociedade ocidental e decidiu “modernizar”.

Ao final dos anos 70, o ashram de Poona se torna um chamariz para todos aqueles que se interessassem por terapias diferenciadas, com o uso de técnicas de meditação para aqueles que quisessem obter uma transformação interior e se tornar um “Novo Homem”. Rajneesh passou a trabalhar com importantes terapeutas ocidentais, surgindo assim uma mescla de técnicas terapêuticas orientais com ocidentais, que veio a influenciar muitos psicólogos e terapeutas. Surgiu sua revolucionária “Meditação Dinâmica”, um exemplo típico de hibridação (que veremos no próximo capítulo), fugindo a todos os padrões daquilo que fora ensinado no seu país de origem. Suas palestras passam a ser gravadas e transcritas em livros, que são vários, e traduzidos em vários idiomas. Cada vez mais o Oriente se aproxima do Ocidente.

Ao mesmo tempo, sua saúde fica cada vez mais debilitada e ele passa a se recolher por mais tempo, aparecendo para os seus discípulos apenas pela manhã e no horário da noite quando realizava palestras e sessões de iniciação e aconselhamento. Em 1981, com graves problemas de coluna e muitas dores, foi levado para os Estados Unidos. Os seus discípulos americanos compraram um rancho no deserto do Oregon, e o levaram para lá, para se recuperar. Muito rápido, as pessoas foram chegando e, uma comunidade, um oásis no deserto foi sendo formado, surgindo a cidade de Rajneeshpuram. Em 1984, voltou a falar para grupos pequenos. O ashram cresce rapidamente e outros são criados em grandes capitais, inclusive no Japão.

Em 1985, uma série de ilegalidades são apresentadas ao público. Ele é preso pelas autoridades americanas em Charlotte, Carolina do Norte e oito dias ficou incomunicável. Trinta e quatro atos ilegais são encontrados pelo serviço de imigração e pela polícia dos Estados Unidos e seus advogados o aconselham a reconhecer algumas culpas, para amenizar a situação, no que ele concordou. Foi multado e intimado a deixar os Estados Unidos com retorno proibido pelos próximos cinco anos. As acusações, algumas delas estavam ligadas a aspectos morais, como o fato da comunidade praticar o chamado “sexo tântrico”, o que para as autoridades americanas não passava de “bacanais”. As meditações e os relaxamentos estariam sendo induzidos pelo “uso de drogas”. Rajneesh passou a ser visto como um guru mulherengo que explorava a ingenuidade do público. Teria acumulado uma enorme fortuna doada por seus discípulos.

Rajneesh voltou para a Índia num avião particular e refugiou-se no Himalaia e a comunidade de Oregom se dispersou. Foi um período bastante difícil para Rajneesh, pois, ao todo, vinte e um países o expulsaram ou a sua entrada era negada. Em 1986, ele voltou para a Índia e, em 1987, foi para seu ashram em Poona. Até lá foi mal recepcionado e solicitaram a sua saída, sendo considerado pelas autoridades “uma pessoa controversa” que poderia colocar em risco a tranqüilidade do local, mas acabou ficando. Após este período difícil, Rajneesh passou a adotar o nome de Osho, que ele dizia não ser o seu nome mas um som derivado do termo “oceanic” de William James.

Osho veio a falecer em 1990, com 59 anos, e seus seguidores acreditam que o governo americano seria o responsável por seu envenenamento por tálium, um metal pesado que age lentamente, e que teria ocorrido na época em que esteve na prisão. Nunca foi possível provar se esta acusação teria fundamento. A obra literária deixada por ele é muito grande e nela vamos encontrar temas diferenciados, desde a filosofia do Oriente, até o cristianismo esotérico onde ele cita com muita admiração a pessoa de Jesus, o sufismo, o zen, a psicologia, etc. Vamos focar algumas de suas citações que mais interessam ao nosso tema:

Meditar nada mais é que encontrar-se com o seu vazio interior: reconhecendo-o, não escapando, vivendo através dele, não escapando .... Então, de repente, o vazio torna-se a plenitude da vida. Quando você não foge, ele é a coisa mais bela, a mais pura, porque só o vazio pode ser puro. ... Se há alguma coisa nele, então Deus não pode estar. Deus significa o grande abismo, o supremo abismo. O abismo está presente, mas você nunca é treinado para olhar para dentro dele. (RAJNEESH,1979:64) (O grifo é meu).

Neste texto de Osho, temos algo que consideramos extremamente importante: ocidentais ou orientais, não somos ensinados, ou “treinados”, como ele diz, desde a nossa infância, ou até mesmo na vida adulta, a buscar este vazio interior, e está claro que, na vida adulta, isto se torna um pouco mais difícil. Este vazio, na visão de Mestre Bohdan é vital, pois é a fonte de tudo.

Muitas pessoas pensam que a técnica de meditação de Osho estava apenas ligada ao movimento do corpo (meditação dinâmica), mas, toda a sua obra está repleta de citações onde se observa que o seu foco, que passa despercebido para muitos, é levar o indivíduo ao estilo de meditação tradicional, ou seja, sentado, imóvel e mergulhado no silêncio. A forma como ele concebeu a meditação dinâmica foi, a princípio, para atender um público que ele não acreditava pudesse realizar a meditação tradicional, sentado e quieto, pois, na sua visão, a sociedade ocidental é por demais agitada.

Se você sentar em silêncio conforme Patanjali sugere, contudo ... Patanjali não usava métodos catárticos – parece que não eram necessários na época. As pessoas eram naturalmente muito silenciosas, calmas, primitivas. A mente ainda não funcionava muito. As pessoas dormiam bem, viviam como animais. Elas não pensavam muito, não eram muito lógicas e racionais, estavam mais centradas no coração, como são até hoje as pessoas primitivas. E a vida permitia muitas catarses automáticas. (OSHO,2007:214)

Esta citação de Osho é muito importante pois sugere que o ser humano, na sua passagem da vida do campo para a cidade, da Idade Média até a pós-modernidade, passou por uma grande mudança na sua forma de ver o mundo: “as pessoas eram naturalmente silenciosas”. Está claro que mutações internas foram acontecendo em milhares de anos para que o ser humano pudesse se adaptar a novas formas de vida, nem sempre saudáveis, e a sua mente foi se tornando cada vez mais agitada. A pós-modernidade trouxe benefícios e também muitas catástrofes, internas e externas, e as pessoas passaram a ser “mais lógicas e racionais”, no entender de Osho. Ele sugere que, nós ocidentais, precisamos de, antes de querer fazer a meditação tradicional, realizar uma terapia com efeitos catárticos, daí o seu envolvimento com técnicas ocidentais de terapia e a criação das “meditações dinâmicas”. Ele esclarece: “no Ocidente, hoje em dia, costuma-se usar um método terapêutico chamado “psicodrama”. Ele é eficaz e também se baseia em técnicas como essa”. (Ibid:104). Novamente temos aqui uma visão típica do hibridismo que acompanhou o trabalho de Osho.

Os vários tipos de “meditação”, que ele criou, propõem levar o indivíduo à verdadeira meditação, ou à meditação em si, que é o silêncio interior: “Por isso, tenho inventado métodos catárticos. Só depois de praticá-los, você poderá sentar em silêncio, não antes.” (Ibid:216). (O grifo é meu).

Ele deixa claro também que: “as técnicas podem ser úteis, mas não são exatamente uma meditação, são apenas um tatear no escuro”.(OSHO,2007:33). (O grifo é meu). Como técnicas catárticas ele costumava usar, por exemplo, a dança, onde os movimentos são feitos de uma forma espontânea e vão pouco a pouco levando a pessoa a uma espécie de “loucura”, com gritos, movimentos desconexos e respiração rápida. A essa “loucura” ele chamava de catarse, isto é, uma espécie de limpeza interior. Após esta catarse, a pessoa estaria mais preparada para se sentar e meditar, pois na visão de Osho, começar a meditação diretamente sentado é muito difícil para o ocidental:

Se começar sentando-se, você sentirá uma grande perturbação interior. Quanto mais tentar ficar sentado, mais se sentirá perturbado. Irá ampliar a percepção de sua mente insana e nada mais. Isso causa depressão e frustração, não o leva à felicidade. De certo modo você vais sentir que está ficando louco. ... Talvez você ainda não esteja pronto para isso. (OSHO,2007:42).

Para ele, precisamos desta “limpeza interior” para poder pouco a pouco ir nos conhecendo e nos libertar da “mente insana”. Dizia ainda que, usando dessas “terapias”, estaremos também despertando a nossa capacidade de reagir e assim, “despertando a nossa inteligência”:

A inteligência é sair de todas as prisões e nunca mais entrar em outra. A meditação pode ajudá-lo porque todas essas prisões só existem na mente e não podem alcançar o seu ser. Felizmente elas não podem poluir o seu ser, podem poluir apenas a sua mente, encobri-lá. Se você for capaz de se libertar de sua mente, irá libertar-se do cristianismo, do hinduísmo, do jainismo, do budismo, e todo entulho aos poucos será eliminado. Será possível parar inteiramente (OSHO,2007:26).

Osho ensina que a meditação vai nos deixar livre das prisões mentais criadas por nós mesmos; que a religião aprisiona e, na sua visão, muitas pessoas deixaram de meditar porque ela assumiu uma conotação muito séria, “com jeitão de coisa de igreja”.

O trabalho de Osho é bastante conhecido no mundo ocidental onde foram criados vários centros, e seus discípulos continuam até os dias de hoje lançando novas obras pela

Osho International Foundation. Os livros são o resultado de transcrições de palestras e

conferências, feitas por ele e, além dos livros muito material fonográfico pode ser encontrado. Na Índia, em Puna, existe um resort na Osho Commune International, onde é possível vivenciar as mais variadas técnicas de relaxamento e meditação. O que se pode lamentar é que seus discípulos, na grande maioria, ficaram presos apenas às “meditações dinâmicas” ou “catárticas” esquecendo-se que a meditação silenciosa, sentado, quieto, é a que vai nos levar ao “vazio” e a completa reestruturação, como ensina Mestre Bohdan.

Um guru que ainda exerce influência no mundo ocidental, atrai todos os anos centenas de pessoas até a Índia. Atração esta que, para alguns, estaria ligada a solução de problemas de ordem de saúde, outros, questões ligadas ao trabalho, à família e há ainda existem aqueles que buscam uma resposta mais profunda para seus questionamentos de ordem espiritual. Muitos que viajaram até lá para vê-lo voltaram decepcionados, pois suas aparições no momento (2008) são raras, assim como as suas demonstrações de poderes. Este homem, que é adorado como reencarnação divina por milhões de pessoas, orientais e

ocidentais, se chama Sathya Sai Baba.