• Nenhum resultado encontrado

2.1.1 A Face Sombria da Pós-Modernidade

Sem dúvida, uma das situações mais impactantes que sentimos está ligada aos avanços tecnológicos. Nossas vidas e nossos lares foram invadidos pelas TICs - Tecnologias de Informações e Comunicação -. Uma tecnologia que, algumas vezes, sufoca pelo excesso de informações, serviços e diversões. Na “era da informática”, nos sentimos cada vez mais como “analfabetos tecnológicos” pois as mudanças são tão rápidas que mal conseguimos acompanhar. Tudo se torna ultrapassado em pouco tempo pois o que é “top de linha” logo perde a sua utilidade. E assim, sem perceber, se é envolvido pela febre de um consumismo contagiante, seduzidos a cada dia por alguma novidade lançada pela mídia na TV, no cinema, no out-door da esquina, pelas vitrines do Shopping Center, pelas revistas, livros, pelo colega de trabalho, vizinhos, etc.

O homem pós-moderno se entrega ao prazer das coisas fúteis e passageiras e se torna cada vez mais uma presa do “objeto”. A informática e o marketing especializado se encarregam de seduzir, envolver e até mesmo erotizar os bens de consumo. Lipovetsky tem uma explicação diferenciada para essa febre consumidora:

Assim, jamais se consome um objeto por ele mesmo ou por seu valor de uso, mas em razão de seu “valor de troca signo”, isto é, em razão do prestígio, do status, da posição social que confere. Para além da satisfação espontânea das necessidades, é preciso reconhecer no consumo um instrumento da hierarquia social e nos objetos um lugar de produção social das diferenças e dos valores estatutários. Desse modo, a sociedade de consumo, com sua obsolescência orquestrada, suas marcas mais ou menos cotadas, suas gamas de objetos, não é senão um imenso processo de produção de “valores signos” cuja função é conotar posições, reinscrever diferenças sociais em uma era igualitária que destruiu as hierarquias de nascimento. ... A corrida para o consumo, a febre das novidades não encontram sua fonte na motivação do prazer, mas operam-se sob o ímpeto da competição estatutária. (LIPOVETSKY, 1989:171).

A Pós-Modernidade mostra uma sociedade competitiva em que princípios, valores, regras são muito flexíveis; pois vive-se o momento; o pós-moderno é individualista, egocêntrico, narcisista; adora o modismo. As grandes revoluções sociais, os movimentos de classe, as demonstrações públicas de patriotismo e o engajamento em associações, filantrópicas ou não, esvaziaram-se, pois, o que conta agora é viver o cotidiano. Lipovetsky é claro ao afirmar que “hoje a atração exercida pela fraseologia revolucionária dissipou-se. Os relatos escatológicos já não excitam ninguém, estamos muito bem instalados no reino terminal da moda do sentido”. (LIPOVETSKY, 1989:247).

Um dos mais importantes efeitos do industrialismo foi a enorme transformação das tecnologias da comunicação, mais conhecida como “globalização cultural”. Os meios de comunicação tudo fazem para manter o indivíduo “ligado” vinte e quatro horas por dia e as industrias se preocupam em produzir cada vez mais e mais rápido, tudo em nome do conforto e do bem estar. Giddens lembra que:

As tecnologias mecanizadas de comunicação influenciaram dramaticamente todos os aspectos da globalização desde a primeira introdução da impressora mecânica na Europa. Elas formam um elemento essencial da reflexividade da modernidade e das descontinuidades que destacaram o moderno para fora do tradicional. O impacto globalizante da mídia foi notado por muitos autores durante o crescimento dos jornais de circulação de massa. (GIDDENS, 1991:83).

É sem dúvida um aspecto positivo da pós-modernidade, estarmos atualizados com as notícias. Um índio de uma aldeia afastada pode estar informado dos eventos do mundo. Rádios, televisões, jornais, revistas e a internet encurtaram o espaço e o tempo e podemos presenciar diferentes visões de mundo. A comunicação é global e todos têm o direito à informação. A tecnologia mecanizada veio a afetar também os locais de trabalho trazendo rapidez e facilidades mas também muito desemprego. Queiroz lembra que:

A instabilidade penetra nas relações de trabalho. A descartabilidade da mão de obra debilita o vínculo laborativo. No sistema pós-moderno de produção, computadores e robôs estabelecem um circuito rapidíssimo de informações, mensagens, comandos e execução de tarefas, encurtam a distância entre a direção da empresa e o produto final, diminuem os custos operacionais e garantem o triunfo das grandes companhias na concorrência nacional e internacional. Neste quadro, a mão-de-obra, que caracterizava a produção do século passado, torna-se obsoleta, o que faz crescer, no mundo inteiro, o número dos excluídos do trabalho e, conseqüentemente, da sociedade. Nos países ricos, esta exclusão ainda é tolerável por estar amparada pelo salário- desemprego. No mundo pobre, ela condena o trabalhador à marginalidade e à miséria. (QUEIROZ,1996:11).

O texto, treze anos depois, continua atual e a situação foi se agravando com o passar do tempo, deixando a vida difícil até mesmo para os moradores do chamado primeiro mundo. Países da Europa, como a Alemanha, que tinham uma situação privilegiada economicamente, após a queda do muro de Berlim, a formação da Comunidade Européia e a criação do Euro, têm hoje uma população de desempregados bastante significativa e o desemprego é o assunto da atualidade. No Japão, temos os “karoshi”32, empregados que para se manter na firma (extremamente automatizadas) se

entregam a horas extras, não remuneradas, vão ao extremo da sua resistência física, chegando à morte. Nos países do Terceiro Mundo, a miséria e a violência têm aumentado de forma assustadora e a instabilidade no trabalho é ainda maior. A Índia, país que se apaixonou pela informática, está exportando técnicos e a juventude já não se importa com seus “deuses”. Muitas regras familiares, que antes eram muito rígidas, estão se afrouxando. A tradição está sendo deixada de lado. Estaria o niilismo avançando até o Oriente? Na visão de Baudrillard:

O niilismo já não tem as cores escuras, wagnerianas, spenglerianas, fuliginosas, do fim do século. Já não procede de uma Weltanschauung da decadência nem de uma radicalidade metafísica nascida da morte de Deus e de todas as conseqüências que daí há a retirar. O niilismo é hoje em dia o da transparência, e é de alguma maneira mais radical, mais crucial que nas formas anteriores a históricas, pois esta transparência, esta flutuação é indissoluvelmente a do sistema, e de toda a teoria que pretende ainda analisa-la. Quando Deus morreu ainda havia Nietzsche para o dizer – grande niilista perante o eterno e o cadáver do Eterno. Mas perante a transparência simulada de todas as coisas, perante o simulacro de realização materialista ou idealista do mundo na hiper-realidade (Deus não morreu, tornou-se hiper-real), já não há Deus teórico e crítico para reconhecer os seus. (BAUDRILLARD, 1991:195).

32 O karoshi tem sido muito comum no Japão. Trata-se da morte repentina por enfarto ou ataque cerebral provocado pelo excesso de trabalho. Algumas firmas, como a Nippon Telegraph&Telephone, oferecem curtos períodos de meditação para cuidar da saúde emocional dos seus funcionários.

Na verdade, o homem pós-moderno, vivendo do simulacro e da simulação, no âmbito da religião, tem sede por novidades, por isso ele é ao mesmo tempo católico, umbandista, zen-budista, espírita, Santo Daime, ocultista e precisa ver o mundo num aperto de botões. Seria esse comportamento uma busca do Deus hiper-real? Esta nova maneira de encontro tem o privilégio de ser mais livre, principalmente dos dogmas, e não exige exclusividade, podendo se reunir quando o tempo está disponível, sem grandes compromissos. Este é o novo estilo, o self-service religioso ou, como lembra Queiroz, o “nomadismo místico”:

O caráter permanentemente migratório da Pós-Modernidade penetra no âmbito do sagrado e provoca um fenômeno que se caracteriza como nomadismo místico. Mesmo permanecendo nominalmente vinculado a alguma forma tradicional de culto, que em geral herdou do berço materno, a tendência religiosa do homem pós-moderno é um trânsito constante pela constelação religiosa, compondo, nessas inúmeras viagens, um sentido para a existência. (QUEIROZ, 1996:17).

Os fiéis vagueiam de um lugar para outro buscando novas experiências e nesse sentido o Yoga e a meditação se tornaram duas opções, embora nem sempre interpretadas de forma correta. O Yoga pode ser visto como uma técnica que leva à união com o Divino mas, também, pode se transformar em sensacionalismo. Um “yoga-espetáculo” pois, o espetáculo constitui o modelo atual da vida dominante na sociedade.

A vida, para muitos, se transformou em um show com imagens que se movimentam de forma envolvente hipnotizando da criança ao adulto. São palavras, desenhos, pinturas, signos, é a linguagem manipulando pensamentos e ações. A pós-modernidade é um mundo recriado pelos signos e pelo simulacro, na busca de uma cópia perfeita da realidade. E o real oferecido pelas imagens acaba se tornando mais interessante que a própria realidade. É o “hiper-real”. (BAUDRILLARD, 1991:8).

O ser humano busca a sua felicidade e o poder nas pesquisas avançadas. Uma delas é a descoberta do genoma humano. Sabe-se, hoje, que milhares de genes foram mapeados e que mais de 4000 doenças podem ser herdadas e isto faz aumentar ainda mais a insegurança, pois, ainda não se sabe o que fazer com todas estas informações. A Terapia Genética promete transformar o corpo humano e já alegam ter descoberto a chave da “imortalidade” e que a mesma causará impacto muito maior ao ser humano que a própria Revolução Industrial. Só não se descobriu ainda o gene da felicidade. Dentro da Genética já se fala em um “gene de Deus” (HAMER, 2005:97).

Este mesmo indivíduo que tem poder de compra, que usa da medicina nuclear, de técnicas de embelezamento, da tecnologia de alimentos, que vive num planeta “pensante” onde tudo se interliga através de uma rede, onde se pode ver e falar com alguém a milhares de quilômetros numa questão de segundos, onde a distância não mais existe, este mesmo ser humano se sente vazio e cansado de cultuar sua auto-imagem, se sente apático e em crise. Como disse Terrin:

O homem de hoje é sobretudo um homem psicologicamente doente. O homem de hoje é fraco, é esquizofrênico, não tem referências e a Nova Era traz consigo uma grande tendência a remediar essa “infelicidade” do sentido, que leva inevitavelmente a doenças psicológicas e espirituais, com graves reflexos somáticos. (TERRIN,1998: 251.)

A morte de Deus foi anunciada e o homem não tem mais em quem se apegar. “Deus não morreu, tornou-se hiper-real”. (BRAUDRILLARD, 1991:195). O indivíduo, na busca do prazer pessoal, desvalorizou valores supremos, o divino foi substituído pela banalidade do dia a dia e a fuga dos compromissos morais relacionados a vida em sociedade se transformaram em fria indiferença: “Eu não tenho nada a ver com isso. Cada um que se cuide!”, são frases muito comuns hoje em dia.

No caminho aberto por Nietzsche, que balançou os alicerces da razão, do estado, da ciência e da religião, filósofos pós-modernos como Jacques Derrida, François Lyotard, Gilles Deleuze e Jean Baudrillard, tentam dar nova vida à Filosofia, mas poucos hoje estariam preocupados com a Verdade, Deus, o Universo e a busca da Iluminação. E ainda mais, teria a filosofia condições de levar o ser humano ao seu desejado estado de felicidade? Caracterizam o pós-moderno o reducionismo, o ceticismo, o individualismo e uma clara recusa da autoridade tradicional, seja ela da Bíblia, da Igreja ou dos filósofos.

A vida se mostra incerta e muitos procuram encontrar sua segurança psicológica, a resposta para seu sofrimento, na religião, na filosofia, na arte, no trabalho, no esporte, na música, em grupos de auto-ajuda e até mesmo na Internet. Buscam respostas racionais para seus problemas. Percebem que aspectos antigamente vistos como alicerces seguros hoje já não o são. A família, o casamento, a ordem social, econômica, política, a religião institucional há muito são questionados. Cada vez menos o homem encontra “apoios” para poder se agarrar, como quando ao escalar uma rocha já não consegue esticar mais as pernas e, quando um dos pés se apóia, o outro fica desprotegido ou as mãos buscam uma ponta que parece estar fora do alcance. Mas é preciso tentar, ou a queda será inevitável.

Um novo apoio se torna um alívio, mas sabe-se que ele é passageiro. Assim age o ser humano, trocando de religião, de seitas, de templos, de psicólogo, de médico, de terapeuta, etc. A satisfação é passageira pois logo recomeça a ansiedade. A felicidade é projetada no futuro, no “amanhã, se Deus quiser”. Neste sentido podemos lembrar a mensagem de Queiroz:

Conseqüência dessa situação de profunda angústia é o mergulho do homem em si mesmo, no seu eu. Ao lado da falência da comunidade, cresce o isolamento psíquico do indivíduo. Das profundezas de sua incomunicabilidade, ele busca ansiosamente alguém a quem se apegar, que lhe dê pelo menos o sentido transitório de sua viagem pelo planeta e o conduza a algum lugar, que não é o céu, nem o paraíso, mas simplesmente o encontro consigo mesmo e com algum sentido. Porém, não há mais um único sentido. Há infinitos. Não há mais um centro. Nem meta. Só o cotidiano. (QUEIROZ, 1996:19).

Sabe-se que a busca da felicidade, do fim da insegurança, do fim do sofrimento humano, não é hoje menor do que ontem. Isto sempre existiu. A doença, a guerra, a fome, a pobreza, a violência, a corrupção sempre existiram. O que torna a vida mais fácil, mais atraente seria talvez a crença em coisas imutáveis, tais como, a existência de um Deus, a perfeição do Universo, a existência da alma.

Nessa face sombria, um fenômeno relevante e inesperado é o retorno do sagrado e dos misticismos na pós-modernidade. Enquanto muitos apostavam numa desmistificação do mundo com um desinteresse aos lugares antes considerados sagrados, há uma constatação inequívoca de que a religião está florescendo em escala mundial. Robert Crawford, pesquisador das religiões, relata em seu livro, O que é Religião? :

Se estimarmos a população mundial em cerca de 5 bilhões e 400 milhões, temos 4 bilhões e 333 milhões de pessoas pertencentes aos vários grupos religiosos- aproximadamente 80%. Existem muitos que não pertencem a comunidades religiosas, mas afirmam ser pessoas religiosas. Todos os sociólogos reconhecem o crescimento dos cultos religiosos, sendo que em 1998 a mídia britânica registrou que a popularidade da ciência estava declinando e que havia um súbito aumento de misticismo Nova Era e crenças espirituais. Os livros sobre química e física sofreram uma queda de mais de 25% nas vendas, ao passo que os títulos sobre Nova Era e livros sobre religiões orientais e crenças de minorias publicados na Inglaterra aumentaram 75%. (CRAWFORD, 2005:16).

Podemos assistir no momento um grande esvaziamento das religiões tradicionais e a busca de uma espiritualidade nômade. De outro lado, o misticismo aumentou e o número de seitas também. Nas livrarias, os livros relacionados a auto-ajuda e religiões orientais,

como o budismo, estão entre os mais procurados. Estaria o ser humano mais preocupado com a sua vida espiritual? Há várias leituras desse “retorno do sagrado”:

Para alguns, o pós-moderno é o túmulo da fé. Para outros instaura uma fé em Deus. A crença se transforma em um busca psicológica, que não desemboca em nenhum Ser transcendente. A salvação está na mente, na iluminação, não mais na alma a caminho da condenação ou do paraíso. (QUEIROZ, 1996:14). (O grifo é meu).

A ênfase na “mente e na iluminação” está em perfeita harmonia com os preceitos do Yoga. Quem pratica regularmente a técnica do controle da mente consegue depois de certo tempo, que ela se torne tranqüila, e a meditação silenciosa é o caminho para a iluminação.

Na busca pelo divino, o homem levou Deus para o laboratório e hoje há estudos científicos de biólogos, geneticistas e neurocientistas que procuram comprovar de forma científica a existência da espiritualidade e do fator religioso na evolução do humano como ser biológico e cultural. Isso não significa que o conflito entre religião e ciência tenha desaparecido, como pode se ver na polêmica entre evolução e criação acirrada por darwinistas reducionistas e ateus militantes como Dennet e Dawkins. Mas, muitos cientistas vêem a possibilidade de diálogo entre ciência e religião, se houver um trabalho de mão dupla entre as duas e um mútuo respeito. Einstein já dizia : “A ciência sem a religião é manca – a religião sem a ciência é cega.”. Ao usar esta expressão, Einstein queria dizer que as especulações mais refinadas da ciência se aproximavam de um profundo sentimento religioso e para o termo religião nada tem a ver com uma doutrinação dogmática. Einstein não via a religião em escrituras, dogmas ou rituais mas acreditava em um mundo espiritual que não era separado deste mundo.

Dalai Lama, um monge que se interessa profundamente pela ciência, tem proporcionado ao mundo ocidental oportunidade de entrosamento e incentivo nas pesquisas entre a ciência e a religião. Através de várias conferências intituladas Mente e

Vida com cientistas de diferentes áreas, tem estimulado os monges a colaborarem com os

cientistas realizando práticas meditativas em laboratórios nos Estados Unidos. Ele é bastante otimista e em um de seus últimos livros, relata:

... acredito que a espiritualidade e a ciência representam abordagens investigativas complementares, embora distintas, com o mesmo objetivo maior da busca pela verdade. Neste sentido, existe muito que cada uma pode aprender com a outra e, juntas, elas podem contribuir para expandir o horizonte do conhecimento e sabedoria

humanos. Além do mais, através de um diálogo entre as duas disciplinas, espero que tanto a ciência quanto a espiritualidade possam se desenvolver no sentido de prestar um melhor serviço às necessidades e ao bem estar da humanidade. (DALAI LAMA, 2005:12).

Percebe-se, hoje, que questões como ética, espiritualidade, beleza, consciência, amor, compaixão, liberdade não podem ser reduzidas à experiência química e há muito mais na existência humana e na própria realidade que a ciência não pode alcançar.

Max Jammer relata que, em uma reunião de cientistas em Nova York, em 1930, o sociólogo Harry Elmer Barnes sugeriu :

'era chegado o momento de a ciência dar uma nova definição de Deus', e no decorrer do debate sobre essa observação, 'os religiosos afirmaram que a introdução de Deus no discurso científico era inteiramente descabida, pois a ciência nada tinha a ver com religião'. Einstein comentou que, em sua opinião, 'as duas atitudes [a de Barnes e a dos religiosos] revelavam um conceito muito superficial tanto da ciência como da religião'. (JAMMER, 2000:58).

Na busca da felicidade, o homem pós-moderno procura respostas e uma delas é conquistar a saúde, o bem estar, a qualidade de vida. Se gozar de boa saúde, pensa ter encontrado o todo. Grande relevância vem sendo dada ao mundo do fitness, ao cultivo do corpo e a saúde parece estar no ápice da salvação, seguindo talvez aquele preceito antigo do “mens sana in corpore sano”. As exigências relacionadas com o corpo físico têm sido divulgadas pela mídia com freqüência: alimentação saudável, dietas especiais, atividades físicas especiais, medicamentos que trazem o rejuvenescimento (sem contar os lifting, as cirurgias plásticas) e locais especializados como os Spas se multiplicaram. A malhação, a caminhada, piscina, massagens, cremes, lazer (o ócio criativo de Domenico de Masi), turismo ecológico, etc. Lipovetsky faz uma análise detalhada a esse respeito:

O neonarcisismo masculino investe principalmente no corpo como realidade indiferenciada, imagem global a ser mantida em boa saúde e em boa forma; pouco interesse pelo detalhe, raras são as regiões parciais do corpo que mobilizam o cuidado estético, à exceção desses incontornáveis pontos críticos: as rugas do rosto, a “barriga”, a calvície. É antes de tudo a gestalt de um corpo jovem, esbelto, dinâmico que se trata de conservar através do esporte ou dos regimes dietéticos: o narcisismo masculino é mais sintético do que analítico. Em compensação, na mulher, o culto de si é estruturalmente fragmentado; a imagem que ela tem do seu corpo é raramente global: o olhar analítico prevalece sobre o sintético. Tanto a mulher jovem como a mulher “madura” se vêem em fragmentos; para se convencer disso, basta ler a correspondência das leitoras das revistas. ... o valor atribuído à beleza feminina desencadeia um inevitável processo de comparação com as outras mulheres, uma

observação escrupulosa de seu físico em função dos cânones reconhecidos, uma avaliação sem descanso que se liga a todas as partes do corpo. (LIPOVETSKY, 1989:136:137).

A colocação do autor é real e mostra detalhes que já não passam despercebidos até mesmo para o observador comum. Nosso dia a dia mostra o quanto homens e mulheres estão preocupados com a aparência e com os modismos, num egotismo surpreendente, cada um cuidando de si mesmo e esquecendo que existe o outro.

Baudrillard destaca ainda que:

As pessoas já não se olham, mas existem institutos para isso. Já não se tocam, mas existe a contactoterapia. Já não andam, mas fazem jogging, etc. Por toda a parte se reciclam as faculdades perdidas, ou o corpo perdido, ou a sociabilidade perdida, ou o gosto perdido pela comida. Reinventa-se a penúria, a ascese, a naturalidade selvagem desaparecida: natural food, health food, yoga. (BAUDRILLARD, 1991:22).

No que diz respeito ao Yoga, reinventar é o que a sociedade vem fazendo ao longo