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BILHAS DE BOJO BAIXO E ACHATADO, COLO COM DOBRA, E BORDO CONTRACURVADO

(Catál. cc-7, sep. 4)

Esta nossa variante tem os seus paralelos mais aproximados nas bilhas de tipo 5 da cerâmica comum alto-alentejana (NOLEN, 1985, p. 52-56). O bojo baixo e achatado, com perfil elipsoidal, apresenta semelhanças com bilha de tipo 5-a de Nolen (1985, p. 53, Est. XIV, nº 89) e com bilha proveniente de Santo André (VIEGAS ET AL., 1981, p. 164, Est. LI, G 3.14). Relativamente à morfologia do colo e bordo, a peça da Rouca encontra inúmeros paralelos na cerâmica comum elvense, revelando-se evidente, não só o uso comum da conjugação colo com dobra/ bordo contracurvado nas distintas formas e fabricos identificados por Nolen (nomeadamente nos tipos 1-c, 1-e, 2-a, 2-d, 2-e, 2-f, e 5-d), mas também o facto da conjugação de tais características formais nos remeter tendencialmente para âmbitos cronológicos de época flaviana a meados do séc. II (NOLEN, 1985, p. 38-39, Est.s II e III, nºs 16 e 17; p. 40, Est. IV, nº 24; p. 44-45, Est. VIII, nº 61; p. 45-47, Est. X, nº 67; p. 47, Est. X, nº 69; p. 47, Est. X, nºs 70 e 71; p. 53-54, Est. XIV, nº 97). Este tipo de colo e bordo encontram-se igualmente representados na forma A-II da cerâmica comum emeritense, associados a uma cronologia da segunda metade do séc. I d.C. – séc. II (SÁNCHEZ SÁNCHEZ, 1992, p. 43-44 e 80, Fig. 9, nº 45). Não obstante a evidência dos dados que corroboram a atribuição de uma datação dos primeiros dois séculos da nossa Era para o uso do colo moldurado (associado ao bordo voltado para o exterior) (NOLEN, 1995-1997, p. 367), convém notar a existência de outros paralelos que testemunham a continuidade desta característica morfológica em exemplares cerâmicos com cronologias tardias (séc.s III e IV), e que parecem sugerir uma eventual diferenciação cronológica baseada na altura do colo e/ou do bordo (NOLEN, 1985, p. 46-47, e 53-54). De um modo geral, tendo em conta os paralelos identificados para a peça da Rouca, e os materiais provenientes da sepultura de origem de cc-7, somos levados a sugerir para esta forma uma cronologia da segunda metade do séc. I d.C. a inícios/ meados do séc. II, corroborando assim a cronologia proposta por Nolen (1995-1997, p. 369). A pasta utilizada no fabrico da peça em questão (pasta A) indicia tratar-se um fabrico com origem local/ regional.

TIPO IV – BILHAS COM BOJO ELIPSOIDAL, GARGALO ALTO, E BORDO MOLDURADO

(Catál. cc-50, sep. 29; cc-51, sep. 29; cc-8, sep. 4)

Não se conhecem paralelos exactos para as peças que ilustram as bilhas de tipo IV da necrópole da Rouca. Tratam-se dos únicos exemplares desta categoria funcional, provenientes da Rouca, que apresentam duas asas e vestígios de aplicação de aparente pintura a branco. As características da pasta, de textura média-fina, com abundância de minerais ferromagnesianos, indiciam um fabrico local/ regional, e a aplicação de engobe de cor vermelha (Munsell, 10R, 5/8) parece enquadrar-se na tradição da

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cerâmica comum alto-alentejana. Todavia, não se identificaram paralelos exactos para este tipo de bilhas no espólio cerâmico das necrópoles elvenses (NOLEN, 1985), ou de Santo André (VIEGAS ET AL., 1981), Valdoca (ALARCÃO & ALARCÃO, 1966), Monte do Farrobo (ALARCÃO, 1974b), ou até mesmo na cerâmica comum emeritense (SÁNCHEZ SÁNCHEZ, 1992).

É possível assinalar semelhanças (em termos do perfil do bordo e colo) com bilhas dos tipos 2-b e 2-e definidos por Nolen (1985, p. 45 e 47, nºs 64, 68, 69), para os quais a autora propõe cronologias da segunda metade do séc. I d.C. e de finais do séc. I ao séc. II (e posterior), respectivamente (NOLEN, 1995-1997, p. 368). Neste sentido, e não obstante as diferenças formais assinaláveis entre as peças da Rouca e os paralelos referidos, são de realçar as semelhanças no que diz respeito ao tipo de espólio que compõe os contextos funerários das peças da Rouca e da peça nº 64 documentada por Nolen (1985, Est. IX, nº 64). Em qualquer dos casos (sepulturas 29 e 4 da necrópole da Rouca, e enterramento 27 de Serrones) a associação com formas de terra sigillata Draggendorf 15/17, 27 e 29 (esta última forma apenas não se encontra representada na sepultura 4 da Rouca), bem como com exemplares de cerâmica de paredes finas, remete-nos para cronologias altas, de meados do séc. I d.C. (NOLEN, 1995-1997, p. 355-356). O nosso tipo IV encontra ainda semelhanças numa bilha (incompleta) proveniente de Santo André, associada a um enterramento de finais do séc. I d.C. – inícios do séc. II, e de tipo 1-a e 1-b (VIEGAS ET AL., 1981, p. 76-78, 128 e 139, Est. V, C 3.6), e numa outra bilha, igualmente incompleta, proveniente de estratos flavianos de Conímbriga (ALARCÃO, 1974a, p. 86, Est. XXII, nº 459). De realçar que esta forma parece encontrar os seus paralelos mais aproximados em peças provenientes da região ampuritana, datáveis do período augustal e da primeira metade do séc. II d.C. (CASAS i GENOVER ET AL., 1990, p. 88-89 e 132-133, nº 286 a; p. 222 e 223, nº 439). Para além das semelhanças formais com as bilhas do nosso tipo IV, um dos paralelos referidos, encontrado em níveis augustais da villa de Tolegassos (Viladamat), apresenta a superfície exterior revestida de engobe branco e, segundo os autores, corresponderá a uma evolução de formas cerâmicas ampuritanas atribuíveis a contextos de finais do séc. II a.C. – primeira metade do séc. I a.C. (CASAS i GENOVER ET AL., 1990, p. 132 e 133). Também em Caesaraugusta se encontra documentada uma forma semelhante ao nosso tipo IV, para a qual os autores defendem uma inspiração em protótipos helenísticos, e uma ampla difusão durante o séc. I d.C. e mais tarde (BELTRÁN LLORIS ET AL., 1980, p. 140, 142 e 143, nº III F 1362, 146, 1368, 149). Atendendo aos paralelos citados, e considerando a análise dos conjuntos sepulcrais associados aos exemplares do nosso tipo IV, propomos para os exemplares da Rouca uma cronologia de, pelo menos, meados do séc. I d.C. (40/50) a finais do mesmo século, e eventualmente até inícios do séc. II. No entanto, atendendo às características do tipo em questão e aos paralelos mais aproximados identificados, considera-se verosímil que esta forma tenha uma diacronia de produção/ utilização mais ampla, eventualmente comum à das cerâmicas de engobe ou pintura a branco documentadas em Conímbriga (ALARCÃO, 1975d, p. 103, 105, 108-109), e concebe-se que o terminus post quem do seu fabrico possa recuar, pelo menos, até inícios do séc. I d.C.. O facto das bilhas do nosso tipo IV não encontrarem paralelos formais entre a cerâmica comum das necrópoles elvenses (NOLEN, 1985) poderá ser sintomático de um âmbito cronológico de fabrico genericamente anterior ao dos materiais estudados por

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Nolen. A escassez de paralelos exactos conhecidos reforça ainda a ideia de se tratar de uma produção de um oleiro local/ regional, com um mercado de escoamento e/ou uma diacronia de fabrico bastante circunscritos. As técnicas de acabamento – engobe vermelho e pintura a branco – parecem sugerir uma aproximação às tradições do substrato indígena.

TIPO V – BILHAS COM BOJO PIRIFORME E BORDO APRUMADO EM FORMA DE «L»

(Catál. cc-26, sep. 11)

O nosso tipo V corresponde à forma de bilha mais frequente e típica nos espólios das necrópoles alto- alentejanas e em Mérida, identificada no tipo 1-k de Nolen (1985, p. 42-44) e na forma A-VII da cerâmica comum emeritense (SÁNCHEZ SÁNCHEZ, 1992, p. 46-47).

Em termos de fabrico, a peça da Rouca foi torneada na nossa pasta D, sendo por isso comparável aos exemplares desta forma documentados por Nolen, que revelam um claro predomínio do uso de pastas finas (NOLEN, 1985, p. 42, 230-231, nºs 39-52). Se por um lado, e com base nos paralelos identificados em território da antiga Lusitânia (Aramenha, Monte do Farrobo, Conímbriga), Nolen defende que a associação bojo piriforme (ou bulbiforme) e bordo aprumado decorado com sulcos horizontais, com o uso de pastas bem depuradas, de cor alaranjada e de características gerais comuns à sua pasta G, nos coloca perante um fabrico característico do Alto Alentejo (NOLEN, 2004, p. 84-85); por outro, chamamos a atenção para o uso predominante da pasta H nos exemplares desta forma documentados por Nolen (NOLEN, 1985, p. 42 e 230-231, nºs 39-49), e da pasta E nos exemplos utilizados para ilustrar a forma VII das bilhas de cerâmica comum de Mérida (SÁNCHEZ SÁNCHEZ, 1992, p. 48, Fig. 10, nºs 52-55). As pastas H e E da cerâmica comum alto-alentejana e emeritense, respectivamente, encontram correspondência no tipo de pasta usada no fabrico da peça da Rouca (pasta D), pelo que somos levados a sugerir, tal como Sánchez Sánchez (1992, p. 46-47), um fabrico emeritense para estas peças, e por conseguinte a existência de outras olariass, contemporâneas do fabrico alentejano, que também incluíssem este tipo de bilha no seu reportório de formas.

Em termos formais cc-26 encontra os seus melhores paralelos nas peças de Padrãozinho e Elvas que ilustram os tipos 1-j e 1-k definidos por Nolen (1985, Est.s V, VI, VIII, nºs 29, 34, 37 e 44), na cerâmica comum emeritense (SÁNCHEZ SÁNCHEZ, p. 48, Fig. 10, nº 52) mas também em Silveirona (CUNHA, 2004, p. 214, nº 75). A ausência desta forma em Santo André parece explicar-se pela cronologia da necrópole (utilizada até finais do primeiro quartel do séc. II d.C.) e, acima de tudo, pela feição regional e bastante localizada da cerâmica comum atribuída àquele espaço funerário (NOLEN, 1985, p. 44). As características morfológicas da peça da Rouca remeter-nos-iam para uma cronologia a partir de meados do séc. II d.C., altura em que o bordo liso terá começado a substituir o bordo canelado (NOLEN, 1985, p. 44; SÁNCHEZ SÁNCHEZ, 1992, p.47). Porém, esta distinção formal e cronológica parece ser contrariada pelos paralelos identificados entre a cerâmica comum procedente de Tolegassos (Viladamat), entre a qual se documentam exemplares desta forma com bordo canelado datáveis do último quartel do séc. II d.C. (CASAS i GENOVER, 1990, p. 243 e 282-283, nºs 565-567). De acordo com os inúmeros paralelos conhecidos, quer em território peninsular, quer fora deste, Nolen propôs inicialmente uma

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cronologia do segundo quartel do séc. I d.C. ao séc. III para as bilhas de bojo bulbiforme e bordo canelado (tipo1-j), concebendo para a difusão das bilhas de perfil piriforme (tipo 1-k) uma cronologia que se estenderia do séc. II até ao séc. IV d.C. (NOLEN, 1985, p. 42-44; SÁNCHEZ SÁNCHEZ, 1992, p. 47- 48). Todavia, tendo em conta a subtil distinção entre as duas variantes e a relevância desta forma no espólio das necrópoles alto-alentejanas (por um lado, esta forma encontra-se ausente em Serrones; por outro, todos os exemplares de Torre das Arcas apresentam o bordo liso), a autora viria a definir um âmbito cronológico comum aos seus dois subtipos (1-j e 1-k) – de finais do séc. I d.C. ao séc. III, inclusive (NOLEN, 1995-1997, p. 367-368). De um modo geral, parece confirmar-se o âmbito cronológico proposto pela autora citada; porém, e tal como se verifica para uma bilha proveniente da sepultura 68 da necrópole de Padrãozinho, datável de época flaviana – trajânica (NOLEN, 1995-1997, p. 359), também a associação de cc-26 a um exemplar de sigillata hispânica da forma Draggendorf 27, nos leva a ponderar a possibilidade do fabrico desta forma poder ter-se iniciado ainda em meados do séc. I d.C., conforme inicialmente proposto por Nolen para as bilhas de bojo bulbiforme (NOLEN, 1985, p. 44). A distinção entre bilhas de pastas finas com bordo moldurado e bilhas de pastas grosseiras com bordo liso, geralmente consideradas mais tardias (NOLEN, 1995-1997, p. 368), não encontra confirmação na peça da Rouca, uma vez que se trata de um exemplar de pasta fina com bordo liso.

De assinalar que do espólio atribuído à necrópole da Rouca (Col. MNA 0156) consta uma outra bilha, identificada com o nº Inv. MNA 15 616 mas sem contexto de sepultura conhecido, que, pelas suas características formais e pelo tipo de pasta utilizado, se enquadra no perfil das nossas bilhas de tipo V. O carácter incompleto da peça, e designadamente a ausência do bordo, impossibilitam uma caracterização e classificação mais precisas.

CC-21 e CC-47

Conforme referido anteriormente, o conjunto de bilhas provenientes dos conjuntos sepulcrais da necrópole da Rouca inclui duas peças, fragmentadas e incompletas, que apenas permitiram uma caracterização tipológica superficial e generalista baseada nos perfis das respectivas bases e bojos. No que diz respeito a cc-21, os fragmentos de base e bojo disponíveis não possibilitaram mais do que a identificação de semelhanças formais com exemplar de bilhas de tipo 1-c de Nolen (1985, p. 38-39 e 175, Est. III, nº 18), forma associada a uma cronologia do período flaviano a meados do séc. II (?) (NOLEN, 1995-1997, p. 367), e com exemplares de tipos 1 (1-a e 1-b) e 2 (2-b e 2-c) de Santo André (VIEGAS ET AL., 1981, p. 76-78, 137, 142 e 158, Est.s II, X, e XL, B 5.4, C 8.1 e E 7.10; p. 78-79, 141 e 143, Est.s IX e XII, C 7.4 e C 9.4). Note-se que, ao contrário do que se verifica em alguns dos paralelos propostos, o fabrico da peça da sepultura 6 da Rouca indicia uma clara produção de origem local/ regional – pasta C, com abundância de minerais ferromagnesianos, e aplicação de engobe vermelho, características que nos levam a considerar uma aproximação às bilhas em forma de cabaça ou falsa cabaça da cerâmica comum alto-alentejana (NOLEN, 1985, p. 48-50, e 232; VIEGAS ET AL., 1981, p. 79-82). Tendo em conta as dificuldades na identificação de paralelos fiáveis e na definição de uma categoria tipológica, a cronologia

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proposta – da segunda metade do séc. I d.C. ao séc. III – é alargada e resulta do estudo do conjunto do espólio atribuído ao contexto de sepultura de cc-21.

Relativamente a cc-47, as características da pasta (pasta B) sugerem tratar-se, mais uma vez, de um produto de fabrico local. A base com assentamento em aresta e o bojo de perfil ovóide encontram semelhanças em bilhas dos tipos 1-j e 1-k de Nolen (1985, p. 41-44 e 176-177, Est. VI, nºs 34 e 39), datáveis de finais do séc. I d.C. ao séc. III (NOLEN, 1995-1997, p. 367-368), e nas bilhas de tipo A-VII da cerâmica comum emeritense (SÁNCHEZ SÁNCHEZ, 1992, fig. 11, nº 54). Contudo, tendo em conta a morfologia conhecida da peça não podemos deixar de assinalar a possibilidade de eventuais paralelos com exemplares de tipo 1-c de Nolen (1985, p. 38-39 e 174, Est. II, nº 16), datável de época flaviana a meados do séc. II (?) (NOLEN, 1995-1997, p. 367), e de tipo 1-c de Santo André (VIEGAS ET AL., 1992, p. 76-78 e 128, Est. XXXI, E 2.2); e ainda com bilhas de tipo 2-b de Nolen (1985, Est. IX, nº 64), para o qual a autora defende uma cronologia do período Nero – Vespasiano (NOLEN, 1995-1997, p. 368), e 2-b de Santo André (VIEGAS ET AL., 1992, p. 78-79 e 128, Est. XVIII, D 3.3). Atendendo à dúbia classificação tipológica da peça em questão, a cronologia genérica sugerida – segunda metade do séc. I d.C. a séc. II/ III – baseia-se fundamentalmente na análise do restante espólio atribuído ao contexto da sepultura 18 da Rouca.

GARRAFAS