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TIPO I-c: PRATOS DE PAREDE ENVASADA, OBLÍQUA, BORDO ENGROSSADO VOLTADO PARA O INTERIOR E CARENA NO EXTERIOR

TERRA SIGILLATA

Da Col. MNA 0156 constam cerca de 25 peças ou conjuntos de fragmentos de terra sigillata, dos quais apenas 21 foram objecto do nosso estudo por correspondem a materiais devidamente identificados e com contexto de sepultura conhecido. Esta amostra de 21 itens perfaz cerca de 19% do total do espólio cerâmico estudado ao longo do presente trabalho, e encontra-se distribuída por 9 sepulturas; entre estas, destacam-se a sepultura 15, com 5 peças (cerca de 24% da amostra de sigillata analisada), e as sepulturas 4, 14, 16 e 29, cada qual contando com 3 exemplares deste tipo de cerâmica.

O conjunto de sigillata atribuído à necrópole da Rouca revelou-se bastante homogéneo, tendo-se identificado a quase totalidade da amostra (18 peças, ou seja, cerca de 86 % do total) como produção hispânica, de características genericamente atribuíveis às produções do centro oleiro de Tritium Magallum. De um modo geral, e com base na observação macroscópica das pastas e engobes das peças, estas revelaram um fabrico uniforme, com pastas de coloração vermelha clara (Munsell, 2.5YR, 6/6; 10R, 6/4 – 6/6), mais ou menos alaranjadas, de textura média-fina e compacta, moderadamente branda e de fractura regular, com abundante quantidade de partículas argilo-calcárias amareladas, e presença de pequenos vacúolos. Os engobes, de coloração vermelha (Munsell, 2.5YR, 4/6 – 4/8; 10R 4/6 – 4/8), são tendencialmente compactos e aderentes, mais ou menos homogéneos e brilhantes, e de textura ligeiramente granulosa. A este respeito impõe-se a consideração de dois aspectos fundamentais de índole prática: em primeiro lugar, justificamos o uso do termo «engobe» para descrever o revestimento das peças de terra sigillata, uma vez que estamos perante um engobe “sintetizado” (ROCA ROUMENS & FERNÁNDEZ GARCÍA, 1999, p. 267), e não um «verniz» propriamente dito; e, em segundo lugar, chamamos a atenção para o facto da classificação do brilho dos engobes das peças analisadas ser actualmente tarefa difícil e de resultados pouco seguros, tendo em conta o estado de conservação das superfícies dos exemplares disponíveis.

A identificação de um só fabrico de sigillata hispânica entre a amostra disponível encontra paralelos na necrópole de Santo André, assim como algumas das principais formas representadas no espólio da Rouca (VIEGAS ET AL., 1981, p. 46 e 49-54). Analisando a amostra da Rouca constatou-se um claro predomínio das formas lisas de sigillata hispânica alto imperial, assumindo particular expressividade numérica as taças Draggendorf 27, representadas por 5 exemplares (ou seja, 24% da nossa amostra), seguidas das taças Draggendorf 46 e dos pratos Draggendorf 15/17, representados por 4 e 3 exemplares (19% e 14% da amostra), respectivamente. No que respeita à identificação de eventuais «serviços», verificou-se a associação da taça Draggendorf 27/ prato Draggendorf 15/17 nos conjuntos funerários das sepulturas 4 e 29, a associação da taça Draggendorf 46/ prato Draggendorf 17 no conjunto da sepultura 16, e ainda a associação taça Draggendorf 35/ prato Draggendorf 36 no conjunto funerário da sepultura 14.

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A representatividade numérica da forma Draggendorf 27 entre a amostra disponível encontra paralelos em Santo André (VIEGAS ET AL., 1981, p. 49), e facilmente se explica por corresponder a uma das formas mais comuns e frequentes da produção hispânica, cujo fabrico se vulgarizou a partir de meados do séc. I d.C. (40 d.C.), e até ao séc. IV (MEZQUÍRIZ, 1961, p. 60; ROCA ROUMENS & FERNÁNDEZ GARCÍA, 1999, p. 287). Em termos gerais, os exemplares estudados parecem ilustrar a progressiva simplificação do perfil e o aumento de dimensões que marcou a evolução desta forma (VIEGAS, 2003, p. 148) e, simultaneamente, confirmar as dificuldades e fragilidades da tentativa de conotar as diferentes «etapas evolutivas» com diferentes etapas cronológicas (MAYET, 1984, p. 72). Ainda assim, e com vista a uma melhor percepção dos produtos cerâmicos em análise, registe-se que as taças Draggendorf 27 constantes da nossa amostra parecem enquadrar-se, maioritariamente, na segunda fase de evolução definida por Mayet (1984, p. 72), marcada pelo desaparecimento do pequeno lábio que caracteriza os exemplares mais antigos, e pela continuidade de uma evidente diferenciação entre os dois «quartos de círculo» que compõem a forma. Dispomos unicamente de um exemplar (ts-9) cujas características formais encontram correspondência nos produtos geralmente atribuídos à fase inicial de produção da forma hispânica (MAYET, 1984, p. 72; MORAIS, 2004, vol. I, p. 289). Tendo em conta a realidade arqueológica dos conjuntos funerários que integram, e as afinidades formais com os diferentes grupos de exemplares desta forma documentados em Conímbriga (DELGADO ET AL., 1975, p. 184-185), sugere-se para as taças Draggendorf 27 da Rouca uma cronologia fundamentalmente da segunda metade do séc. I – inícios do séc. II d.C.. Os pratos Draggendorf 15/17 que integram a amostra estudada retratam também diferentes variantes da produção hispânica, eventualmente associadas à produção de diferentes oleiros ou a distintas fases de laboração de uma mesma olaria. O nosso exemplar formalmente mais próximo dos produtos sudgálicos (ts-19) apresenta a parede externa moldurada e o pé alto, de secção triangular, conforme as características definidas para a variante mais antiga do fabrico hispânico desta forma, atribuível a meados do séc. I d.C. (MAYET, 1984, p. 71; VIEGAS, 2003, p. 144). Os restantes exemplares revelam um perfil já perfeitamente enquadrável na segunda variante das produções hispânicas – paredes lisas esvasadas, fundo externo marcado por ressalto, e pé mais baixo do que os protótipos sudgálicos (MAYET, 1984, p. 70-71) – remetendo-nos assim para cronologias a partir da segunda metade do séc. I – séc. II d.C. (LOPES, 1994, p. 55; MORAIS, 2004, vol. I, p. 287).

A produção hispânica da forma Draggendorf 46, atribuída ao último quartel do séc. I – séc. II d.C. (ROCA ROUMENS & FERNÁNDEZ GARCÍA, 2005, p. 189), e eventualmente séc. III (MEZQUÍRIZ, 1961, p. 69), encontra-se bem representada entre a nossa amostra, ao contrário do que se verifica em Santo André, donde está ausente (VIEGAS ET AL., 1981, p. 49-54). Todos os exemplares desta forma documentados entre o espólio da necrópole da Rouca encontram-se devidamente identificados como produtos do oleiro MICCIO. Atendendo ao período de actividade deste officinator, e à cronologia genericamente atribuída à produção hispânica da forma Draggendorf 46, propõe-se para as peças da Rouca uma cronologia de finais do séc. I – inícios do séc. II d.C.. A forma hispânica Draggendorf 17, documentada apenas por um exemplar na nossa amostra (ts-16), parece tratar-se de uma forma relativamente rara e facilmente confundível com a forma Ludowici Tb (MEZQUÍRIZ, 1961, p. 69; 1985, p. 149). Este prato de paredes

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rectilíneas e oblíquas, e bordo em aba, sensivelmente inclinado, com o típico ressalto delimitando o fundo externo, encontra paralelos em Santo André (apesar da peça em questão se encontrar descrita como prato de forma Ludowici Tb) (VIEGAS ET AL., 1981, p. 53-54 e 167, Est. LVI, I 2.5), confirmando uma cronologia do séc. II a meados do III d.C. (ROCA ROUMENS & FERNÁNDEZ GARCÍA, 1999, p. 287). As formas Draggendorf 35 e Draggendorf 36 estão representadas por um total de 4 exemplares (cada uma das formas representada por 2 peças), contrastando assim com a expressiva representatividade numérica desta forma entre o espólio da necrópole de Montargil (VIEGAS ET AL., 1981, p. 51). De um modo geral, distinguem-se pelo bordo curvado e pela decoração com folhas de água de barbotina, aspectos formais que parecem remeter-nos para uma fase inicial do fabrico destas formas pelos oleiros hispânicos (ROCA ROUMENS & FERNÁNDEZ GARCÍA, 2005, p. 189). No que se refere às taças