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DISTRIBUIÇÃO DAS PASTAS E FORMAS

TIPO I-c: PRATOS DE PAREDE ENVASADA, OBLÍQUA, BORDO ENGROSSADO VOLTADO PARA O INTERIOR E CARENA NO EXTERIOR

DISTRIBUIÇÃO DAS PASTAS E FORMAS

Da análise da cerâmica comum atribuída aos conjuntos funerários da Rouca resultou evidente o predomínio do uso das pastas do nosso grupo A, com um total de 31 exemplares, ou seja, 44% da amostra estudada. Recorde-se que as características da pasta A (com abundância de minerais félsicos e máficos), colocam-na em paralelo com as pastas B e C (igualmente caracterizadas pela elevada representatividade de minerais ferromagnesianos) no que diz respeito a uma provável origem local/regional. Neste sentido registe-se que o conjunto total de peças com pastas de composição semelhante e com possível origem local/regional (pastas A, B e C) perfaz cerca de 83% da amostra (58 peças), percentagem que chega aos 86% se acrescentarmos os dois «potinhos alentejanos» de cerâmica cinzenta fina. À semelhança do que se verifica no panorama da cerâmica comum das necrópoles elvenses (NOLEN, 1985, p. 27-29), também a cerâmica comum da necrópole da Rouca revela uma clara preferência por barros residuais, facto facilmente explicável pelo recurso por parte dos oleiros locais às argilas dos depósitos mais abundantes e/ou mais acessíveis e fáceis de encontrar nas imediações. O facto da nossa pasta A não encontrar paralelos exactos na cerâmica comum de Santo André (VIEGAS ET AL., 1981, p. 65-67) e das necrópoles alto-alentejanas (NOLEN, 1985, p. 19-26), leva-nos a pensar que o abastecimento da população que utilizou o espaço funerário da Rouca, no que concerne à cerâmica utilitária, deverá ter sido maioritariamente assegurado por uma olaria local, com um mercado de escoamento restrito, mas com um reportório de formas comum aos oleiros da região e fazendo uso de barreiros da mesma formação geológica alentejana.

Cerca de 14% (10 peças) da amostra analisada correspondem a cerâmica torneada na nossa pasta D. Trata-se da única pasta de barros transportados identificada no conjunto estudado, com correspondência na pasta H da cerâmica comum das necrópoles elvenses (NOLEN, 1985, p. 25-26) e que, de acordo com Nolen (1985, p. 29-30), podemos considerar, com bastante verosimilhança, como uma «importação» de origem emeritense. É evidente a variedade de formas deste fabrico representadas na amostra em estudo, com paralelos na realidade das necrópoles alto-alentejanas (NOLEN, 1985, p. 30), e que parece assim

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confirmar a existência de relações comerciais privilegiadas entre a região do actual Nordeste Alentejano e a antiga capital da Lusitânia. Para além de tigelas (tipo II-a) e pratos (tipo I-a), formas comuns e reproduzidas pelos fabricos locais, estão documentadas as bilhas de bojo piriforme e bordo aprumado em «L» (tipo V), os púcaros (tipo II) (a forma mais frequente), e um invulgar jarrinho/a ou frasquinho. Nolen defende, com base nos exemplares provenientes de contextos datáveis, uma cronologia do séc. II e/ou III para este tipo de fabrico, considerando-o como uma “degeneração” do fabrico de paredes finas emeritense (NOLEN, 1985, p. 30). Analisando os conjuntos funerários da Rouca que incluem peças deste fabrico (sepulturas 6, 18 e 33) constata-se a associação a espólio datante atribuído aos séc.s II-III d.C., mas também a associação a tipos de cerâmica comum com cronologias de produção a partir da segunda metade do séc. I d.C.. Se tivermos em conta que uma das formas mais típicas deste fabrico – os púcaros de bojo troncocónico e bordo esvasado – é datável do período flaviano aos séc.s II e III (NOLEN, 1995- 1997, p. 370; SÁNCHEZ SÁNCHEZ, 1992, p. 58), julgamos que poderá fazer-se recuar o terminus post quem do mesmo até à segunda metade do séc. I da nossa Era.

O predomínio dos fabricos locais/ regionais na amostra em estudo reflecte-se, não só no tipo de pastas usadas, como também nos tipos cerâmicos representados. De um modo geral, encontram-se representadas na cerâmica comum da Rouca as formas típicas do Alto Alentejo – a garrafa de bojo cilíndrico e colo estreito, a tigela hemisférica, as bilhas de bojo achatado e piriforme, os púcaros de duas asas, e os «potinhos alentejanos». As formas mais frequentes são as bilhas e as tigelas, em ambos os casos correspondendo a cerca de 19% do conjunto geral; seguidas dos potes, representados por 11 peças e perfazendo assim 16% da amostra. O predomínio das bilhas e tigelas tem paralelo na realidade das necrópoles elvenses, onde correspondem, respectivamente, a 21,2% e 19,2% do total estudado (NOLEN, 1985, p. 28). (Interrogamo-nos em que medida estes dados poderão ser encarados como reflexo de um universo cultural comum, com usos e hábitos de consumo similares.) No caso da Rouca há ainda a registar uma clara preferência pelo uso da pasta A no fabrico das tigelas (9 peças num total de 13). As bilhas foram torneadas, na sua maioria, nas pastas B e C (uma vez mais 9 peças num total de 13).

O grupo dos potes e potinhos constitui a terceira forma mais representada na amostra em análise. Com um total de 11 peças, corresponde a cerca de 16% do conjunto geral, aproximando-se assim da expressividade numérica desta forma nas necrópoles alto-alentejanas (NOLEN, 1985, p. 28). À semelhança do que se regista na cerâmica das necrópoles elvenses, cujos potes se encontram maioritariamente associados ao uso das pastas residuais A/B (NOLEN, 1985, p. 28), os potes da Rouca foram preferencialmente torneados na nossa pasta A (8 peças num total de 11). Os dois únicos «potinhos alentejanos» de que dispomos foram torneados numa pasta cinzenta fina, também com provável origem local.

Os púcaros representam cerca de 11% da amostra geral, contrastando com uma maior representatividade da forma nos conjuntos de Santo André (16%) (VIEGAS ET AL., 1981, p. 68) e necrópoles alto-alentejanas (14,9%) (NOLEN, 1985, p. 28). De assinalar que 50% dos púcaros que integram os conjuntos funerários da Rouca parecem tratar-se de «importações» emeritenses, uma vez

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que correspondem ao nosso fabrico D, tendo os restantes sido produzidos nas pastas B e C, de origem local/regional. Esta preferência pelo uso de pastas finas e de barros transportados no fabrico de púcaros encontra-se igualmente documentada na cerâmica comum das necrópoles alto-alentejanas, onde as pastas mais representadas são as H, A e G (NOLEN, 1985, p. 28). Os pratos, com 8 exemplares no conjunto estudado, correspondem também a 11% da amostra geral, e foram, na sua maioria, fabricados na nossa pasta A.