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POTES DE PERFIL TRONCO-CÓNICO E BORDO VOLTADO PARA O EXTERIOR

(Catál. cc-56, sep. 30)

O único exemplar que ilustra esta categoria suscitou-nos algumas dúvidas, não só no que se refere à designação da respectiva categoria morfológico-funcional, mas também em relação à sua cronologia. A ausência de paralelos exactos conhecidos para a peça em questão tornou a nossa análise ainda mais difícil. Encontramos os paralelos mais aproximados (em termos de fabrico e forma) para cc-57 no pote ou copo de tipo II-b definido por Nolen, para o qual a autora sugere um fabrico não anterior ao séc. III a.C., e mais provavelmente dos séc.s II-I a.C. (NOLEN, 1985, p. 162-163 e 225, Est. LI, nº 525). Esta peça da Rouca parece assim inserir-se no conjunto da cerâmica torneada de tradição indígena que, tal como se verifica com o pote do nosso tipo III, tendo origens na Idade do Ferro continuou a produzir-se durante o período inicial da ocupação romana (NOLEN, 1985, p. 161).Neste sentido são de referir os paralelos (ao nível do perfil) identificados para cc-56 na cerâmica comum de Conímbriga – peças como o copo nº 31 ou

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o pote nº 34 de Conímbriga parecem corresponder aos exemplares mais próximos da tipologia formal da peça da Rouca, ainda que, e contrariamente a cc-56, correspondam a cerâmica manual (ALARCÃO,

1974, p. 45-46, Est. II, nºs 31 e 34). No que se refere ao conjunto da cerâmica torneada de tradição indígena de Conímbriga, a peça da Rouca encontra, a nosso ver, maiores afinidades formais com as tigelas ou taças nºs 234 e 244, ainda que em nenhum dos casos se possa identificar um perfil idêntico ao da peça em estudo (ALARCÃO, 1974, p. 62 e 68, Est. XI, nºs 234 e 244). Note-se que a cerâmica (manual e a torno) da Idade do Ferro em Conímbriga provém maioritariamente de estratos datáveis do período pré-augustano ao período trajânico, e em muitos casos, de camadas de entulho e remeximento, pelo que apenas se torna possível inferir o terminus ante quem da sua utilização (ALARCÃO, 1974, p. 42 e 51).Ainda no que diz respeito a potenciais paralelos para cc-56, registem-se as semelhanças formais identificadas com um exemplar de cerâmica comum africana proveniente de Tolegassos (Viladamat), datável da segunda metade do séc. II d.C. (CASAS i GENOVER ET AL., 1990, p. 241, 248-249, nº 487), e uma possível aproximação da peça da Rouca aos potes de bordo cavado no dorso da cerâmica cinzenta de Torre de Ares, para os quais Nolen propõe uma cronologia dos séc.s I – II d.C. (NOLEN, 1994, p. 142 e 153, Est. 31, nºs cr-116, cr-118, cr-119).

Tendo em conta os vários exemplos apresentados, destacam-se dois aspectos fundamentais na análise desta peça: por um lado, uma certa ambiguidade na designação da categoria morfológico-funcional de peças semelhantes; e por outro, uma aparente associação desta tipologia formal à cerâmica de tradição indígena. Relativamente ao primeiro aspecto enunciado, e de modo a assegurar a coerência e inteligibilidade do nosso discurso ao longo do presente trabalho, optou-se por integrar a peça em estudo na categoria formal dos potes, tomando em consideração as proporções definidas por I. Vaz Pinto (2003, p. 85). No que se refere à cronologia da peça, dada a ausência de paralelos exactos conhecidos, somos levados a privilegiar a associação com o restante espólio atribuído à sepultura 30, ao mesmo tempo que não podemos deixar de ter em conta as semelhanças formais com o pote ou copo de tipo II-b de Nolen (1985, p. 162-163, Est. LI, nº 525), ou com o exemplar procedente de contexto ampuritano (CASAS i GENOVER ET AL., 1990, p. 241, 248-249, nº 487). Em função dos dados disponíveis é interessante constatar que, tratando-se cc-56 de uma peça cuja cronologia suporíamos alta, esta encontra-se associada a um conjunto de espólio (sigillata clara A, e taça de vidro de forma Isings 32) que nos remete para um dos contextos de sepultura aparentemente mais tardios do espaço funerário da Rouca – primeira metade do séc. III d.C..Deste modo, atendendo aos paralelos conhecidos e ao contexto de achado da nossa peça, consideramos verosímil que a cronologia de produção/ utilização desta forma não se tenha prolongado para além de meados ou primeira metade do séc. III d.C., mas que, tendo em conta as características da forma e os paralelos identificados, o seu terminus post quem possa eventualmente recuar para além da segunda metade do séc. I d.C..

A escassez de paralelos conhecidos, aliada às características das pastas utilizadas no fabrico de cc-56 e da peça estudada por Nolen – pastas de barros residuais, e com abundância de minerais ferromagnesianos (grupo A, no caso da peça da Rouca; pasta C da cerâmica comum alto-alentejana, no caso da peça nº 525) (NOLEN, 1985, p. 224 e 252), reforça uma provável origem local/ regional para o

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fabrico desta forma. A não identificação de paralelos na cerâmica comum emeritense (SÁNCHEZ SÁNCHEZ, 1992) leva-nos a colocar a hipótese de se tratar do produto de um oleiro local, eventualmente localizado na zona leste do actual Alto Alentejo.

PÚCAROS

Comparativamente aos exemplares documentados em Santo André (VIEGAS ET AL., 1981) e na cerâmica comum das necrópoles alto-alentejanas (NOLEN, 1985), o conjunto de púcaros estudados distingue-se pela ausência de exemplares com bordo arqueado, característica distintiva dos tipos I de Santo André (VIEGAS ET AL., 1981, p. 87-88), da cerâmica alto-alentejana (NOLEN, 1985, p. 68-70), e da cerâmica comum emeritense (SÁNCHEZ SÁNCHEZ, 1992, p.55-56); e pelo predomínio dos perfis carenados (com um sulco ao nível da carena), aproximando-se assim da maior parte dos púcaros atribuídos à região de Elvas, e distanciando-se das formas maioritariamente ovóides dos púcaros de Santo André. De um modo geral, a amostra fornecida pela necrópole da Rouca é ilustrativa da tradição da produção alto-alentejana, e em especial do fabrico elvense, de púcaros de duas asas, com perfis mais ou menos carenados, normalmente usados para beber ou servir líquidos à mesa (ALARCÃO, 1974a, p. 34; NOLEN, 1985, p. 67). De realçar, no entanto, a existência, de um conjunto de púcaros, de tipologia idêntica, cujo fabrico (pasta D), pelas características da pasta e pelo tratamento cuidado, nos sugere uma aproximação à produção emeritense de paredes finas, e consequentemente uma possível origem em centros oleiros da antiga capital da Lusitânia.

TIPO I – PÚCAROS DE BOJO OVÓIDE E BORDO SIMPLES E RECTO, VOLTADO PARA O