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O Brasil reconhece como sua Língua de Sinais a Libras59 e a Língua de Sinais Urubu-Kaapor60, que é a língua de sinais da comunidade indígena Urubu-Kaapor, no sul do Maranhão. Mais recentemente a revista Nova Escola (2007, n° 208, p. 51), divulgou uma pesquisa de mestrado, de autoria da pesquisadora Marisa Giroletti, na qual ela desenvolve um glossário, naquele momento com cerca de cinqüenta termos, do que a pesquisadora chama de Sinais Kaingang da Aldeia (SKA).

Marisa Giroletti, pesquisadora na área de processos inclusivos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), acredita que o SKA é uma linguagem gestual e visual que está em formação e poderá se consolidar como língua dependendo para tanto: “de uma política lingüística que incentive a sua manutenção e das condições sociais, como o contato entre surdos.” (Ibid. Id.).

Sobre a situação de línguas como a SKA, a coordenadora do curso de Libras da UFSC, Ronice Müller de Quadros declara que: “É da natureza desse tipo de expressão se misturar a outras e caminhar par uma consolidação cada vez mais complexa ou morrer.” (Ibid. Id.).

No Brasil há em torno de duzentas e dez línguas faladas. Dessas, cerca de cento e noventa são indígenas e cerca de vinte são provenientes de imigração61, porém não há um levantamento das línguas sinalizadas no Brasil. Sabe-se apenas que há a Libras, sinalizada por brasileiros não-índios, há também a Urubu-Kaapor, sinalizada por índios do sul do Maranhão, sabe-se agora também que há a possibilidade de existir uma outra língua de sinais indígena sinalizada por índios Kaingang, em Ipuaçu, a quinhentos quilômetros de Florianópolis, e o que se pode dizer sobre as línguas de sinais usadas por surdos oriundos de outros países e que residem no Brasil agora, por enquanto nada.

59 Também chamada nas décadas de 1980 e 1990 como Línguas de Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros

(LSCB), pela pesquisadora brasileira Lucinda Ferreira.

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Também conhecida na década de 1990 por Língua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB), pela pesquisadora brasileira Lucinda Ferreira, e nas décadas de 1960 e 1970 por Língua de Sinais Urubu, pelos pesquisadores canadenses J. Kakumasu e K. Kakumasu, respectivamente.

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Disponível em:

<http://www.centraljuridica.com/materia/1338/diversos/livro_de_registro_das_linguas_faladas_no_brasil_pode_ ser.html>. Acesso em: 10 set 2008.

2.5.1 Multilingüismo e educação no Brasil.

O Brasil não se reconhece ainda como um país multilíngüe no que tange às línguas oral-auditivas coexistentes em seu território, logo só é possível se inferir que as línguas viso-espaciais existentes aqui, por não serem conhecidas da maioria, não sejam reconhecidas como línguas coexistentes ou mesmo como línguas legítimas.

Esse fato traz conseqüências implícitas para a educação de surdos, pois já que os surdos índios têm direito de receber educação em sua língua de sinais, o surdo estrangeiro que agora reside no Brasil não teria o mesmo direito? A resposta parece deveras lógica o que remete à próxima questão. Se esses têm tal direito implícito, então como proceder à educação deles se o sistema de educação do Brasil não atenta para esse fato?

Quadros (2005, p. 26) comenta o que ela mesma chama de “política lingüística de tendência a “subtrair as línguas” que vigoram nos currículos da chamada educação inclusiva promovida pelas políticas educacionais no Brasil, tudo indica que se espera evitar a segregação promovendo a inclusão. Contudo o efeito é justamente o contrário e se acaba por promover a própria segregação na escola através do ensino de língua materna, ela diz:

(...) a idéia equivocada é de que uma língua leva ao não-uso da outra e, neste caso, “subtrai”. Assim, não é incentivado o ensino de línguas com qualidade, não é trazido para dentro do espaço escolar a multiplicidade lingüística brasileira. Pelo contrário, o ensino da língua portuguesa é quase exclusivo, uma vez que representa a língua “oficial” do país. As políticas públicas de educação são de “assimilação” não só lingüística, mas cultural também. Se o aluno não consegue assimilar um currículo em português organizado de uma determinada forma, ele é visto como não capaz. Este ainda é o modelo de escola inclusiva que temos em nosso país. (Aspas no original).

Depreende-se que, para o sistema público de ensino do Brasil, o ensino de qualidade de uma segunda língua, na escola inclusiva, levaria ao não-uso da língua oficial, o Português, depreende-se também que o aluno que não assimila esse currículo é tido como incompetente, pois passa a ser visto como não capaz. Ora, então para que se ensinar uma outra língua que não seja a portuguesa? E mais, como forma de se manter o atual estado das coisas se inculca que só não aprende língua portuguesa quem não quer.

No entanto, não parece razoável que o ensino de uma língua, ainda mais uma língua de modalidade tão distinta da língua Portuguesa, vá incentivar a segregação da língua oficial de um país, pelo menos não vai se o que se busca for a inclusão de verdade, sendo

assim continuando com o atual modelo inclusivo só se continuará fomentando a segregação que se pretende evitar.

Enquanto o receio infundado de se estar empurrando para escanteio a “última flor do Lácio, inculta e bela” não se poderá dar acesso aos conteúdos disciplinares da escola através das línguas próprias de cada minoria, no caso aqui os surdos, sejam índios, não-índios ou estrangeiros. Ademais se se pretende reformular o currículo escolar, o caminho começa pela língua de instrução da turma, que não sendo usuários do Português, só podem ter sua língua de instrução em sua língua materna, a de sinais, seja ela qual for.

2.6 Os possíveis interesses da Lingüística Aplicada em matéria de linguagem e surdez no

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