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Excerto 39 (escrita) (Questionário auto-aplicado) O uso da palavra escrita numa situação de comunicação.

3.12 O habitus de ensinar na classe de inclusão.

Os erros não são tratados como insumos, ou seja, a professora não retorna a esses erros, ela se contenta em apontá-los e devolvê-los dessa forma aos alunos. Isso foi constatado na seção (3.7). Os erros dos surdos são atribuídos à surdez e em outras ocasiões à falta de

Avaliação Instrumento para verificação de erros e acertos (3.7).

Auto-avalicação Instrumento de feedback para o aprimoramento da docência (3.10.4). Leitura

Atividade precisa e aparentemente não interativa de busca do sentido único do texto (3.8) e para isso o leitor deverá dominar leis combinatórias (3.8.1) e (3.10.3).

Modalidade escrita como L2 É vista como forma e não como uso e por isso é ensinada gramaticalmente, como composição (3.9).

Ensino de língua Acontece na escola, mas antes o professor deve despertar no aprendiz o amor pelo conhecimento (3.10). Aprendizagem de língua Acontece na escola (3.10)

Aquisição Começa na família, contudo a aquisição de Libras acontece na escola (3.10).

Língua Produto acabado e imutável, um código (3.10.1).

Linguagem Instrumento de comunicação entre emissor e receptor (3.10.1). Língua estrangeira Língua de outros grupos de falantes (3.10.2).

Libras Língua natural para os surdos (3.10.2) mesmo assim uma língua vaga e limitadora.

Texto Composição de palavras para transmissão de idéias e informações que um autor deseja transmitir (3.10.3).

Inclusão Significa alunos surdos e ouvintes compartilhando as mesmas experiências de sala e comunicando-se naturalmente (3.10.5).

Materiais didáticos

Podem ser selecionados pelo professor a partir de diversas mídias e de acordo com o que ele julga ser do interesse dos alunos e adequado a faixa de idade. (3.11).

Em parte sim, mas encontramos ainda muitas dificuldades que precisam ser estudadas e tentar encontrar o melhor caminho para saná-las.

esforço também. Contudo Ana demonstra não ter consciência clara sobre a relação entre surdez, erro e esforço.

A avaliação é aplicada em momentos previamente informados aos alunos para verificação da prática de produção de texto e conseqüente emissão de um conceito após a correção. O foco está no produto e não no processo em si. Os erros não são tomados como dados que podem refletir o processo de ensino e acabam por ser relevados provavelmente pela falta de compreensão entre a relação entre os diversos graus de surdez e o ensino de língua.

As interações se encontram engessadas, pois se limitam a respostas precisas dadas pelos alunos a perguntas formuladas pela professora durante a aula, Ana retém a maioria dos turnos de fala. A professora, também, se limita a assegurar que as respostas fornecidas estão de acordo com o texto. A professora tentou relaxar durante a aula mostrando slides retirados da Internet, contudo essa idéia não agradou alguns alunos ouvintes pelo fato se estarem realizando a atividade de resumo solicitada.

O papel de mediador do professor se ateve à constatação de respostas adequadas para a montagem do texto resumo. Dessa forma os alunos não construíram, exatamente, o conhecimento, mas reproduziram as idéias principais do texto fonte num texto produto. Ana facilita o processo, porém não o processo de construção e sim o processo de compilação, a discursividade não é fomentada na turma.

Ana não adota livros didáticos, mas isso provavelmente se deve ao fato de ela ser professora do Ensino Médio numa escola pública, portanto ela mesma seleciona seus textos para serem trabalhados na turma. Ela procura selecionar sempre textos da atualidade e os retira de fontes como as revistas Superinteressante e Veja e os jornais Correio Braziliense e Folha de São Paulo, dentre outras. São sempre textos polêmicos. Ana demonstra um gosto por temas pelos quais a adolescência possa se interessar e ao mesmo tempo possa ajudá-los em questões relativas a essa faixa etária, como ela mesma declara abaixo, no excerto (45):

Excerto 45 (Questionário auto-aplicado)

(...) tenho alguns rascunhos que estou trabalhando e não sei se publicarei algum dia. É direcionado ao público adolescente e tem uma finalidade mais educativa, de auto-ajuda. Minha motivação foi a necessidade de fazer algo para ajudar essa faixa etária a encontrar respostas para questões mais íntimas de relacionamento familiar, pessoal e emocional. Na minha longa jornada de convivência com os adolescentes, aprendi muito com eles e também fiz vários cursos na área de sexualidade e drogas. Hoje acredito que posso dar alguma contribuição nesse sentido. Fazendo uma auto-crítica: acho que meu trabalho tem algumas rabugens de conservadorismo, não sei se serei compreendida.

Em sua entrevista, mostrada no excerto (46), logo abaixo, Ana fala dos professores do primário e da faculdade. Seu depoimento acaba por revelar alguns dados que depõem sobre seu habitus de ensinar, confira:

Excerto 46 (Transcrição da entrevista)

Embora ela fale da influência exercida pelo seu professor de Matemática na quinta série, pela influência exercida pelos seus professores de Lingüística e Literatura portuguesa na faculdade, como também, da má influência de seu professor de Inglês, também na quinta série, está evidente a influência marcante da professora de Literatura em seu habitus de ensinar, que é possível se observar também em suas leituras (Cf. excerto (4), na subseção (3.2)), e ela tem conhecimento disso.

Pode-se, ainda, se destacar um outro detalhe que não deve passar desapercebido. Ana era moradora do interior de Minas Gerais e ao se mudar para Brasília e entrar para o curso de Letras decidiu-se pela dupla habilitação (Português/Inglês), pois, segundo ela conta, achava bem culto se falar Inglês, contudo enquanto outros colegas aprendiam ela não conseguia aprender. Concluiu o curso, porém traumatizada por não ter aprendido o Inglês. Ela atribui esse fracasso ao bloqueio adquirido nas aulas de Inglês de sua quinta série, aulas dadas por um professor norte-americano.

Esse bloqueio do filtro afetivo (Cf. seções (3.4) e (3.5)), afetou a professora Ana indelevelmente, porque ela não demonstra ter mais nenhuma vontade de aprender outra língua, mesmo a Libras que em tese ela precisaria para melhor ensinar em sua classe de

Sim, como professora me influenciaram muito meus professores de Lingüística, na faculdade, e a minha professora de Literatura Portuguesa. O de Lingüística porque era um professor mu::itu dedicado tinha uma metodologia rIca e bastante exigente. Eu aprendi muito com ele e:::: gostei de Lingüística. Quanto o professor de Literatura Portuguesa era mu::::itu grande a dedicação dEla, o empenho dela. E assim ela mi influenciou demais, eu acho que até hoje eu uso métodos que ela usava, e o curioso é que eu sinto que isso se repete hoje na minha vida. Eu reencontrei ex-alunas que falam que são professoras de Português e me afirmaram que se inspiraram em mim, na minha metodologia. Me sinto até muito orgulhosa por isso. Quanto estudante também tive professores que me motivaram. Me lembro na minha quinta série, eu era apaixonada pelo meu professor de Matemática era um ídolo pra mim né? Eu achava bonito e inteligente, elegante, então eu sentia necessidade de também corresponder, e aí eu mi empenhava, estudava i tirava boas notas. Sempre tirava boas notas com ele, embora eu não gostasse de Matemática. E tive uma influencia negativa também. Nunca me esqueço o meu primeiro contato com a língua inglesa meu professor era norte-americano. Não tinha habilitação para o ensino de língua e a sua prática não era nada didática. Ele sentava na mesa e só lia, lia o livro didático e fazia ameaças de tirar pontos na nota. Eu acho que isso mi bloqueou totalmente no aprendizado da língua Portug- da língua inglesa porque foi o meu primeiro contato com essa língua né? foi desastroso.

inclusão. Diga-se também, língua essa que de acordo com Ana, não obstante se sentir curiosa, é difícil de ser aprendida.

3.13 Possíveis pressupostos e princípios da abordagem de ensinar Produção de texto na

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